Folha de S. Paulo não muda editorial, blinda-se

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Márcio A M Gomes

Comentário ao post “O dia em que a Folha voltou a ser a Folha

A chave do dilema sofrido pela fsp é o seguinte: como continuar a ser politicamente conservador, mas liberal nos costumes? É o dilema que vive também parte da sociedade brasileira. No mundo todo, o advento da internet favoreceu muito a luta pelos direitos civis das minorias. Os pleitos e casos de violação de direitos têm repercussão imediata nos tribunais das redes sociais. No Brasil, essa bandeira sempre foi da esquerda, pois a direita sempre conviveu bem com os gays em particular, mas nunca em público. Quem tivesse uma posição mais assertiva, teria que buscar outro nicho político, como foi o caso, por exemplo, de Marta Suplicy.  

O caso de São Paulo é emblemático. As duas fases da mistura conservadorismo político e liberalidade nos costumes sempre conviveram muito bem naquele caldeirão étnico e cultural. Não é à toa a identificação imaginária que o paulista tem com os americanos do norte, onde o máximo do progressismo político é ser liberal, como se diz por lá. SP não mudou muito politicamente: continua sendo governada pelo PSDB, que era uma espécie de congregação de déspotas esclarecidos, antes da cruzada santa de Serra e do moralismo udenista do Aécio. O PSDB de vinte anos atrás representava bem o espírito paulista: a nobreza com algum verniz intelectual, ligeiramente progressista, mas não tanto. Se o projeto de vinte anos do Sérgio Mota tivesse vingado, a fsp estaria muito confortável, representando seu papel de defensora da pluralidade e fiscalizadora equânime do poder público. O governo era dos seus, e com isso dava pra conviver, e ainda dar alguma chance ao jornalismo verdadeiro.

Mas aí vieram os governos do PT. Com eles, progressismo de fato, protagonismo dos excluídos, democratização de espaços públicos, etc. Quanto mal-estar isso causou e vem causando, sentimento que evoluiu ao ódio rapidamente. Mas esse ódio ainda era privado. O conservadorismo sempre atuou nos bastidores, nas redações dos jornais, inclusive. Sempre teve um misto de vergonha e hipocrisia para se mostrar sem disfarces.

É nesse ponto que a grande imprensa teve papel fundamental: passou a incentivar e dar voz a esse ódio, com cobertura jornalística francamente parcial e um exército de opinadores muito bem remunerados, defendendo sua visão de mundo segregacionista, que é também a do patrão. Havia um mal maior a ser combatido e a coisa toda virou um vale-tudo. Nessa hora, apareceu o verdadeiro espírito da folha: somos conservadores politicamente. O chato mesmo pro Otavinho é que agora não dá mais pra ser as duas coisas, pois as fases da mistura se separaram. É muito nítido esse movimento na sociedade brasileira, local ou globalmente. O conservador nos costumes embarcando no conservadorismo político e, do outro lado, partidos menores como PSOL ganhando musculatura por sua agenda avançada nos costumes. Cresce a tendência do conservadorismo sem predicados, ou você é conservador ou não é. Por isso é que a fsp apanha dos dois lados do espectro político.

Assim, não enxergo nesse editorial nenhuma mudança de rumo da fsp. Ao contrário, ela está onde sempre esteve. E tenta, a meu ver, se blindar. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

26 Comentários

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  1. Não quero ver pobre pegando

    Não quero ver pobre pegando avião ou visitando meus lugares em Paris, isso me dá um ódio danado. Volte PSDB, para que os pobres não fiquem ricos.

  2. Cunha é uma pedra no sapato

    À Folha, o que interessa mesmo, é que o Brasil siga sendo uma disputa entre tucanalhas e petralhas. 

    Paraeles,não pode haver nada fora dessa dicotomia burra que assola o país há 20 anos. 

  3. Pior dos mundos

    “A chave do dilema sofrido pela fsp é o seguinte: como continuar a ser politicamente conservador, mas liberal nos costumes? É o dilema que vive também parte da sociedade brasileira.”

    A combinação entre o nihilismo materialista nos costumes e o liberalismo neo-capitalista na politica e na economia é a receita perfeita para o desastre social.

    É a Submissão perfeita.

  4. Essa gente ficou perigosa

    Não  creio que a Folha tenha mudado. Acontece que os pseudo pastores podem juntar facilmente milhões $$$$$ para comprar a propria PIG. Como dizia aquele jornalista americano “nasce um otario a cada minuto” e “nunca ninguem perdeu dinheiro substimando a inteligencia dos outros”. Resumindo: tornaram-se perigosos para os proprios tucanos.

    1. Concordo Zé

      Vim aqui ler para ver se alguém tinha o mesmo pensamento. Eles estão com mais medo do neo-fundamentalismo do Cunha, levando o Renan na rede, e impedindo o caminho natural da UDN tucana, do que do PT. O medo deles seria a polarização entre o que ainda resta do Petismo mais as esquerdas e os mediocres fundamentalistas aliados (momentaneamente?). Então é só prestar atenção nas peças do xadrez nessas próximas duas semanas. 

      O que fez o “Folhão” foi um balão de ensaio, assim como a entrevista da Dilma pró Jô uma concessão para propor alguma conversa. Na realidade a direitona, folha e globo incluidas, estão juntando os “paninhos.” A capacidade de retaliação continua muito forte mas estão escolhendo um caminho e temendo, e muito, o poder $$$$ da direita fundamentalista.

  5. Este não é um dilema só da

    Este não é um dilema só da Folha mas do PSDB e da burguesia liberal brasileira.

    Imagina o Aécio, Luciano Huck, os Marinho e seus atores globais, os Moreira Sales e cia, defendendo um pauta  “conservadora-religiosa”. O próprio FHC defendeu a liberalização da maconha. E para essa bancada religiosa comerçar a censurar peças de teatro, entre outras expressões artísticas é um pulinho.

     Essa pauta não é deles. Mas falta-lhes liderança, não apenas para competir com Lula, mas com os Cunha da vida…

    Esta deficiência faz crescer o espaço deste tipo de conservadorismo bélico-religioso (sic), que de cosmopolita liberal não tem nada. Como aspira ser a Folha e a grande burguesia nativa.

    O grande problema da Folha, PSDB e cia é a história, pois desde a tardia escravatura (e a Lei de Terras de 1850, que impediu os libertos terem terra, para que continuassem escravos) não há um sistema capitalista de massas.

    No momento que chega ao poder um político que passa a incluir as massas no mercado (de trabalho e consumo), entra-se no dilema:

    a) Retroceder (Pauta do ajuste, que essa galera aí de cima espera que seja eterno – juro alto, cambio declinante e mão de obra barata. Um novo ciclo: juro alto/dolar alto – baixa produção – desemprego – m.o. barata. Uma lógica que se sustenta pelo tamanho da população, tirando um pouquinho de muita gente, dá muito para pouca.

    b) Avançar para se construir um estado laico com capitalismo de massa com igualdade de oportunidades.

     

    Sem lideranças da grande burguesia liberal (que se deleita com juro alto e cambio valorizado), corre-se o risco de ceder o poder central a uma pauta conservadora. Ela teria discurso para as novas massas de incluídos e com forte influência conservadora e religiosa (especialmente evangélica).

    A sorte do PT, além desta contradição entre belicosos-religiosos e liberais, é que existe uma forte disputa interna, vide Edir Macedo e Malafaia, por exemplo. O outro problema dos religiosos, nesta aliança com a bala e o preconceito são os católicos, onde boa parte não apoia, ao menos aparentemente, esta pauta.

  6. Quimera
    A direita no Brasil é uma quimera.

    Liberais e conservadores ao mesmo tempo.

    Liberais com drogas e sexo, desde que o povão não fique sabendo.

    Liberais na cultura, desde que não tenham que assistir ao teatro ao lado da “gentalha”.

    Não são racistas, desde que eles fiquem no seu lugar.

  7. Hélio Schwartsman

    Bom um jornal que publica um texto que defende a manutençao da desigualdade ,como na coluna do prof de Deus , deve ter procurado alguma forma de equilibrio no conteudo geral do jornal ao publicar o seu editorial .

  8. Muito boa analise. Moro em

    Muito boa analise. Moro em Goiás e não conheço São Paulo. O comentário reforça minha convicção de que um projeto para o país exige 1) um bom diagnóstico da dinâmica das estruturas nacionais e do quadro  internacional; mas também 2) um conhecimento das particularidades históricas, culturais e psico-sociais das diferentes regiões. Porque são muitas as diferenças.

  9. o editorial da Folha

    o editorial da Folha (pregando a insubmissão) e a ida de Dilma ao Programa do Jô (sem direito a panelaços) são claros indicativos de mais uma vez  o golpismo da oligarquia brasileira ter saído de seu controle. em 64 os militares foram o instrumento, agora são os fundamentalismos 4B: Boi, Bala, Bíblia e Bancos. por isto a Folha ataca apenas 2B, Bala e Bíblia, liberalizando nos costumes mas conservando-se fundamentalista na política econômica: Boi e Bancos.

    usados como instrumentos de desestabilização, o antipetisno e o fisiologismo fundamentalista saíram de controle: gerou-se o ovo da serpente, que mais uma vez ameaça seus criadores. na Ditadura Militar tiveram mortes.. digamos, prematuras: JK e Lacerda e também Castelo Branco e Costa e Silva.

    por outro lado, após um Congresso do PT insosso e inócuo, confirma-se a opção definitiva do Governo e do PT pela “conciliação permanente” e a “hegemonia às avessas”. em mais de 12 anos no governo, jamais se abandonou o neoliberalismo econômico: juros reais altos, superávit primário para arcar com os juros, metas de inflação, câmbio flutuante e muita inflação (a dívida pública é uma forma de inflação, difícil de ser compreendida porque não bate diretamente no bolso) . dentro desta política econômica neoliberal, as denominadas “políticas sociais” reduzem-se a função meramente compensatória, formulada e indicada pelo Banco Mundial.

    ainda pior, nada foi feito pelos governos do PT para desmontar o entulho autoritário, a ditadura que perdura. a doutrina de segurança nacional permanece intocada, as Forças Armadas seguem defendendo “a lei e a ordem” contrárias aos interesses da nação e do povo, a Comissão da Verdade redundou em ridículo, os crimes da ditadura não foram punidos, a polícia continua militarizada e matando pobre todo dia.

    a oligarquia instrumentalizou o reacionarismo, o elitismo, o moralismo e o autoritarismo, ensejando o surgimento de um proto-fascismo que agora a atemoriza. os governos do PT  mantiveram as condições para tal, intacto está o aparato repressivo,  e se aliaram a nata do fisiologismo: Sarney, Collor, Maluf e o próprio Renan Calheiros. e será o governo de Dilma que fornecerá, com seu “ajuste fiscal”, via desemprego e ainda mais “concessões”, a base social que o proto-fascismo necessita para prosper

    acabou o terceiro turno. o golpe se consumou. mais uma vez os trabalhadores foram traídos. a burguesia liberal brasileira e sua contraparte, o lulismo da conciliação permanente, pariram um monstro. já não sabem como se desfazer dele. caberá aos insubmissos a tarefa. conseguiremos fazê-lo?

    .

    1. Não, não conseguiremos,

      Não, não conseguiremos, enquanto estivermos batendo cabeça com a realidade, enquanto não considerarmos as condições objetivas que nos permitam avançar dois passos, mesmo que , momentaneamente, tenhamos que recuar um.

      Revolução não é para apressados, ansiosos, nervosos, hipertensos, incendiários,  enfim  amadores.

      Às vezes é preciso um longo tempo para que seja possível deflagrá-la. Às vezes, nem precisa botar fogo.

      Tenha calma, companheiro.

      1. insubmissão

        me referia aos insubmissos, não aos que por mais de 12 anos nada fizeram a não ser capitular volutariamente. tem gente, conclamando o impeachmente e o golpe, que acha que a FSP é “comunista”, e tem tb os submissos que ainda acreditam piamente que Lula e o PT são de esquerda. o Alzheimer poítico tem cura: já tentou ouvir música?,

        1. Insubmissos como vc são os

          Insubmissos como vc são os que se aliam a direita. Também chamados de ultraesquerda não conseguem enxergar o nariz, acham que representam o povo e nem sequer arrebanham um voto. Vivem da falsa ilusão de que tem a verdade, de que são os eleitos, os escolhidos. Propõem teses absurdas que não tem amparo na realidade. Alguns deles. como Trotsky, são lembrados vagamente. A maioria, para ser honesto, é esquecida.

  10. Blindagem? Prá Quê?

    Nassif: ouso discordar. A Folha de São Pauio não precisa de blindagem. Sua pena mercenária não cultiva tais hábitos. Ela não tem moral, nem princípios, nem decência. E nem quer isto. Prá quê? Se o que visa é o lucro, custe o que custar, é capaz de vender a mãe por um gole de qualquer cachaça, nem que seja da pior espécie. Desde que dê lucro, que importa se o Pais vai bem ou não? Que seu Povo coma ou passe fome. Se passar fome, melhor, que comeve mais e ela vende muito, usando e abusando do sentimento de piedade que as classes abastadas costumam votar àqueles que elas têm pena mais nada fazem para fazer isto mudar. E não é só com ela. Estão com ela (e não abrem), Estadão, Correio Brasiliense etc, especialmente, o conglomerado Globo. Recitam diuturnamente o bordão do Justo Verissimo (ChicoAnizio) —Quero que o povo se exploda! Por isto, me desculpe, mas não aceito esta de que ela esta se blindando. O que parece é que a cada dia diminui a campanha do Fora Dilma, principalmente quando do exterior veem notícias contrariando as expectativas golpistas. Assim, seus financiadores atuais pararão de investir na aventura. Não financiando a central de boataria, o negócio mingua. E o lucro vai pró ralo. Pense nisso e imagine para que, mercenária como é, a Folha de São Paulo levará adiante tal desgaste. Tenho que, doravante, ela e os demais da grande mídia tenderão a mudar o discurso. Veja, a rainha da patota, já se foi…

  11.  
    [Da Série ‘Mais um dia em

     

    [Da Série ‘Mais um dia em que as organizações Globo viraram organizações Globo’!]

     

    COSTA PINTO CONDENA ‘OBSCURANTISMO ESTÚPIDO’ DA REVISTA ÉPOCA
    “Difícil mesmo. Vale, vale. O texto é de um tempo em que ainda havia vida e jornalismo nas redações. Apuração boa, mais substantivos e histórias do que adjetivos. Agora, tirar o texto dos arquivos eletrônicos da revista é de um obscurantismo estúpido e isso atende por um nome: partidarismo”, escreveu o jornalista Luis Costa Pinto, ex-editor de Época, sobre a decisão da revista de tirar de seus arquivos uma reportagem que apontava como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso levantou recursos para seu instituto, o iFHC, quando ainda era presidente

    14 DE JUNHO DE 2015 ÀS 18:28

    (…)

    FONTE: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/184861/Costa-Pinto-condena-'obscurantismo-est%C3%BApido'-da-revista-%C3%89poca.htm

  12. Dificuldades, e cara de pau!

    Essa é a dificuldade de enfrentar, o que incentivou por anos e anos.  Desde que o PT chegou ao poder.

    Agora, quando o “bafo mal cheiroso fascista”, de tudo que defenderam em anos, começou a soprar no pescoço, no “cangote” dos que se dizem “democratas” e “liberais” (na verdade, nunca o foram) estão se perguntando: “O que foi que a gente errou”?

    É ou não é de gargalhar?

    Nesse final de semana, no Congresso do PT em Salvador, lá estiveram todos os jornalistas, de todos os jornais, revistas e Tvs, que há 12 anos, só sabem mentir  e fuder quem é do PT.

    Todos esses jornalistas, foram bem tratados, respeitados. 

    Isso é democracia de verdade.

    Nenhum desses jornalistas foram ameaçados, como o foram pelos nazistas coxinhas, que suas empresas colocaram como Deuses, como “mudança da politica” no início desse ano, só para agredir Petistas.

    Será que algum jornalista da Rede Globo, Folha, Veja, Band, Estadão, tem vergonha na cara para cobrar de seus patrões a verdade?

     

    Eu duvido!

     

     

  13. Texto bom, mas o editorial da Folha de S. Paulo não é tão ruim

     

    Márcio A M Gomes,

    Muito bom texto. E embora eu não tenha sido tão crítico do editorial da Folha de S. Paulo, mas cheguei a achar que houve exagero de Luis Nassif em elogiar o editorial, eu acrescentaria dois pecados da Folha de S. Paulo que foram de certo modo escamoteados pelo Luis Nassif, até porque são pecados que o Luis Nassif também os comete, e os cometeu no post dele “O dia em que a Folha voltou a ser a Folha” de domingo, 14/06/2015 às 09:22, de onde o seu comentário, que virou este post “Folha de S. Paulo não muda editorial, blinda-se” de domingo, 14/06/2015 às 16:29, foi retirado.

    A Folha de S. Paulo em geral tenta transparecer como um jornal imparcial. Como se uma empresa não expressasse a ideologia dos seus proprietários. E a Folha de S. Paulo é o jornal que mais desenvolveu esta imitação da imparcialidade utilizando um mecanismo terrível de convencimento do leitor da imparcialidade da empresa. A Folha de S. Paulo publica títulos, fotos e matérias que são publicadas com o único fim exclusivo de serem utilizados nas campanhas eleitorais de qualquer partido. O contribuinte brasileiro paga propaganda da Folha de S. Paulo no horário eleitoral.

    Luis Nassif também gosta de desempenhar este papel que dá áurea de imparcialidade.

    E o outro problema no editorial da Folha de S. Paulo é o tratamento que a Folha de S. Paulo dá ao fisiologismo. É o mesmo tratamento que o Luis Nassif dá ao fisiologismo. E é o mesmo tratamento que a mídia brasileira dá ao fisiologismo e é de certo modo o mesmo tratamento que a mídia mundial dá ao fisiologismo. Avalio que será necessário muita evolução da sociedade para que o fisiologismo possa ser compreendido dentro da real dimensão que ele tem. O tratamento é igual mas feito com razão ou finalidade diferentes.

    O problema todo é que em qualquer lugar do mundo o tratamento do fisiologismo é mal feito. Se dividirmos os jornalistas em jornalistas de má-fé e jornalistas de boa-fé e os jornalistas de boa-fé dividirmos em jornalistas de boa-fé ingênuos e jornalistas de boa-fé idealista podemos perceber que cada um quando se refere ao fisiologismo trata desse assunto de modo diverso. O jornalista de má-fé quando acusa um político de fisiológico quer dar a entender ao cidadão eleitor que o político fisiológico cometeu algum ato ilícito. Ele apenas não especifica que ato ilícito seria isso. Se o fisiologismo fosse algum ato ilícito ele seria capitulado no Código Penal. Se não é capitulado no Código Penal ou na Lei de Contravenções Penais ou não há alguma legislação prevendo o fisiologismo como um ato ilícito, isso significa que o fisiologismo não é ilícito.

    Então quem tenta passar para a sociedade que um político por praticar o fisiologismo está praticando um ato ilegal está agindo de má-fé. Só que esses jornalistas que agem de má-fé são em número muito grande e eles acabam fazendo o povo acreditar que o fisiologismo é um ato ilegal. Hoje dizer que um político é fisiológico é acusa-lo de prática de ilícito. Só que não é um ilícito que precisa ser provado pela Justiça. E é apenas no tribunal da sociedade que a acusação de fisiológico é sem julgamento ou com julgamento imediato considerado como a condenação pela prática de um ilícito.

    De uma sociedade assim que foi mal informada não se pode esperar jornalistas com pleno conhecimento da realidade política. Assim surgem os que ou desconhecem a realidade política ou idealizam essa realidade. Por isso digo que há os jornalistas de boa-fé que acusam o político de fisiológico não porque ele esteja praticando uma ilicitude, mas porque o político acusado contraria o bem comum do povo e os interesses do Estado. Ora, o bem comum do povo ou o interesse do Estado não é reconhecido previamente. O único bem comum do povo ou o interesse do Estado reconhecido previamente é a lei. E se alguém for contra a lei ele terá praticado uma ilicitude, mas só pode ser acusado de ter praticado a ilicitude após uma sentença transitado em julgado. Então há o jornalista ingênuo que desconhece como funciona a democracia e há os jornalistas idealistas que almejam que a política se desenvolva de outra forma.

    Bem, hoje de madrugada, domingo, 14/06/2015 às 01:07, eu enviei um comentário para junto do comentário de Lineu enviado sábado, 13/06/2015 às 16:07, junto ao post “O nó do PT, por André Singer” de sábado, 13/06/2015 às 14:25, aqui no blog de Luis Nassif e contendo o artigo “O nó do PT” de André Singer publicado na Folha de S. Paulo. Utilizei o meu comentário para Lineu para falar mal das idéias de três pessoas: do próprio Lineu, de Luis Nassif e de Aldo Fornazieri.

    No comentário de Lineu ele tem duas afirmações que me chamaram a atenção. Primeiro ele diz acertadamente o seguinte:

    “A luta política exige de seus contendores uma dialética específica”.

    Uma afirmação assim significa que não se toma a política com ingenuidade e desconhecimento. Só que logo em seguida o Lineu diz:

    “A oposição tem pruridos de ética e moral que a luta política não permite”

    Assim mesmo entre aqueles que não tem uma visão ingênua da atividade política é possível enganar e repassar para eles a idéia de que há alguém na política com “pruridos de ética e moral que a luta política não permite” e que esses políticos não praticam a luta política observando uma dialética específica.

    É interessante que na oposição constituída pelo PSDB ninguém tem carisma salvo o Aécio Neves e assim mesmo ele desenvolveu este carisma mais à frente pois no início ele era até gago. Por não ter carisma eles precisaram para conseguir convencer o eleitor do PSDB utilizar o argumento da autoridade. Ao fundar o partido os próceres do PSDB diziam que fundavam o partido para levar ética para a política e para combater o fisiologismo. Como não tinham carisma eles tinham que convencer o eleitor com base no argumento de autoridade. Na fundação quase todos os grandes políticos do PSDB eram intelectuais de renome que emprestavam com o nome deles a fundamentação que precisavam. Só que como intelectuais eles conheciam a afirmação de Lineu: “[a] luta política exige de seus contendores uma dialética específica”. Dei como demonstração desse conhecimento o artigo de José Arthur Giannotti, um intelectual de escol do PSDB, intitulado “Acusar o inimigo de imoral é arma política, instrumento para anular o ser político do adversário”, publicado na Folha de S. Paulo de quinta-feira, 17/05/2001, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/artigogiannottigerapolemica.html

    Assim além de usar o argumento da autoridade eles utilizaram o cinismo hipócrita ou a hipocrisia cínica. E faziam uso dessa hipocrisia cínica por não terem nenhuma consideração pelo eleitor. E convenciam, até os que não eram ingênuos, de que eles, políticos de truz tinham “pruridos de ética e moral que a luta política não permite”.

    Outro criticado em meu comentário a Lineu foi o acadêmico Aldo Fornazieri. No post “A evangelização da política e a contra-reforma, por Aldo Fornazieri” de segunda-feira, 08/06/2015 às 10:47, publicado aqui no blog de Luis Nassif e com texto de Aldo Fornazieri ele diz que “a política tem uma moral própria que difere da moral cristã”. Aldo Fornazieri não é, portanto, um ingênuo na compreensão da atividade política. O endereço do post “A evangelização da política e a contra-reforma, por Aldo Fornazieri” é

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-evangelizacao-da-politica-e-a-contra-reforma-por-aldo-fornazieri

    Só que o mesmo Aldo Fornazieri que diz “a política tem uma moral própria que difere da moral cristã” trata o político virtuoso como aquele que “não deve hesitar em contrariar a moral cristã para beneficiar o bem comum do povo e os interesses do Estado”. Ora se a Lei diz que o bem comum é aplicar 10% na educação e se você, para não contrariar a moral cristã, deixar de cumprir a lei você pode ser condenado por descumprimento da lei ou crime de responsabilidade. Cumprir a lei não faz um político virtuoso a não ser se se entende por político virtuoso o político mediano, comum, normal e no sentido de média, o político medíocre. O problema no argumento de Aldo Fornazieri é que ele se enraíza na idealização. Ele idealiza que, no processo democrático de composição de interesses conflitantes, o bem comum ou o interesse do Estado é informado ou delimitado pela lei e por mais alguma coisa de tal modo que se conheça com exatidão previamente ao processo de composição de interesses conflitantes qual seja esse bem comum e assim se possa atribuir a pecha de fisiológico o político que não atende o bem comum e o interesse do Estado. É por isso que no próprio post “A evangelização da política e a contra-reforma, por Aldo Fornazieri”, o acadêmico faz afirmação genérica sobre políticos acusando-os, sem mencionar nomes, de estarem “envolvidos em denúncias de fisiologismo e de corrupção”, como se fisiologismo e corrupção fossem espécies do mesmo gênero, isto é, fossem ilicitudes tipificadas. Então ou Aldo Fornazieri idealiza a atividade de composição de interesses conflitantes de tal modo que lá não possa ocorrer os ajustes, os conchavos, as barganhas, os toma-lá-dá-cá, ou seja, o fisiologismo na sua expressão mais lídima, ou ele considera o fisiologismo como a prática de algum ilícito. Se for este último caso, é preciso então deixar bem claro qual é o tipo penal que configuraria o fisiologismo. Sem a definição precisa do crime do fisiologismo acusar alguém de fisiológico ou é manifestação de má-fé ou de boa-fé contaminada da ingenuidade, o que para um acadêmico é vergonhoso.

    Em Luis Nassif vê-se também um comportamento semelhante ao de Aldo Fornazieri e é um comportamento antigo. Desde a década de 80, Luis Nassif tem esta postura. No comentário que eu enviei para Lineu eu dei como exemplo clássico desse entendimento equivocado de Luis Nassif sobre o fisiologismo o que ele diz junto em um post de 2011. Trata-se do post “FHC combate o fisiologismo que praticou” de quarta-feira, 16/11/2011 às 09:59, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/fhc-combate-o-fisiologismo-que-praticou

    No post “FHC combate o fisiologismo que praticou”, Luis Nassif faz as duas seguintes afirmações:

    “O fisiologismo é uma praga do modelo político brasileiro”.

    E depois mais a frente ele diz:

    “Como garantir a governabilidade sem sistemas de cooptação política?”

    Transcrevo a seguir a crítica que eu faço a este entendimento de Luis Nassif sobre o fisiologismo e que venho repetindo desde que li o post “FHC combate o fisiologismo que praticou” e fiz constar mais uma vez no comentário que eu enviei para Lineu. Lá então eu afirmei o seguinte:

    “E aceitando as duas frases de Luis Nassif se sabe que se o fisiologismo é necessário para garantir a governabilidade, ele não pode ser considerado uma ilicitude, pois o cumprimento da lei é obrigatório no processo democrático e Luis Nassif não poderia se antagonizar com esse cumprimento. Se ele é lícito e é imprescindível ao processo de composição de interesses conflitantes na democracia representativa, ele não pode ser uma pecha, a menos que este processo democrático de composição de interesses seja idealizado em que o bem comum do povo e interesse do Estado sejam previamente conhecido”.

    De tudo isso pode-se dizer que resta para Luis Nassif, que conhece bem a política e, portanto, não é ingênuo e que não age por má-fé, a concepção idealizada da política como se a democracia fosse possível de existir sem o fisiologismo.

    No editorial da Folha de S. Paulo a parte que faz o enfoque do fisiologismo é a que se segue:

    “Uma espécie de furor sacrossanto, para o qual contribui em grande medida o interesse fisiológico de pressionar o Executivo, alastra-se para o Senado. No susto, acaba-se com a reeleição e se altera a duração dos mandatos políticos. O cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado”.

    É um pouco superficial a acusação de fisiologismo no texto da Folha de S. Paulo. Do texto pode-se mais acusar a Folha de S. Paulo de ingenuidade ou de idealismo, até porque nem mesmo há um ataque ao fisiologismo.

    Outra crítica que faço, mas a faço mais a Luis Nassif, diz respeito a colocar no mesmo patamar Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Os dois podem ser fisiológicos, mas quanto mais forem fisiológicos mais isso pode ser usado em defesa deles, pois o fisiologismo é basicamente uma comprovação da existência da democracia. Quanto mais fisiológicos for um político mais se é democrata. Só existe fisiologismo na democracia representativa.

    O que se recrimina em Eduardo Cunha é ser de direita. Esta é uma acusação que a esquerda pode fazer, mas não pode querer impedir a liderança conquistada por Eduardo Cunha. Outra acusação que se pode fazer a Eduardo Cunha e que foi feita no editorial da Folha de S. Paulo diz respeito a certo fanatismo religioso. Algum tipo de crime que por ventura ele possa ter cometido só servirá para ser usado para o acusar após sentença condenatória.

    O Renan Calheiros não tem manifestado comportamento de direita e nem de fanatismo religioso. E o fanatismo religioso é algo antigo na nossa cultura que não a faz melhor nem pior a se tomar por decisões como colocar nas notas de papel a expressão “Deus seja louvado”. É claro quando um grupo religioso assume proporções majoritárias há que ficar mais atento para evitar descaminhos que realmente levam mais a um desserviço para a nação. Só que ainda não vi isso acontecer.

    Bem, eu ia ainda fazer uma crítica ao editorial da Folha de S. Paulo por ter colocado no mesmo nível Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Relendo com mais atenção, quando ocorre de se falar dos dois juntos, o tratamento igualitário é mais para serem elogiados. Quem faz a equiparação dos dois em patamar inferior é mais Luis Nassif. Não há razão para essa equiparação.

    De todo modo, há um post recente que trata de uma aprovação no Senado Federal de classificação de crime hediondo para o assassinato de militares. Essa matéria pode ser vista no post “Um lado e a outra, por Janio de Freitas” de domingo, 14/06/2015 às 12:10, aqui no blog de Luis Nassif contendo a transcrição do artigo “Um lado e a outra” de Janio de Freitas publicado no jornal Folha de S. Paulo e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/um-lado-e-a-outra-por-janio-de-freitas

    A aprovação de uma lei ruim na Câmara Legislativa e no Senado Federal não serve para equiparar os dois presidentes. Ainda mais que esta legislação é apenas um aditivo em uma legislação dos crimes hediondos. O erro foi a legislação dos crimes hediondos. O que se deveria seria buscar uma dilatação no prazo prescricional, aumentar as penas pelos agravantes e não ter criado a figura do crime hediondo. Agora paulatinamente todos os crimes vão ser transformados em crimes hediondos.

    E não há porque querer equiparar o Eduardo Cunha e o Renan Calheiros em razão da aprovação da Lei quando eles nem mesmo votaram. Há muita gente do PMDB e do PSDB que deveria ser mencionado. Assim diria que não concordo com a crítica de Janio de Freitas em recriminar a Lei em si. Nem vi razão para considerar a Lei como fruto de uma dobradinha de Eduardo Cunha e Renan Calheiro. Aliás como o próprio texto de Janio de Freitas esclarece o projeto da Câmara aprovado no Senado Federal é “de autoria do peemedebista Leonardo Picciani e de Carlos Sampaio, do PSDB”. O que fez Janio de Freitas recriminar em Renan Calheiros foi o fato do senador ter considerado que o projeto fora uma das “ações profundas que a segurança pública pede”. Ora, a frase é apenas demagoga e a demagogia faz parte da atividade política.

    Enfim, embora tenha considerado o seu texto como um bom texto fundamento as minhas críticas a Folha de S. Paulo mais com base no comportamento antigo do jornal do que no editorial em si.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 14/06/2015

  14. Continuando a pensar…

    Li o texto do Nassif com o editorial da Folha. Escrevi um comentário elogiando o editorial.

    Agora, li o texto do Márcio A. M. Gomes e vários comentários.

    A questão é mais complexa do que pensei num primeiro momento.

    Vou escrever alguns pensamentos provisórios, esparsos, dúvidas, nenhuma verdade…

    Em seu texto, Márcio afirma que, no Brasil, a defesa dos direitos civis das minorias sempre foi uma bandeira da esquerda. Sempre? De todas as minorias? Confesso que preciso ler mais sobre isso. O advogado Evaristo de Moraes, de esquerda, defendeu prostitutas na cidade do Rio de Janeiro, no início do século XX. Para a imprensa da época as prostitutas não tinham direitos. Há uma tese muito boa sobre Evaristo de Moraes, disponível para download no site da Unicamp: “Evaristo de Moraes: justiça e política nas arenas republicanas (1887-1939)”, de Joseli Maria Nunes Mendonça. Anarquistas e socialistas, nas greves operárias das primeiras décadas do século XX, defenderam, entre outras coisas, salários iguais para homens e mulheres. Vejam, por exemplo, os documentos que Paulo Sérgio Pinheiro e Michael M. Hall apresentam no primeiro volume de “A classe operária no Brasil”. Quem já leu “Anarquistas, graças a deus”, de Zélia Gattai, notou que, mesmo numa família anarquista, muitas vezes prevaleciam valores tradicionais, burgueses. Preciso estudar as lutas que culminaram com a conquista do voto feminino na Constituição de 1934, confesso minha ignorância. Nos anos 60, também houve mudanças importantes no direito relativo às mulheres … seus direitos em relação ao homem no casamento… mudanças realmente …, li a respeito em algum livro da historiadora Emília Viotti da Costa…, impossível lembrar agora, nessa escrita rápida da internet… Ainda nos anos 60, movimento hippie, maio de 68 , cinema novo… Em todos esses movimentos, uma esquerda ou várias esquerdas? Não vou sair do Brasil, nada de escrever a respeito do leste europeu, da relação dos PCs com as minorias… Já li e ouvi relatos de importantes comunistas nos quais se percebe claramente que, algumas décadas atrás, questões que envolviam sexualidade nem sempre eram tratadas de modo progressista. Os sindicatos operários e as centrais sindicais no Brasil ainda são dominados pelos homens. Será que os movimentos LGBT são de esquerda, nasceram na esquerda? Ou são movimentos organizados por minorias a partir de questões que envolvem sexualidade e direitos numa sociedade democrática? A questão central das esquerdas tradicionais não era a sexualidade, mas o modo de produção, a desigualdade instaurada a partir da propriedade privada dos meios de produção e da apropriação, também privada, do produto do trabalho coletivo, a desigualdade entre capitalistas e proletariado…, as esquerdas tradicionais estavam voltadas para os interesses da maioria (aqui, uso a palavra maioria com sentido numérico e não de direitos)… Muitas pessoas dos movimentos LGBT não são anarquistas, socialistas ou comunistas, até criticam o capitalismo, mas… Será que as esquerdas não acabaram por assumir a defesa desses movimentos, que na verdade fizeram-se ouvir, convenceram parcelas da sociedade, impuseram-se? Escrevi todo este parágrafo talvez porque pense que, em poucas linhas, três ou quatro, Márcio tocou em toda uma história que não cabe em poucas linhas. Eu não dou conta dessa história, mas, com certeza, há muitas teses e livros sobre as questões aqui levantadas. Ler essas três ou quatro linhas significa não mantê-las como estão, fechadas com um ponto final, mas rasgá-las, abrindo um buraco, uma fenda, para novos pensamentos e textos.

    Não posso deixar de reconhecer que o PT apresentou pautas progressistas, em termos econômicos e de direitos civis relativos a costumes, nos ministérios, secretarias, no legislativo… Muitas vezes foi derrotado, como no caso do “kit-gay” (denominação maldosa). As ações do PT no legislativo têm sido de enfrentamento. 

    No entanto, durante as campanhas eleitoriais, as posições do partido são camufladas, não são defendidas claramente. Conseguir votos passa a ser mais importante do que defender idéias, marcar posições.

    Talvez o PSOL seja mais claro e inflexível porque ainda não tem chances de conquistar a presidência e os governos dos estados.

    José de Souza Martins, nos anos 90, em “O poder do atraso”, afirmou que não se governava o país sem composição com as oligarquias.

    O PSDB aliou-se a ACM, a Marco Maciel, aos Bornhausen… O PT fez aliança com os Sarney… Podemos pensar que a questão não é com quem foi feita a aliança, mas em que bases. Que benefícios trouxeram? Não, não é uma pergunta irônica, de quem já tem uma resposta. É uma pergunta mesmo. O Marco Civil da Internet é fruto de composição? Bem, e que problemas resultaram das composições, das alianças?

    Estamos criticando a Folha, analisando toda sua história. Fiquei com a impressão de que não se deve levar em conta o editorial. Ele é fruto de um simples cálculo oportunista. Será (na verdade, não sei o que escrever aqui, pensei que talvez o jornal sentisse a pressão de grupos sociais, até mesmo das esquerdas…, uma hipótese….)? Não devemos apoiar o editorial. Apenas desconsiderá-lo. 

    Mas lembro que PR e PSC, partidos com forte presença de evangélicos, estavam na base de apoio do PT. Não foram desconsiderados, pelo contrário, acabaram abandonando o PT quando a oposição ganhou força.

    Penso que a questão central de toda a discussão sobre o editorial é uma questão que acompanha a esquerda desde sempre. A questão das alianças.

    Em “Estratégias da ilusão”, de Paulo Sérgio Pinheiro, sobre o movimento comunista no Brasil e suas relações com o Partido Comunista da União Soviética até a tentativa de golpe em 1935, vemos que, nos anos 20 e 30 do século XX, havia muitas discussões sobre a revolução em outros países, além da URSS. Uma das idéias era de que havia a necessidade de alianças com as burguesias nacionais progressistas para fazer a revolução burguesa e, no bojo desta, ou em sequência, levar adiante a revolução comunista. 

    É só movimentar a memória e pensar nas várias alianças de Prestes ao longo da vida.

    Em “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”, Mária Magalhães escreve que comunistas receberam dinheiro de Adhemar de Barros para controlar as greves em São Paulo.

    E as alianças no governo João Goulart…

    São pensamentos para continuar a discussão e não para terminá-la…

     

     

     

     

     

     

    1. O ódio à democracia

      Jacques Rancière, filósofo francês, em “O ódio à democracia”, escreveu (p. 8): ainda hoje a democracia “é uma abominação para aqueles que fazem da lei divina revelada o único fundamento legítimo da organização das comunidades humanas.”

      Vale a pena ler esse livro, o ódio à democracia, fundamentada, como a política, na igualdade, no poder ou governo de qualquer um, e não no poder divino, e no no poder do pai sobre o filho, do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, do bem-nascido sobre o mal-nascido, do sábio sobre o ignorante…, o ódio à democracia não vem só dos religiosos… Rancière discute o sentido de democracia a partir de Platão… e o que acontece em nossos dias…

      Vale a pena ler esse livro.

    2. Só para complicar um pouco mais

      Concordo que o tema é mais complexo do que parece e merece uma discussão mais aprofundada.

      Nesse sentido, penso que deveríamos ter em mente algumas questões importantes e meditar cuidadosamente sobre elas: 

      1. Será que a luta pela defesa dos direitos das minorias ainda pode ser considerada um movimento de “minorias” quando temos todo o establishment capitalista mobilizado por essa causa? Afinal essa á a agenda da administração Obama, da ONU, de toda a industria cultural, do Google, da FIFA do Joseph Blatter, da Rede Globo, dos Frias…

      2. Será que no processo de apropriação dessa agenda por essa notável pleiade a defesa dos direitos das minorias manteve seu sentido original de defesa de uma sociedade mais justa, igualitária capaz de garantir os direitos humanos fundamentais das pessoas independente de sua raça, gênero, orientação sexual ou crença religiosa.?

      3.Será que essa agenda está sendo trabalhada de forma a promover a paz e o entendimento entre as pessoas e grupos sociais que compõe amaravilhosa diversidade humana que se pretende defender?

      4. Ou será que a apropriação da agenda da defesa dos direitos das minorias não resultou na deformação do seu sentido humanitário original, passando a ser utilizada para outros propósitos, principalmente a promoção do sectarismo entre esses grupos, dentro da boa e velha estratégia do dividir para dominar?

      5. Como fica a luta fundamental pela igualdade dos direitos poliiticos econômicos da imensa maioria (99%)  contra uma evidente ditadura dos 1% ou menos, quando essa maioria é dividida em inúmeras minorias acusando-se mutuamente por privilégios e discriminações?

      Fica aí minha sugestão para os próximos passos do debate.

    3. Continuando a pensar

      Se fosse possível, talvez eu apagasse meu primeiro comentário. Ficou confuso. Escrito apressadamente.

      A Folha fez um editorial com o qual concordo. No entanto, não deixo de ter uma opinião crítica sobre o jornalismo que ela pratica. É de franca oposição e de busca de desestabilização de um governo progressista que colocou novamente em discussão a questão da desigualdade social no Brasil, como aconteceu no governo Jango. Folha, PSDB e evangélicos estão de mãos dadas no ataque à democracia.

      Segundo ponto. Levantei algumas questões sobre relações entre esquerdas e minorias e gostaria de trazer um esclarecimento e outra contribuição ao debate.

      Encontrei o texto de Emília Viotti da Costa. Até meados do século XX, em caso de separação legal, a guarda dos filhos ficava com o pai. A mudança ocorreu antes dos anos 60. Em meu comentário, cometi um erro.

      No texto encontrei a passagem a seguir, com informações sobre a relação das esquerdas com as mulheres (uma minoria, em termos de direitos):

      “Os imigrantes e os trabalhadores da indústria criaram sociedades de auxílio mútuo que davam assistência médica, instrução e recreação a seus associados. Fundaram partidos para defender seus interesses e incorporaram mulheres em suas organizações. Nos seus programas deixavam claro que a exploração do trabalho não poderia ser abordada sem que se levantasse a questão da emancipação da mulher, que para eles incluía estender a elas os direitos civis e políticos, a luta contra discriminação, abusos e exploração no lugar de trabalho. O Partido Operário do Rio Grande do Sul, por exemplo, organizado em 1888, apresentou-se como socialista e republicano. No seu programa enfatizava a importância da emancipação da mulher e afirmava, entre outras coisas, que as mulheres deveriam gozar dos mesmos direitos e ocupar todos os postos, do mais insignificante ao de chefe de Estado, uma afirmação radical muito à frente de seu tempo. Discurso semelhante encontra-se em outros documentos operários do fim do século XIX que se apresentavam como anarquistas ou socialistas. De fato, os socialistas foram o primeiro grupo político no Brasil que incluiu o direito das mulheres em sua plataforma. O Partido Operário Brasileiro organizou  em 1892 um congresso no Rio comprometendo-se a garantir os direitos civis e políticos das mulheres. O Partido Democrático Socialista, de São Paulo, foi ainda mais longe ao pedir a dissolução dos vínculos do casamento, o sufrágio universal, a abolição de todos os privilégios e a educação pública gratuita para todos, inclusive para mulheres. Essas reivindicações constavam de quase todos programas socialistas e dos congressos operários no século XIX. Foram estas as primeiras organizações a levantar sistematicamente essas questões. Mas é de se notar que não havia mulheres entre os que assinavam os programas e a lista de presença dos Congressos Operários. Elas estavam também ausentes das lideranças partidárias.”  [Fonte: Emília Viotti da Costa, “Da Monarquia à República”, capítulo 12 – “Patriarcalismo e patronagem: mitos sobre a mulher o século XX”, páginas do trecho citado: 516-517. São Paulo, Editora da Unesp, 2010.]

       

  15. Bom texto, Marcio Gomes.

    Bom texto, Marcio Gomes. Acrescenta ao debate muito mais do que o materialismo vulgar uspiano enfadonho.

    Um elemento que me chama atenção é que o cimento que uniu liberais e conservadores foi o antipetismo – expressão mais recente do ideário antissocial, sentimento mais forte, aliás, que qualquer concepção liberal ou conservadora que possam ter.

    O que eu quero dizer é que tanto para liberais quanto para conservadores o amor à desigualdade é distintivo das suas visões de mundo. Para liberais é a desigualdade que propicia a competição, a produtividade e a acumulação necessária para a livre iniciativa; para conservadores elas são até certo ponto “naturais”; é por causa dela que “chegamos aqui”, pensam eles, enxergando um “passado glorioso” que precisa ser ou reverenciado ou mantido ou resgatado.

    Por isso que acho até graça nos liberais e conservadores daqui. Uns por não reconhecerem que as desigualdades da sociedade brasileira são tão estúpidas que chegam a ser disfuncionais e geram até ineficiência; e outros pela pura cara de pau de fingir que enxergam algo “glorioso” em nosso passado, como se a sociedade brasileira allgum dia tivesse sido muito virtuosa.

    A meu ver isso ajuda a entender porque a agenda da igualdade que que chega aqui atrasadamente só na década de 80 e se consolida na Constituição se 88 – e que não é do PT, é da sociedade – é tão duramente combatida, ainda que de forma dissimulada, afinal o consórcio reacionário não tem coragem de defender abertamente a desigualdade – não foi à toa, portanto, que teve um aloprado na memsa folha fazendo isso…

    Portanto, com o enfraquecimernto do petismo – que foi quem empunhou algumas das bandeiras da agenda da igualdade – a aliança que se apresentou nas candidaturas de Alckmin, Serra e Aécio de agora em diante terá dificuldade de se repetir. Vão concorrer cada um com as própras forças; e o PSDB, pois, corre o risco de ficar sem lugar na liderança da oposição. Depois de perderem o espaço socialdemocrata para o PT no seu deslocamento para a direita, neste momento temem não terem pra onde voltar nem onde ficar

    1. “Agenda da igualdade”??
      Foi

      “Agenda da igualdade”??

      Foi um sonho que durou pouco, só se tornará realidade concreta quando a realidade se tornar a miséria generalizada. Brasil é um país pobre, insuflou a sua econômia o quanto pode, mas o sonho acabou, a inflação irá corroe-lo. Somente nos últimos 24 meses eu, um cidadão comum e assalariado, perdi 20% do meu salário pela inflação. A tendência é perder ainda mais, a cada 5 ou 6 anos o poder de compra do assalariado é reduzido pela metade, bela distribuição de renda essa aí. Enquanto isso os ricos estão lá cada dia mais abonados, acumulando capital, ganhando incentivo fiscal, crédito a juros negativos, etc.

      1. Os dados disponíveis mostram
        Os dados disponíveis mostram a desigualdade nos níveis da década de 60. A política de recuperação do poder de compra do salário mínimo está mantida. Sem falar na ampliação de direitos e da igualdade perante a lei cada vez mais exigida pela sociedade.
        Que os ricos e muito ricos estão acumulando muito com o rentismo e com a exploração o mundo inteiro sabe. Triste é ver que são exatamente os setores médios que apoiam levando a sério as crendices financistas que geram crises econômicas, desintegração social e catástrofes humanitárias.

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