Cunha insinua que Fachin foi nomeado por interesses da JBS

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Em carta em tom de vítima, ex-parlamentar estende críticas contra Sérgio Moro ao também relator no Supremo: “ditadura da República de Curitiba, do estado do ministro [Fachin]”
 

Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acusou o ministro relator da Operação Lava Jato, Edson Fachin, de obstruir pedidos de liberdade e de beneficiar delatores da JBS. Em ofensiva arriscada, o ex-presidente da Câmara dos Deputados acusou o dono do grupo, Joesley Batista, e o executivo Ricardo Saud de manter “relação de amizade” com Fachin e de influenciar a aprovação do nome do ministro para a Suprema Corte, em 2015.
 
Em carta escrita diretamente do complexo penal em Curitiba, Cunha afirmou: “Quando os senhores Joesley Batista e Ricardo Saud me procuraram para ajudar na aprovação do então candidato ao STF Edson Fachin, além da relação de amizade que declararam ter com ele, me passaram a convicção de que o país iria ganhar com a atuação de um ministro que daria a assistência jurisdicional de que a sociedade necessitava.”
 
A carta não insinua diretamente que Eduardo Cunha busca acusar o ministro relator da Operação Lava Jato, mas o faz quase em cena de acidente. Propositalmente, o documento foi escrito como uma espécie de desabafo do ex-parlamentar peemedebista, incomodado com a suposta falta de julgamento de seus recursos no âmbito da Operação Lava Jato. Sem ameaça explícita, indica que tem o que entregar, inclusive contra o ministro.
 
Iniciou mencionando o habeas corpus dos ex-ministros de governos petistas José Dirceu e Antônio Palocci. “No meu caso, houve retardamento da instrução necessária onde até o pedido de informações ao juiz de Curitiba foi feito pelo correio, ao invés do pedido eletrônico. Após essa demora, o relator ainda demorou um mês para enviar ao Ministério Público, apesar de reiteradas petições de cobrança”, tentou comparar.
 
Cunha reclamou que “mesmo após tudo isso”, o seu recurso está pronto para ser julgado desde junho deste ano, sem avanços. Nos desabafos, fez menção até mesmo ao atual presidente da República, Michel Temer, de forma indireta: “Só como exemplo da falta de prova, alguém ligado a mim saiu carregando alguma mala monitorada? Se até quem carregou a mala foi solto, por que continuo preso?”, questionou, em referência a Rocha Loures, ex-assessor do mandatário.
 
Em seguida, traz a acusação contra Fachin como uma tentativa de mostrar que acreditava no seu papel de “assistência jurisdicional de que a sociedade necessitava”. Mas que: “hoje estamos vendo que a assistência célere e eficiente foi a obtida pela JBS e seus donos, onde em apenas três dias conseguiram homologar um acordo vergonhoso, onde ficaram livres, impunes e ricos”, continuou.
 
Em tom de sacrificado, concluindo a carta da mesma forma como a começou, em uma analogia de que ele não teria mais a quem recorrer senão ao Papa, o peemedebista diz que quer “ter o direito ao julgamento e não ser vítima de uma obstrução da Justiça a que todos os brasileiros têm direito”.
 
O fim do documento explicita que Eduardo Cunha dirigirá as críticas que vêm tomando contra o juiz da Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, ao relator no Supremo, Edson Fachin. Iguala ambos, ao afirmar que os résu da Lava Jato não podem “ficar reféns de uma ditadura da República de Curitiba”, expressão usada para as investigações sob o comando exclusivo de Moro, acrescentando: “estado do ministro [Fachin]”.
 
Leia a carta completa:

Recurso ao papa

Apesar de ser evangélico e não acreditar que o papa é o representante de Deus na Terra, tenho de me render ao ditado popular e, quando não se tem mais a quem recorrer, recorra ao bispo ou ao papa. Como o papa é mais graduado, ficarei com ele.

No último dia 2 de maio, foi julgado o habeas corpus de Jose Dirceu na segunda turma do STF e contra a vontade e o voto do relator, ministro Edson Fachin, foi libertado Dirceu.

A partir desse momento, como uma criança que perde e leva a sua bola para casa acabando com o jogo, o ministro não pautou mais nenhum HC [habeas corpus] na turma. Ainda levou o HC de Palocci para o pleno do STF, sem pautá-lo, levando inclusive Palocci a impetrar um HC contra o próprio ministro Fachin pedindo julgamento.

No meu caso, houve retardamento da instrução necessária onde até o pedido de informações ao juiz de Curitiba foi feito pelo correio, ao invés do pedido eletrônico. Após essa demora, o relator ainda demorou um mês para enviar ao Ministério Público, apesar de reiteradas petições de cobrança. Mesmo após tudo isso, o HC está pronto para a pauta desde junho, a exemplo de vários outros HCs de presos da Lava Jato.

No meio do caminho, me impôs nova prisão, em decorrência da delação da JBS, sem qualquer prova da acusação feita contra mim, prisão aliás que já recorri e o relator também não pauta para deliberar.

Aliás, a acusação contra mim é de receber para ficar em silêncio para não delatar, como se delatar fosse obrigação e não delatar fosse crime.

Aliás, todos dessa operação foram soltos, incluindo a família de Aécio Neves e o ex-deputado Rocha Loures. Só eu continuo com a prisão decretada nessa operação de 18 de maio.

Só como exemplo da falta de prova, alguém ligado a mim saiu carregando alguma mala monitorada? Se até quem carregou a mala foi solto, por que continuo preso?

Quando os senhores Joesley Batista e Ricardo Saud me procuraram para ajudar na aprovação do então candidato ao STF Edson Fachin, além da relação de amizade que declararam ter com ele, me passaram a convicção de que o país iria ganhar com a atuação de um ministro que daria a assistência jurisdicional de que a sociedade necessitava.

Hoje estamos vendo que a assistência célere e eficiente foi a obtida pela JBS e seus donos, onde em apenas três dias conseguiram homologar um acordo vergonhoso, onde ficaram livres, impunes e ricos.

O que eu gostaria, assim como os demais presos preventivos de forma alongada, é ter o direito ao julgamento e não ser vítima de uma obstrução da Justiça a que todos os brasileiros têm direito. Não podemos ficar reféns de uma ditadura da República de Curitiba, do estado do ministro.

Por isso, para além de uma dúvida razoável e em cognição sumária, recorro ao papa para ser julgado.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Cunha fica da cadeia só

    Cunha fica da cadeia só fazendo futrica pra deixar o pessoal nervoso. Depois num sabe pq deixam ele mofando lá…

     

    Quem diria que a cadeira do super Cunha seria ocupada por…. FU-FU-CA!!???

  2. Pois é, sendo quem é, que

    Pois é, sendo quem é, que tipo de prestação jurisdicional, mesmo, ele esperava do douto faquinha? Ora, ora e ora… Mas, suas ponderações possuem certas razões, pois, vê-se alguns sem qualquer persecução penal (os do psdb e os impróprios do pmdb), outros perseguidos desde sempre pelo desMoronado e os desembargas-candy-candy-cumpadis. Já o acunhado, bandido desde sempre, não chegou a chefe da quadrilha por acaso… 

  3. E o pior que isso não está

    E o pior que isso não está longe da verdade!

    Tudo é possível quando se trata do STF…

    Eles não agiram diante do golpe…

    O que mais poderemos esperar?

    Improbidade?

    Ética?

    A função maior eles já falharam…

  4. Atenção, pessoal! Pode ser jogo de cena.

    Embora “usufrutárias” (para usar o plural na forma equivocada como esse gângster está acostumado) das fartas propinas, corrupções e roubalheiras do pai (ou marido), tanto Danielle Cunha como Cláudia Cruz foram sumàriamente inocentadas pelo torquemada das araucárias. Mais ainda: elas receberam de volta os passaportes e podem viajar pelo mundo, gastando a fortuna conseguida sem esforço, à custa dos brasileiros expropriados pelas negociatas e corrupções milionárias de Eduardo Cunha.

    Está claro que a condenação e a prisão de Eduardo Cunha foram negociadas, de modo que a esposa e filhas do gângster fossem deixadas de lado, sem a persecução da PF, do MPF e do PJ. Todas essas chantagens e ameaças de Eduardo Cunha me parecem peça ensaiada. Se Eduardo Cunha recebia mesada após ser preso, por que deixaria de recebê-la agora? Ah, o canal foi cortado? E quem disse que não há outros, além dos irmãos Batista,  donos da JBS? 

    Os bandidos e criminosos não se encontram apenas nos poderes políticos e na gangue de Eduardo Cunha; as ORCRIMs estão enquistadas e encasteladas na burocracia do Estado. Ou algum leitor bem informado e de boa índole tem dúvidas de que o ‘sistema de justiça’ está tomado por essas ORCRIMs? A Fraude a Jato tem a forma de e age como uma ORCRIM institucioanal; as provas disso são hoje cabais e abundantes; e a cada dia suregem mais e mais dessas provas.

    Portanto, essas ameaças e ‘cartinhas’ de Eduardo Cunha podem ser apenas uma encenação. Ademais os lavajateiros não têm interesse de que sejam jogadas no ventilador todas as tramas criminosas em que estão envolvidos. Se Eduardo Cunha quisesse realmente entregar os comparsas dele (na banca financeira corruptora, no empresariado corruptor, no parlamento corrupto, na PF e MPF corruptos, no PJ corrupto, etc.) ele, por meio de advogados, revelaria parte do que sabe a jornalistas, para que colocassem essas bombas e essas m***** no ventilador. Não restaria pedra sobre pedra, a começar pelas cúpulas do Judiciário, do MPF e da PF.

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