Em 2018, não agora, por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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De O Globo

Em 2018, não agora, por Luiz Carlos Bresser-Pereira

O Brasil vive um momento cheio de contradições. No curto prazo há um grave problema econômico causado por um enorme e crescente déficit em conta-corrente, que está aumentando o endividamento do país e o ameaça com uma crise de balanço de pagamentos, e uma crise de confiança interna que resulta do superávit primário que se tornou negativo e da inflação que aumentou.

No longo prazo, o quadro econômico é mais grave. Um país cujo crescimento per capita foi de 4,1% ao ano entre 1950 e 1980, passou a crescer menos do que 1% desde 1980. Está quase estagnado.

Igualmente preocupante é a crise política que está paralisando o governo. Essa crise começou em 2013, quando aos erros do governo na área econômica e ao baixo crescimento somou-se o mensalão. A partir desse momento, os ricos, inclusive a alta classe média, que não estavam satisfeitos com a clara preferência pelos pobres revelada pelo governo em um tempo de baixo crescimento, passaram a olhar o PT e a presidente não mais como adversários, mas como inimigos, e nos vimos diante de uma coisa surpreendente: o ódio substituindo o desacordo e a crítica.

Entretanto, não obstante o desgaste que estava sofrendo por boas e más razões, a presidente foi reeleita. Ganhou por uma pequena diferença, contando principalmente com o apoio dos pobres. Contou, portanto, com o apoio daqueles que têm um voto — e não com o apoio da sociedade civil, ou seja, da soma daqueles cujo poder é ponderado pelo dinheiro, pelo conhecimento e pela capacidade de comunicação e organização que cada um tem.

Ora, o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, o que configura uma crise política grave. Mas uma crise que pode e deve ser administrada. A sociedade civil, em particular os ricos e a oposição política, precisa assumir sua responsabilidade para com a nação, aceitar a derrota nas eleições e voltar a ajudar o país a ser governado, em vez de falar em impeachment ou em tentar inviabilizar o governo. O próximo embate eleitoral é em 2018, não é agora.

Luiz Carlos Bresser-Pereira é ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

23 Comentários

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  1. Precisa explicar isso para

    Precisa explicar isso para FHC e seus paus mandados com caras de quadrilheiros, mas tratados como vestais pelos grupos que os apoiam. 

  2. Crescimento 4% sem inclusão
    Crescimento 4% sem inclusão social, foi bom pra que pais? Em 2002 o superavit primário foi “atingido” a custo de reais m desemprego de 12%, tudo inflação de 12%, SELIC de 22% , sem reservas cambiais, mas o dim dim dos banqueiros foi garantido. Crescimento entre as década de 50 e 80 foi bom pra quem cara palida?

  3. É comum ouvirmos que não se

    É comum ouvirmos que não se ganha eleições nem troca-se de governo quando a economia vai bem. Logo, o primeiro passo para quem quer atingir esses objetivos é sabotar a economia onde a injeção de pessimismo exige doses diárias. O PMDB, nos estados, bem que tentou mudar de parceiros para sobreviver e continuar mandando mesmo nas sombras, e dar continuidade aos seus esquemas de sempre. Quem nunca ouviu conversa de que não existe meios de conseguir obras públicas sem entrar no esquema? Isso dito pelos pequenos ou quarteirizados… E as eleições caminhavam para um novo enlace entre os amantes antigos só que foram frustrados pelos votos dos que não participaram dos conchavos e traições. Como injetar otimismo numa economia movida a tributos depois de anos tentanto sem sucesso ganhar eleições é que são elas. Ainda mais que agora os ânimos já estão voltados para as próximas e os golpistas, se desesperam ainda mais quando observam eleições num certo País vizinho que apesar de toda a logística dos bandidos unidos e do nosso PIG, no voto, não conseguem ganhar eleições.

  4. Uma vez tucano

    …Sempre tucano!

    Eu que pensava fazer parte da sociedade civil e também ser povo…

    Eis que vem um bicudo, emplumado e me põe no devido lugar;

    És apenas povo. Não faz parte da sociedade civil. Não tem dinheiro, não tem conhecimento, nem capacidade de comunicação e organização que nós – Tucanos – iluminados que somos, julgamos necessário.

    Bom, muito bom Seu Bresser. Mas, poderia fazer o favor de estipular quanto um cidadão precisa ter para fazer parte da sociedade civil e deixar de ser povo?…

    Ah, e que tal também estipular a quantia necessária para que um zé povim – como eu – possa votar…

    Jênio!!!

    http://blogdobriguilino.blogspot.com.br/2015/03/tucano-sempre-tucano.html

    1. Joel, não creio que o sentido seja esse

      Ele excluiu os pobres da definição que deu à sociedade civil e fundamentou a razão disso. Acho que você exagerou na avaliação do que ele escreveu. Afinal, é a própria esquerda, PT incluído, que considera os pobres “excluídos”. Foi nesse sentido que ele excluiu os pobre das sociedade civil. Não há preconceito, discriminação nem má vontade. Houve apenas uma definição de sociedade civil que não abrange os pobres. Não vejo problemas nisso.

      O conceito de sociedade civil é mesmo específico e tem os contornos que ele falou. Não é formada pelas pessoas em geral. Sociedade civil tem relações com o que ele falou.

      1. Caro Argolo

        Respeito a sua opinião e a dele. Mas, não retiro uma vírgula do comentário que fiz. Na minha opinião, Bresser apenas “descuidou” e sem querer, revelou a essência de um tucano. Não se iluda com a masturbação intelectual, sociologica, política etecetera e tal de um emplumado. Eles realmente se julgam mais que os demais. E se pudessem, só votariam os que eles considerassem dignos e qualificados para fazer parte da “sociedade civil”. O sonho dos tucanos é uma democracia sem povo. E se tiver povo, que não tenha direito a voto!

        http://blogdobriguilino.blogspot.com.br/2015/03/tucano-sempre-tucano.html

         

        1. Prezado Joel

          Entendo a tua opinião como consequência da disputa política que existe entre petistas e tucanos. No entanto, observe que Bresser-Pereira, ao excluir os pobres da sociedade civil, enxerga nisso uma grave crise política que atinge a sociedade moderna.

          Ou seja, ele não enxerga com bons olhos que os pobres fiquem alheios aos processos políticos e decisórios tomados pela sociedade.

          O trecho onde ele identifica o problema é este, veja:

          “Ora, o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, o que configura uma crise política grave. Mas uma crise que pode e deve ser administrada. (…)”

          A necessidade de administrar essa crise (sociedade civil com poder versus povo sem poder) não significa que ele concorde que as coisas sejam sempre assim, mas apenas que a situação deve ser administrada para que o país não fique prejudicado, máxime em termos econômicos, como pode vir a acontecer e já pode estar acontecendo hoje em nosso país.

    2. Por isso, os representantes

      Por isso, os representantes da “…sociedade civil…” referida no artigo, com muita propriedade, quando pedem votos ao POVO, estão SEMPRE tentando (e conseguindo) enganá-los, porque representam outra parcela da tal SOCIEDADE a que  (nós)  o   POVO não vai nunca  alcançar, ou pertencer, onde jamais será aceito como gente (titular de direitos).

      1. Isso me lembra uma frase que ouvi…

        Isso me lembra uma frase que ouvi de Luís Cláudio Chaves quando era candidato a reeleição como presidente da OAB seção Minas Gerais. Após ele afirmar que não pagaria pelo jingle que fiz para campanha dele e que efetivamente usou durante a campanha, eu disse que poderia entrar na justiça contra ele. Ao que ele respondeu:

        – Entra na justiça mesmo, aí eu vou gostar. Porque a justiça É NOSSA!!

        É isso o “povo” não tem nem direito a justiça que um privilégio da “sociedade civil” neste caso representada pela OAB e seu presidente Luís Cláudio Chaves. Caloteiro de boa família!

  5. Dilma não ganhou apenas com o

    Dilma não ganhou apenas com o voto dos pobres. Muitos dos integrantes da “sociedade civil” perceberam nela a representação de um projeto mais humanitário e lhe deram seu voto. Tucano vê pobre como paisagem.

  6. Economia

    Na verdade, o texto de Bresser está focado mais num distante mais não tão improvável crise cambial que se pode ter mais lá na frente, hoje o Brasil tem em reservas U$369 bilhões de dolares, mas já está devendo segundo indicador do Banco Central do Brasil, agora em fevereiro de 2015 U$540 bilhões de dolares, só a Petrobras deve U$135 bilhões, fruto da má gestão dos últimos 8 anos. A Petrobras já tinha perdido valor de mercado de U$160 bilhões , antes mesmo da operação lava-jato, em função da queda do preço do petróleo e decisões equivocadas tomadas pela sua diretoria e Conselho de Administração. Não é a toa que é a petroleira mais individada do mundo.

    Alinhado a tudo isso, uma inflação ascedente que não parece ter como reduzir, anos após anos o governo federal diz que vai trazer para o centro da meta, mas nunca alcança esse resultado, em suma, o que Bresser está querendo dizer é que, as coisas não estão boa, e com essa confusão toda de início de mandato, só tende a piorar mais ainda.

  7. Mas gostei dessa frase, e

    Mas gostei dessa frase, e espero que os tucanos endossem esse pensamento;

     

    “A sociedade civil, em particular os ricos e a oposição política, precisa assumir sua responsabilidade para com a nação, aceitar a derrota nas eleições e voltar a ajudar o país a ser governado, em vez de falar em impeachment ou em tentar inviabilizar o governo”

     

  8. É o regime político que mais

    É o regime político que mais contribui pra essa escalada de problemas para o Governo. Daí ninguém ter dúvidas de que sem uma reforma, que mude totalmente esse quadro que aí está, o Brasil prosseguirá engatinhando para ascender no quadro mundial. Já estava muito bem quando comandado por Lula, sendo visto pelos estrangeiros como um país promissor, até invejável sob alguns aspectos. Mas, pelo que dizem os cientistas econômicos, faltou a Dilma uma visão administrativa capaz de dar saltos, de se comunicar com os empresários e trabalhadores, e mesmo com a imprensa e o povo. Parece que o mal maior da Presidente foi e tem sido não saber se comunicar, e, sobretudo, não contar com uma assesoria capaz de lhe dar estrutura, respaldo nas horas mais difíceis.

    Lula tinha um porta-voz muito eficiente. Nunca o vimos chegar em um recinto pra discurasar sem plateia, como se deu com Dilma após receber as vaias naquela feira. Por pouco não falou ao vazio, quando haviam cadeira para os espectadores pra mais de oitocentas. Boechart fez esse tipo de comentário, muito justo: “Aonde estão os assessores de Dilma que não veem essas coisas?”.

  9. É este mesmo o conceito de

    É este mesmo o conceito de sociedade civil. Aqueles organizados que têm seus interesses bem delimitados, normalmente fazem parte da burguesia e detêm o poder de fato.

    Por isso, sempre que se tenta montar alguma comissão tripartite temos os grandes empresários, a sociedade civil representada por advogados, juristas, entidades tipo CNBB e representantes dos trabalhadores, que são a minoria ou têm menos poder de barganha.

  10. Fair Play autóctone, senhor Bresser!

    Olá debatedores,

     realmente causou-me impacto esse texto do senhor Bresser.  Vou selecionar algumas passagens para comentar:

    (…)uma crise de confiança interna que resulta do superávit primário que se tornou negativo e da inflação que aumentou.(…)

    Meu comentário: O que exatamente motivou a perda de confiança interna ? O superávit primário negativo ou a consequência deste. E qual é a consequência deste resultado primário negativo? Por que?  Essa resposta seria importante , caro senhor Bresser. Mas, nela será preciso considerar que estamos numa RÉS pública federativa com o estado DEMOCRÁTICO de direito. É preciso partir destas premissas para chegarmos a uma resposta satisfatória.

     

    (…)Ora, o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, o que configura uma crise política grave.(…)

    A sociedade civil, em particular os ricos e a oposição política, precisa assumir sua responsabilidade para com a nação, aceitar a derrota

     

    Meu comentário: Esta afirmação causou-me  profunda reflexão. Tive de me aprofundar aqui na CR/88, em tratados internacinais e para não dizer que estou enviesado para a esquerda, fui consultar Max Weber, Saint Simon, Durkeim, ( não consultei Marx), Rousseau,  e ainda, Bobbio, Gilberto Freyre,  Buarque de Holanda, Nabuco, entre outros   e parei aqui no Dalmo Dallari.

    Mas , santo deus, de onde veio isso? ah sim, vou especular:  da Margareth Thatcher, caro senhor Bresser?

    Conclusão: Caro senhor Bresser, de onde foi que veio esse estabelecimento do  gênero “sociedade civil” que não inclui o POVO, mas que curiosamente particulariza-se nessa passagem   “os ricos” dentro desta sociedade civil” ,  que , logicamente, não faz parte do conjunto povo?

    Rico não faz parte do  povo então, é isso?

    E o povo é o que então?

    Democracia é o que? O poder emanda de onde? Do  povo ou da particularização do gênero “sociedade civil” que não inclui o povo?

    Nação? Que nação? Quais nacionais participam dessa sua “nação”?

    Há vários  ERROS grosseiros  em nossa  constituição de 1988 então, certo?

    Vamos citar alguns já com as devidas correções:

    Preâmbulo:

    Nós, representantes “da sociedade civil brasileira, particularizada pelos ricos”,  reunidos em assembléia nacional  ” para tratar do superávit primário”(…)

    Art, 1 A rés privada federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal , constitui-se em Estado PLUTOCRÁTICO de direito e tem como fundamento(…)

    Francamente hein Senhor Bresser!?

    Sugestão para a presidenta:

    Deu balbúrdia? Querem terceiro turno? Impitiman?  Então tomem um artigo 136: Presidencia da república ouvido o conselho da república e o conselho de defesa nacional  DECRETAR estado de DEFESA para preservar ou  prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados,  A ORDEM PÚBLICA ou a PAZ SOCIAL ameaçadas por grave  e iminente instabilidade institucional.(…)

     

    Saudações

     

     

     

  11. Em 2018, não agora, por Luiz Carlos Bresser-Pereira

    Neste final de semana, finalmente lí o livro Código da Vida de Saulo Ramos. Em um dos capítulos destinado a FHC, ele diz claramente que no governo dele, foram plantadas as sementes da impunidade. Cita o episódio em que pediu expressamente que o povo brasileiro esquecessem tudo o que havia escrito. Diz ainda que cardoso nunca quis deixar o poder, ao contrário, confessa desejá-lo (para comandar o atraso).

    Tentou o golpe parlamentarista, mas quando se elegeu presidente duas vezes, nunca mais falou de parlamentarismo. Diz que queimou todos os companheiros de partido, na esperança de eleger Lula para voltar em 2006. Julgava que o governo do Presidente Lula seria um desastre completo.

    Diz claramente que o golpista atual, Aluisio Nunes, então ministro da justiça, mandou instalar no Maranhão a estação de escuta para destruir a candidatura de Roseana. Chama cardoso de cínico, ímoral, que degradou a moralidade política com a compra de votos para aprovar a reeleição. Descreve FHC como um homem fascinado pelo poder e inconformado por ter de deixá-lo.

    Fico pensando, estes caras são golpistas em espírito. É da natureza deles, é como a fábula do escorpião e do rato. Estão arrastando um país inteiro para o precípicio, apenas para tomar o poder.

    1. O maior feito de FHC: elevar a carga tributária para PSDB e PT

       

      Djalma Santos (Quinta-feira, 12/03/2015 às 11:37),

      O advogado Saulo Ramos é da direita. A direita foi derrotada por Fernando Henrique Cardoso. Ai a direita chora. As críticas dele a Fernando Henrique Cardoso tem algum pouco de validade, mas é choro de derrotado. O caso mais grave e que foi o episódio do Maranhão, mesmo que o PSDB tenha arrumado tudo para o grupo de José Sarney cair na arapuca, a culpa foi de quem caiu.

      Sou contra a reeleição, mas é a custa dela que a disputa para presidente ficou entre PT e PSDB. Se não fosse aprovada a reeleição, Roberto Marinho iria apoiar Paulo Maluf em 1998 (Foi a condição negociada por Paulo Maluf para não sair candidato a presidente da República em 1994 e assim não dividir a direita que apoiava Fernando Henrique Cardoso. Quando feito o acordo Roberto Marinho não sabia que Fernando Henrique Cardoso se elegeria presidente do Brasil até sem o apoio da Globo porque ele teria o apoio do real.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 12/03/2015

  12. espero que os tucanos e a

    espero que os tucanos e a direuta escutem o ex-tucano bresser…

    descobri que não sou da sociedade civil, sou apenas do povo…

    logo, devo ter me ferrado…

     

  13. Governismo centrípeto

    Em algum momento, alguém do governo, ou seu apoiador, reconhece que cometeu algum erro?

    Nunca se vê isso.

    Dicas:

    – concessões exageradas a fundamentalismo e ruralismo

    – condução equivocada de política econômica

    – propaganda maliciosa, quando não falsa, em relação à oposição

    – invenção de uma conflagração ‘nós x eles’

    Quem é que colocou as palavras impeachment e renúncia em peça eleitoral?

    Quando alguém quer ajuda tem que ser um pouco menos arrogante, reconhecer erros e pedir desculpas.

    O que temos talvez seja muito simples e pode não requerer muita investigação.

    Existe uma narrativa, que podemos apelidar de “governismo”, que faz um diagnóstico minoritário e autoelogioso de si mesmo. Ainda que a opinião pública, mesmo a dos mais pobres, não confirme.

    Não há diálogo com a sociedade, não há troca, nunca há um aceno. O tratamento dado a Marina em 2014 é bem emblemático desse pensamento autocentrado e autosuficiente.

    E é evidente que cada vez menos gente acredita nisso. 

    Em 2006 Alckmin teve 39%. Em 2010 Serra teve 44%. Em 2014 Aécio teve 48%.

    Como será em 2018? Se alguém tem dúvidas pesquise e pronto.

    E adianta ficar batendo murro em ponta de faca? Não, não adianta.

    É o momento de deixar as pessoas perceberem as coisas por si sós.

     

     

  14. A ingenuidade obnubila o entendimento da política

     

    Luiz Carlos Bresser Pereira,

    Vai aqui meu comentário e o seu nome fica sem o senhor e sem o hífen.

    Uma vez o Fernando Henrique Cardoso disse que você iria cuidar das contas da campanha porque você era ingênuo. Não sei o que Fernando Henrique Cardoso quis dizer em o chamando de ingênuo e por isso considerou que as contas da candidatura deveriam ficar com você, mas eu concordava com ele.

    O seu texto pelo menos quase até o final não me pareceu de um ingênuo. Tinha aqui e ali minhas discordâncias, mas elas todas ficaram esquecida quando li o seguinte parágrafo:

    “Entretanto, não obstante o desgaste que estava sofrendo por boas e más razões, a presidente foi reeleita. Ganhou por uma pequena diferença, contando principalmente com o apoio dos pobres. Contou, portanto, com o apoio daqueles que têm um voto — e não com o apoio da sociedade civil, ou seja, da soma daqueles cujo poder é ponderado pelo dinheiro, pelo conhecimento e pela capacidade de comunicação e organização que cada um tem”.

    Belo achado. Não me lembro de ter lido texto que apresentasse essa divisão. Trata-se de uma distorção da Democracia. Um governo do povo, para o povo e pelo povo na verdade é um governo pela sociedade civil.

    Antes de ontem, houve um post voltando à discussão sobre a esquerda e a direita. Contendo artigo de Robert Iturrier que saíra no Brasil Debate o post “Direita e esquerda: uma breve qualificação, por Robert Iturrier” de terça-feira, 10/03/2015 às 07:11, procurava traçar as distinções entre a direita e a esquerda. Aqui cabe mais uma. A direita quer que o poder permaneça na sociedade civil e a esquerda luta para que cada vez mais sociedade civil e povo sejam um só.

    É uma luta ingrata. Provavelmente a união dos dois grupos nunca ocorrerá. A natural diferenças humanas faz a sociedade civil ser mais forte, mas preparada, com mais habilidades. O mais que a esquerda poderá conseguir será ampliar a sociedade civil, mas ai ela a tornará mais forte. Ou fortalecer o povo, mas como se pode fortalecer o povo se não em um trabalho que consiste em preparar primeiro uma geração para que a próxima esteja em um estágio acima e assim indefinidamente.

    Só que após esse belo achado, e que demonstra realismo, você me aparece com o seu velho idealismo que também se confunde com ingenuidade. Diz você para concluir seu texto:

    “Ora, o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, o que configura uma crise política grave. Mas uma crise que pode e deve ser administrada. A sociedade civil, em particular os ricos e a oposição política, precisa assumir sua responsabilidade para com a nação, aceitar a derrota nas eleições e voltar a ajudar o país a ser governado, em vez de falar em impeachment ou em tentar inviabilizar o governo. O próximo embate eleitoral é em 2018, não é agora”.

    A primeira frase está incompleta. Corrigida ficaria algo assim:

    “Ora, desde que vamos conviver por muito tempo com essa dicotomia e sabendo que o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, temos que reconhecer que quando há um antagonismo muito forte entre parte majoritária dessa sociedade civil e o povo tem-se configurado uma crise política grave. Mas uma crise que pode e deve ser administrada”.

    Resolvi incluir a segunda frase do seu texto que vinha na sequência porque ela é válida, sendo até mesmo um truísmo, pois em todas as democracias modernas há esta administração de crises em situações semelhantes. Aliás, como se dará com a que ocorre atualmente no Brasil.

    Agora é ingenuidade querer que a parte majoritária da sociedade que não se sente no comando do país venha abrir mão de chegar ao poder, adiando para um tempo longínquo no futuro. Aliás, quando o senhor conviveu com os próceres do PSDB e convive até hoje deveria ter aprendido que “Acusar o inimigo de imoral é arma política, instrumento para anular o ser político do adversário”. Esta frase é título de artigo de José Arthur Giannotti e foi concedida ao PT para acusar o PSDB. Porque o autor da frase um PSDBista de sete costados ou de alto coturno não admitiria que o próprio PSDB a utilizasse? É questão de oportunidade. Se ela passar eles vão fazer todo o esforço para a agarrar. Não creio que conseguirão, mas isso já é outra história.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 12/03/2015

    1. Apenas para informar os links a textos sugeridos

       

      Luiz Carlos Bresser Pereira,

      Dois usos para este comentário. Primeiro aproveito para deixar os links para artigos ou posts que foram mencionados em meu comentário anterior. O post “Direita e esquerda: uma breve qualificação, por Robert Iturrier” de terça-feira, 10/03/2015 às 07:11, aqui no blog de Luis Nassif, pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/blog/brasil-debate/direita-e-esquerda-uma-breve-qualificacao-por-robert-iturrier

      E deixo também o link para o artigo de José Arthur Giannotti “Acusar o inimigo de imoral é arma política, instrumento para anular o ser político do adversário” e que pode ser visto no seguinte endereço:

      http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1705200109.htm

      O endereço acima é no site da Folha de S. Paulo e o título do artigo na Folha de São Paulo quando foi publicado, quinta-feira, 17/05/2001, era “O dedo em riste do jornalismo moral”. Com o título “Acusar o inimigo de imoral é arma política, instrumento para anular o ser político do adversário”, o artigo de José Arthur Giannotti pode ser visto no seguinte endereço:

      http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/artigogiannottigerapolemica.html

      E a segunda oportunidade que aproveito é para indicar um post mais recente em que eu fiz referência a este seu artigo aqui no blog de Luis Nassif transformado no post “Em 2018, não agora, por Luiz Carlos Bresser-Pereira” de quinta-feira, 12/03/2015 às 08:06. Trata-se do post “José Murilo: um governo perdido e uma oposição sem grandeza” de domingo, 12/04/2015 às 12:39, aqui no blog de Luis Nassif em que ele comenta uma entrevista de José Murilo de Carvalho para o jornal O Estado de S. Paulo. O post “José Murilo: um governo perdido e uma oposição sem grandeza” pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/jose-murilo-um-governo-perdido-e-uma-oposicao-sem-grandeza

      Em meu comentário para Luis Nassif enviado segunda-feira, 13/04/2015 às 13:13, eu destaco a coincidência da sua separação da sociedade civil do povão, em que a sociedade civil seria a “soma daqueles cujo poder é ponderado pelo dinheiro, pelo conhecimento e pela capacidade de comunicação e organização que cada um tem” com separação semelhante feita por José Murilo de Carvalho entre o povão e a sociedade organizada. Não há surpresa na coincidência, apenas eu queria reforçar que esta divisão não é desejada, mas ela existe e tanto aqui neste post como lá no post com Luis Nassif comentando sobre a entrevista de José Murilo de Carvalho houve muita resistência a aceitação dessa diferença.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 13/04/2015

  15. Então……………..

    A troca de ideias entre Argolo e Joel, merece nossa atenção, porém incluo um detalhe que a meu ver, vigora nos tempos atuais em qualquer pais.

    A democracia como a conhecemos atualmente, nada tem a ver com direitos dos povos, principalmente da plebe.

    Tem ela somente o direito de eleger “seus representantes” que na realidade não a representa em nada, mas somente seus financiadores.

    O nome real que deveria ser citado é “DEMOCRACIA CORPORATIVISTA”, pois o poder é exercido pelos rentistas, oligopólios, transnacionais, multinacionais, que puxam os cordões e os prostitutos obedecem.

    E ai daqueles que não o fazem, pois são sumariamente “suicidados” !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! conforme mostra a historia !!!!!   

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