Documento indica que coronel Malhães foi vítima de ataque cardíaco

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A guia de sepultamento do coronel da reserva Paulo Malhães sugere como causa de sua morte um ataque cardíaco. No documento, que é emitido para possibilitar o enterro da vítima, a causa mortis é descrita como “edema pulmonar, isquemia do miocárdio, miocardiopatia hipertrófica, evolução de estado mórbido [doença]”.

Enterro do coronel reformado do Exército, Paulo Malhães, no cemitério de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Enterro do coronel reformado do Exército, Paulo Malhães, no cemitério de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense Fernando Frazão/Agência Brasil

O corpo do militar, que admitiu a prática de tortura durante a ditadura militar, foi enterrado na tarde de hoje (26), no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele morreu ontem (25), quando três homens invadiram sua residência, onde também estavam sua esposa e um caseiro, no interior do município. Do local, foram levadas diversas armas que Malhães colecionava.

No cemitério, parentes evitaram falar com a imprensa. “A gente enterrou hoje o pai, o esposo, o avô das meninas. O coronel, o tirano, é para vocês. Para gente, ficou só o pai. O coronel da ditadura não era este que a gente conhecia”, disse a filha do militar, que se identificou apenas como Carla.

O genro do coronel da reserva, Nelson Viana, disse que a família não tinha ideia do que realmente teria acontecido na casa do militar. “Dizem que foi um assalto. Nós não temos hipótese.” Perguntado se Malhães sofria algum tipo de ameaça, Viana negou. “Ele nunca falou nada e a gente sempre respeitou isso. Nem antes, nem depois [do depoimento à Comissão Nacional da Verdade]. Ele sempre foi uma pessoa super reservada. Nunca comentou nada e a gente até foi surpreendido pelas entrevistas.”

Em depoimento à comissão, há um mês, o coronel Malhães foi o primeiro militar a admitir prática de tortura, assassinatos e ocultação de cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar, tendo inclusive falado sobre o destino do corpo do deputado Rubens Paiva, morto pelos militares em 1971, mas até hoje não localizado, que teria sido jogado ao mar.

reprodução atestado coronel

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

17 Comentários

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  1. Atestado previsto

    Nassif,

    Muito bem. Milhares morreram de Aids por aqui, mas eu nunca soube de atestado de óbito acusando a doença, sempre prevaleceu o termo infecção como causa mortis.

    De qualquer maneira, o que as pessoas queriam ler neste caso, morte por asfixia?   

  2. Coisa muito comum os

    Coisa muito comum os familiares, parentes e amigos não saberem deste tipo de conduta dos seus e ficarem estupefatosa com tais revelações, principalmente por eles próprios.

     Em 1992 eu cursava Direito, não concluí, e uma revista publicou uma reportagem sobre a guerrilha na ditadura. Não me recordo se era a Istoé, Época, enfim. Tinha uma colega de curso que de repente entrou numa depressão tremenda e repetia a todos pra tomar cuidado, não comentar sobre política, que era muito perigoso. Eu não entendia o porque de sua atitude até que fiquei sabendo que ela tinha um relacionamento antigo com uma das pessoas que foi entrevistada e tinha participado da caçada ao Marighela, sem que ela ao menos suspeitasse qual era sua atividade de fato. Uma amiga comum perguntou se eu tinha lido a reportagem, falou sobre o sujeito, que conhecíamos de nome, e comentou que ao abrir a revista ela teve um choque ao vê-lo e, como o Malhães foi frio, e disse que faria tudo novamente. O pior de tudo é que esta amiga era de esquerda, preocupada com Direitos Humanos e era militante das “mães do coração”. Surtou, largou tudo, foi morar sozinha no litoral e vivia andando na praia, sem sossego. Por um período ainda nos falamos, depois ela cortou o contato com todo mundo.

  3. assinado

    “A guia de sepultamento do coronel da reserva Paulo Malhães sugere como causa de sua morte um ataque cardíaco.”

    assinado: Harri Shibata?

  4. Infartou porque sabia a

    Infartou porque sabia a trolha que ia sentar.

    Até por experiência propria.

    Quanto de suas vítimas não tiveram fim semelhante diante da mesma situação ?

    Quem tem fiofó  morre de medo, literalmente, foi o que aconteceu com esse torturador.

  5. Coração enfraqueceu muito possivelmente vítima do constante MEDO

    Ao contrário do que alguns pensam, é a dor ou os arrependimentos que nos trazem a emoção do medo. Sob medo constante a adrenalina é sequentemente instilada na corrente sanquinea. Dai que, conforme noticiado esta semana a hipertensão tem se instalado silenciosa, mas corriqueiramente no ser humano. Não cabe e é inútil ficar supondo o que se passa na mente e perturba a paz de cada um. Como canta Caetano Veloso: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Talvez este senhor torturava-se através da consciência/mente, muitas vezes e todos os dias. E as marcas da alma ficam no corpo (medos e preocupações se “manifestam” bastante nas feições da testa enrrugada e dos olhos abismados)

    Tenha misericórdia da pobre alma

  6. morte a pedido…

    como não se arrepeu, morreu para não ter a chance de fazer tudo novamente………….

    que descanse em paz e decepcionado com a falta de tempo

  7. Eu não sei o que aconteceu,

    Eu não sei o que aconteceu, mas sei o que não aconteceu.

    E o que não aconteceu foi essa historinha mal contada sobre um providencial ataque cardíaco queimador de arquivo.

  8. Entulho autoritário

    A ditadura mantém intacto seu entulho autoritário, inclusive a medicina a favor da ocultação da verdade, o Judiciário também está aí, à frente Joaquim Barbosa, em cujas mãos estão o destino de Zé Dirceu, parte da nação dependendo da “boa vontade” desse ditadorzinho de meia tijela conceder os legítimos direitos de uma pessoa que já foi vítima de uma condenação injusta e, agora, também vítima de uma aplicação errada dos termos da sentença. Quer dizer que o Sr. Malhães morreu de morte morrida, um rosário de doenças que brotaram quando ele viu o assaltante e ai bateu as botas, que coisa heim

  9. pena que tena morrido de

    pena que tena morrido de forma rápida e não lentamente como suas vítimas.  Pena que tenha tido um enterro digno e não um igual à suas vítimas. De tão corajoso, morreu devido a um pequeno susto. Irônico.

  10. o coronel e o lobisomem

    O coronel morreu de causas NATURAIS,

    não há motivo para desconfiança, para investigação. Ele morreu NATURALMENTE,

    como Jango,

    como Lacerda, 

    como JK,

    como Anísio Teixeira,

    como Zuzu Angel,

    como Marighela,

    como Iara e Lamarca,

    como Amarildo, como todos que agora estão mortos,

    assim como todos os que foram mortos pelo coronel morto,

    que disse, com NATURALIDADE:

    “não sei quantos morreram na minha mão”

    – E O LOBISOMEM, POR QUE ELE APARECE NESSA HISTÓRIA?

    Bem, os lobisomens devem se alvo de investigação, pois eles existem e estão soltos por aí, ameaçando diuturnamente as nossas vidas.

    Cuidado com os lobisomens. Esses, sim, estão vivos.

     

     

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