Design de Produto & Cannes Lions, por Bebé Castanheira

Design de Produto & Cannes Lions

por Bebé Castanheira

Esta colaboração com o GGN para falar sobre Design, há muito acertada, só agora se materializa. E, por uma dessas coincidências da vida, acabou acontecendo juntamente com um evento importantíssimo na minha vida profissional: integrar o grupo de 20 profissionais brasileiros que representou o Brasil no júri do festival de Cannes Lions (no meu caso, para a categoria Design de Produto).

Em sua 64ª edição, Cannes Lions é um grande festival que abriga uma premiação com mais de 20 categorias e, durante uma semana, as cerimônias de entregas dos Leões se alternam com inúmeras palestras, talks, festas e muita, muita, networking.

Na programação de eventos deste ano, só para citar alguns, foi possível ver nomes como o Reverendo Jesse Jackson, a atriz Helen Mirren, o ator Ian McKellen, o fotógrafo Mário Testino, o grupo Pussy Riot ou ainda a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, entre tantos outros.

Os mais de 200 palestrantes falaram de diversidade, sustentabilidade, gênero, novos formatos de colaboração, novas perspectivas de convivência, música e muito mais. E o que esses temas têm a ver com Cannes Lions?

Simples. Sinônimo de publicidade para muitos, o festival há já algum tempo não a sediava em exclusivo. Diante desta constatação, em 2011, Paul Taafe (da Hill & Knowlton) sugeriu que o nome pudesse refletir a sua verdadeira amplitude. Cannes Lions – Festival Internacional de Propaganda torna-se então Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade.

Sem dúvida, uma perspectiva muito mais abrangente e muito mais alinhada às mudanças, às novas interações e, sobretudo, a um novo contexto.

Outro tema que está na pauta de Cannes Lions há cerca de 5 anos é a questão de gênero. Entidades como She Says e The 3% Movement (o percentual faz referência ao total de mulheres em cargos de direção em agências americanas no início desta década) têm contribuído para esta discussão. A direção do festival entende ser importante não só promover a reflexão como também efetivar esta rota de mudança: este ano o festival teve um recorde na participação de mulheres: somamos 43%.

Os demais números de Cannes Lions também são robustos. O prêmio: 390 pessoas, de 50 países, discutindo mais de 40 mil projetos do mundo inteiro (em 2015 foram 40 mil e 2016 43 mil) em 24 categorias. O Festival: Aproximadamente 15 mil delegados, de quase 100 países, e mais de 200 profissionais em 500 eventos distribuídos ao longo de 7 dias de evento.

A categoria Design de Produto do Cannes Lions é recente: só foi instituída em 2014. Na sua primeira edição, o Grand Prix foi para o projeto Raw for the Oceans: fabricação de jeans a partir de matéria plástica recolhida dos oceanos.

No ano seguinte, o prêmio máximo da categoria coube ao projeto Lucky Iron Fish cujo objetivo é reduzir o déficit na ingestão de ferro.

Em 2016 o Grand Prix chancelou um projeto do Google Creative Labs em parceria com a Levi’s. O Jacquard, uma jaqueta feita a partir de tecido com  material condutor acoplado à sua estrutura, que permite ao usuário se conectar a celulares com sistema Android.

Neste ano, a premiação máxima da categoria foi para o projeto Payphone Bank (da Grey/Bogotá – Cliente Tigo-Une) onde, por meio de uma inovação aplicado aos “orelhões” locais, foi possível criar um “micro” sistema bancário viabilizando assim, a integração de pessoas de baixa renda ao sistema financeiro. São 13 mil Payphones em toda a Colômbia que promovem o acesso à poupança, ao microcrédito e a compra de bens básicos.

São poucas edições da categoria mas, já é possível perceber, pelas premiações máximas (e não só! Vale uma visita ao site do festival para conhecer os projetos finalistas), que Cannes Lions busca uma abordagem mais ampla do que se entende por Design de Produto.

O Design se caracteriza por apresentar uma visão sistêmica e ampla da projetação. Hoje (ou melhor, há bastante tempo) não cabe mais pensá-lo apenas como o objeto autoral. Também é isso, claro! Mas, seria uma visão redutora do seu verdadeiro potencial.

A experiência única de participar do júri de Cannes Lions ganhou uma importância enorme pois, foi a primeira premiação do Brasil na categoria Design de Produto. Já havíamos sido finalistas em edições anteriores mas, coube ao projeto Confetti Prosthetic Leg Cover, da Furf Design Studio (para a Ethnos), trazer o primeiro Leão da categoria para o Brasil. Uma honra.

A Furf é um estúdio sediado em Curitiba, comandado por dois jovens designers, o Rodrigo Brenner e o Maurício Noronha, cujo objetivo é contribuir para um design “mais democrático”.

O contexto de pluralidade cultural está, certamente, na origem de uma criatividade brasileira patenteada em inúmeros produtos e serviços. Aliada que está à competência técnica dos designers brasileiros, e a excelência em processos e materiais, o design nacional segue consolidando um rol imenso de premiações conquistadas no exterior. É muito mais do que um único diferencial. É antes uma chancela extremamente difícil de se conquistar: a de uma linguagem que faz distinguir a qualidade intrínseca de um projeto.

A presença brasileira em Design de Produto no Cannes Lions ainda é discreta e, neste sentido, se consolida como mais um espaço a ser explorado e conquistado.

 

Referências:

Raw for the Oceans | https://www.youtube.com/watch?v=5ALctjtnlB0

Lucky Iron Fish | http://www.luckyironfish.com/about-us

Jacquard | http://www.adweek.com/brand-marketing/google-scores-product-design-grand-prix-cannes-jacquard-connected-jacket-172126/

Furf Design Studio | http://furf.com.br/

Projetos Finalistas | Design de Produto | http://player.canneslions.com/index.html#/works?category=product-design&festival=CL

Créditos Imagens:

1 | http://player.canneslions.com/index.html#/works?category=product-design&festival=CL

2/3/4| http://furf.com.br/projeto/confete/

 

Redação

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