Discussão sobre homofobia no futebol é inadiável

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Tamára Baranov

O tabu das arquibancadas

Enquanto torcedores formam grupos para dar visibilidade à homossexualidade, organizadas temem perda de espaço; discussão sobre homofobia no futebol é inadiável

De APublica – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo

Por Ciro Barros e Giulia Afiune

O ano de 2013 foi expressivo para a discussão de dois grandes tabus do futebol brasileiro: a homossexualidade e a homofobia. Em 9 de abril, torcedores do Atlético-MG fundaram a Galo Queer, uma página no Facebook que reúne torcedores alvinegros com uma postura anti-homofobia e anti-sexismo. “Galo” é o apelido do clube de Minas Gerais e “Queer”, em inglês, significa gay. Em 15 dias, a página ganhou cinco mil fãs, e hoje conta com mais de 6.600.

O gesto da torcida atleticana motivou outras a fazerem o mesmo. Ao longo do mês de abril, surgiram páginas semelhantes de torcidas de todo o país: CruzeiroSão PauloNáuticoGrêmioVitóriaBahiaInternacionalPalmeirasCorinthiansFlamengo, entre outros. A lista é extensa e mostra que a discussão da homofobia no futebol, até então, ainda estava dentro do armário.

“O estádio é um ambiente super homofóbico. Lá não se vê nenhuma manifestação de diversidade afetiva”, diz o jornalista — e palmeirense — William de Lucca, colaborador do jornal Folha de S.Paulo em João Pessoa, na Paraíba. Ele é homossexual assumido e se esforça para prestigiar os jogos do Palmeiras em cidades próximas, como Recife ou Natal. William já era militante LGBT e, assim que ouviu falar, aderiu à página anti-homofóbica “Palmeiras Livre”. “Em 2008, eu morei alguns meses em São Paulo e tinha um namorado que era palmeirense também. A gente foi até aconselhado por um amigo dele da torcida organizada a não ter nenhuma demonstração de afeto dentro do estádio, porque a gente poderia ser agredido”, lembra. “A gente sempre fica com medo. Em outros ambientes, sou muito seguro quanto a manifestar meu afeto: ando de mão dada e tal, inclusive na rua, mas acho que o estádio de futebol é mais hostil do que a própria rua, sabe? A homofobia é muito mais explícita”, conta. “A gente só não tem mais relatos disso porque os homossexuais que torcem nos estádios não arriscam nenhum tipo de demonstração afetiva”, conclui William.

Dentro da Palmeiras Livre, assim como nas outras organizações, ainda se discute quais serão os próximos passos. Os integrantes querem ocupar as arquibancadas, mas temem agressões físicas, já que as verbais ocorrem diariamente. “Dia sim e outro também nós recebemos ameaças”, conta a fotógrafa e analista de mídias sociais Thaís Nozue, também integrante da Palmeiras Livre. “As pessoas vem ameaçando, dizendo que estão mexendo com o time errado, que eles vão descobrir quem é, que não sei o quê”. Por enquanto, a hostilidade está restrita a mensagens no Facebook como: “Vão morrer”, “Experimenta aparecer na torcida e vocês vão apanhar”, “A Mancha [maior organizada do Palmeiras] bate em polícia e não vai bater em um monte de bicha?” — o que não significa que a ameaça venha da Mancha, como explica Thaís.

Segundo ela, a causa da Palmeiras Livre também foi rechaçada pelas organizadas alviverdes. “A gente até tentou uma aproximação com as organizadas, mas elas deram um recado para a gente não se meter com elas. Às vezes aparecem pessoas se dizendo das organizadas nos ameaçando, mas a gente não tem como comprovar se são mesmo”, diz.

A homofobia veste verde?

Procurado pela Pública, Marcos Ferreira, o Marquinhos, presidente da Mancha Alviverde, não quis dar uma entrevista sobre a polêmica da homofobia e sobre um episódio envolvendo o volante e lateral Richarlyson, hoje no Atlético-MG e tido como homossexual, apesar de sempre se declarar heterossexual.

No início de 2012, o Verdão estudava a possibilidade de contratar Richarlyson. A Mancha Verde convocou um protesto no dia 4 de janeiro, na frente do CT (Centro de Treinamento) do Palmeiras, zona oeste de São Paulo. Segundo a torcida, o motivo era uma rixa antiga com o jogador, que estava à beira de um acordo com o Alviverde, mas acabou indo jogar no rival São Paulo. Porém, uma grande faixa estendida por duas pessoas durante aquele ato dizia: “A homofobia veste verde”.

Ao telefone, Marquinhos negou repetidas vezes que a Mancha tenha algo a ver com a faixa — ela seria obra de duas pessoas desconhecidas da organizada que foram ao protesto. Mas ele disse que “não via nada de agressivo na faixa”. A Pública também tentou contato com Richarlyson, mas foi informada pelo seu empresário, Julio Fressato, que ele estava se recuperando de uma cirurgia.

O selinho de Sheik e o voo das Gaivotas

Na esteira das iniciativas anti-homofóbicas, dois episódios jogaram o Corinthians no centro da discussão. O atacante Emerson Sheik, herói corintiano da inédita conquista da Libertadores em 2012, foi vítima de uma onda de ataques homofóbicos depois da vitória do Corinthians sobre o Coritiba por 1 a 0, no Pacaembu, no dia 18 de agosto. Para comemorar, Sheik postou uma foto em seu perfil oficial no Instagram em que aparecia dando um selinho em um amigo de longa data, o empresário Isaac Azar. “Tem que ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer. Tem que ser muito livre para comemorar uma vitória assim, de cara limpa, com um amigo que te apoia sempre”, escreveu.

No dia seguinte, cinco integrantes da Camisa 12, segunda maior torcida organizada do Corinthians, foram ao CT do clube protestar contra a atitude de Sheik, levando três faixas que diziam “Vai beijar a P.Q.P. Aqui é lugar de homem”, “Respeito é pra quem tem” e “Viado não”.

Dois meses depois, o jornalista e apresentador Luiz Felipe de Campos Mundin, que assina como Felipeh Campos, anunciou que faltava pouco para fundar a já polêmica Gaivotas Fiéis, primeira torcida organizada com conceito gay do Corinthians.

A Pública conseguiu entrevistar um personagem importante em ambos os episódios, Marco Antônio de Paula Rodrigues, de 34 anos. Conhecido pelo apelido “Capão”, por ter crescido no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul de São Paulo, ele é presidente da Camisa 12, e foi um dos cinco que protestaram contra o selinho de Sheik. Ele revela ter sido o autor da faixa que dizia “Viado não” — a única, dentre as três, que considera agressiva. “Só essa foi um pouco mais forte, foi um excesso. Eu que risquei com o spray essa faixa, eu até pensei [que era agressiva], mas depois que nós já estávamos lá, a gente não podia voltar atrás”, diz. Trajado da cabeça aos pés com roupas da Camisa 12 (boné, camiseta, agasalho, bermuda e até meias da torcida), Capão é assertivo, olha nos olhos e tem a voz rouca. Aceitou falar durante uma hora e meia com a reportagem da Pública na sede da torcida, no bairro paulistano do Pari, região central.

Sobre a iniciativa de Felipeh Campos, Capão vê a nova torcida gay como puro marketing. “Acredito que ele está pensando mais numa autopromoção do que numa torcida organizada. Porque para nós, uma torcida organizada começa como a gente sempre troca ideia nas torcidas: o cara vai para uma caravana, o cara participa de vários jogos do Corinthians na arquibancada e não na numerada, a pessoa participa de inúmeras manifestações corintianas que teve nesses últimos anos, tanto de protesto contra diretoria, contra jogador. Tem uma caminhada ideológica dentro de uma instituição para você fundar uma torcida organizada. Torcida organizada não é um comércio”, argumenta.

“Tomei muita borrachada da polícia por aí, passei muita fome na estrada, nunca fomos pra qualquer lugar e fomos bem recebidos por qualquer órgão que cuida da organização do jogo no estádio, da segurança pública, nós sempre fomos maltratados por muitos deles, então a torcida organizada não é simplesmente chegar e falar: ‘Ó, vou criar uma torcida hoje. Vou criar uma camisa e vou pro estádio’”.

Para Capão, é “inaceitável” a escolha do nome da torcida gay e a corruptela do símbolo do Corinthians — no brasão da Gaivotas,  além da nova ave, o símbolo do Corinthians tem como fundo um espelho de maquiagem com direito a pincel e lápis, e a bandeira do Estado de São Paulo foi pintada com as cores do arco-íris, ícone do movimento gay.

Símbolos da Gaviões da Fiel e da Gaivotas Fiéis. Para a Gaviões, houve plágio do jornalista Felipeh Campos (Foto: Reprodução)

“Eu acho que o rapaz lá acaba beirando até o ridículo… Ele está transmutando as nossas coisas. Tanto pelo nome que ele coloca se referindo a uma torcida que tem uma puta tradição [Gaviões da Fiel, a maior organizada do Corinthians, fundada em 1969] quanto do nosso símbolo do Corinthians, ele colocar um espelho e uns negócios de maquiagem no símbolo… Numa entrevista que eu vi, perguntaram: ‘Mas por que isso daí?’ E ele: ‘Ah, porque na verdade o corintiano vai gostar de se pintar na arquibancada’. Meu, torcida do Coringão é 90 minutos, mano. A gente gosta é de cantar, de sofrer, de chorar pelo Coringão. Não é de se pintar. Com todo o respeito, nem as nossas mulheres fazem isso”, afirma Capão, que é contra a existência de uma torcida gay. “Já digo de pronto que eu não sou favorável a ter uma torcida gay, porque eu acho que os gays não precisam disso daí pra poder se achar numa sociedade que já está abrangendo todo mundo”.

Perguntado se existem gays na Camisa 12, Capão não hesita: “Nós não temos gays na torcida. Pelo menos nunca soubemos. Se o cara tá lá, tá assistindo o jogo. Tudo bem, nós vamos respeitar, mas qualquer faixa assim, nós somo contra. Nós não queremos, de verdade, aqui dentro da 12. Pra nós é sério o estádio, não é só pra brincar”. Capão, explicando que, se “no meio de um gol os dois de repente se beijarem no meio da nossa torcida”, seria “ruim”: “O estádio pra nós é um templo”.

O lastro, para Capão — que não se considera homofóbico —, é sempre a tradição. “O cara ir pro jogo, se for um homem, de shortinho amarradinho, camisa amarradinha e todo pintado… Pra nós não rola, de verdade. Porque o nosso tradicionalismo, infelizmente, meio ogro, tá ligado, até beirando homem da caverna não permite isso daí, certo?”. Se a Camisa 12 fosse homofóbica, exemplifica Capão, “a gente juntava os associados da 12 e ia lá na passeata gay quebrar todo mundo. No entanto que ninguém tá muito se manifestando [sobre a Gaivotas Fiéis], certo? Por quê? Porque tudo que a gente fala, a mídia distorce”.

Sobre o episódio do selinho do Sheik, Capão diz que o problema foi o atacante ter declarado que o beijo era para comemorar a vitória do Corinthians. “Quando ele falou que ele estava fazendo aquilo pra comemorar o jogo ele já transferiu a responsa pro Corinthians”, afirma, explicando que, depois do episódio, onde quer que o Timão jogue é recebido com gritos de “beija beija beija” pelos torcedores rivais. “Estávamos ali [no protesto] representando muitos torcedores. Muitos pediram para que a gente tomasse a frente, tanto que eu recebi inúmeras congratulações depois”, diz.

Gaviões X Gaivotas

A Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians, fez uma denúncia de crime contra a propriedade industrial no 1º DP de Guarulhos, contestando a sátira à marca da torcida, que é registrada. A torcida reclama que a proximidade dos nomes e símbolos das duas pode induzir ao erro. “Eu não sei onde eles enxergaram plágio”, contesta Felipeh Campos, da Gaivotas. “A minha torcida chama Gaivotas Fiéis, não é gavioa. Já começa que Gaivota é feminino, não é masculino. Se eu tivesse colocado cílios e salto alto no gavião, aí eu até acredito que poderia ter sido uma questão de plágio. Porém eu não estou utilizando as peças do emblema para plagiar alguma coisa. Entendo isso como uma retaliação homofóbica”, diz.

Felipeh conta que vem sendo ameaçado nas redes sociais, e que foi agredido verbalmente na semana passada, na Avenida Paulista. “As ameaças são coisas do tipo ‘Cuidado, eu vou te matar’, ‘Você já tá jurado de morte’, ‘Abre teu olho’. Então você vê que são atitudes extremamente homofóbicas e preconceituosas, elas não têm outros motivos”, diz. Sobre a agressão ao vivo, ele conta que ocorreu na saída de seu trabalho, na sede da TV Gazeta, na avenida Paulista. “Eu estava com um amigo meu na Paulista e um cara passou, me esbarrou e começou a me xingar. E eu falei: ‘É comigo que você tá falando?’ E ele: ‘ Você acha que é com quem? Tá pensando que você e a sua turminha vai entrar em estádio? Não vai não, mano’. E eu falei: ‘Bom, vamos conversar, abaixa o tom de voz’. E aí ele continuou a gritar e eu falei: ‘Ótimo, a polícia está vindo ali, eu vou te incriminar agora em crime de homofobia e você vai sair daqui para a cadeia’. Aí na hora que ele viu que a polícia vinha vindo a pé, ele meio que saiu de canto e deu um pinote”, relata.

Felipeh Campos conta que desde pequeno frequenta estádios. “O futebol nas décadas de 70 e 80 era uma grande festa. Mas foi crescendo de uma forma tão grande que deixou de olhar para a questão democrática. Não está escrito na porta do estádio que só é permitida a entrada de homens, né? Eu acredito que não só os gays têm que frequentar os estádios, como a mulher, as crianças, entendeu? O futebol é pra todos”, diz. “Mas é claro que o conceito da torcida é gay e o meu objetivo maior é inserir o público gay no estádio de futebol. Eles [as organizadas] monopolizaram os estádios”, diz.

De fato, a divisão do estádio do Pacaembu é um dos argumentos de Capão para rejeitar a convivência com as Gaivotas. Por determinação da FPF (Federação Paulista de Futebol), as organizadas do Corinthians têm que ocupar as arquibancadas Verde e Amarela, atrás de um dos gols, nos jogos em que o clube é mandante. Se ficasse fora desse setor, a Gaivotas estaria violando a regra. “Mas dentro desse setor, nós já temos seis torcidas: temos a Gaviões da Fiel, temos a Camisa 12, a Pavilhão 9, a Estopim da Fiel, a Coringão Chopp e a Fiel Macabra. São seis torcidas que estão ali e todas elas obtiveram a caminhada. Ninguém chegou do nada não”, argumenta Capão.

Felipeh garante que o objetivo não é “fazer represália com qualquer tipo de segmento sexual”. Porém, sobre dividir espaço com as outras organizadas, ele é enfático. “Nem que eu tiver que pedir segurança para o exército. Mas que a minha torcida vai entrar nos estádios, isso vai, com certeza. Nem que a gente tenha que chegar de carro-forte, de tanque”. Ele ressalta que a sua torcida será profissional e que todo o corpo diretivo será remunerado, diferentemente das outras organizadas.

Procurado pela Pública, Jerry Xavier, diretor da Gaviões da Fiel, disse que a torcida não se pronuncia sobre esse tema. O Corinthians também afirmou, via assessoria, que não se manifesta a respeito de torcidas.

Homofobia bate recorde no Brasil

O Brasil, o país do futebol, vem sendo líder no ranking de mortes por homofobia. Segundo dados do relatório “Assassinatos de Homossexuais (LGBT) no Brasil”, de 2012, do Grupo Gay da Bahia, o Brasil concentra 44% do total de assassinatos por motivação homofóbica no mundo. Em 2012, foram registradas 3.084 denúncias de violações ligadas à homofobia e 310 homicídios por esse motivo. 

Estádio: a terra do macho

“Por ser o estádio um ambiente que tem uma série de permissões nas relações masculinas — carinhos, afetos, às vezes até mesmo agressões — é necessário que esse ambiente seja considerado seguro para os homens. Para garantir essa suposta ‘segurança’, os torcedores precisam reforçar a sua masculinidade. E uma das coisas que melhor reforça a masculinidade na nossa cultura é a homofobia. Por isso ela aparece de forma tão gritante”, afirma o pedagogo e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gustavo Andrada Bandeira, autor da tese de mestrado “‘Eu canto, bebo e brigo…alegria do meu coração’: currículo de masculinidades nos estádios de futebol”.

Para Bandeira, esse é o motivo da rejeição às torcidas gays: “Se a torcida do Corinthians, do Grêmio ou do Internacional for a primeira a levantar uma bandeira pró ações afirmativas, ela poderá ser chamada de a ‘torcida gay’, e as torcidas acham que isso é um problema”, diz.

Para Marco Antonio Bettine de Almeida, professor livre-docente na Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política da EACH-USP, a reação é “natural” num espaço que sempre foi dominado pelo masculino. “A partir do momento que as agendas de visibilidades desses grupos excluídos, que tiveram seus direitos cerceados, que são espancados, é natural, vendo a representação que o futebol tem no Brasil, começar toda essa movimentação de garantir uma representação nesse espaço eminentemente masculino, do macho, do falo”. Para ele, no entanto, há espaço para negociação entre os grupos LGBT e as organizadas. “Uma mulher no estádio é aceita, por exemplo, mas tem que representar os papéis dentro do estádio, que é torcer, xingar, participar. As torcidas gays ou não gays têm que incorporar um pouco da história desse espaço do torcer. E conhecer, minimamente, os códigos, senão vai gerar conflito. Porque o espaço é um espaço sagrado e tem uma carga cultural muito forte”.

Bandeira discorda. “Se é uma torcida gay, que ela tenha comportamentos diferentes das torcidas não gays. É sempre complicado quando a gente quer transgredir as regras de gênero sexual num ambiente muito marcado. Mas me parece que seria muito mais interessante se eles fizessem algo diferente”. Foi essa a aposta da Coligay, a primeira torcida homossexual do país, que em plena ditadura militar conquistou seu espaço dentre os torcedores do Grêmio (leia mais abaixo).

Uma inspiração para o caso brasileiro pode ser a GFSN (Gay Football Supporters Network, Rede de Torcedores de Futebol Gays, numa tradução livre). Fundada em 1989, a associação do Reino Unido tem diversas iniciativas para a inserção do público LGBT no futebol. “Estamos em contato permanente com muitos clubes para recomendar políticas anti-homofóbicas por parte deles”, afirma Simon Smith, do departamento de comunicação. “Ajudamos, por exemplo, a consolidar os Gay Gooners, a torcida LGBT do Arsenal e conseguimos o apoio formal de representantes do Liverpool e do Everton para a parada do orgulho LGBT da cidade de Liverpool. Dentro de campo, organizamos há dez anos campeonatos de futebol voltados ao público LGBT para a inclusão no esporte”, conta Smith.

A GFSN também registra com precisão britânica a ocorrência de gritos e cânticos homofóbicos nos estádios — e faz campanha permanente contra eles. “Na temporada passada, os torcedores do Brighton & Hove Albion FC sofreram com cantos homofóbicos em 72% dos jogos que disputaram. Nós documentamos isso e enviamos à FA (Football Association, a CBF inglesa), que ainda não tomou nenhuma atitude. Mas nós continuamos pressionando”, diz.

No próximo ano, a Copa do Mundo promete ser palco de discussão sobre homossexualidade —  pelo menos em São Paulo, onde mais de 40 mil pessoas são esperadas para acompanhar a transmissão dos jogos nos telões da Fan Fest, no Vale do Anhangabaú, centro da cidade. Ali, a prefeitura planeja realizar uma intervenção para discutir homofobia, com direito a exibição de vídeos em telas e distribuição de folhetos sobre o tema. Outra ação que está sendo estudada é transmitir os jogos em telões no Largo do Arouche, um “point” LGBT da cidade, para esses torcedores.

Um pouco de história: em plena ditadura, nascia a Coligay

A tentativa de formar uma torcida organizada gay não é novidade no futebol brasileiro. Foi no dia 10 de abril de 1977, quando o Grêmio foi disputar uma partida pelo Campeonato Gaúcho contra o Santa Cruz (RS), que a novidade estampava as arquibancadas do estádio Olímpico: cerca de 60 torcedores homossexuais impressionaram os demais pela festa que faziam. Era a Coligay, a primeira torcida organizada assumidamente gay do Brasil. A Coligay foi fundada por Volmar Santos, que hoje é colunista social do jornal O Nacional, de Passo Fundo (RS).

Gremista fanático, Volmar nunca deixou de frequentar o Olímpico. “Eu ia aos jogos e achava as torcidas muito quietas, sem animação nenhuma. Foi quando eu resolvi formar uma torcida organizada. Aí me veio a ideia de fazer uma torcida gay”, conta. A ideia surgiu quando ele administrava a boate Coliseu, em Porto Alegre, voltada ao público gay, que não tinha muitas opções na capital gaúcha. O nome Coligay vem do nome da boate. “Foi aí que eu mandei fazer uns kaftas, uma espécie de túnica com as cores do Grêmio, e fomos torcer no estádio. A nossa marca era nunca deixar de cantar, fazer festa, apoiar sempre o nosso time. E a cada jogo a gente inventava coisas diferentes”, relembra. A torcida ganhou fama de pé quente: em 1977, com a Coligay nas arquibancadas, o Grêmio quebrou um jejum de oito anos sem títulos estaduais.

Naquele longínquo ano de 1977, o mesmo Corinthians chegou a convidar a torcida gay a prestigiar os seus jogos – e a Coligay esteve presente na quebra do jejum de 23 anos sem títulos do Timão. “Ganhamos fama de pé quente e o Vicente Matheus [ex-presidente do Corinthians] nos convidou. Assistimos o título do Corinthians contra a Ponte Preta de dentro do Morumbi, vestidos como gremistas”, recorda.

A Coligay durou cerca de seis anos, e acabou em 1983. “A torcida era muito centrada na figura do Volmar. Quando ele teve que ir para Passo Fundo, não teve uma liderança que conseguisse dar continuidade”, conta Leo Gerchmann, repórter especial do jornal Zero Hora, autor de um livro sobre a Coligay que deve ser lançado nos próximos meses.

Segundo Léo, a torcida enfrentou muita resistência por parte do Grêmio e da sua organizada Eurico Lara. “Temendo agressões, eu até coloquei o pessoal pra fazer karatê pra nos defendermos de possíveis ataques”, diz Volmar. Assim, na ocasião em que foram de fato atacados por torcedores do Gaúcho, clube de Passo Fundo, durante o Campeonato Gaúcho de 1977, a Coligay colocou os agressores para correr. “Com o tempo o clube e a própria torcida adotaram a Coligay. Alguns conselheiros gremistas até deram apoio financeiro à torcida. Acho uma página bonita da história do Grêmio, de aceitação da diferença”, diz Gerchmann. “Houve outras experiências de torcidas gays, coisas efêmeras no Cruzeiro, Fluminense e até no Internacional, que teve a Inter Flowers. E dois anos depois da Coligay, teve a Fla-Gay fundada pelo carnavalesco Clóvis Bornay, apesar dele ser vascaíno”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  1. A equipe do São Francisco do

    A equipe do São Francisco do Conde disputou na terça-feira, 4, o jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil de Futebol Feminino e acabou derrotada por 5 a 0 pela Ferroviária-SP e eliminada da competição. No entanto, uma situação repudiante de preconceito marcou a partida.

    Ainda no gramado da Arena da Fonte, na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, as jogadoras do time baiano ouviram insultos bairristas e racistas vindo das arquibancadas, por parte da torcida do time da casa, antes, durante e principalmente depois do apito final.

    Além disso, cerca de 40 torcedores do time paulista agrediram a delegação do São Francisco, arremessando um sapato e uma garrafa de água. Uma bateria de celular foi atirada no campo, e atingiu o técnico Mário Augusto, que levou um corte no rosto.

    Em entrevista ao Uol Esporte, a lateral Norma comentou que, além dos xingamentos de “porcos” e “miseráveis”, os torcedores paulistas ofenderam as jogadoras pelo fato de serem nordestinas.

    “Eles falavam que ‘nordestino tinha que sumir do mapa’ que a gente ‘comia ração’ e que ‘nordestino era a vergonha do país’. Foi uma coisa horrível”, relatou a atleta, que disse ainda ter levado uma cusparada no rosto..

    Matéria completa:
    http://atarde.uol.com.br/esportes/materias/1574074-sao-francisco-e-vitima-de-racismo-em-jogo-da-copa-do-brasil

  2. preconceito no Futebol

    Como se ja não fosse suficiente o racismo,junta-se a este a homofobia.Que, acompanha  o futebol,seus clubes sabe a maneira pejorativa que um rival se refere ao outro,e principalmente se um jogador ja leva a suspeita de homosexual.Aqui em Minas (sou Atleticano),de onde conheço a história,a torcida do cruzeiro erachamada de po de arroz.O Raul foi motivo de gozações por causa da sua famosa camisa amarela.Do lado Atleticano,alem de muito tempo a nossa torcida ser rotulada de maioria de pobres,pretos,tivemos o famoso episódio das camisas de treinos rosa,as zoações em torno do jogador Ricarlison.E atualmente uns se referem,os torcedores,um ao outro como “frangas” e “marias”.No clima de ódio que vivemos atualmente,insuflado por uma serie de fatos que nem preciso repetir,junta-se ainda a assassinatos de torcedores,brigas em arquibancadas,nas rua,invasão de CT,fica muito difícil a organização e participação de torcedores organizados,principalmente sobre opção sexual,o que é realmente entristecedor,mais,ja que não bastasse alem de tudo isto,a elevação dos preços dos ingressos,que vem afastando a grande maioria dos torcedores,menos privilegiados dos estádios,e são estes que levam a alegria as arquibancadas.

  3. Futebol, coisa de macho?

    Gente, sou gaúcho, torcedor do Grêmio, e abomino qualquer tipo de preconceito. Para a maioria dos torcedores de futebol, o mais grave e agressivo xingamento é chamar o adiversário de gay. Não entendo essa lógica desses torcedores. Se me chamarem de gay, não me atinge, pois não sou gay. Ofende sim o direito das outras pessoas serem o que são e o que quiserem ser. É um bando de recalcados, meus colegas torcedores. Além do mais, os gays que conheço são machos, apenas machos que gostam de outros machos, isso parece inaceitável para os homofóbicos, “unicos machos verdadeiros” em sua estreita e rasa visão.

  4. Times com todos os gêneros, quando será?

    Coisa ridícula, para os dias atuais, a gente ver atletas (de pinto) jogarem separados de atletas (de vagina), se o que vale é a atuação dentro do campo de futebol.

    Quando é que isto vai mudar?

      

    1. Esperemos que logo, né?

      Turmas de amigos fazem jogos mistos de vôlei de praia ou de piscina, né?

      Isso tende a crescer.

      E patinação no gelo de casais é um dos esportes mais vistos pelas pessoas nas olimpíadas de inverno.

  5. Caramba !!!!!! O que o

    Caramba !!!!!! O que o pessoal ativista desta causa querem é confundir. Não tem outro objetivo. Veja bem, preconceito é você se achar superior a outro, seja pela “raça” ou pela cor. Quanto a homossexual não existe preconceito e sim, princìpios. O certo e o errado. Homossexualismo é errado e pronto. Condenado pela Bíblia. Se fosse porque sempre existiu, também sempre existiram assassinos, traidores, mentirosos e ai?? Pouca vergonha, isso sim. Todas as taras, desvios e outros comportamentos considerados esdrúxulos estão sendo cultuados e incentivados atualmente. Onde passa um boi, passa uma boiada. O futebol é o que é no Brasil porque é jogado por HOMENS, haja vista que apesar da Marta, jogadora eleita melhor do mundo várias vezes, o futebol feminino não empolga. Nem a força. Quem gosta de futebol, torce para um time, jamais gostaria de ver jogador fru-fru defendendo sua equipe. Essa aberração de querer se impor pela mídia, pelo momento, e querer mudar as regras é coisa de gente aproveitadora e consequentemente, sem qualidade. No Corinthians e em qualquer clube que se preze nunca esses “torcedores” serão bem vindos. A não ser que se decrete o fim do futebol.

    1. Esclarecendo a Bíblia…

      “Condenado pela Bíblia.”

      Esclarecendo a Bíblia

      Laura Schlessinger é uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.

      Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância. O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano e também disponibilizada na Internet.

      “Cara Dra. Laura

      Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso. Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levíticos 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.

      Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:

      a. Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

      b. Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

      c. Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levíticos 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

      d. Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

      e. Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo mesmo?

      f. Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

      g. Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

      h. A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

      i. Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco).

      j. Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19 porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

      Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável. Seu discípulo e fã ardoroso.”

      1. Prefiro mil vezez ser tonta

        Prefiro mil vezez ser tonta no seu conceito a ser, ou não ser, como você. Ah, e outra: não queira defender mulheres e negros só para despistar o que realmente você defende. 

  6. Já é demais!

    O jogo de futebol, que já é sofrível por diversas razões que conhecemos e que tem feito diminuir notavelmente o público nos estádios, está querendo desviar os holofotes e a TV para a arquibancada, num mórbido desejo LGBT de aparecer e de procurar 15 minutos de glória em cada espaço, durante toda a sua vida. É muita inchação de saco! Vão fazer o que ao estádio? Olhar as pernas dos jogadores? Paquerar com torcedores bêbados sem camiseta? Uma parada Gay? Por que não assistem em forma comum, aplaudem, vaiam, participem e vão embora?

    Estamos caminhando para uma quebra social sem volta onde, por causa desta exagerada ação intrusiva dos LGBT, que querem camarote ou Lei especial, em toda e qualquer situação, o restante da sociedade irá tomar nojo deles.

    Caminhamos, gradativamente, para a quebra das famílias, das sociedades, dos estados nacionais independentes, nesta onda Gay claramente promovida e turbinada pelo grande poder global. Existem interesses centenários de romper com o mundo formado por nações autônomas, praticado por pessoas apátridas ou sem interesse em ter uma. Desde o comunismo (proletários do mundo uni-vos), seguindo pelo capitalismo (o dinheiro não tem pátria), temos hoje a onda do Gaysismo, rompendo países, famílias e, agora, até torcidas de futebol.

      1. Não é isso

        Quando a gente vai a um espetáculo, o centro do assunto é o espetáculo em si e não a arquibancada. O Gay dispõe de momentos para realçar a sua condição (Gala Gay e outras ações), e momentos em que possa sentir-se apenas um ser humano, como qualquer um.

        1. Não é isso (2)

          Você não pode condicionar o comportamento de torcedores aos seus padrões pessoais.

          Você pode se conformar com a realidade. Ou não. Aí é sua opção.

          1. Não é isso (3)

            Gunter,

            Há muitos anos mulheres assistem também aos estádios e torcem junto com as suas turmas, sem precisar de criar torcida feminina separada, por exemplo. A mulher assiste como uma torcedora qualquer, não é?

          2. Uai

            O alexis assiste aos jogos como quiser

            As mulheres assistem aos jogos como quiserem

            Os LGBTs assistem como quiserem.

            Não descumprindo nenhuma regra de segurança do estádio ou lei…

            Não se altera o fato de que muitas pessoas não estão dispostas – e nem obrigadas – a seguir ordens de comportamento da alexislândia.

            E é bom demais que seja assim!

            [video:http://www.youtube.com/watch?v=_pj1s79M3PE%5D

          3. Por isso é que não vai dar certo

            Essa atitude sua Gunter é muito agressiva, em geral. Você está propiciando o divisionismo entre as pessoas e não a inserção gradativa das minorias dentro do espaço comum. Há momento para ser Gay e há momento para ser apenas gente, principalmente quando estamos assistindo um espetáculo onde os holofotes estão olhando para outro lugar e não para o seu novo penteado.

          4. Gay é apenas gente!

            E gays vão a estádios para torcer como qualquer pessoa. As torcidas de homossexuais são importantes para afirmação de quem sempre foi discriminado, ofendido, reprimido e perseguido por sua condição. Ainda mais em um meio machista e recalcado como a da torcida de futebol.

             

      2. Ainda deve demorar a queda desse muro

        A sociedade ainda não consegue aceitar um jogador de futebol gay, muito menos um militar e até um executivo, essas profissões ainda se sustentam em um universo machista. E esses profissionais assumem sua sexualidade longe dos olhos de todos; os romances nos quartéis das forças armadas se multiplicam, é também assim e com total discrição no mundo do futebol e os executivos só folgam o nó da gravata com total segurança nos bastidores do mundo dos negócios, eles vivem entre dois mundos: o do poder e prestígio onde encarnam uma identidade heterossexual e o mundo dos seus próprios desejos onde se mostram como realmente são. Ainda deve demorar a queda desse muro que separa a sexualidade diferente desse universo das fardas, da bola, das gravatas.

  7. RACISMO E HOMOFOBIA

    REPETINDO O QUE POSTEI AOS 22 MIN DE HOJE – 00H22

    No dia da mulher, taioense negra é “presenteada” com racismo em Taió
      

    Um dos fatos mais sórdidos e nojentos da história dos 65 anos da cidade de Taió aconteceu na manhã deste sábado (08), em pleno Dia Internacional da Mulher.

    Amanhecia o dia que deveria ser de alegria total para todas as pessoas do sexo feminino que comemoram o seu dia. A cidade inclusive promove alguns eventos neste final de semana para homenagear a mulher.

    Porém, em pleno século XXI, a técnica de enfermagem Cátia Regina dos Passos que tem a pele negra, abriu a porta do seu apartamento e encontrou uma caixinha com um bilhete escrito: “Bom dia, Macaca”. E na caixa, havia uma banana. “E ainda me pedem pra que eu respeite essas pessoas porque elas são ignorantes e não sabem o que estão fazendo” postou Cátia em seu perfil no facebook.

    Nossa equipe de reportagens entrou em contato com ela que autorizou a publicação deste fato, detalhando ainda que o bilhete estava escrito a mão num papel de caderno normal, letra de forma bem grande, “BOM DIA MACACA”.

    A Rádio Educadora manifesta-se CONTRÁRIA a esse tipo de ação e posiciona-se, classificando como um ato inadmissível o que aconteceu na cidade de Taió que entristece todos os munícipes num dia de tanta alegria e comemoração e solicita a atenção das autoridades policiais para este caso.

    http://educadora.am.br/noticia/29221/No-dia-da-mulher,-funcion%C3%A1ria-p%C3%BAblica-negra-%C3%A9-presenteada-com-racismo-em-Tai%C3%B3

     

    PS. Em 1988 eu trabalhava na Eletropaulo e no dia do aniversário de 16 anos do boy, chamado Anselmo, na hora de cortar o bolo o pessoal deu um presente pra ele. Quando abriu tinha um bilhete e um canho de bananas. Estava escrito “Ansímio, este é teu presente de aniversáro”. O menino engoliu o choro e enxugou as lágrimas que caíam dos seus olhos. Eu não aguentei e falei na hora que se ele quisesse iríamos abrir um B.O. e denunciar o pessoal, inclusive chefes que se matavam de rir. Ele preferiu deixar pra lá. Mas eu falei alto pra que todos ouvissem. Mexam comigo, não com uma criança, seus filhos da puta e virei pro garoto : nunca mais permita que te façam isto. Prometa pra mim e pra você mesmo. Da próxima vez, dê um soco na cara que eu serei sua testemunha. Fiquei quase um mês sem falar com ninguém, nem com chefia. Fui embora chorando no meio da rua. Queria matar aqueles filhos da puta. O pior é que a secretária que teve a ideia, era mulata, filha de um “morenão”, como ela dizia.

    1. Também já convivi com esse

      Também já convivi com esse preconceito que você descreveu. E é o tipo de preconceito que mais me irrita, o preconceito interiorizado, a não aceitação, a repulsa da sua própria cor perante os outros e principalmente para si mesmo. 

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