Desejar ‘feliz 2017’ é extravagância cômica, por Janio de Freitas

Jornal GGN – Em sua coluna de hoje (1) na Folha de S. Paulo, Janio de Fretias comenta que é uma “extravagância cômica” desejar feliz 2017, em razão do pessimismo com Temer e seus asseclas e também o medo de que Donald Trump, novo presidente dos EUA, possa “piorar as desgraças do mundo”.

O colunista também comenta a gestão de Eduardo Paes, que deixa a cadeira de prefeito do Rio de Janeiro, afirmando que o “político Eduardo Paes não teve os mesmos êxitos”. Marcelo Crivella, o novo prefeito, “poderá apressar o plano dos evangélicos de ainda maior ascensão política”.

Leia a coluna abaixo:

Da Folha

Desejar ‘feliz 2017’ é uma extravagância cômica

Janio de Freitas

Michel Temer e Donald Trump são sócios em uma excentricidade que nos onera com alcance, pode-se dizer, unânime. A voz geral é o pessimismo sobre o 2017 com Temer e seu grupo de aturdidos e corruptos. A essa desesperança convicta Trump anexa uma inquietação medrosa do quanto pode piorar as desgraças do mundo, entre as quais a nossa. E então, com fogos e beijos, bebidas e delícias, de 31 de dezembro para 1º de janeiro festejamos –como 200 milhões de tresloucados– tanto o fim de um ano desprezível quanto a chegada de um ano que prevemos igual ou ainda pior.

Nesse encontro do passado perdido com o não futuro, desejar “feliz 2017” é uma extravagância cômica. Ou sádica. Haveria alternativas adequadas. “Salve-se”. “Cuidado com 2017”. E a minha preferida: “Sorte”. Neste país, só duas coisas levam adiante: ou ter sorte ou não ter caráter. No primeiro caso, o mérito é um coadjuvante, mas não indispensável. No segundo, isso não interessa.

Eduardo Paes, prefeito que hoje é ex, diz que “teve sorte, por conseguir o que mais queria: ser prefeito da minha cidade”. Se isso foi mais por sorte do que por mérito, nos anos de realização o mérito foi igual ou maior do que a sorte. O Rio visível recebeu, em oito anos, uma quantidade de obras de porte muito superior à soma do que lhe deu a fileira de prefeitos do último meio século. A cidade pulou sem intervalo da decadência melancólica para as modernidades do urbanismo, de transporte, da tecnologia. Foram quase R$ 40 bilhões em investimentos. A Olimpíada teve, sim, participação nisso, mas não foi a maior nem a mais importante das que couberam à prefeitura. E poderia ter sido a mesma junção de imoralidade e incompetência que foram as obras da Copa.

A confirmar-se com o tempo, deu-se uma exceção histórica: com tamanho montante de gastos e de obras nos dois mandatos, não houve um só caso de escândalo financeiro. A propósito, mesmo no Rio, e no jornalismo, persiste a confusão entre o desastre do Estado e a situação do município. A cidade do Rio pagou aos funcionários sempre em dia, deixa com sobra o necessário para restos a pagar, fez redução expressiva da velha dívida municipal. Em saúde e educação, o Rio gastou bem mais do que o exigido por lei. Emprestou dinheiro ao Estado e até absorveu dois hospitais estaduais.

Explicação de Paes: “Foi possível porque, sem aumentar impostos, aumentamos a arrecadação com recadastramento do IPTU, venda de imóveis públicos e renegociação de dívidas ativas. E fizemos associações com a iniciativa privada”. O que todo prefeito e governador poderia fazer. Como também esta outra ajuda aos cofres públicos: foi raríssima a publicidade da prefeitura, sempre uma torrente de desperdício (e desvios) nas administrações brasileiras.

O político Eduardo Paes não teve os mesmos êxitos. Pouco cuidadoso no que diz, nada dedicado a se valer da posição para articular-se politicamente, sua situação não reflete o êxito administrativo. Jogou mal, e reconhece, na sua sucessão perdida para Marcelo Crivella. Da corrente peemedebista que foi liderada por Sérgio Cabral, hoje Paes é quase um livre-atirador no partido. Seu destino lógico –a candidatura ao governo estadual– tem outros pretendentes bem situados na máquina do PMDB. E Crivella, com o poder na mão, poderá apressar o plano dos evangélicos de ainda maior ascensão política.

Mas Eduardo Paes tem sorte. E o Rio teve com ele.

Agradeço, com franqueza, a divulgação e os comentários, mesmo não sendo poucos os discordantes, do que pude publicar na Folha, ao longo do ano, com total liberdade e frequentes divergências com o próprio jornal. A todos, os votos de que a sorte lhes alivie o 2017.

Redação

8 Comentários

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  1. Musiquinha de Ano Novo
    Adeus, Temer velhaco!
    Feliz Ano Novo
    Que o Brasil se livre
    Dos golpistas e dos ratos
    Do PMDB, DEM e do PSDB
    Deixem o nosso povo
    Voltar a se desenvolver

  2. Desejar ‘feliz 2017’ é uma extravagância cômica

    O mestre Jânio de Feitas, em sua mensagem de ano novo, cunha uma frase lapidar sobre o Brasil. Algo para definir o momento atual que vivemos. E que talvez sempre tenhamos vivido:

    “Neste país, só duas coisas levam adiante: ou ter sorte ou não ter caráter”.

    E complementa para aqueles que ainda caem no golpe da “meritocracia”:

    “No primeiro caso, o mérito é um coadjuvante, mas não indispensável. No segundo, isso não interessa”.

    Logo, como diz o próprio mestre:

    “Nesse encontro do passado perdido com o não futuro, desejar “feliz 2017” é uma extravagância cômica. Ou sádica”.

    Começamos bem 2017

      1. O Mestre não é mestre à toa

        Veja como ele termina seu texto:

        “Agradeço, com franqueza, a divulgação e os comentários, mesmo não sendo poucos os discordantes, do que pude publicar na Folha, ao longo do ano, com total liberdade e frequentes divergências com o próprio jornal. A todos, os votos de que a sorte lhes alivie o 2017”.

         

  3. Jaboticaba capitalista

    No resto do mundo é capitalismo.

    É o capital X trabalho e até na China e na Rússia, quem tem dinheiro se dá bem…

    No Brasil é diferente, é pior!

    É o capitalismo 2.0!

    Aquilo que está alem do capital, que são os juros!

    Aqui com a Pec 55 ficamos na luta entre

    Trabalho X Juros!

    Tudo que voce trabalhar e produzir não pagará a conta dos juros!

    Até o capitalismo vai sucumbir aos juros…

  4. Já li,reli,tornei a ler
    Já li,reli,tornei a ler colunas,comentários,artigos,textos,crónicas,buzios,taros,astrologia,cartomantes mil,em nada encontrei que viesse a indicar que 2017 trará alguma coisa de positivo.Não seria bem mais prático se se estabelecesse por consenso,2016-parte II.Tão simples.

  5. Janio, o bom caráter…

    Janio de Freitas recebe os incensos óbvios nesse mar de platitudes…não há dúvidas de que no meio de tanto cretino, ele se salva, por léguas integridade.

    Mas seu texto é fraco…Talvez com a preguiça óbvia de quem tem por oficio falar (no caso dele escrever) sobre tudo o tempo todo.

    Ninguém acerta sempre.

    Sua definição do “caráter nacional” é de fazer trincar as lápides de Hollanda (Sérgio Buarque) e até Freyre (Gilberto).

    É bom ele não se aventurar nesse campo, porque nesse quesito da tentativa de jornalista em “analisar” nosso chamado “caráter”, plagicombinando (termo criado pelo ótimo Tom Zé) Carta (Mino) é muito pior que o retirante italiano.

    O banzo euroitaliano civilizatório do bom editor da ótima revista que leva o seu nome (em terra de cego, quem tem um olho é rei, mas é caolho) dá no saco, e fica difícil esquecer as celebrações que fez (e faz) da Casa Grande, que ele tanto diz detestar, mas imprimiu mas odes ao Fasano e aos hotéis de luxo de Sampa, até as premiações das empresas mais amadas (?????).

    Carta quer ensinar Macunaíma a comer com talheres. Queria ter vestido os índios quando deveria ter despidor os portgueses…

    Janio quer ensinar lições de caráter, quando a questão é quase teleológica: afinal, se o caráter brasileiro está à venda, quem deseja comprá-lo é melhor nesse quesito?

    Afinal, não é a História das Nações um emaranhado de (falta de) caráteres que se dão bem e outros nem tanto?

    São os franceses um povo de caráter que levaram nosso pré-sal por uma ninharia? Uai, cadê o sentimento de solidariedade entre os povos?

    Para Mino Carta, e talvez para o Janio, por exemplo, o povo que elegeu Berlusconi é celebrado como virtuoso, assim como a terra (Europa) que nos legou os dois maiores desastres bélicos da História, em nome de teorias eugenistas que serviam de cimento ideológico para as rusgas das placas tectônicas do capital em movimento.

    Nem falemos das Cuzadas.

    Nem falemos que, por óbvio, a existência de países “mais civilizados” implica na correspondência de países mergulhados na barbárie, porque os primeiros se alimentam dos demais.

    A parte sobre Eduardo Paes parece um jabá grotesco.

    Primitiva a ideia de que a situação do Estado esteja desvinculada da situação municipal, ou seja, foi justamente a possibilidade de parasitar o Estado que conferiu estabilidade a gestão do laureado alcaide.

    Ainda assim, o que fez Paes foi implantar a agenda da cidade-espetáculo, nova fronteira de interesse do capital, com expropriação imobiliária tocada a força, e aprofundamento da segregação geográfica da pobreza que ainda levará algum tempo para mostrar sua verdadeira face.

    A lógica higienista de Paes, assim como foi o “bota-abaixo” de Pereira Passos, levam tempo para eclodir.

    Méritos de Paes? Bem, talvez a saúde financeira do município esteja mais vinculada a renúncia em atrelar a dívida do município aos títulos podres e alavancagens miraolantes que sacodem o mundo desde 2008.

    Mas a securitização das dívidas ativas é jogadinha conhecida no setor financeiro, e deu de lambuja alguns bilhões de reais ao setor privado, quando cabia a municipalidade (auto) executar esses titulos extrajudiciais com um ganho muito maior…

    Terceirizar a cobrança dessas dívidas poderia ser considerado um crime de lesa-pátria…

    Veremos depois o que aconteceu (de verdade) com a alienação de ativos imobiliários, e quem sabe, possamos cobrar ao Janio sobre o “caráter” do alcaide.

    Não Janio, nosso problema é ter caráter demais, pois veja:

    Falta caráter para pendurar nos postes (enforcados) os coxinhas e os burocratas do judiciário que entregam o país…

    Falta caráter para armar esse país até os dentes (como fazem os donos do mundo) e tomar na marra tudo aquilo que seja necessário ao nosso “espaço vital” (isso te lembra algo?)…

    Falta caráter para espionar nossos “aliados”, espancar a realidade até que ela confesse e se encaixe em nossa versão…

    Falta caráter para ao invés de matarmos quase 50 mil pretos e pobres, colocá-los (mais de 2 milhões) em prisões trabalhando como escravos a 0,28 cents de dólar/hora…Qual economia não se recuperaria?

    Enfim, Janio, falta caráter para assumir que para termos um capitalismo bem sucedido (se é que isso é possível), temos que nos despir que qualquer caráter…

    Nossa mistura é muito mais difícil e especial, e talvez por isso mesmo, toda vez que emergimos no mundo, os caras de bom caráter nos massacram com golpes…

    Nossa expertise em morder e assoprar colocaria o destino manifesto dos EUA no chinelo da História, e sim, talvez fossemos o Imperio de Mil Anos…

    Conselho ao Janio: descanse um pouco…

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