Dória se inspira em best-sellers sobre manipulação

Como prefeito monta autoimagem usando discurso de “João trabalhador”, mas com ações que deixam escapar sedução pelo poder  

 
Jornal GGN – O prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB) está se inspirando em autores de best-sellers sobre poder, manipulação e dissimulação para montar sua autoimagem. Quem identificou isso, a partir dos discursos e ações do político, é o repórter da RBA, Rodrigo Gomes. 
 
No discurso de posse, por exemplo, Dória usou uma frase do escritor estadunidense Robert Greene. “Sejamos ousados, qualquer erro cometido com ousadia é facilmente corrigido com mais ousadia. Todos admiram os corajosos. Ninguém louva os covardes”, do livro 48 Leis do Poder. Greene é autor de outras obras sobre sedução e controle para se manter no poder. Mais recentemente, ao se vestir de gari para o lançamento do programa São Paulo Cidade Linda, o novo prefeito mostrou contradição entre o que disse e o que fez. Ficou cerca de uma hora conversando com repórteres, cercado de câmeras, afirmando que a sua aparição como gari era uma demonstração de “simplicidade” e “humildade”. Em contrapartida só pegou na vassoura para tirar fotos.  
 
 
RBA
 
‘Jogue com as fantasias das pessoas’: as ideias que inspiraram o discurso de Doria na posse
 
Prefeito de São Paulo citou o escritor estadunidense Robert Greene, autor de best-sellers sobre manipulação, poder, sedução e controle
 
Por Rodrigo Gomes
 
São Paulo – Um detalhe no discurso de posse do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), chamou pouca atenção em meio às frases emotivas sobre família, fé, as repetitivas sobre transformar a capital paulista por meio da gestão empresarial e as elogiosas ao governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB). Quase no fim do discurso, Doria citou uma frase do livro 48 Leis do Poder, do escritor estadunidense Robert Greene. “Sejamos ousados, qualquer erro cometido com ousadia é facilmente corrigido com mais ousadia. Todos admiram os corajosos. Ninguém louva os covardes”, declamou o empossado.
 
A escolha do autor é reveladora. Greene é escritor de best-sellers sobre manipulação, dissimulação, poder, sedução e controle. No livro citado, ele – junto com o também escritor Joost Elffers – propõe regras a serem seguidas para a conquista do poder por líderes de diversas áreas como empresários, políticos e cientistas. Regras que não se pautam exatamente pela ética ou pelo humanismo. O livro compila experiências e acontecimentos em vários períodos da história, com ideias de imperadores, conquistadores, religiosos e também mafiosos.
 
“Jogue com as fantasias das pessoas”, por exemplo, é uma regra descrita da seguinte forma: “Pessoas capazes de engendrar romance ou conjurar fantasias são como oásis num deserto: todos se aglomeram ao redor delas. Há enorme poder em explorar as fantasias das massas”. O trecho é convergente com a imagem construída do “João Trabalhador”, utilizado pela campanha de Doria à prefeitura. O bordão ajudou a desmontar a imagem do empresário herdeiro de uma família nobre, com histórico na política desde seu bisavô, e a criar a de um empreendedor que venceu na vida.
 
Outra ação de Doria que parece seguir esta “Lei do Poder” foi vestir-se de gari para o lançamento do programa São Paulo Cidade Linda, na manhã de ontem (1). O prefeito ressaltou várias vezes que a medid                                                                       a era uma demonstração de “humildade” e “simplicidade”, de como a gestão iria trabalhar pela cidade. No entanto, Doria ficou uma hora conversando com a imprensa e só pegou a vassoura para posar para fotos. O local foi limpo por equipes da limpeza urbana no dia anterior.
 
A abertura da descrição do livro no jornal The New York Times é significativa: “Amoral, astuto, implacável e instrutivo, 48 Leis do Poder é o manual definitivo para qualquer pessoa interessada em ganhar, observar e garantir o controle total”.
 
Na mesma linha, o site de uma livraria descreve. “As Leis incluem, entre outras, a capacidade de esperar o momento certo para atacar, criar uma aura de mistério para confundir os inimigos, saber conquistar corações e mentes das pessoas e encobrir todos os atos em cortinas de fumaça. Reis, políticos, generais, diplomatas e religiosos – assim como cortesãs, bandidos e charlatões – servem de base para as 48 Leis que regem o poder e a influência sobre outras pessoas”.
 
Greene é também autor de A Arte da Sedução e As 33 Estratégias da Guerra. Este último também serviu de base para Doria em outro trecho de seu discurso de posse. Criticado por fazer promessas ou afirmações e depois recuar, o prefeito disse que a gestão saberá ouvir e terá humildade para “sempre que necessário, e for comprovadamente necessário, recuar para poder avançar”, justificando, em seguida, que “isso é uma prova de grandeza”.
 
No livro sobre guerra, Greene defende que o recuo é um sinal de força. E propõe outras regras como exponha e ataque o lado frágil de seus adversários, atinja-os onde dói e derrote-os em detalhes: a estratégia do dividir-e-conquistar.
 
 
 
 
Redação

11 Comentários

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    1. Generalizar sim é burrice!

      Achar que todo servidor público ou funcionário publico é igual ao Dória é no mínimo ofensivo. Vai dizer que na iniciativa privada não tem “encostados” também? Aliás, a trajetória inteira do Dória de enganar trouxa com autoajuda e vender luxo, essa vida de vender falácia, é toda na iniciativa privada, lembra?

      Em todo lugar tem vagabundo e encostado, inclusive na iniciativa privada. Aliás, antes de entrar no serviço público trabalhei num escritório onde os dois filhos do dono eram dois playboys encostados no trabalho dos demais advogados, com o beneplácito do pai. E ainda ostentavam o pomposo título de “diretor de área”, um da civil, outro da trabalhista…

      Agora não é por isso que vou chamar todo mundo da iniciativa privada de vagabundo, pois sei que a maioria das pessoas lá rala muito. Essa visão de servidor/funcionário público como vagabundo é a delícia dos Tucanos, que sempre sustentaram esse discurso para a defesa de privatizações e do desmonte do Estado social. Não sabia que você era um deles.

  1. Cria cuervos

    Geraldinho, fique esperto. Esse vai lhe passa a perna logo, logo na disputa pela presidencia e pelo controle do ninho.

    Não se esqueça do ditado espanhol: “Cria cuervos…” 

  2. Se a gente olhar no tipo de

    Se a gente olhar no tipo de gente que paulistanos elegem ou ajudam a eleger- jânio, maluf, pitta, kassab, serra, fleury, alckmin e até um aécio “paulitizado” -vai poder afirmar, com certeza, que o único mérito de doria foi ter passado como um trator sobre seus adversários no psdb. Fora isso, ele é o típico político de que os paulistanos gostam. As vitórias do PT são exceções por aqui e só acontecem depois que a direita levou a cidade ao caos. Consertado estrago, lá vão os burros paulistanos entregar novamente a cidade a aventureiros e picaretas.

    1. CB, vosmecê deixou de fora o

      CB, vosmecê deixou de fora o nome do Cacareco. O mais importante indivíduo não político, eleito pelos politizados paulistanos. Não! De fato, o Cacareco não era político, nem mentiroso, cínico, farsante, embusteiro. Essas coisas…

      Orlando

       

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