Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Da tapioca ao caviar, o golpe não vai passar, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Da tapioca ao caviar, o golpe não vai passar

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Nesse exato momento em que escrevo, sei que repórteres e pauteiros das emissoras de televisão da Suécia, já examinaram, examinam ou estão por examinar um documento intitulado “Till Ansvariga Nyhetsredaktioner SVT 1, SVT 2, SVT 4” (Aos Diretores de Redação dos Canais 1, 2 e 4). Trata-se de uma crítica às emissoras daquele país. A queixa é que eles estão reproduzindo, sem qualquer reflexão, o que vem sendo dito pela Rede Globo de Televisão. Quem assiste televisão na Suécia, ao conhecer a tradução, tem a nítida impressão de que se trata de um discurso de Eduardo Cunha como guardião da moral.

O documento, produzido por brasileiros, também repassado à imprensa escrita, adverte que os canais suecos estão “espalhando a notícia de que Dilma e Lula são corruptos” e que o correspondente sueco no Brasil estaria tomando partido ideológico, político, sobretudo da direita, ouvindo apenas um lado. O documento diz, como contraponto, em livre tradução do Google, que o Brasil de hoje, é exatamente, a imagem do filme “A outra mãe” (tradução que os suecos fizeram do filme “Que horas ela volta?”), uma obra “aplaudida pelo público sueco”, por mostrar um “Brasil cuja classe média sai da pobreza para uma vida melhor e, pela primeira vez, essa classe está nas universidades”.

O documento ou rascunho dele revela a dimensão da tentativa de golpe em curso. No truque mal feito dos magos, os meios de comunicação brasileiros cumprem o criminoso papel de preparar o povo a aceitar ilegalidades da na Lava Jato e o golpe. Dada por certa essa fase de sedução, a dita “grande mídia” tenta seduzir corações e mentes mundo afora. Não bastam Dilma e Lula serem odiados no Brasil. O mundo precisa odiá-los e a Suécia é um exemplo.

O truque para aceitar o golpe, aqui e no exterior, é a crise econômica, a corrupção. Ninguém tem dúvida quanto às duas coisas. Eis duas verdades com as quais querem impor a mentira do golpe. Fazer crer que os problemas do Brasil são Dilma, Lula e PT é inexorável. A Lava Jato cinicamente anarquizada vem revelando sua face mais podre: o golpe. E o mais triste disso tudo é ver meus colegas delegados federais (íntegros), crentes que estão cumprindo seu papel cívico, sendo transformados em capitães do mato dos golpistas. Resistam!

As leis em curso no Brasil, criadas no “governo mais corrupto da história” foram adotadas em outros países por determinação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O Brasil, por não ser filiado a OCDE, tais leis foram adotadas espontaneamente. Nos países que foram obrigados a adotar tais normas, o governo foi aplaudido, as empresas pagaram multas e os empregos foram garantidos. No Brasil, querem derrubar a Presidenta, quebrar empresas e promover o desemprego.

Paira entre os golpistas, sobretudo entre os que escreveram suas biografias de outra forma, um sentimento amargo de não poder assumir e dizer: “é golpe, e daí? Mudamos de lado”. Hoje, do Hélio Bicudo ao Miguel Reale, da ex-doméstica e seringueira Marina Silva a Fernando Henrique Cardoso há esse travo na garganta. O fel que lhes corrói as entranhas é grande. Estão sepultando suas respectivas biografias que por instantes serviram a democracia.

Há sem dúvida uma crise – muito distante da inflação de 82,3% ao mês do governo José Sarney. Muito aquém daquela que levou Fernando Henrique Cardoso três vezes ao Fundo Monetário Internacional. Pode piorar, claro(!). Afinal de contas, os órgãos avaliadores do grau de investimento e capacidade de assumir de compromissos de um país vivem de notícias. Não há bola de cristal. Quando muito há robôs, também movidos à notícias. Como as notícias são ruins (o correspondente sueco que o diga), delas se alimentam os criminosos que integram os tais órgãos avaliadores.

Nesse contexto de pré-golpe, ouvi semana passada, uma preocupante e sintomática fala de pessoa ligada a grandes investidores: “já mandamos a Kirchner pro brejo, já nos livramos do Chavez, vamos tirar o índio (alusão a Evo Morales) e vamos derrubar a Dilma…”

A Suécia já baixou o tom, mas por pouco a imprensa tapioca não contaminou a imprensa caviar. Eis o lampejo de esperança de que o golpe não vai passar.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

6 Comentários

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  1. Texto de crônica.

    Esse Armando. Acho que estava na profissão errada, ou acumulava essa outra vocação. O talento que ele demonstra é para a crõnica política, com sabor de tempero brasileiro, e tudo mais. 

  2. Só discordo no ponto em que

    Só discordo no ponto em que se refere ao PIG como imprensa Tapioca.

    Creio não ter caído bem!

    Tapioca eh muito boa e saudável para ser associada ao PIG. O certo seria qualificar o PIG como sendo a imprensa abutre, que come carniça, mas arrota caviar, sendo usada pela direita do pais Nórdico, para desinformar a nação Socialista da Suécia.

    Ficaria de bom tamanho, creio.

    Abraço,

  3. Que os fatos prevaleçam

    Delegado e agora super cronista Armando Rodrigues, não é apenas a Suécia que anda dando realese da Globo e seus congêneres para seus leitores. Outro dia, num jornal francês, li que Lula estava implicado na corrupção da Petrobras e blabla e por ai segue outros paises. Temos que batalhar para que pelo menos boa parte dos fatos prevaleçam. Parabéns pelo otimo artigo.

  4. Moro (vivo) na Espanha, e a

    Moro (vivo) na Espanha, e a diário denuncio o jornal El País aos meus amigos, já que dito jornal (o mais importante da Espanha) fala do impeachement e das manobras mas até agora não deu voz ao golpe de que Dilma não é acusada ou processada de nada e sendo assim o processo não é válido!!

     

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