Deixando o Pago, de João da Cunha Vargas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por JNS

http://youtu.be/iGK9J3_vwcI

O poema ‘Deixando o Pago’ é do raro livro de João da Cunha Vargas, uma edição simples, muito cuidada e lindamente ilustrada por Glênio Fagundes.

João da Cunha Vargas nasceu em 28/12/1900 e não foi além das primeiras letras e, como ele mesmo costumava dizer, não era ‘muito manso de livros’. Certamente aprendeu os segredos que nos conta ao ranger dos bastos e no tranco das tropeadas, talvez por isso sua poesia mais que repete o que o povo diz, ela tem uma inscrição pessoal poucas vezes vista.

Um nativista que se aproxima ao extremo das fontes tradicionais da poesia, poesia brotada em estado de pureza, sem contaminações intelectuais, feita para ser lida e declamada. João da Cunha Vargas sabia todos seus versos de cór – literalmente de coração.

Os poemas desse livro foram ditados pelo poeta a seus familiares ou retirados de fitas gravadas da época em que João da Cunha Vargas ainda interpretava seus poemas, como dizem, recriando-os na palpitação dos seus gestos comandados pela palpitação com que vivia, com seu timbre de voz ímpar, na névoa de seu olhar, na mistura de fogo e de nostalgia…

O poeta não está mais entre nós e se da morte me afugento a ela me entregarei com esperança de poder ouvir cada um desses versos.

Pago é, para o natural do Rio Grande do Sul, o seu lugar de nascimento, a sua região natal; ‘o berço’ (a pintura é de Vasco Machado).

Com informações de Deixando o Pago, de João da Cunha Vargas.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. Chora Belchior!

    “Não sou feliz, mas não sou mudo”

    [video:http://youtu.be/8ylIy2yKI3I%5D

    “Eu era alegre como um rio / um bicho, um bando de pardais”

    [video:http://youtu.be/LavmIRVY-Ew%5D

    “Como um galo, quando havia / quando havia galos, noites e quintais”

    [video:http://youtu.be/5ZIS50TTNF0%5D

    “Mas veio o tempo negro e a força, fez comigo / o mal que a força sempre faz”

    “Hoje eu sou apenas um senhor latino-americano e hoje eu canto muito mais”

    1. A Reunião de Galos da Dona Carmen

      Carmen Couto Magalhães, criou esta obra de arte, aos 77 anos, em 2010.

      Carmen Couto Magalhães Nunes, com esta pintura, foi uma das vencedoras, na categoria Artes Plásticas, do concurso artístico e cultural Talentos da Maturidade – 2010, lançado em 1999, em homenagem ao Ano Internacional do Idoso, com o objetivo de estimular o protagonismo de pessoas com 60 anos ou mais, reunindo criações literárias, fotográficas, canto e artes plásticas.

      “Minha intenção é continuar pintando quadros, mas que esses não sejam somente enfeites. Quero que os mesmos passem, de alguma forma, mensagens visuais, tais como aves, flores e toda beleza que a gente sente que temos que preservá-las”

      As paixões pela natureza e por habilidades manuais e artísticas sempre foram a grande inspiração de Carmen. Por isso, não é surpresa que ela seja desenhista autodidata desde criança, formada em música (lecionou até se casar) e também formada em técnica do vestuário pelo SENAI.

      Viúva há 2 anos começou a pintar para se distrair. Com incentivo da filha entrou em um curso para incrementar suas técnicas. Lá encontrou mais motivação ainda em suas amigas e no seu professor, dedicado e verdadeiro artista, que faz com que toda semana tenha um quadro novo na parede.

      Carmen tem o apoio e a admiração dos filhos o tempo todo. Foi seu filho que a inscreveu no concurso. O tema da obra foi algo que a remeteu à infância, quando ganhou oito pintinhos que se tornaram galos. Apesar de lindos, foi um verdadeiro desastre para o jardim e não foi possível ficar com todos. Mas naquele tempo, a cantoria dos galos de manhã era motivo de alegria. Em uma primeira tentativa fez um esforço de retratar seus galos como eram: brancos, mas a pintura não ficou boa. resolveu então fazê-los de várias cores.

      Quando soube do resultado da premiação até pensou que fosse brincadeira. Hoje, já certa do resultado, agradece ao Santander pela oportunidade, pois no ginásio, em Santos, foi premiada com o troféu Van Gogh de 1º lugar na categoria desenho, mas por não ter sido informada do resultado, não foi à festa de premiação. Agora, depois de anos, poderá finalmente ir a uma cerimônia de premiação, sendo motivo de orgulho e felicidade para ela mesma e toda família.

      https://talentosdamaturidade.com.br/public/site/download/Catalogo_Talentos_2010.pdf

    1. A cor das penas do tiê

      “A vida é muito curta prá ser pequena” – Maria Lúcia Godoy

      Acompanhada por Renato Saldanha ao violão, a mineira Maria Lucia Godoy canta em sarau na casa de Milú Villela 
       

      “Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria com boca e mãos incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobo o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão. Quando ele vier, porque é certo que vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos -só a mulher entre as coisas envelhece. De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?” 

       
      Adélia Prado declama seu poema no jardim de inverno da casa de Milú Villela, em SP, em meio a esculturas de Brecheret, enquanto o pianista Túlio Mourão, mineiro de Divinópolis como ela, dedilha o piano. A também mineira Maria Lucia Godoy, 84, considerada a maior intérprete de Villa-Lobos -e uma das vozes mais lindas do mundo para o maestro Leonard Bernstein-, se levanta. Chegou a sua vez de cantar. “Pois meu amor tem um pouquinho disso tudo/ e tem na boca a cor das penas do tiê/ quando ele canta os passarinhos ficam mudos/ sabe quem é o meu amor? Ele é você…”
       

      A ideia de juntar os três na casa de Milú foi do jornalista Chico Pinheiro, para o programa “Sarau”, que ele apresenta aos domingos na Globo News. Entre uma pérola e outra, Adélia e Maria Lucia lembram de histórias, contam”causos”.

      Maria Lucia era a cantora preferida de Juscelino Kubitschek, para quem ela tinha “a mais bela, a mais comovente, a mais importante voz deste país”. Ele sempre a chamava para visitar sua fazenda, “e eu cantava para ele”. Um dia, um humorista falou na TV que ela era namorada de JK. “Mas [a amante] era outra, a Maria Lucia Pedroso. Juscelino não era homem para mim. Ele brilhava demais.” Ela cantou na inauguração de Brasília. Cantou quando o presidente americano Dwight D. Eisenhower veio ao Brasil. “Ele perguntou: “Qual é a idade da jovem?” Juscelino respondeu: “Segredo de Estado”. O intérprete então veio me perguntar. “Diga a ele que já fiz 21”. E o Eisenhower: “Me too!” [eu também]”

      Adélia declama outro poema: “Há mulheres que dizem: meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.”

      E assim prossegue o encontro, até a madrugada. Maria Lucia ouve outras homenagens, que considera exageradas, pois “hoje não estou muito nessas cantorias, não”. Solta a voz na cantiga em que Jesus, bebê, “fica sorrindo e não quer dormir”. Canta Maria Lucia/ Nossa Senhora: “No dia em que fores homem morrerás na cruz. E eu, sem poder dar-te amparo passarei noites em claro. E Jesus adormeceu”. Ela fecha os olhos. Abaixa a cabeça lentamente. E recebe os aplausos da pequena plateia.

      http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1305200907.htm

      [video:http://youtu.be/AxPu-qWH6KI%5D

    1. Caetano

      O poeta João da Cunha Vargas (1900-1980) não pode ser esquecido.

      Algumas páginas da Internet dão todos os créditos da canção ‘Deixando o Pago’ para a ‘Lenda de Santo Amaro da Purificação’.

      JOÃO-DA-CUNHA-VARGAS-150x150

      Cunha Vargas, Ramil e Caetano

      [video:http://youtu.be/pp93ejxJD2k%5D

      “O cantor e compositor Caetano Veloso gravou uma participação especial no CD que o gaúcho Vitor Ramil lançará em breve. Os dois cantam juntos “Milonga de los Morenos”, música de Vitor para o poema do escritor argentino Jorge Luis Borges. O novo disco foi quase todo gravado na Argentina e traz 12 milongas compostas por Vitor para poemas de Borges e João da Cunha Vargas. Um DVD documental acompanha o CD com registros de ensaios e gravações na Argentina e no Brasil, além de uma música extra.”

      http://www.vitorramil.com.br/wordpress/?p=25

      [video:http://youtu.be/BC2jvfu0njc%5D

      “Vitor Ramil coloca o poeta em mesmo nível do português Fernando Pessoa e do argentino Jorge Luis Borges, expondo-o a ouvidos cujos olhos ainda não o conheciam. Ramil fez a maior divulgação de Vargas, que teve apenas um livro lançado após a sua morte. O poeta se considerava xucro para livros, assumia não ter ido além do aprendizado das primeiras letras. Assim, seus versos foram forjados e guardados em sua mente durante as suas tarefas de campo. Após acabava ditando-os a familiares e outros ele mesmo declamou em gravações.

      É impossível não considerar a pureza dos versos de João da Cunha Vargas quando estes não foram poluídos por contextos morais e pela intelectualização. Quem se encontra com o poeta em forma de versos encontra-se com o folclore límpido e homogêneo. Em versos que saúdam a localidade de Mariano Pinto, em Alegrete, até em passagens sobre suas crenças, João nos faz sentir o que é o ser regional, e isto já basta.”

      http://criteriosamente.wordpress.com/2013/06/19/joao-da-cunha-vargas/

  2. Aqui vai o poema

    Deixando o Pago

     

    João da Cunha Vargas

    Alcei a perna no pingo
    E saí sem rumo certo,
    Olhei o pampa deserto
    E o céu fincado no chão,
    Troquei as rédeas de mão,
    Mudei o pala de braço
    E vi a lua no espaço
    Clareando todo o rincão.

    E a trotezito no mais,
    Fui aumentando a distância
    Deixando o rancho da infância
    Coberto pela neblina;
    Nunca pensei que minha sina
    Fosse andar longe do pago
    E trago na boca o amargo
    Dum doce beijo de china.

    Sempre gostei da morena,
    É minha cor predileta,
    Da carreira em cancha reta,
    Dum truco numa carona,
    Dum churrasco de mamona,
    Na sombra do arvoredo,
    Onde se oculta o segredo
    Num teclado de cordeona.

    Cruzo a última cancela
    Do campo pro corredor
    E sinto um perfume de flor,
    Que brotou na primavera.
    À noite, linda que era,
    Banhada pelo luar,
    Tive ganas de chorar
    Ao ver o meu rancho tapera.

    Como é linda a liberdade
    Sobre o lombo do cavalo
    E ouvir o canto do galo,
    Anunciando a madrugada,
    Dormir na beira da estrada
    Num sono longo e sereno
    E ver que o mundo é pequeno
    E que a vida não vale nada.

    O pingo tranqueava largo
    Na direção de um bolicho,
    Onde se ouvia o cochicho
    De uma cordeona acordada;
    Era linda a madrugada,
    A estrla d’alva saía
    No rastro das três marias,
    Na volta grande da estrada.

    Era um baile – um casamento
    Quem sabe algum batizado,
    Eu não era convidado,
    Mas tava ali de cruzada,
    Bolicho em beira de estrada
    Sempre tem um índio vago,
    Cachaça pra tomar um trago,
    Carpeta pra uma carteada.

     

     

    1. QUERÊNCIA

      joão da cunha vargas

      porque todos os poemas, todos os versos do mundo foram feitos para serem lidos numa canção. e eu chorei quando ouvi esse, sem ler, sem ver, num escuro de barulho só de corda de violão e voz.

      Deixei a velha querência
      Saí de lá mui novinho
      Com tabuleta ao focinho
      E a marca já descascada
      Ponta da cola aparada
      Sinal de laço ao machinho

      Por estes campos afora
      Deste Rio Grande infinito
      De pago em pago ao tranquito
      Repontando o meu destino
      Do campo grosso pro fino
      Fui me criando solitoAngico,

      Mariano PintoPicada onde me criei
      Por tudo ali eu andei
      Bebendo e jogando a tava
      Bem montado sempre andava
      Corri carreira e dancei
      Cruzei picadas escuras
      Prum baile ou jogo de prenda
      Derrubei porta de venda
      Pra tomá um trago de canha
      E esporeei boi na picanha
      Em tudo que foi fazenda
      O que viesse eu topava
      Serviço, festa ou peleia
      Cortei muita cara feia
      De indiozito retovado
      E amancei muito aporreado
      Com pé-de-amigo e maneia

      Um dia me deu saudades
      E eu fui rever o meu pago
      Sentir da china o afago
      E o vento frio do pampeiro
      No coração caborteiro
      Do meu peito de índio vago
      O tempo passou, lá se foi
      E eu não queria que fosse
      Tudo pra mim terminou-se
      Nem eu sou mais o que era
      A estância virou tapera
      E o que era xucro amansou-se
      E hoje só o que me resta
      É o pingo, o laço e o pala
      Pistola, só com uma bala
      E a estrada pra bater casco
      No cano da bota um frasco
      E um fiambrezito na mala!

      relíquias de birges-da cunha vargas-ramil.

      [video:http://youtu.be/JP5zTlLZ4os%5D

  3. MANGO

    joão da cunha vargas

    [video:http://youtu.be/Y0iX3pZn_o%5D

    TEMPERADO COM HISTÓRIA

    Parque Gaúcho de Gramado promove resgate da história do churrasco no 1º Dia da Tradição

    Em comemoração ao Dia do Churrasco e do Chimarrão, que foi celebrado no dia 24 de abril, no Rio Grande do Sul, o Parque Gaúcho de Gramado promoveu um resgate inédito e criou o 1º Dia da Tradição.

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    Além de abrir as portas gratuitamente para os moradores de Gramado, o Parque apresentou a evolução histórica do churrasco.

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    Segundo Rodrigo Lobato Schlee, responsável técnico pelo Parque Gaúcho, foram preparados quatro tipos de churrasco: o enterrado, o assado na brasa com espeto de pau, o feito em grelha de madeira e o matambre salgado no suor do lombo do cavalo. “O churrasco enterrado era feito pelos índios guaranis e caiu em desuso. Já o assado na brasa com espeto e grelha de pau, deu origem ao churrasco e a parrilla como conhecemos hoje”, explica Schlee.

    Parque Gaúcho de Gramado promove resgate da história do churrasco no 1º Dia da Tradição

    Com roupas típicas dos gaúchos primitivos, a equipe do parque recepcionou os convidados em um autêntico acampamento gaúcho do século XVIII. Carreta de bois, cavalo e gado crioulo e o cachorro ovelheiro gaúcho fizeram parte do cenário de época que foi montado na beira de um açude.

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    “A carne ficou muito saborosa e aromática. Eu tinha ouvido falar, mas nunca tive a oportunidade de acompanhar o preparo. O resgate histórico foi sensacional”, elogia o chef Muskito, de Gramado.

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    Fotos: Divulgação Parque Gaúcho/Halder Ramos

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