Do nacional desenvolvimentismo ao social desenvolvimentismo, por Cássio Moreira

Por Cássio Moreira

O Trabalhismo como alternativa de esquerda dentro do capitalismo: a evolução do nacional-desenvolvimentismo para o social-desenvolvimentismo

O projeto trabalhista brasileiro teve sua germinação durante o primeiro governo de Vargas. Getúlio Vargas ascendeu ao poder por meio de um golpe de estado. A Revolução de 1930, comandada por Vargas veio romper com a chamada Política Café com Leite, onde paulistas e mineiros alternava-se na Presidência da República por meio de eleições manipuladas. Com o rompimento do acordo por parte dos paulistas, os mineiros uniram-se aos gaúchos e outras oligarquias e Vargas tomou o Palácio do Catete, capital do país e sede do Governo na época. Com Vargas, terminou-se a República Velha e iniciou-se o governo provisório. Em 1937 instalou um regime ditatorial, que causou uma revolução no estado brasileiro. O Estado Novo, em que pese a censura, tortura e restrição as liberdades por meio do autoritarismo foi essencial para a consolidação do estado nacional. Em 1951, Vargas volta ao poder nos braços do povo por meio de eleições democráticas e aprofundou mudanças iniciadas em seu primeiro governo.

Muitos críticos de Vargas atribuem a ele o termo populista, não no sentido de governo popular, e sim no sentido de demagogo, manipulador das massas. Entretanto, como resposta fica o questionamento de qual governo fez mais pelos trabalhadores depois dele? Logo que terminou seu primeiro governo, Vargas incentivou a criação de dois partidos no Brasil. No espectro mais de centro surgiu o Partido Social Democrático (PSD) de base getulista e ruralista. Mais a esquerda, dentro dos limites do capitalismo, criou-se o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de base operária e também getulista. Fazendo o contraponto ao getulismo, no espectro mais de direita, surgiu a União Democrática Nacional (UDN), posteriormente transformada em ARENA que deu sustentação à ditadura militar.

No segundo governo Vargas, eleito pelo PTB (antigo) o novo presidente imprimiu a marca de seu governo, com a criação do PETROBRAS e do BNDE (depois acrescentou o “S” de social) consolidou o Estado como principal direcionador do desenvolvimento socioeconômico e com contribuições indeléveis de alguns pensadores, como Alberto Pasqualini, deixou o seu maior legado ao país: o projeto trabalhista (esboçado em sua carta-testamento).

O termo Trabalhismo é a denominação dada ao movimento operário para defesa dos seus interesses econômicos e políticos, sem ligação direta com os princípios socialistas vigentes na época da URSS. Originalmente, ele teve início na Inglaterra do século XIX, paralelamente à ideologia socialista com as lutas dos sindicatos por direitos trabalhistas e sociais. Embora o surgimento da legislação trabalhista e da justiça do trabalho tenha sido, em parte, consequência do processo de luta e das reivindicações operárias desenvolvida pelo mundo, o termo “justiça do Trabalho” surgiu na Constituição de 1934, durante do governo Vargas. Mas na prática foi efetivada com o  Decreto-lei nº 1.237 de 1939. Surgindo posteriormente, em 1942, a CLT. O dia simbólico para a assinatura foi no 1º de maio durante a comemoração do Dia do Trabalhador em um estádio lotado no Rio de Janeiro. Nela foi regulamentando vários direitos tais como: o registro do trabalhador em uma carteira de trabalho, a jornada de trabalho, o período de descanso, de direito a férias, medicina do trabalho, a justiça do trabalho e processo trabalhista, a proteção do trabalho da mulher, a organização sindical, etc.

Com a renúncia de Jânio Quadros, o vice-presidente João Goulart, o herdeiro político de Vargas, assumiu o poder em 1961 e tentou retomar o projeto varguista. No aspecto da legislação trabalhista, Jango expandiu a legislação para o campo e institui o décimo terceiro salário entre outras medidas. Na parte econômica e social tentou instituir as mudanças estruturais de uma economia em vias de industrialização, acrescentando novo ingrediente ao trabalhismo brasileiro: as reformas de base. Conforme Moniz Bandeira, esse projeto visava implementar uma espécie de social-democracia brasileira.

O projeto Vargas, chamado de Nacional-Desenvolvimentismo era representado pela tríade nacionalismo-industrialização-intervencionismo. Com o acréscimo da preocupação com o social (por meio das reformas de base com viés distributivista) esse projeto foi se transmutando no projeto trabalhista brasileiro.

O conceito de trabalhismo, surgido na Inglaterra, passou por transformações adaptando-se à realidade brasileira e adquirindo características próprias. Nessas mudanças tiveram importância fundamental os escritos de Alberto Pasqualini, que tinha como base os princípios do solidarismo cristão (democracia-cristã). Pasqualini definia o trabalhismo como expressão equivalente a de capitalismo solidarista. Por esta expressão, tem-se que a ideologia trabalhista reconhece o capitalismo como sistema econômico, defendendo consequentemente a propriedade privada. Porém, a ideologia trabalhista defende uma intervenção do Estado na economia, de modo a corrigir os excessos do sistema capitalista e atingir uma forma mais equilibrada e humana do capitalismo, dando ênfase nas políticas públicas com objetivo de melhorar a condição de vida dos trabalhadores, o que seria atingindo baseado na “conciliação de classes”. O trabalhismo sustenta a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a sua convivência harmônica, bem como a superação das diferenças de classe, sem violência, por meio da melhor distribuição da riqueza e da promoção da justiça social. Salienta Pasqualini que “o trabalhismo não é, pois, necessariamente, um movimento socialista. Como vimos, o socialismo não é um fim, mas um meio, isto é, uma forma de organização econômica tendo em vista a eliminação da usura social”.

Portanto, conforme a doutrina trabalhista, o capital deve ser um conjunto de meios instrumentais ou aquisitivos, dirigidos e coordenados pelo Estado, e muitas vezes executado pela iniciativa privada, mas sempre tendo em vista o desenvolvimento da economia e o bem-estar coletivo.  As ideias de Alberto Pasqualini centravam-se numa plataforma reformista que tinha como objetivo transformar o “capitalismo individualista em capitalismo solidarista, com uma socialização parcial do lucro”. Pasqualini acreditava que a ação governamental deveria ser eminentemente pedagógica. A condução política far-se-ia pelo esclarecimento da sociedade, via mudança de mentalidade. O sistema educacional era, para ele, o caminho mais eficaz para realizar as reformas sociais, políticas e econômicas, superando assim o subdesenvolvimento do país. Sua concepção de Estado era a de que ele era fruto da evolução da sociedade. Ao fazer uso de uma analogia entre “cérebro e corpo”, o Estado é o cérebro da sociedade, o órgão mais especializado e complexo ao qual cabe um papel de direção e organização.

Portanto, as reformas necessárias ocorreriam por meio da mudança de mentalidade. Para isso era necessária uma reforma na consciência social, que diminuiria as práticas egoístas e as substituiria por ações solidárias, tais como cooperação, ordem, harmonia, lealdade, evitando, portanto, o confronto entre os interesses individuais (egoístas) com os interesses coletivos (morais). Pasqualini destacou principalmente a função moral do Estado: executar na prática o sistema solidário com suas especificidades. O trabalhismo está à esquerda no sistema capitalista, assim como era o oposto do liberalismo na década de 50-60 atualmente é o oposto ao neoliberalismo econômico hegemônico nos anos 90. Não visa acabar com o capitalismo, mas adapta-lo a realidade brasileira. Nesse sentido a regulamentação dos meios de comunicação conforme prevê a constituição de 1988 (§ 5º – Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio), ou seja, a não existência de oligopólio no setor de informação passa a ser fundamental para incentivar esses valores solidários e coibir as ações egoístas.  

Conclui Pasqualini que a socialização integral dos meios de produção (socialismo soviético, cubano, chinês) no estado atual da humanidade, poderia trazer ainda outros inconvenientes, pois o Estado se tornaria todo poderoso e seria difícil encontrar homens perfeitos para geri-lo. Acreditava ele que a tendência era para aumentar as funções do Estado, evoluindo da função simplesmente policial à função social e à função econômica. Essa evolução, porém, está condicionada a um maior grau de perfeição dos homens. Por outro lado, não será demais observar que, se a forma socialista da produção pode ser desaconselhada, não será para atender aos interesses capitalistas, mas para atender ao maior interesse da própria coletividade. Será desnecessário esclarecer que há setores da economia onde a socialização ou a estatização se impõe. Não há hoje países onde impere o puro regime capitalista.

Assim como Pasqualini, outra referência para o trabalhismo é Celso Furtado.  Em um dos seus últimos artigos, Furtado deixa uma síntese de sua obra numa equação para uma estratégia de desenvolvimento nacional que são os pilares do projeto trabalhista brasileiro atualmente.

DESENVOLVIMENTO  SÓCIOECONÔMICO  = CRESCIMENTO DA RENDA E EMPREGO + POLÍTICA SOCIAL ATIVA

Atualmente, alguns pensadores formularam um novo termo para definir o aperfeiçoamento do projeto trabalhista, ou seja, o social-desenvolvimentismo que se baseia na associação entre aspectos econômicos e sociais em uma associação biunívoca. O social-desenvolvimentismo mantém o caráter progressista do nacional-desenvolvimentismo, mas como uma adaptação a um novo contexto marcado pela globalização. Procura fortalecer a associação entre povo e estado por meio da democratização econômica e reconhece que o papel do Estado deixou de ser fortemente interventor ou produtor para se tornar regulador ou indutor, isto é, por meio de planejamento indicativo e coordenação indireta. A nova tríade, que é uma evolução do nacional-desenvolvimentismo, consiste, portanto, em inclusão social – infraestrutura econômica e social – capacitação profissional

A liberdade e a solidariedade são bem maiores para um povo. São como pernas. Uma precisa da outra para termos o equilíbrio. Apenas podemos ter desenvolvimento com liberdade. Liberdade de escolha. Da possibilidade que as pessoas têm de desenvolver suas capacidades inatas como seres humanos e indivíduos sociais. O desenvolvimento econômico e social passa, portanto, na democracia econômica e para isso as pessoas poderem ter acesso à saúde, educação, moradia, segurança, renda e cultura.

Para finalizar as palavras do trabalhista inglês Tony Benn sintetizam bem esse conceito: “acho que a democracia é a coisa mais revolucionária do mundo. Mais revolucionária do que ideias socialistas ou de qualquer outra pessoa. Se tiver poder, você o usa para prover as suas necessidades e as da sua comunidade. Essa é a ideia de escolha da qual “O Capital” fala constantemente: ‘Tem que ter uma escolha’. A escolha depende da liberdade de escolher. E, se estiver coberto de dívidas, não tem liberdade de escolha. Parece que o sistema se beneficia, se o trabalhador comum estiver coberto de dívidas. Pessoas endividadas perdem a esperança. E pessoas sem esperança não votam. Dizem que todas as pessoas devem votar. Mas acho que, se os pobres, na Grã-Bretanha ou nos Estados Unidos, [Brasil] votassem em pessoas que representassem seus interesses, seria uma verdadeira revolução democrática. E não querem que isso aconteça. Por isso mantêm as pessoas oprimidas e pessimistas. Penso que há duas formas de controlar as pessoas: primeiramente, assustando-as. E, em segundo, desmoralizando-as. Uma nação educada, saudável e confiante é mais difícil de governar. E acho que há um elemento no pensamento de algumas pessoas: Não queremos que as pessoas sejam educadas, saudáveis e confiantes. Porque ficariam fora de controle”

* Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre. www.cassiomoreira.com.br

Redação

6 Comentários

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  1. Faltou dizer que a

    Faltou dizer que a Consolidação das Leis do Trabalho foi inspirada na Carta del Lavoro do Estado fascista italiano e não no trabalhismo inglês, que só surgiu como força politica ao fim da guerra com o Governo Clement Attlee em 1945.

    Como coneito o trabalhismo inglês praticamente acabou no Governo Thatcher e o Partido hoje é quase neoliberal, após o Governo Tony Blair, as diferenças com o Partido Conservador são atualmente muito menores do que em 1945, quando os trabalhistas nacionalizaram a siderurgia, o carvão, as ferrovias, a eletricidade, o gás e os estaleiros, hoje algo impensavel.

    1. Caro Motta,
      com o devido

      Caro Motta,

      com o devido respeito vocë está equivocado.

      A consolidação das leis do trabalho NÃO FOI inspirada na carta del lavoro da italia facista de mussolini.

      Essa conversa vem se propagando pelo brasil de um tempo pra cá.

      Trata-se de criaçao de um mito via aforismo barato.

      A começar pelo nome. Note bem, CONSOLIDAÇAO DAS LEIS já nos diz que as leis foram consolidadas. Só por ai já temos pistas de que não se poderia consolidar algo vindo de apenas uma carta.

      Percebi que vocé disse que teria se inspirado na del lavoro. Mesmo assim,  seria um equívoco acreditar na suposta inspiraçao.

      A carta del lavoro é de 1927.

      E na nossa CLT há principio sindical que vem de 1919. Além disso, há regras que já vinham sendo adotadas pela europa, inclusive, na inglaterra, e que nada devem ao facismo italiano.

      A carta do trabalho da italia, se náo me engano  nao chega a 20 artigos os quais tratam de princípios. Nossa CLT possui 922 artigos.

       

      Enfim, há várias outras observacoes que eu poderia trazer aqui para PROVAR a FALÁCIA do argumento de que a consolidaçao das leis trabalhistas brasileiras teria se inspirado no facismo da italia.

      Eu até poderia concordar que há uma semelhança no diz respeito a questao sindical brasileira. Ou seja, na CLT há alguma coisa do que está previsto na carta del lavoro. Mas, essa previsao nao é oriundo da carta del lavoro, mas sim, da URSS de 1919. Portanto, quase 10 anos antes da propria carta del lavoro.

       

      Pra variar , as sucursais da mídia internacional aqui no Brasil( ou melhor, as filiais, que estao aqui reunidas nas maos de poucas familias) em conjunto com a baboseria de reforma traballhista, outsourcing  FAJUTO, projeto 4330 e mais outros, estao numa campanha poderosa para DETONAR o ordenamento juridico brasileiro no que diz respeito ao trabalho, mais especificamente, ä relacao de emprego.

      Isso é uma ^%$$#@#$#$%   desta terra de eternos senhores de engenho.

       

      Alías, nossa consolidacao de leis nesse ramo do direito, tem com marco inicial náo a carta del lavoro, mas sim, a LEI AUREA DE 1888.

      Portanto, com o devido respeito, mas a sua argumentacao náo merece ser conhecida.

       

       

       

  2. A MARÉ SE VOLTA CONTRA O EMBUSTE DA PRIVATIZAÇÃO

    http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/jul/09/tide-turning-against-privatisation Publicado em 12/07/2014 http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/07/12/a-privatizacao-e-um-embuste-na-inglaterra/

    A MARÉ SE VOLTA CONTRA O EMBUSTE DA PRIVATIZAÇÃO 

    O renascimento internacional da propriedade pública é anátema ao mundo da elite. Mas, é vital para a recuperação genuína da Economia. A privatização não está funcionando. Nos prometeram democracia acionária, competição, custos reduzidos e serviços melhores. Após uma geração, a experiência da maior parte das pessoas tem mostrado o oposto. De energia a água, ferrovias a serviços públicos, a realidade tem sido monopólios privados, subsídios perversos, preços exorbitantes, sub-investimentos lastimáveis, exploração e aprisionamento corporativo. Os cartéis privados ditam as regras aos reguladores. Consumidores e políticos são ludibriados pelo sigilo comercial e complexidade contratual. A massa trabalhadora tem seu salário e condições de trabalho reduzidos. O controle de serviços essenciais passou para gigantes corporativos com base em outros países e frequentemente de propriedade do Estado. Dessa forma, as empresas e serviços privatizados apenas passam para as mãos destes outros Estados. Relatórios e mais relatórios tem mostrado que serviços privatizados são mais caros e ineficientes do que a contrapartida de propriedade pública. Não é surpresa que a maior parte das pessoas que nunca apoiaram uma única privatização, não acredite nos privatizadores e nem queiram seus serviços administrados por eles. Mas, independente das evidências, a caravana continua. O governo de David Cameron (Primeiro-Ministro do Reino Unido) está dirigindo a privatização, agora, para o coração da Educação e Saúde, terceirizando o Serviço de Provação (instituto para tratamento de delinquentes jovens) e vendendo uma parte do Royal Mail (o serviço postal nacional do Reino Unido) por mais de um bilhão a menos do que o preço de mercado, com membros do próprio governo manipulando a situação para que seja antecipada. Nenhuma soma de falhas desastrosas e malfeitos fraudulentos parece impedir empresas como G4S, Atos e Serco de firmarem contratos que já somam 80 bilhões de libras em negócios. Tal grupo de empresas ainda exerce enorme influência sobre Westminster e Whitehall (centro administrativo do Reino Unido) Pode-se pensar que isso é um prato cheio para a Oposição – e não há melhor exemplo do que o ralo de dinheiro que é o sistema ferroviário britânico privatizado, que tem sido o maior exemplo de disfunção da privatização. Forçar mercados privados a um monopólio natural tem causado fragmentação, investimentos baixíssimos, custo anual de 1.2 bilhões de libras, as tarifas de trem mais caras da Europa, e mais do que o dobro do subsídio público necessário antes da privatização. A linha East Coast de propriedade pública, em contraste, tem provido serviço muito melhor e entregue 800 milhões de libras para o Tesouro público (não diferentemente da Scottish Water, também de propriedade pública). Então, naturalmente, a aliança que governa a venderá, enquanto o partido trabalhista, o Labour agita-se para apoiar a demanda altamente popular de renacionalização. O deputado trabalhista Ed Balls, ministro na “sombra” da Fazenda, agora defensor da chama oscilante do New Labour (o Labour vestido com uma nova marca, que vigorou de meados dos anos 90 até o início dos anos 2 000 para reganhar a confiança do público no partido), insiste em que “propriedade pública” seria “ideológica”. Os aproveitadores do sistema ferroviário e os barões das corporações, alarmados pelos planos de Ed Miliband – líder da Oposição trabalhista no Parlamento – de congelar os preços da energia privatizada, concordam. Então, o Labour está jogando com uma casa dividida, onde franquias continuam, mas o setor público tem o direito de concorrer, bem como os privatizadores, ao direito de administrar empresas e serviços. É um preço alto que se paga por essa confusão. A nacionalização do sistema ferroviário tem a vantagem de não apenas ser popular, mas inteiramente livre, ao passo que cada franquia pode ser trazida de volta ao controle público à medida em que expira. Resistir a tais circunstâncias só é possível a custa dos lobbies corporativos e ideologia de mercado. Mas, a necessidade de quebrar 30 anos do dogma lastreado em dinheiro contra propriedade pública vai muito além dos trilhos. As indústrias privatizadas não apenas falharam em servir com eficiência, valor pelo dinheiro investido, responsabilidade e trabalhos seguros. Elas também sugaram riquezas e o estilo rentista de monopólios incumbentes concentraram a tomada de decisão sobre Economia cada vez em menos mãos, aprofundaram a desigualdade de renda, e falharam em realizar investimentos essenciais para o crescimento sustentável. Numa hora em que o setor corporativo inteiro se senta sobre uma montanha de dinheiro não investido e sobre uma produtividade reduzida, a falta de um motor econômico de propriedade pública para guiar a recuperação é essencial. No caso da Energia, o sistema privatizado está falhando em prover a mais básica meta de investimento – manter as luzes acesas. A alternativa de regulação mais severa, vista como a alternativa política aceitável, significa tentar fazer por controle remoto, o que é muito melhor feito diretamente e não resolverá o problema por conta própria. A experiência tem mostrado que não se pode controlar o que não se possui. Como Andrew Cumber, acadêmico de Glasgow, argumenta num relatório para o think-tank Class, não é apenas através de enormes incentivos e subsídios perversos – bem como os pagos a empresas de propriedade do Governo dinamarquês e sueco para atingir objetivos – que o Governo é capaz de persuadir monólitos privados a fazer o que o setor público poderia ter feito com custos muito mais baixos. A necessidade de novas formas de propriedade pública no setor bancário e de utilidades – infraestrutura em energia, transporte e comunicações – é irrefutável. Um grupo seleto de empresas de propriedade social e democraticamente controladas poderia estabelecer o andamento dos investimentos, reconstrução e mudança para uma “economia mais verde”. É uma política que tem o apoio da maioria do público, mas a elite empresarial considera inaceitável. Seria proibitivamente cara, eles alegam, e também um retrocesso. Na realidade, não há necessidade de haver um custo líquido para os bolsos públicos. Mesmo que uma compensação total a custos de mercado seja paga, seria em forma de troca de ações por títulos governamentais. Os juros sobre os títulos teriam que ser pagos, mas poderiam ser financiados com uma fatia do lucro dessas empresas. Mas, a classe governante do Reino Unido também falhou em perceber o que está acontecendo no resto do mundo. Dos Estados Unidos e América Latina ao Oeste Europeu e ao redor do mundo, serviços públicos privatizados, utilidades e recursos tem sido trazidos de volta à propriedade pública. Na última década, em 86 cidades, a água voltou a ser propriedade pública. Apenas na Alemanha, mais de 100 concessionárias de energia retornaram à posse pública, desde a crise de 2007 e 2008. Mesmo que austeridade econômica esteja sendo usada para dar fôlego às privatizações, a maré tem começado a fluir em outra direção. Uma nova onda em favor das propriedades públicas está tomando formas inovadoras e as vezes híbridas, superando a fraqueza que outrora assolava as indústrias nacionalizadas. Mas, no Reino Unido, o poder da “City” e os interesses instalados nos lucros das privatizações são um grande obstáculo a essa mudança essencial. A pressão por uma economia genuinamente mista – algo antes considerado a tendência de bom senso – está fadada a crescer, à medida em que os custos e fracassos do Capitalismo se acumulam. As ferrovias podem ser apenas o primeiro passo. Tradução: Renata Vilani

     

    The tide is turning against the scam that is privatisation

    The international revival of public ownership is anathema to our City-led elite. But it’s vital to genuine economic recovery The Neurath-based power station of German firm RWE. ‘Control of essential services has not only passed to giants based overseas, but those companies are themselves often state-owned.’ 

    Privatisation isn’t working. We were promised a shareholding democracy, competition, falling costs and better services. A generation on, most people’s experience has been the opposite. From energy to water, rail to public services, the reality has been private monopolies, perverse subsidies, exorbitant prices, woeful under-investment, profiteering and corporate capture. Private cartels run rings round the regulators. Consumers and politicians are bamboozled by commercial secrecy and contractual complexity. Workforces have their pay and conditions slashed. Control of essential services has not only passed to corporate giants based overseas, but those companies are themselves often state-owned – they’re just owned by another state. Report after report has shown privatised services to be more expensive and inefficient than their publicly owned counterparts. It’s scarcely surprising that a large majority of the public, who have never supported a single privatisation, neither trust the privateers nor want them running their services. But regardless of the evidence, the caravan goes on. David Cameron’s government is now driving privatisation into the heart of education and health, outsourcing the probation service and selling off a chunk of Royal Mail at more than £1bn below its market price, with the government’s own City advisers cashing in their chips in short order. No amount of disastrous failures or fraudulent wrongdoing, it seems, debars companies such as G4S, Atos and Serco from lucrative new contracts in what is already an £80bn business – and one with an increasingly powerful grip on Westminster and Whitehall. You might think this would be an open goal for the opposition – and no case more so than the scam for siphoning off public money that is Britain’s privatised rail system. Rail has been the ultimate dysfunctional selloff. Shoehorning private markets into a natural monopoly has delivered fragmentation, rock-bottom investment, annual costs of £1.2bn, the most expensive train fares in Europe, and more than double the level of state subsidy than under British Rail. The East Coast mainline, by contrast, has provided a far better service under public ownership and delivered £800m to the exchequer (not unlike the publicly owned Scottish Water). So naturally the coalition is going to sell it off, while Labour is in a tailspin over whether to back the highly popular demand for renationalisation. Ed Balls, now keeper of the flickering New Labour flame, insists public ownership would be “ideological”. The rail profiteers and corporate barons, alarmed by Ed Miliband’s plans to freeze privatised energy prices, agree. So Labour is toying with a halfway house, where franchises continue but the public sector is allowed to bid to run them as well as the privateers. That sounds like an expensive dog’s breakfast. Rail renationalisation has the advantage of being not just popular but entirely free – as each franchise can be brought back under public control as it expires. To resist it in those circumstances can only be about the power of corporate lobbies or market ideology. But the need to break with 30 years of cash-backed dogma against public ownership goes well beyond rail. The privatised industries haven’t only failed to deliver efficiency, value for money, accountability or secure jobs. They have also sucked wealth, rentier-style, out of sitting-duck monopolies, concentrated economic decision-making in fewer and fewer hands, deepened inequality and failed to deliver the investment essential to sustainable growth. At a time when the entire corporate sector is sitting on an uninvested cash mountain and productivity is actually falling as a result, the lack of a publicly owned economic motor to drive recovery is dire. In the case of energy, the privatised system is failing to deliver the most basic goal of investing – to keep the lights on. The alternative of tougher regulation, seen as the acceptable political alternative, means trying to do by remote control what’s far better done directly and won’t fix the problem on its own. Experience has shown that you can’t control what you don’t own. As the Glasgow academic Andrew Cumbers argues in a paper for the thinktank Class, it’s only by huge incentives and perverse subsidies – such as those paid to Danish and Swedish state-owned companies to meet renewable targets – that the government is able to coax the privatised monoliths to do what the public sector could have done itself far more cheaply. The case for new forms of public ownership in the banking sector and utilities – energy, water, transport and communications infrastructure – is compelling. A core of socially owned and democratically controlled enterprises could set the pace of investment, reconstruction and the shift to a greener economy. It’s a policy that has support from the majority of the public but is regarded as beyond the pale by the business-as-usual elite. It would be prohibitively expensive, they claim, and a throwback to a better yesterday. In reality, there need be no net cost to the public purse. Even if full market compensation is paid, that would be in the form of a government bonds-for-shares swap. Interest would have to be paid on the bonds of course, but it could be funded with a slice of these companies’ profits. But Britain’s City-focused governing class has also failed to notice what’s happening in the rest of the world. From Latin America and the United States to western Europe, in both the global south and north, privatised public services, utilities and resources are being steadily brought back into public ownership. In the past decade, 86 cities have taken water back into social ownership. In Germany alone, more than 100 energy concessions have been returned to public ownership since the 2007-8 crisis. Even as austerity is being used to try to breathe new life into privatisation, the tide has started to flow in the other direction. The new wave of public ownership is taking innovative, sometimes hybrid, forms, and overcoming weaknesses that hobbled earlier nationalised industries. But in Britain the power of City and corporate vested interests engorged on the profits of privatisation is a powerful obstacle to this essential shift. Pressure for a genuinely mixed economy – something previously regarded as the commonsense mainstream – is bound to grow as the costs and failures of unbridled capitalism mount. Rail can only be the first step. Twitter: @SeumasMilne

  3. O título chamou minha

    O título chamou minha atenção.

    Mas, bastou começar a ler o texto para perceber a terrível supercialidade dele.

    Em seguida, encontrei equívocos sérios.

    Depois, uma história brasileira bem fraquinha como se essa colönia de exploraçao aqui do “novo mundo” começasse ali na baboseira de 1930, marco para dizer aos DESORIENTADOS que seria o início da “REPÚBLICA NOVA”. ( e fim da velha)

    Dada a movimentacao tenentista, as fraudes eleitorais, a MÁ -fé do senhores de engenho do café, que não hesitavam queimá-lo ou jogar no mar, PARA REGULAR OS PRECOS NO MERCADO.

    Depois uma historinha muito mal contada de nossa CLT, com getulio vargas que era ditador, mas que , curiosamente, tornou-se o homem do povo( uma espécie de salvador da pátria…)

    Faltou falar do tiro que ele mesmo( dizem) deu no peito( ou na cabeça, dizem)

    Li também toda aquela baboseira de “mentalidade” mais social do capitalismo, afastando-se do egoísmo, em prol da coletividade e do bem comum. Em suma, o welfare state já em Keynes  que teria inciado em Keynes mas que no fundo, não vem dele  nem do pai dele e nem de never york 1929. Talvez, daquela guerrinha de 1914.

    E ao final vi que foi escrito por um economista. Só poderia mesmo diante de tanta baboseira lida aqui.

    O curioso é que o humano , com ou sem materialismo histórico e selecao natural, continua sendo humano.

    Esse mesmo humano de início ( aqui só um exemplo mais recente) tratou de declarar os direito DO HOMEM.

    Depois, diante de  tanta  merda que tinha feito, inclusive, “ariando” seres humanos como se fossem panelas ariadas pela tia anastácia,  branqueando raças como se pudessem ser  o criador delas, resolve declarar os DIREITOS HUMANOS e não apenas o “dos homens”

    E os mentecaptos que perdem o tempo com a “ciëncia econömica” que, diga-se de passagem,  invejam as naturais( popper, lakatos e kuhn) ainda acreditam em solidariedade na guerra cambial e de preços.

    Ora, solidariedade é o que NÁO EXISTE no LIVRE MERCADO( para fugir da expressáo  do Marx ( capital)

    Rousseau já teria nos alertado outrora: aquele que encontrou alguma terra “sem dono” cercou-a e encontrou ali NATIVOS otários que acreditaram nele, deu início a toda essa falácia econömica de divisáo do trabalho em conluio com a propriedade privada e aristrocracia, äs vezes, coberta por uma dinastia hereditária patrimonial  e ociosa, com bandeiras e entradas explorando suas minas, com suas degolas ,  derramas e  devassas levando a  forca  os  banguelos mais imbecis em busca dos “valores” iluministas do própro umbigo!

    Ainda existem sonolentos naturais e  conservadores por ai , monarquistas travestidos de repúblicanos de meia tigela, que pregam a casa grande  para os senzalistas  do século XXI na tentativa de equilibrarem os eternos contrários, com fulcro na estúpida cordialidade mentirosa brasileira.

    Para uma “naçao” ser rica precisa de uma mão boba e nada invisível , a ponto de capitanear terras hereditariamente, a começar no maranhão   propagagando-se , falaciosamente,  o trabalho livre pós 1888 ,mesmo sabendo  que passados  mais de um século ainda há, como muita fartura, o trabalho livre, porém análogo ao de escravo, da Casa grande!

     

    E os economistas…  %$#@#$%$#@

     

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