Em despedida, Dilma diz que é substituída por governo de corruptos e sem votos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Em discurso após o resultado do processo de impeachment, Dilma Rousseff lamentou, na tarde desta quarta (31), que o mandato que ela conquistou nas urnas, em 2014, seja entregue a um grupo político que tenta escapar da Lava Jato e que deu um golpe de Estado para chegar ao poder.

“Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições”, disse. “Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado”, acrescentou.

Dilma disse que causa “espanto” que a maior “ação contra a corrupção da nossa história” leve justamente ao poder um “grupo de corruptos investigados”.

A presidente destituída disse que está em jogo o “projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social. (…) É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência.”

Ao final, Disse prometeu resistência. “Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.”

O GGN reproduz o discurso na íntegra, abaixo:

***

Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados, presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens de meu País.

Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar.

Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado.

É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo.

É uma inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis.

Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados.

O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social.

Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment.

Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.

O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido.

O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência.

Peço às brasileiras e aos brasileiros que me ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110 milhões que avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes.

Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram negados.

A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta.

Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.

Quando o Presidente Lula foi eleito pela primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País.

Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.

Espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia.

Saio da Presidência como entrei: sem ter incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus compromissos; com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil.

Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade.

Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles.

Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.

Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer “até daqui a pouco”.

Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski:

“Não estamos alegres, é certo,
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta.”

Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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    1. Troll, canalha e golpista

      Os 3 sucessores diretos de Dilma (Temer, Maia e Renan) foram delatados na LavaJato por corrupção. Temer já é um ficha suja inelegível. E ainda tem um 4º, que manda nos 3, Cunha, teu parça de longa data, metido no rolo.

      Lava Jato já era. Foi por isso o GOLPE.

      Foi essa raça que vc, canalha e golpista, colocou no poder.

      1. Troll

        Tempos árduos.

        Foram delatados, mas não processados, “nada vem ao caso”.

        Por acaso a Lava jato processou algum dos golpistas.

        E o Cunha? Continua soltinho.

        A lava jato nada mais é que um circo de horrores.

        Foi idealizada para destroçar o PT. Já fêz isto, acabou. Quem seriam os idealizadores?

  1. A foto de muitos dos corruptos citados

    Dilma: “Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados.”

    Eis a foto com  alguns dos corruptos investigados:

      qua, 31/08/2016 – 16:16Atualizado em 31/08/2016 – 16:20, no Blog do Nassif

  2. Venceremos o Golpe!

    Só há uma forma de vencermos estes golpistas! Devemos incentivar todos os eleitores trabalhistas a não votar, em hipótese alguma, nos candidatos dos partidos golpistas.

    1. É o que se dever fazer
           imagem de GersierGersier

      Essa decisão eu já havia

      Essa decisão eu já havia tomado antes de consumar o golpe dessa quarta feira negra, dia 31 de agosto de 2016. 

      Um coxinha perguntou  quanto o Lula e a Dilma estavam  pagando a mim e a minha família para defende-los. Respondi: se o seu canditado playboy  que foi  derrotado  pela Dilma faz isso, nós os defensores  desses dois grandes seres humanos, o fazemos  por GRATIDÃO,  por tudo que fizeram pelo Brasil. É essa a diferenca entre os que amam o Brasil e os que possuem o viralatismo impregnado até a medula

  3. “Esta história não acaba

    “Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.”

    PAra daqui há 50 anos, administramos um país africano….

  4. golpistas não devem ser reconhecidos

    lula e dilma deveriam apresentar moções aos chefes de estado do mundo para condicionarem o reconhecimento de temer ao julgamento da legalidade do processo de julgamento que destituiu a presidente eleita.

  5. Vivi parte de minha infância

    Vivi parte de minha infância com o golpe militar. Na minha juventude mantinha a esperança de poder ver a nossa democracia renascer das cinzas. Hoje vejo o meu país sofrer um golpe parlamentar apoiado pelos mesmos músicos de antes. Trocaram apenas os instrumentos, mas os músicos são os mesmos que tenho certeza que o Tancredo os chamaria de: canalhas, canalhas, canalhas… Só lamento porque a história não apaga nem as coisas boas nem as ruins. Vamos manter a esperança e restaurar a nossa democracia, fazendo o máximo para conter o sangue dessa enorme cicatriz.

    Quem tiver amigos em outros Estados da federação divulguem o nome desses senadores que votaram a favor do golpe. Que a gente relembre aos novos eleitores de 2018 o nomes desses senadores que injustamente derrubaram uma presidente honesta e que essa mesma presidenta enfrentou os seus agozes de cabeça erguida no plenário do senado e que nem um deles nem de longe conseguiu ofuscar o brilho da verdade de suas palavras…

  6. Quero uma ação declaratório

    Quero uma ação declaratório em abstrato para saber se pagamento de subsídios ou subvenções é crime de responsabilidade. Quero uma ação declaratória em abstrato para saber se a edição de decreto a verbas suplementares sem autorização do congresso e sem aumentar a despesa é crime de responsabilidade.

    Estou consternada, absurdada, indignada com um bando de fichas sujas condenam uma ficha limpa.

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