É no debate democrático que o PT fica maior e mais forte, por Jefferson Miola

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Por Jefferson Miola

A pressão para que o senador Lindbergh desista da candidatura à presidência do PT contrasta com a tradição da democracia interna do Partido. E tem como efeito, além disso, a interdição do debate sobre as mudanças que o Partido deve promover.

Soam extravagantes argumentos como do Emir Sader, que diz que “Lindbergh comete grave erro político, que pode comprometer todo o seu futuro político, ao se opor à candidata do Lula à presidência do PT” [via twitter].

Em todos os PEDs [processos de eleições diretas] do PT, os candidatos do Lula – Zé Dirceu, Berzoini, José Eduardo Dutra, Rui Falcão – enfrentaram as disputas com nunca menos de quatro outros competidores de tendências internas minoritárias.


Por que justamente agora, na conjuntura em que o PT enfrenta as principais dificuldades e os mais dramáticos desafios dos seus 37 anos de existência, deveria ser bloqueada a discussão sobre os novos caminhos e as novas escolhas partidárias?

O debate fraterno e plural e a confrontação das distintas perspectivas sobre as tarefas e os desafios do PT em cada momento histórico são características que distinguiram o PT como experiência original de esquerda democrática, não-doutrinária, não-estalinista.

O PT não é feito como um monolito homogêneo e indiferenciado; tampouco é um clube chefiado por um soberano iluminado e incontestável, ainda que tenha como sua maior liderança um gênio político e um mito popular inigualável como o ex-presidente Lula.

A candidatura do Lindbergh não é uma escolha pessoal; porque é, antes disso, a tradução do sentimento majoritário do tecido partidário que deseja um PT à altura do momento histórico; um PT enraizado e na liderança das lutas fundamentais das mulheres, das juventudes, dos intelectuais e dos trabalhadores; um PT dirigente da luta contra o golpe e o regime de exceção e capaz de levar Lula à presidência do Brasil para dar início à reconstrução econômico-social e à restauração democrática do país.

A candidatura do Lindbergh nasceu vitoriosa, em março passado, porque conseguiu trazer esperança e alento para centenas de milhares de filiados, militantes, amigos e simpatizantes do PT quanto à possibilidade real de mudar o PT. A pressão para retirá-lo da disputa despreza tais expectativas e castra o sentimento vibrante desta militância rebelde e radicalizada.

Com Lindbergh na disputa, a CNB se obrigou a lançar a senadora Gleisi Hoffman, o que representa, em si, um trunfo da candidatura representada por ele.

Gleisi, combativa e indomável no enfrentamento ao golpe e à cleptocracia que assaltou o poder, é garantia de que o patamar do debate do Congresso do PT será superior àquele defendido por outra liderança da CNB, o senador Humberto Costa, para quem o PT deveria “virar a página do golpe” e abandonar o “enfrentamento permanente” ao regime de exceção.

O PT tem nuances e diferenças internas que o acompanham desde sua fundação. A virtude democrática e a unidade partidária se afirmam precisamente no respeito à pluralidade e à diversidade de opiniões.

É no calor das disputas que o PT constrói os consensos e as sínteses que o revigoram como alternativa histórica para a emancipação dos subalternos e como ferramenta para a transformação do Brasil numa nação digna, justa e soberana. É na disputa e no debate democrático – fraterno, leal e camarada como Gleisi e Lindbergh saberão travar – que o PT cresce, se fortalece e renova sua representatividade na esquerda brasileira e mundial.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

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  1. Lindbergh “indicou” a Gleisi, Miola!

    Se não por mais nada, a candidatura de Lindbergh já valeu para fazer o outro lado indicar a Gleisi Hoffman.

    Disputa de alto nível.

    Qualquer um dos dois seria um ótimo nome.

    1. O que une os dois é que ambos

      O que une os dois é que ambos são indiciados em várias instância da Justiça, do STF aos Tribunais Estaduais…
       

      1. Dúvidas

        Eu não sei o que faço: respondo ou assumo.

        Assumo que não entendi a sua colocação, ou lhe chamo de idiota mesmo.

        Acho que a segunda opção é mais pertinente.

        Zé, o Trindade humorista, era de estatura pequena, mas grande artista.

        Já o homônimo aqui, é um anão cultural.

      1. Ufah

        Apanha de cá, apanha de lá.

        Não deixa de ser um bom sinal.

        Ninguém perderia um segundo do seu tempo falando em PSDB, PMDB, DEM e tantos outros, e de mais alguns que até se denominam esquerda.

        PT na veia.

        Respeito Emir Sader, não concordo com esse posicionamento de agora, mas o respeito continua.

        Pessoalmente gostaria do Lindbergh, mas a Gleisi também está de bom tamanho.

  2. PED

    È claro que as disputas e debates internos do PT possibilitam aos seus seguidores a sair da mesmice e a conhecer novos pensamentos.Que é contra isso, não pode criticar o atual governo que procura injetar no povo o pensamento único.

  3. é….

    Maior e mais forte na hipocrisia e arrogância. Debate democrático? O país jogado no precipício e suas elites nem ventilam a possibilidade remota de eleições livres, diretas e facultativas. O cabresto imposto pelas elites não laceia, nem afrouxa. Mas já sabemos: elites são os outros. As esquerdas se sustentarão do que sem verbas e empregos públicos? Como o parasita sobrevive sem o hospedeiro? Um sonho de uma noite de verão, num plebiscito armado e mancomunado com a novela da comparsa que agora tornou-se inimiga, que esperavam ter o resultado armado numa lavagem cerebral, mostrou o poder da democracia. E mostrou também o rato em pele de cordeiro. A sua opinião democraticamente demonstrada foi jogada no lixo. O Plebiscito do Desarmamento foi implodido. Restou a farsa. Restou a Gestapo Ideológica. Restou farsantes clamando por debate democrático. Tenham vergonha na cara…. 

  4. A importância da seletividade em tempos de hiperinformação

    Faz mais de dois anos que desisti do Emir Sader, não quebrei a promessa, deixei de seguí-lo nas redes sociais por causa de sandices inacreditáveis como essa que acabo de ler: “Lindbergh comete grave erro político, que pode comprometer todo o seu futuro político, ao se opor à candidata do Lula à presidência do PT” [via twitter]. Miola foi bondoso, chamou de extravagante. Emir Sader tornou-se, há muitos anos, dispensável e irrelevante, por posições como essas. Se for só para bater palmas, o PT não precisa de filiados ou militantes, macacos treinados bastam. 

    1. Demorou muito a deixar Emir Sader de lado

      a gente é tão carente em informação e formação, que basta vir um cara, um senhor de cenho franzido, se for professor da USP e tido como intelectual e filiado a um PT melhor ainda: que não nos damos conta que ele só diz obviedades nas análises de tudo sobre tudo. Não sou ninguém, mas logo reparei,faz tempo, quase ao primeiro olhar e fala,que Emir é um desses intelectuaiss midiáticos,ora fazem pose de descontração,ora risinhos de sabedoria que o reles público desconhece. Sim, claro que há “intelectuais” midiáticos muito piores, abundam, alguns até mais aplaudidos e difíceis de perceber.  

  5. O Lula

    impôs a Dilma, totalmente despreparada para o trato político, será que já não basta?

    Nos anos oitenta estudava na PUC em um bacharelado em Física, os petistas de então(particeipei de vários eventos políticos na escola) votavam contra ideias de outros petitas, não pela ideia em si, mas porque pertenciam a corrente diferente. Por isso nunca me filiei ao PT, e pelo visto a idiotice continua a mesma. 

  6. Nossa, pela foto parece

    Nossa, pela foto parece convenção de partido dinamarques, pelo visto, pretos, pardos e índios no PT sé servem para carregar piano.

     

  7. visitante José Abrantes Gonçalves em comentário mais abaixo

    é isso aí.As reuniões de muitos condomínios são propositalmente vazias ou esvaziadas pq há disputas pessoais,vaidades, finca-se pé numa posição por pura demonstração de “força”, status.Reuniões sindicais e eleições são sempre os mesmos se rodiziando e num viciado (não diria proposital…)vocabulário pra afugentar a reles base que se afoitar em ir a uma reunião aberta,assembléia.O PT não renovará a hierarquia.A refundação sempre foi papo furado,joguinhos de ameaça(Tarso Genro etc).Não se eliminarão as tais PEDs cansadas de acusações de compra e venda de votos de delegados.Deveria haver uma comissão pra apurar a limpeza nos diretórios e nos combativos companheiros.

  8. Lindberg é a cara da renovação

    Mesmo admirador incondicional da vibrante e aguerrida senadora Gleisi, acho que Lindberg encarna melhor a ânsia renovadora que vejo nos filiados do partido.

  9. Da Lavra de trosko!…

    Não temos absoltamente nada a aprender com Trotsky e o trotskysmo sobre luta política, teoria revolucionária, construção e governança socialista!….

    Trotsky e o trotskysmo são uma ilusão propalada por iludidos!….

     

    As  fontes são: Lênin, Stálin, Mao Tse Tung, Ho Chi minh, King II Song…….

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