Energia: dá pra viver de vento?

Jornal GGN – Nos últimos anos, o Brasil vem empreendendo esforços para aumentar a diversificação da matriz elétrica com fontes renováveis não hidráulicas. Entre 2008 e 2012, elas cresceram a uma taxa de 18,5% ao ano e passaram de 20 para 40 terawatt-hora (TWh).

Foi um crescimento maior do que os 5,9% ao ano dos Estados Unidos, por exemplo. Ou do que os 13,2% da Alemanha. Ainda assim, é preciso levar em conta que os dois países geram muito mais por fontes alternativas do que nós. Nesse período, o crescimento dos EUA os levou de 135 para 230 TWh. E o da Alemanha foi de 70 para 120 TWh.

Esses números foram discutidos no 56º Fórum de Debates Brasilianas.org, apresentados pelo professor titular do Programa Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Paulo Barbosa.

Comparados à China, estamos muito atrás, tanto no ritmo de crescimento quanto na capacidade total de geração. Lá, entre 2008 e 2012, as renováveis cresceram 70,4% ao ano e chegaram a quase 150 TWh.

Se levarmos em conta apenas o crescimento da fonte eólica, a taxa anual do Brasil entre 2008 e 2012 foi de 57%. Fechamos 2012 com 5 TWh.

Novamente, crescemos mais do que os EUA, cuja expansão foi de 26,3% ao ano. Mas estamos muito atrás dos 141 TWh deles. O mesmo pode ser dito sobre a Alemanha, que cresceu 5,7% ao ano, mas tem um parque eólico de 50 TWh.

Nesse aspecto, estamos em um ritmo mais próximo do da China, que cresce 59,6% ao ano. Mas o parque deles já é de quase 100 TWh.

“Nós acordamos para as renováveis num momento que outros países já estavam explorando em proporção maior”, afirma Paulo Barbosa. Ainda assim, acordamos. E estamos tentando recuperar o tempo perdido.

Em 2012 a geração de renováveis não hidráulicas já respondia por 7,5% da matriz nacional. É menos do que a Alemanha (20,8%). Mas é mais do que EUA (5,7%), Índia (3,4%), China (3,1%) e mais do que a média mundial (5%).

Por outro lado, na geração eólica – que é uma das que mais recebeu investimentos nos últimos anos -, ainda estamos atrás de todos esses países. A fonte no final de 2012 representava 0,9% da matriz nacional, contra 3,5% dos EUA, 8,7% da Alemanha, 2,7% da Índia, 2% da China e 2,4% da média mundial.

Isso não é necessariamente ruim. Nossa matriz é uma das mais limpas do mundo. Mas com a expectativa de uma progressiva redução na entrada de hidrelétricas com reservatórios – devido ao aumento das restrições ambientais – o desafio é mantê-la assim.

E de acordo com Paulo Barbosa, essa não é a única questão. “A geração eólica exige mudanças na visão tradicional dos planejadores e operadores de sistema”, disse.

Isso porque a fonte tem grande variabilidade –  seu pico pode ocorrer em qualquer horário do dia –  e forte sazonalidade. Além disso, tem baixo fator de capacidade – que é a proporção entre a capacidade máxima e a produção efetiva – entre 25 e 40%.

No nordeste, espera-se que até 2016 as eólicas passem a representar 29% da matriz elétrica. A preocupação de Paulo Barbosa é que com o crescimento da participação de uma fonte de energia que é intermitente haja uma redução significativa da inércia do sistema e da reserva primária para controle de frequência. Isso poderia levar a um aumento das variações durante perturbações que excederia limites seguros. Além disso, vai ficar mais apertado o balanço entre a demanda instantânea do sistema (o pico) e a disponibilidade de geração.

É preciso pensar, então, se esse é o caminho que queremos seguir. As fontes renováveis não hidráulicas não garantem segurança energética. Com a progressiva redução da entrada de hidrelétricas com reservatórios vamos acabar aumentando ainda mais a presença das térmicas na geração de base.

Para Paulo Barbosa, antes de permitir o aumento das renováveis não hidráulicas no sistema, é necessário: aprimorar o ambiente regulatório e comercial para viabilizar a implementação em larga escala de sistemas de manutenção de frequência e tensão; aumentar os estudos de capacidade de transmissão; treinar pessoal para realizar manobras operativas mais rápidas; e aprimorar os modelos de previsão de despacho de curtíssimo prazo. 

https://www.youtube.com/watch?v=MbSnVwiJZws width:700

Redação

11 Comentários

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  1. No Brasil, existe capacidade de reservatórios para guardar vento

    Assim como armazenam água, os reservatórios podem guardar na forma de energia potencial, a energia eólica, solar, de safras de biomassa colhidas na estação seca, enfim, muitas formas de energia intermitente. Chuvas também são fenômenos intermitentes e sazonais.

    O gráfico acima está no artigo  Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise., de Roberto Pereira D’Araujo, do Instituto Ilumina, que recomendo a leitura e ampla divulgação. O articulista observa que não temos apenas a segunda maior capacidade de reservatórios, mas “a liderança, porque o Canadá não tem todo o seu sistema interligado”, esse “é o grande diferencial e a “joia da coroa” do nosso sistema”.

    Mais adiante, no capítulo “A óbvia complementariedade das eólicas” do artigo, encontramos o gráfico a seguir. É uma curva normalizada, “Os dados de anos anteriores a 2013 foram “inflados” para que a média fosse igual ao ano de 2013”, com isto se mostra evidente o caráter complementar do regime de ventos no país. Ventos são fenômenos mais frequentes do que chuvas. A estação seca no Brasil coincide com a estação que mais venta, daí a complmentaridade. Nosso país é varrido pela regularidade do fenômeno dos Ventos Alísios, em generosas porções do seu território, onde se encontra a maior parte do nosso potencial e que conferm ótimo fator de capacidade para as usinas eólicas. E ainda não fizemos levantamento do potencial off-shore, região em que a falta de barreiras naturais contribui para menores turbulências, maior regularidade e intensidade dos ventos, ou seja, maior fator de capacidade.

    Sobre o gráfico, Roberto D’Araujo comenta que “se tivéssemos dez vezes mais eólicas, elas poderiam exercer um padrão semelhante à complementação térmica”.

     

    1. Okay, faz todo o sentido.O

      Okay, faz todo o sentido.
      O cara viajou com uma tese sobre ventos qaundo a questão é muito mais simples. Vc vai no local, coloca um catavento E MEDE o vento. isso já foi feito e temos fator de capacidade muito superior a média mundial.

       

      Dito isso, a respeito do seu backup natural…como fica este backup ao meio dia quando a geração eólica tende a ZERO?

      Como ficamos se precisar de energia ao meio dia?
      Para tudo se tem uma resposta né. E é solar neste caso.

      E aí o negócio começa a ficar meio complexo e vc TEM que fazer uma conta para ver O CUSTO dessa P toda.

      Se fiser isso corre o risco de VER QUE a soluçao nuclear custa menos, é energia firme, barata, limpa e infinita.

  2. Concordo  e penso que temos 2

    Concordo  e penso que temos 2 desafios:

    1) ampliar o parque éolico,

    2) reduzir as limitações ambientais que impedem o pleno uso dos reservatórios (inclusive porque a eólica não é isenta de impactos ambientais).

      1. claro que também polui

        Cada coluna de sustentação, hélices etc   é fabricada e é de  que material? Plástico, metal…… Além do mais os terrenos e vastas regiões passam a ser desertificados de gente, animais.

        Ao redor das´helices eólicas não tem NADA. NADA. Moro no RN, vejo bem.

        Gera uma cadei produtiva material, a qual infiro bem poluidora.

        Também energia solar. Como são feitos aqueles painéis?

        Já pensou kms e kms daquilo?

        Isso sómente olhando dá para imaginar não? Gostaria de ter informações de estudos.

        Não gosto dessa ilusão  “verde”. Há custos e beneficios que devem ser discutidos.BEM.

  3. viabilidade da energia eolica

    Faz anos que estudei o assunto, e o que me vem na lembraça é que o custo da energia eólica depende muito do local onde é instalado. 

    Acontece que nesses países os parques eólicos estão instalados entre os paralelos 40 e 55, regiões da terra onde há forte gradiente térmico na atmosfera, até um 1oC para cada grau de latitude. Esse diferencial provoca formação de ventos intensos e constantes quase o ano todo.

    Nas latitudes de nosso território nacional esse fenômeno não existe. Quase todas as nossas regiões mais promissoras possuem elevada sazonalidade produtiva, o que diminui a produtividade anual e encarece a energia produzida. Nas nossas condições, a energia eolica fica bem salgada.

    Se você acha que pode pagar a conta, tudo bem.

    Sérgio Torggler

     

     

    1. Você está bastante equivocado.

      Os dados de campo não comprovam o que afirma. Os Ventos Alísios  são um fenômeno com muita constância na Terra. As usinas instaladas no Brasil, na região varrida pelos Alísios, demonstram ótimos fatores de capacidade registrados, medidos nos últimos anos em operação comercial, superiores aos das regiões que menciona. A sazonalidade comprovada do regime de ventos é complementar, ao regime hídrico das bacias que compõem a base do fornecimento de energia elétrica do país.

    2. fatores de potência eolica nordestina

      Os fatores de potência dos parques eólicos nordestinos, nos projetos eram de 35%, na vida real não chegam a 30%.

      Isso significa que de todas as horas disponïveis para produzir, os geradores só trabalham de fato 30% delas.

      Os custos são quase todos fixos. Se a produtividade cai, o custo unitário aumenta.

       

  4. Governo vai fazer leilão em agosto para contratar energia solar

    Crédito: Reprodução da internet

    Brasília—-16/03/2015 16p1—Sabrina Craide – Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado

    O governo vai promover no dia 14 de agosto o primeiro leilão de energia reserva deste ano. Será contratada apenas energia gerada a partir de fonte solar fotovoltaica. O suprimento começará em agosto de 2017, com prazo de contrato de 20 anos.

    As regras foram publicadas hoje (16) no Diário Oficial da União. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o leilão tem o objetivo de diversificar a matriz elétrica e propiciar uma competição isonômica e o atendimento à garantia de suprimento.

    O preço-teto do leilão será calculado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), aprovado pelo ministério e estabelecido quando o edital for publicado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

    Os empreendedores interessados em participar do leilão deverão cadastrar seus projetos na EPE até o dia 14 de abril. Uma das condições é que o empreendimento seja conectado ao Sistema Interligado Nacional.
    URL:
    http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2015-03/governo-vai-faz

     

  5. “O nome do problema atual é a energia e suas fontes”

    Como já é sabido a energia elétrica que provém das usinas hidreletricas estão passando por grandes dificuldades de produção em detrimento ao ciclo das águas que não tem sido favorável. Contudo, surge outras fontes como a eólica, energia que tem como fonte “os ventos”. A energia nuclear que ao que parece ainda não justificou o seu alto investimento em usinas nucleares. Entretanto, quando se busca outras fontes de energia, deve-se pensar em o que fazer com as atuais fontes de energias que já estão instaladas e produzindo. Será que neste momento não seria uma melhor adequação, modernização e investimentos nas atuais fonte produtoras de energia…

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