Feijoada partidária, por José Roberto de Toledo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Artigo de José Roberto de Toledo trata da feijoada. Não aquela já conhecida mas a feijoada partidária que se torna autocrática e menos permite a participação dos filiados. Os partidos têm donos e o poder tem herdeiros que sublocam partidos e controlam as regras da locação.

O impedimento de coligações de partidos para deputado e vereador seria uma revolução em prestações, entende Toledo, pois os partidos nanicos teriam dificuldade em atingir o mínimo de votos sem a ajuda das maiores siglas. Isso significa que deputados e vereadores teriam receio de mudar de legenda, saindo daquela que o elegeu por um micropartido, mesmo com regalias ao seu nome, não compensaria tanto risco.

Assim, entende Toledo, a cada eleição diminuiria o número de partidos representados na Câmara e Assembleias, no lugar de aumentar e, com menos partidos, os que restarem serão forçosamente maiores e mais heterogêneos, clamando por uma maior inserção social. E, é claro, baratearia o custo das eleições. E arremata com um “bastaria cumprir as regras em vez de reinventá-las só porque perdeu-se algumas eleições”.

Leia o artigo a seguir.

do Estadão

Feijoada partidária

por José Roberto de Toledo

É difícil serem mais autocráticos e incentivarem menos a participação dos filiados. Não fazem prévias para escolher candidatos – o cacicado federal decide quem vai aparecer na urna, quem vai receber dinheiro e não tem discussão. Mas não fica nisso. Intervém nos diretórios locais ao menor sinal de insubordinação e eterniza comissões provisórias para garantir que não haja chance de oposição interna. Os partidos têm donos.

Por conta disso, têm também a representatividade de um convescote familiar. O poder é herdado e muitos dos herdeiros vivem de alugá-lo. Se não é possível interferir na propriedade privada, pode-se ao menos tentar controlar as regras da locação partidária. Proibir coligações entre partidos nas eleições para deputado e vereador seria uma revolução em prestações.

Sem poder pegar carona na votação das maiores siglas, os candidatos dos partidos nanicos teriam dificuldade de atingir o mínimo de votos para se elegerem. Deputados e vereadores relutariam em trocar a legenda que os elegeu por um micropartido onde teriam mais regalias. O benefício não compensaria o risco.

Como resultado, a cada eleição diminuiria o número de partidos com representação na Câmara dos Deputados e nas Assembleias – em vez de aumentar. É o que mostram todas as simulações sobre o que teria ocorrido se a regra tivesse vigorado em pleitos passados.

Com menos partidos, os restantes seriam necessariamente maiores e, por tabela, mais heterogêneos. A disputa interna pelo poder seria mais acirrada. Ter inserção social seria uma necessidade.

Tão ou mais importante, as negociações do Legislativo com o Executivo seriam no atacado, não mais no varejo. Como a soma das partes é sempre maior do que o todo, por menos republicanos que fossem, elas sairiam, ainda assim, mais barato do que saem hoje. Revertendo o curso atual, o sistema tenderia à estabilidade. Bastaria cumprir as regras em vez de reinventá-las só porque perdeu-se algumas eleições.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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