EUA assumem controle de 83% da importação brasileira de óleo diesel, por Miguel do Rosário

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Desde muito tempo, o óleo diesel figura em primeiro lugar no ranking das nossas importações. Foto: Divulgação

Do Cafezinho

EUA assumem controle de 83% da importação brasileira de óleo diesel

por Miguel do Rosário

Em agosto de 2015, o juiz Sergio Moro estava em plena campanha em favor do golpe. Dava palestras onde quer que lhe chamassem e suas decisões seguiam uma agenda estritamente conectada às forças de oposição que conspiravam para derrubar o governo Dilma.

No dia 31 daquele mês, Moro proferiu uma palestra com o tema “Corrupção sistêmica: as lições da operação Mãos Limpas”, num evento organizado pela editora Abril, em São Paulo.

O juiz responsável pela operação Lava Jato, então no auge de sua popularidade, explicava aos executivos que se dispuseram a pagar R$ 1.800 por um ingresso, o que, na sua opinião, eram investimentos não baseados em razões de “ordem econômica e racional”.

Como exemplo, ele cita a refinaria Abreu e Lima, lembrando que o custo inicial da obra, estimado em 2 bilhões de dólares, passara para 18 bilhões de dólares.

Moro conta que alguns “colaboradores” capturados pela Lava Jato lhe disseram que a obra jamais se pagaria.

Trajando seu tradicional terno preto, com uma expressão aflita no rosto, o juiz de Curitiba conclui que tudo isso “leva a uma natural suspeição: será que o fator de recebimento de propina não foi o agente motivador dessas decisões de investimento mal sucedidas?”

Neste mesmo evento, ele admitiu que a operação Lava Jato poderia causar transtornos a economia. Mas ele acreditava que, no longo prazo, o enfrentamento da corrupção sistêmica traria ganhos “às empresas” e “a economia”. Ele faz uma pausa e completa: “e a todos, de uma forma geral”.

Qualquer pessoa que estude um pouco o universo de refinarias, sabe que o escândalo em torno do custo da Abreu e Lima fez parte do processo de manipulação da opinião pública. O custo passou de 2 bilhões para 18 bilhões porque o projeto mudou completamente. Para começar, o custo inicial foi estimado em 2005, antes do descobrimento do pré-sal. O custo posterior refere-se a um projeto completamente diferente, após a descoberta pré-sal. Ninguém contou isso a Sergio Moro?

Se você fizer uma pesquisa na internet sobre o custo de se construir uma refinaria, verá que ele, naturalmente, é calculado de acordo com a sua capacidade de produção.

Uma reportagem publicada apenas uma semana depois da palestra de Moro, num jornal do Canadá, comentava que uma refinaria em Alberta, com capacidade para processar 50 mil barris por dia, teria um custo de construção de 8,5 bilhões de dólares.

A Abreu Lima deverá (ou deveria, antes do golpe) ter capacidade de processar, quando todas suas unidades estiverem em pleno funcionamento, 230 mil barris por dia. Ou seja, mais de quatro vezes mais do que a refinaria canadense. Logo, deveria custar mais de US$ 24 bilhões.

Outra reportagem, publicada num jornal indiano, em julho do ano passado, fala que uma refinaria a ser construída na costa oeste do país, deverá custar mais de US$ 30 bilhões. Ela terá capacidade, segundo os planos das estatais responsáveis pelo projeto, de processar mais de 600 mil barris por dia. O custo é apenas uma estimativa, porque o governo ainda nem adquiriu as terras onde a refinaria será construída. O projeto é que a refinaria fique pronta em 5 ou seis anos a partir da aquisição das terras. Torçamos para que a obra não atrase, não custe muito mais do que o orçamento inicial, mas, sobretudo, que não apareça nenhum juiz indiano doido, megalomaníaco, que pretenda acabar com a corrupção na Índia através da destruição de sua indústria de petróleo.

O excelentíssimo Sergio Moro deveria se informar melhor. A Abreu e Lima, assim como qualquer outra refinaria que viesse a ser construída no Brasil, não devem ser vistas apenas em função de seu custo de construção.

O Brasil, ainda hoje, é altamente deficitário em óleo diesel, gasolina e derivados. Essa é uma das consequências do golpe de 1964. Moro não deve conhecer história. Se tivesse tido a curiosidade de ler alguns livros, saberia que o golpe de 64 foi patrocinado pelos americanos com o objetivo de assumir o controle sobre algumas orientações básicas da nossa política econômica. Era necessário, por exemplo, que a nossa estrutura de transporte fosse inteiramente baseada em rodovias. Como não tínhamos petróleo, muito menos refinarias importantes, teríamos que importar grandes quantidades de óleo diesel dos principais países exportadores, em especial os Estados Unidos.

Outra coisa que o senhor Moro parece não entender: o preço do diesel, principal combustível de nossa frota de caminhões, é um componente determinante na composição dos preços de produtos alimentícios vendidos no mercado interno brasileiro.  Ter refinarias significaria ampliar o controle nacional sobre o preço dos nossos próprios alimentos, o que nos ajudaria a enfrentar a inflação e a planejar melhor a nossa economia.

Não é com juros altos que se combate a inflação, e sim com preços estáveis da energia e melhora da infra-estrutura logística do país.

O plano de termos um conjunto de refinarias, condizentes com o nosso tamanho, é um sonho vinculado ao projeto de país soberano, com indústrias fortes. Mas talvez isso seja informação demais para um juiz provinciano.

Sergio Moro também não conhece os números da balança comercial brasileira. Como só lê Veja e Globo, ficou achando que a Abreu e Lima era desperdício de dinheiro público, e que a decisão de construí-la nasceu apenas em função da propina a ser dada ao Paulo Roberto Costa…

Neste post, vamos tentar oferecer, gratuitamente, ao juiz Sergio Moro, algumas informações importantes sobre seu país, e de quebra revelar alguns fatos intrigantes que aconteceram desde o impeachment.

O Brasil importou, no acumulado dos últimos seis anos, o equivalente a 37 bilhões de dólares em óleo diesel. Ou seja, só com o que gastamos na importação de óleo diesel durante metade da era Lula/Dilma, poderíamos construir mais de duas refinarias Abreu e Lima.

Desde muito tempo, o óleo diesel figura em primeiro lugar no ranking das nossas importações. É o produto, em suma, que mais importamos. E isso a despeito de termos nos tornado, nos últimos anos, autossuficientes em petróleo.

Todos os números usados neste post são de fontes oficiais, devidamente indicadas nos gráficos e tabelas.

Na tabela acima, observe que o Brasil gastou, nos últimos 12 meses, US$ 4 bilhões com a importação de óleo diesel, um aumento de 71% sobre o ano anterior.

Enquanto isso, por conta da decisão da Petrobrás de paralisar suas refinarias, tanto aquelas já em funcionamento quanto a construção de novas unidades, a nossa produção nacional de derivados caiu violentamente este ano, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), atualizados até maio deste ano. O acumulado de janeiro a maio de 2017 é um dos menores da série histórica.

 

O país que mais se beneficiou desta queda na produção nacional de derivados foram os Estados Unidos, cujas exportações de óleo diesel para o Brasil cresceram 177% sobre o ano anterior.

O fato curioso é que os EUA não apenas aumentaram brutalmente a exportação de diesel para o Brasil. Eles assumiram o controle de nossa importação. E há muito tempo isso não acontecia.  Em 2013, os EUA ficaram com 33% das importações brasileiras de óleo diesel. Nos anos seguintes, a participação americana oscilou entre 40% e 50%.

Nos últimos 12 meses terminados em junho, porém, os EUA assumiram hegemonia absoluta da importação brasileira de óleo diesel, com mais de 83% do mercado!

E quem controla o diesel, controla o transporte de mercadorias no Brasil.

Agora entendo porque os americanos dão tantos prêmios para Sergio Moro.

A Índia, grande exportadora mundial de óleo diesel, foi varrida do mercado brasileiro. Nos 12 meses até junho de 2016, o Brasil havia importado quase 700 milhões de dólares de diesel indiano, o que correspondia a 30% do total das importações brasileiras. Nos seis primeiros meses de 2017, o Brasil ainda não importou um mísero barril da Índia.

Curioso, entrei no departamento de estatísticas de comércio exterior do governo indiano, e descobri que não houve nenhum problema com as exportações do diesel daquele país. Ao contrário, as exportações de óleo diesel da India em 2016/17 totalizaram mais de 12 bilhões de dólares, um crescimento de 5% sobre o ano anterior. Quase todos os países que costumam importar diesel da Índia aumentaram suas compras, menos Brasil e… Arábia Saudita.

A Suíça também aumentou muito suas exportações de diesel para o Brasil. Mesmo aumentando, sua participação ficou em apenas 5%.

A gente tem uma ideia sofisticada dos EUA, mas o principal produto que ele exporta para o Brasil é óleo diesel! Com isso, o Tio Sam voltou a ocupar o primeiro lugar no ranking das nossas importações, ultrapassando a China. Alemanha, França, Coréia do Sul, Itália, Reino Unido, todos esses países perderam participação no mercado brasileiro.

Os EUA, ao contrário, cresceram.

Numa edição anterior do Cafezinho Econômico, eu mostrei como os EUA assumiram uma hegemonia fortíssima nos números de investimento direto no Brasil, o que mostra que são eles que estão aumentando participação acionária em nossas empresas, ampliando o controle de nossa economia.

Diante desses números, volto a acreditar que a compra da refinaria de Pasadena havia sido um negócio de cunho estratégico. Pena que nem Dilma ou Graça Foster fizeram esforço para convencer a opinião pública.

Se um historiador quiser entender quem ganhou com o golpe de 2016 no Brasil, a leitura desse Cafezinho Econômico talvez lhe ajude um pouco.

 

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Redação

13 Comentários

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  1. O texto esta perfeito  ..só

    O texto esta perfeito  ..só faltou…

    ..só faltou dizer da transparência que deveria ter havido entre o ORÇAMENTO e a promessa  ..e o estouro das verbas e seus sucessivos atrasos

    Resumindo  ..pro país, além da auto suficiência, auto estima e independência, importantissimas, há que pensarmos também da eficiência e competência

    Quanto a Moro e suas parcialidades mancomunadas com abuso de autoridade ?!  ainda torço para que a JUSTIÇA a ele seja feita  ..qual seja, CADEIA

  2. Os gringos não estão

    Os gringos não estão chegando. Eles já chegaram e tomaram conta. Chico Buarque dizia que o Brasil seria um imenso Portugal e eis que o Brazilzilzil foi transformado num clone imenso de Porto Rico.

  3. Como sempre, Miguel do Rosário vai direto ao ponto.

    São raras, aqui no GGN, as reproduções de postagem d’O Cafezinho.

    De forma artesanal, quase solitária (agora ele conta com alguns colaboradores), Miguel do Rosário é um desses abnegados jornalistas que lutam na trincheira, furando o bloqueio do PIG/PPV, que sempre o mantém na mira de pesada artilharia. Miguel do Rosário foi vítima de implacável perseguição judicial por parte de Ali Kamel, que por meio de processo na justiça quis asfixiar financeiramente o jornalista e inviabilizar o trabalho dele no blog.

    Felizemente Miguel do Rosário não esmoreceu, arcou com o pagamento de injustada indenização ao dono do jornalismo global e continuou a fazer o trabalho dele, o contraponto ao oligopólio midiático golpista, vira-lata e entreguista. Foi Miguel quem tornou público o processo por crime contra a ordem tributária, furtado das dependências da RFB, no Rio, por uma funcionária que se encontrava de férias e euq foi subornada, para roubar tal process, em que a TV Globo era acusada de sonegar (após aplicação de juros e multa) um total de R$615 milhões (em valores de 2007, não atualizados para odia de hoje).

    Essa história foi muito bem contada em reportagem de Luís Carlos Azenha, levada ao ar no último domingo, no programa Domingo Espetacular, da TV Record.

    As análises econômicas que tem produzido e postado n’O Cafezinho são bastante esclarecedoras e merecem ser lidas e divulgadas por outros blogs e portais, como faz o GGN.

     

  4. O Juiz Sergio Moro não entende de refinarias

    O Juiz Sergio Moro não entende de refinarias…

    … Graças a Deus! É um mero juiz! Sua opinião é… …apenas opinião!

    Espera-se apenas que houverem provas de ilicitos, que no devido processo ele condene a quem quer que seja: PTPSDBDEMPMDBetc!

    Quando um diretor resolve devolver milhoes, espera-se ao menos uma ampla investigação.

    No mais apreciei muito a explanação tecnica.

    Abraços a todos

  5. Mas quem começou a

    Mas quem começou a priorização do transporte rodoviário em em detrimento do ferroviário foi JK e não os militares.

  6. Um país de 200 milhões de

    Um país de 200 milhões de pessoas cuja reserva energética ficará com os EUA e terras pra agricultura com os chineses. Só os dois fatores cruciais para qualquer país que tenha pretenção de ter peso no mundo. Mas quem disse que nossa elite se preocupa com isso? 

  7. Investimentos

    Para os americanos, US$ para investimentos não é problema pois, como todos sabem, eles são os donos da máquina que fabrica essa moeda. E é bom não esquecer que ela tem curso forçado internacional garantido pelo acordo de Bretton Woods, NH, 1944, ou seja, todos são obrigados a aceitá-la. Esse foi o golpe perfeito que eles deram no mundo todo pois, daí em diante, todos os países se viram obrigados a exportarem matérias primas e produtos para obterem essa moeda para honrarem seus compromissos internacionais e formarem reservas. O único país que ficou fora dessa obrigação foi os EUA. Todas as moedas foram transformadas em simples meios de pagamento.

    1. investimentos…

      40 anos de (Re)democracia pós Anistia de 78. 30 anos sob uma Constiuição criada por Progressistas. 30 anos sob a incompetência de governos de Esquerda. Esquerda que não é Esquerda. Elite que não é Elite. Este lixo que nos trouxe até 2017. Pedrinhas e Alcaçuz, via internet, mostrando nossa juventude decapitando e sendo decapitada. O espetáculo diário da Cidade Maravilhosa ou a maior cidade do país sitiada por uma facção criminosa. E entendemos o porque de um dos maioires produtores de petróleo do Mundo, daram, cederem, se submeterm ao quase monopólio de companhias americanas quanto ao diesel. Somente uma Terra de Gênios, para permitir governos tão geniais durante tantas dácadas. Poderíamos ter o combustível mais barato do planeta, produzido por milhares de empresas brasileiras esplahadas por todo território. Para que Diesel? Não teríamos capacidade, nem mão de obra suficiente apenas para o Biodiesel, proiduzido em milhares de pequenas propriedades rurais. Conjuntamente a milhares de pequenas usinas produzindo álcool e açúcar. Poderíamos deixar o petróleo apenas para exportação e como Reserva Estratégica. Mas NÃO !! Vamos transformar tamanha Liberdade, Soberania e Excepcional Alavancador de Qualidade de Vida em alguma Multinacional Estrangeira, crindo leis e monoipólios para proteger esta imbecilidade. Isto apenas na área de combustíveis para carros, caminhões e máquinas agrícolas. Somos Geniais. Amanhã toda Imprensa Tupiniquim estará atacando o Trump por doarmos tamanho mercado aos amereicanos: “A Culpa é do Capitalismo !! A culpa é do Colonialismo !! A culpa é das Forças Opressoras das Grandes Potências !! Não carissimos patricios e concidadãos, a culpa é tão somente da imbecilidade tupiniquim.        

  8. Quando nosso povo cair na

    Quando nosso povo cair na real e parar de bater palmas para o que é estrangeiro, principalmente para o que é “americano”, isso para de acontecer.

    Entendo que não é fácil. O Mickey Mouse é tão assertivo, quase simpático, Las Vegas, Nova Iorque e Maiame são tão legais! E os filmes? E a música? Há algo tão bonito quanto o pop americano? Talvez contas de vidro colorido faiscando ao sol tropical…

    É… temos dado nossas, desculpem a palavra chula, bundas por muito pouco, por meras distrações passageiras. Mas dar a, desculpem de novo, bunda não faz ninguém recriminável, há quem goste e faça questão. O que é recriminável é continuar fazendo de nós mesmos e do nosso país uma pobreza sem tamanho.

    E aqui, de novo, entendo que há brasileiro que precisa que o Brasil seja pobre para ele próprio pareça mais rico, mais fino, gasta os tubos para aprender a falar inglês e concorrer a um afago de algum estadunidense: “Seu inglês é quase sem sotaque”. Mas aí já estamos falando do que não deve ser falado, de nós mesmos, do que nos é inconsciente e que assim deve permanecer. Melhor falar de bunda. né?

    ***

    Em tempo: não sou muito adepto da chamada programação neuro-linguística, acho meio charlatanismo, mas acho que os sims são melhores do que os nãos. Talvez melhor do que simplesmente negar a cultura estadunidense – que a rigor nem cultura é, é mera criação publicitária, artificial – seja desenvolver a cultura brasileira. Não a criada em laboratórios de marketing, que essa é a estadunidense, e sim a que anda meio enfraquecida mas que é espontânea do nosso povo. Abrir mão das distrações estadunidenses sem por nada no lugar causaria mesmo a sensação de vazio. Talvez mais do que um “não” aos EUA seja mais próspero um “sim” a nós mesmos.

    Em tempo, ainda: Isso sem falar nos que voltam de cursos em Harvard ou que-tais, todos pimpões. Voltam sem nenhuma dúvida. (Ué, mas o motivo pelo qual se estuda não é pelo fogo eterno de estar em dúvida?) Será que dá para, num exame sincero de si mesmo, aprender a separar o que vem de onde? Por exemplo: no bem estar que acomete os oriundos de cursos em faculdades estadunidensesquanto tem origem em saberes e o quanto tem origem no fato do curso ter sido feito em faculdade daquele país, só por ser naquele país? Será que todos os professores de lá são mesmo sumidades? Onde Mangabeira Unger dá aula? E por aí vai…

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