Falta legitimidade ao governo para transformar-se em banqueta de comércio, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Leonardo Benassatto/Reuters

Jornal GGN – Se só 6% dos brasileiros confiam alguma coisa ainda no governo Temer, fica evidente a falta de autoridade nesse governo em soltar um pacotaço de vendas e concessões de bens públicos. Para Janio de Freitas, em coluna na Folha, se há 94% de brasileiros que não confiam, esse governo nem deveria existir.

Para Janio, além de não ter autoridade para fazer esse desmonte, esse governo carece de legitimidade para levar essa camelotagem em diante. Essa legitimidade só poderia existir se houvesse representatividade concedida via voto. Não houve. Não é legítimo. Não é lícito.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

Governo em que 94% dos brasileiros não confiam nem deveria existir

por Janio de Freitas

O padrão moral do denunciado Michel Temer, comprovado publicamente no ardil noturno de Joesley Batista e no seu círculo “de confiança”, mais do que autoriza, pede que se admita a priori a existência de negociatas embutidas no pacotaço de 57 vendas e concessões de bens públicos, comunicado pelo governo. Não é preciso discutir se privatizar-por-privatizar convém ou não aos habitantes e aos interesses do país. Ao lado da admissão, há outras razões contra a orgia de altos negócios pretendida pela atual Presidência da República.

Apenas umas 72 horas depois, ao aviso do pacotaço privatizante seguiu-se o conhecimento de que só 6% dos brasileiros ainda depositam alguma confiança no governo. Seis brasileiros em cada cem, constatação feita pela Fundação Getulio Vargas. É humilhante, com sua correspondência a 94% da população, a falta de autoridade deste governo para fazer transações com bens da nação. Mesmo com os mais insignificantes, quanto mais com empresas e utilidades nacionais do porte essencial de uma Eletrobras –a maior empresa de geração de energia da América Latina. Governo em que 94 a cada 100 brasileiros não confiam nem deveria existir: é um dejeto institucional.

Além da autoridade, falta legitimidade ao governo para transformar-se em banqueta de comércio. A afinidade com a camelotagem que, em grande parte, explora o roubo de cargas, é bem perceptível. A legitimidade, no caso, só poderia vir da representatividade concedida. O denunciado Temer não a recebeu. Não chegou a vice-presidente por votação própria, mas a reboque. De uma candidata e dos votos dados a ela e ao programa escolhido pela maioria do eleitorado. Pacote de privatizações compunha o programa repelido com Aécio Neves, mesmo quando este era dado como bom moço. O salvo-conduto que a vice poderia dar, havendo posse como titular, não tem mais validade porque o denunciado Michel Temer adulterou-o. Como à própria Presidência da República, a votações do seu interesse pessoal na Câmara e à probidade exigida do cargo.

Não é supérflua a notícia sobre o primeiro interessado na compra da Eletrobras, tão logo foi divulgado o propósito de vendê-la. É José Abdalla, quarto maior acionista da empresa, maior acionista privado, cuja fortuna ganhou mais R$ 1 bilhão na Bolsa só com o anúncio da privatização, dono de múltiplos negócios –e integrante do círculo de amigos do denunciado Temer. Por aí se vê a dimensão da empresa e do negócio tratados pelo governo como coisa comum, sem estudos amplos e profundos de suas implicações.

O pacotaço tem também um aspecto político e eleitoral. Para o ministro Henrique Meirelles, privatizações no maior número e no menor tempo são um meio de fechar, ou diminuir muito, o rombo nas contas que sua política de arrocho, em vez de reduzir como prometido, aumenta. Com isso, ele daria à sua pretendida candidatura à Presidência o cacife de um alegado êxito sobre o rombo ameaçador.

BRASILEIRINHAS

–São muitos os embarcadouros na Amazônia. A Marinha não tem como fiscalizá-los todos. E o excesso absurdo de lotação dos barcos é a norma e a causa de muitos desastres fatais. Fiscalizar com maior presença e rigor a lotação dos barcos em saída e chegada, nos pontos mais movimentados, já atenuaria bastante os acidentes. Isso a Marinha sabe e pode fazer. E está há muito tempo para fazê-lo.*

–Título na Folha (25.ago): “Recurso de Lula foi o que mais rápido chegou à 2ª instância”. É uma informação que já contém a explicação, o histórico e o motivo do juiz Sergio Moro.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. roubo

    Seu Jânio,

    O problema não é apenas de legitimidade. Trata-se de roubo. Assalto à bolsa e à casa da viúva, puro e simples, realizado por notórios ladrões.

    Os vizinhos, Exército, Judiciário, Povo pensante do Brasil estão atônitos com o atrevimento dos assaltantes e até aqui ninguém fez nada. A despeito de denúncias de pequeníssima parte do legislativo, sempre ocultadas ou minimizadas pelo PLIMPIG, grande parte da população mantém o discurso do plimplim que as coisas estão melhorando!

     

  2. Juristas , uma pergunta

    como é governo ilegítimo, de que forma a soberania de um povo pode – a despeieto de um judiciário vendido, das manipulacoes, abducoes e transfressāo das leis – reverter esse quadro de desmanche, caso a consumação do golpe se aprofunde e vingue? Se vivemos numa guerra colonialista e fora da lei, suponho que só – para alem dos comtratos garantistas e de conveniencia, e reestatizando e restabelecendo os principios socialis – é possível algo  contra o futuro negro…

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