Fora de Pauta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Lourdes Nassif

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  1. Maus intenções

    Seu Luis,

    Não é que eles não saibam ou não soubessem.

    Não que houvesse um convessimento acadêmico ou ideológico.

    Todos eles e cada um deles sabem.’

    Desculpe aí, seu Luis, você nem sabia e nem sequer intuia?

    I beg your pardon?

    Meu chapa, cada un deles tem plena consciência e sabem o que estão fazendo e o que querem da vida.

    O foda é todos eles são meio caxias, ou cdf’s.

    Seguir  a grana ou  procurar a mulher?

    Nassif, perante à violência, se oferecer como vítima injustiçada é oferecer a nuca para o cutelo da história.

    Descupe aí, seu Luis, afora os bobocas de sempre, cabeça de planilha não é ideologia, é dolo.

    Em suma. é pré ou pós verdade.

    Meus respeitos para o André Araujo.

    Que o cara que mais respeito, com toda minha discordância.

    E par ti também, com dúvidas.

    Passar bem, Seu Luis,

    Afinal, quem vai dar um pau nesse caras.

    Falo eu:

    Gilmar Mendes é um cleptocrata, coiteiro de bandidos, o pior do que há onde há, e é uma pessoa de natureza corrupta.

    É um bandido, pois não, a definição não é esta?

    Aliás, entre eles e seus pares nos Supremos, pouca diferença há.

    Entre todoa hipócritas que supremantente há, prefiro ele que não tem pudor de se mostrar como é.

    Mais algum beletrismo ou só a retórica já basta?

    Ai de mim.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  2. Pelo que foi listado, a

    Pelo que foi listado, a Literatura não é uma panaceia — remédio para todos os males —, mas a base, a plataforma de lançamento de cidadãos melhores, numa sociedade portadora de um clima onde pessoas de boa vontade possam ver implantados seus ideais de paz, respeito, leveza, cordialidade, lisura, honestidade, preservação e desenvolvimento sustentado.

  3. A Literatura cria as

    A Literatura cria as pré-condições para que os atos e os fatos ganhem dimensão simbólica. E é na dimensão simbólica das coisas que a vida ganha sentido. Afinal, como diz o axioma histórico: “Os atos e os fatos não existem por si, mas nascem do sentido que lhes é atribuído”.

  4. A Literatura faz a

    A Literatura faz a aproximação entre a ciência e a vida. No dizer de Roland Barthes: “A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa”.

  5.  A Literatura, como toda

     A Literatura, como toda arte, estimula o cruzamento de informações, possibilita a sinergia do pensamento, amplia a visão da realidade e até cria realidade nova.

  6. A confabulação da literatura

    A confabulação da literatura nem sempre segue o caminho retilíneo desejado pelo leitor, possibilitando a ele entrar em contado com a frustração ficcional, como exercício de amadurecimento para o enfrentamento das frustrações reais impostas pela vida de fato, às quais é bom que resista e supere.

  7. A Literatura enseja o

    A Literatura enseja o surgimento e a disseminação de valores estéticos, aguça a sensibilidade, introduzindo na vida das pessoas o verdadeiro sentido do belo, distinguindo-nos da fauna geral, onde gosto não se discute.

  8. A Literatura expande a rede

    A Literatura expande a rede neural do leitor, possibilitando a diversidade das ideias, a capacidade de reflexão, a noção de flexibilidade e a tolerância para com o diferente, proporciona a empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro — pré-condição para a existência da ética na sociedade), prevenindo as pessoas contra o sectarismo político, o fanatismo, a submissão cega a líderes maliciosos, a ideologias e a religiões.

  9.  A Literatura proporciona o

     A Literatura proporciona o aprendizado, de uma forma lúdica e segura, ao mesmo tempo em que permite o acesso das novas gerações aos valores acumulados pelo processo civilizatório e universalmente aceitos como válidos, como a honestidade, o respeito ao próximo, a importância da cultura, enfim a transmissão de valores morais, bons ou ruins e o senso crítico de escolha dentre eles ou até de rejeitá-los por inteiro.

  10.  A Literatura mantém o

     A Literatura mantém o exercício, o arejamento, o frescor da língua, que é o principal fator de criação de identidade, de noção de comunidade, do sentimento de pátria e pertencimento a uma placenta cultural que nos acolhe e nos dá sentido à vida tanto individual quanto coletivamente.

  11.  A Literatura contribui para

     A Literatura contribui para a formação, estabilização e desenvolvimento de uma língua, como patrimônio coletivo. O que seria da língua portuguesa sem Luís de Camões? O que seria do italiano sem Dante Alighieri? O que seria do espanhol sem Cervantes? O que seria do inglês sem Shakespeare? O que seria da civilização e da língua grega sem Homero? O que seria da língua russa sem Púchkin? É bom lembrar que impérios que não tiveram uma Literatura que sobressaísse entraram em decadência sem alcançar o apogeu, como o vasto império mongol de Genghis Khan, o maior em extensão territorial da história.

  12.  Poema Sujo
    (Ferreira

     Poema Sujo

    (Ferreira Gullar)

    turvo turvo
    a turva
    mão do sopro
    contra o muro
    escuro
    menos menos
    menos que escuro
    menos que mole e duro
    menos que fosso e muro: menos que furo
    escuro
    mais que escuro:
    claro
    como água? como pluma?
    claro mais que claro claro: coisa alguma
    e tudo
    (ou quase)
    um bicho que o universo fabrica
    e vem sonhando desde as entranhas
    azul
    era o gato
    azul
    era o galo
    azul
    o cavalo
    azul
    teu cu
    tua gengiva igual a tua bocetinha
    que parecia sorrir entre as folhas de
    banana entre os cheiros de flor
    e bosta de porco aberta como
    uma boca do corpo
    (não como a tua boca de palavras) como uma
    entrada para
    eu não sabia tu
    não sabias
    fazer girar a vida
    com seu montão de estrelas e oceano
    entrando-nos em ti
    bela bela
    mais que bela
    mas como era o nome dela?
    Não era Helena nem Vera
    nem Nara nem Gabriela
    nem Tereza nem Maria
    Seu nome seu nome era…
    Perdeu-se na carne fria
    perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia

    (Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar)

  13. Poema em Linha Reta
    (Fernando

    Poema em Linha Reta

    (Fernando Pessoa)

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
    Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
    Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
    Indesculpavelmente sujo,
    Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
    Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
    Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
    Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
    Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
    Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
    Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
    Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
    Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
    Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,
    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?
    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
    Poderão as mulheres não os terem amado,
    Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
    E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
    Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
    Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
    Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

  14.  Hugh Selwyn Mauberly
    (Ezra

     Hugh Selwyn Mauberly

    (Ezra Pound)

    Vai, livro natimudo,
    E diz a ela
    Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
    Houvesse em nós
    Mais canção, menos temas,
    Então se acabariam minhas penas,
    Meus defeitos sanados em poemas
    Para fazê-la eterna em minha voz
    Diz a ela que espalha
    Tais tesouros no ar,
    Sem querer nada mais além de dar
    Vida ao momento,
    Que eu lhes ordenaria: vivam,
    Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
    Rubribordadas de ouro, só
    Uma substância e cor
    Desafiando o tempo.
    Diz a ela que vai
    Com a canção nos lábios
    Mas não canta a canção e ignora
    Quem a fez, que talvez uma outra boca
    Tão bela quanto a dela
    Em novas eras há de ter aos pés
    Os que a adoram agora,
    Quando os nossos dois pós
    Com o de Waller se deponham, mudos,
    No olvido que refina a todos nós,
    Até que a mutação apague tudo
    Salvo a Beleza, a sós.

    (Trecho de Hugh Selwyn Mauberly, de Ezra Pound. Tradução de Augusto de Campos)

  15. O Cemitério Marinho
    (Paul

    O Cemitério Marinho

    (Paul Valéry)

    Esse teto tranquilo, onde andam pombas,
    Palpita entre pinheiros, entre túmulos.
    O meio-dia justo nele incende
    O mar, o mar recomeçando sempre.
    Oh, recompensa, após um pensamento,
    Um longo olhar sobre a calma dos deuses!
    Que lavor puro de brilhos consome
    Tanto diamante de indistinta espuma
    E quanta paz parece conceber-se!
    Quando repousa sobre o abismo um sol,
    Límpidas obras de uma eterna causa
    Fulge o Tempo e o Sonho é sabedoria.
    Tesouro estável, templo de Minerva,
    Massa de calma e nítida reserva,
    Água franzida, olho que em ti escondes
    Tanto de sono sob um véu de chama,
    — Ó meu silêncio!… Um edifício na alma,
    Cume dourado de mil, telhas, teto!
    Templo do Templo, que um suspiro exprime,
    Subo a este ponto puro e me acostumo,
    Todo envolto por meu olhar marinho.
    E como aos deuses dádiva suprema,
    O resplendor solar sereno esparze
    Na altitude um desprezo soberano.
    Como em prazer o fruto se desfaz,
    Como em delícia muda sua ausência
    Na boca onde perece sua forma,
    Aqui aspiro meu futuro fumo,
    Quando o céu canta à alma consumida
    A mudança das margens em rumor.

    (Trecho de O Cemitério Marinho, de Paul Valéry. Tradução de Darcy Damasceno)

  16.  À Espera dos

     À Espera dos Bárbaros

    (Konstantinos Kaváfis)

    O que esperamos na ágora reunidos?
    É que os bárbaros chegam hoje.
    Por que tanta apatia no senado?
    Os senadores não legislam mais?
    É que os bárbaros chegam hoje.
    Que leis hão de fazer os senadores?
    Os bárbaros que chegam as farão.
    Por que o imperador se ergueu tão cedo
    e de coroa solene se assentou
    em seu trono, à porta magna da cidade?
    É que os bárbaros chegam hoje.
    O nosso imperador conta saudar
    o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
    um pergaminho no qual estão escritos
    muitos nomes e títulos.
    Por que hoje os dois cônsules e os pretores
    usam togas de púrpura, bordadas,
    e pulseiras com grandes ametistas
    e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
    Por que hoje empunham bastões tão preciosos
    de ouro e prata finamente cravejados?
    É que os bárbaros chegam hoje,
    tais coisas os deslumbram.
    Por que não vêm os dignos oradores
    derramar o seu verbo como sempre?

    (Trecho de À Espera dos Bárbaros, de Konstantinos Kaváfis. Tradução de José Paulo Paes)

  17. Velejando para

    Velejando para Bizâncio

    (William Buttler Yeats)

    Aquela não é terra para velhos. Gente
    jovem, de braços dados, pássaros nas ramas
    — gerações de mortais — cantando alegremente,
    salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas,
    peixe, ave ou carne glorificam ao sol quente
    tudo o que nasce e morre, sêmen ou semente.
    Ao som da música sensual, o mundo esquece
    as obras do intelecto que nunca envelhece.
    Um homem velho é apenas uma ninharia,
    trapos numa bengala à espera do final,
    a menos que a alma aplauda, cante e ainda ria
    sobre os farrapos do seu hábito mortal;
    nem há escola de canto, ali, que não estude
    monumentos de sua própria magnitude.
    Por isso eu vim, vencendo as ondas e a distância,
    em busca da cidade santa de Bizâncio.
    Ó sábios, junto a Deus, sob o fogo sagrado,
    como se num mosaico de ouro a resplender,
    vinde do fogo santo, em giro espiralado,
    e vos tornai mestres-cantores do meu ser .
    Rompei meu coração, que a febre faz doente
    e, acorrentado a um mísero animal morrente,
    já não sabe o que é; arrancai-me da idade
    para o lavor sem fim da longa eternidade.
    Livre da natureza não hei de assumir
    conformação de coisa alguma natural,
    mas a que o ourives grego soube urdir
    de ouro forjado e esmalte de ouro em tramas,
    para acordar do ócio o sono imperial;
    ou cantarei aos nobres de Bizâncio e às damas,
    pousado em ramo de ouro, como um pássaro,
    o que passou e passará e sempre passa.

    (Trecho de Velejando para Bizâncio, de William Buttler Yeats. Tradução de Augusto de Campos)

  18. Os Homens Ocos
    (T. S.

    Os Homens Ocos

    (T. S. Eliot)

    Nós somos os homens ocos
    Os homens empalhados
    Uns nos outros amparados
    O elmo cheio de nada. Ai de nós!
    Nossas vozes dessecadas,
    Quando juntos sussurramos,
    São quietas e inexpressas
    Como o vento na relva seca
    Ou pés de ratos sobre cacos
    Em nossa adega evaporada
    Fôrma sem forma, sombra sem cor
    Força paralisada, gesto sem vigor;
    Aqueles que atravessaram
    De olhos retos, para o outro reino da morte
    Nos recordam — se o fazem — não como violentas
    Almas danadas, mas apenas
    Como os homens ocos
    Os homens empalhados.

    II

    Os olhos que temo encontrar em sonhos
    No reino de sonho da morte
    Estes não aparecem:
    Lá, os olhos são como a lâmina
    Do sol nos ossos de uma coluna
    Lá, uma árvore brande os ramos
    E as vozes estão no frêmito
    Do vento que está cantando
    Mais distantes e solenes
    Que uma estrela agonizante.
    Que eu demais não me aproxime
    Do reino de sonho da morte
    Que eu possa trajar ainda
    Esses tácitos disfarces
    Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
    E comportar-me num campo
    Como o vento se comporta
    Nem mais um passo
    — Não este encontro derradeiro
    No reino crepuscular

    (Trecho de Os Homens Ocos, de T.S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira)

  19.  A Máquina do Mundo
    (Carlos

     A Máquina do Mundo

    (Carlos Drummond de Andrade)

    E como eu palmilhasse vagamente
    uma estrada de Minas, pedregosa,
    e no fecho da tarde um sino rouco
    se misturasse ao som de meus sapatos
    que era pausado e seco; e aves pairassem
    no céu de chumbo, e suas formas pretas
    lentamente se fossem diluindo
    na escuridão maior, vinda dos montes
    e de meu próprio ser desenganado,
    a máquina do mundo se entreabriu
    para quem de a romper já se esquivava
    e só de o ter pensado se carpia.
    Abriu-se majestosa e circunspecta,
    sem emitir um som que fosse impuro
    nem um clarão maior que o tolerável
    pelas pupilas gastas na inspeção
    contínua e dolorosa do deserto,
    e pela mente exausta de mentar
    toda uma realidade que transcende
    a própria imagem sua debuxada
    no rosto do mistério, nos abismos.
    Abriu-se em calma pura, e convidando
    quantos sentidos e intuições restavam
    a quem de os ter usado os já perdera
    e nem desejaria recobrá-los,
    se em vão e para sempre repetimos
    os mesmos sem roteiro tristes périplos,
    convidando-os a todos, em coorte,
    a se aplicarem sobre o pasto inédito
    da natureza mítica das coisas.

    (Trecho de A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade)

  20. Tabacaria
    (Fernando

    Tabacaria

    (Fernando Pessoa)

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a pôr humidade nas paredes
    e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

    Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa,
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Génio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim…
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordámos e ele é opaco,
    Levantámo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.
    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.

    (Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno — não concebo bem o quê —,
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.
    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

    Vivi, estudei, amei, e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses
    nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

    Fiz de mim o que não soube,
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

    Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos
    e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo
    tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.
    Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
    (O dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

  21. A Terra Desolada
    (T. S.

    A Terra Desolada

    (T. S. Eliot)

    Abril é o mais cruel dos meses, germina
    Lilases da terra morta, mistura
    Memória e desejo, aviva
    Agônicas raízes com a chuva da primavera.
    O inverno nos agasalhava, envolvendo
    A terra em neve deslembrada, nutrindo
    Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
    O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
    Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
    E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
    Tomamos café, e por uma hora conversamos.
    Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
    Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
    Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
    E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
    Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
    Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
    Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
    Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
    Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
    Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
    Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
    E as árvores mortas já não mais te abrigam,
    nem te consola o canto dos grilos,
    E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
    Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
    (Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
    E vou mostrar-te algo distinto
    De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
    Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
    Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

    (Trecho de Terra Desolada, de T. S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira)

  22. Sucesso de Tite não limpa

    Sucesso de Tite não limpa imagem da Casa Bandida do Futebol

    Juca Kfouri

    Tite errou ao assumir a seleção brasileira depois de ter assinado, em dezembro de 2015, um manifesto contra a CBF ao lado de, inicialmente, 126 personalidades, entre as quais Pelé, Chico Buarque de Holanda e Jô Soares.

    O teor não permitia segunda leitura, como o seguinte trecho: “Exigimos a renúncia definitiva de Marco Polo Del Nero e sua diretoria, seguida da convocação de eleições livres e democráticas para o comando da CBF, sem a atual cláusula de barreira, mecanismo que impede a aparição de posições independentes ao sistema vigente, pois exige oito assinaturas de federações e mais cinco de clubes para candidaturas”.

    Em junho de 2016 o treinador passou por cima de sua assinatura e assumiu o posto para fazer da seleção uma equipe novamente respeitada pelo mundo afora, com oito vitórias consecutivas nas eliminatórias para a Copa do Mundo na Rússia e classificá-la com quatro rodadas de antecedência.

    Hoje se está falando alto pelos botecos (gracias, Chico) que Tite salvou a imagem da CBF.

    Mas, será?

    Necessário lembrar de 1970 quando, em plena ditadura, o tricampeonato era temido como peça de propaganda de um regime que exilava, torturava e matava.

    O técnico encarregado de classificar o Brasil para a Copa no México foi ninguém menos que o comunista João Saldanha.

    Tudo bem, ele não assinara manifesto algum contra a então CBD e ainda tratou de dizer ao ditador de plantão para cuidar de seu ministério porque o time quem escalava era ele.

    Desnecessário dizer que até os presos políticos, e são inúmeros os testemunhos, de Dilma Rousseff inclusive, acabaram seduzidos pelo magnífico futebol da seleção e torceram junto do país pelo tri.

    Porque quanto pior, pior.

    A ditadura não cairia com uma derrota nos gramados mexicanos assim como não sobreviveu por mais 15 anos por causa da vitória.

    Nem por isso a história registra Garrastazu Médici como campeão, a não ser da tortura, por não confundi-lo com Pelé, Tostāo, Gérson, Jairzinho e Rivellino.

    Em tempos de show de horrores pelo país, da brutal crise de representatividade vivida de norte a sul, de leste a oeste, da pouca credibilidade até da Justiça contaminada por vaidosos atores a disputar holofotes com os das novelas da TV, imputar a Tite a responsabilidade de salvar a imagem da Casa Bandida do Futebol é um exagero.

    A seleção levou de sete da Alemanha e nem por isso a CBF ruiu. Se Marco Polo não viaja e tem a companhia de Ricardo Teixeira, no máximo, dentro das fronteiras brasileiras, e se José Maria Marin curte prisão domiciliar em Nova York, nada disso tem a ver com os resultados da seleção, mas apenas com as investigações do FBI.

    O torcedor não confundiu futebol e ditadura e também não o confunde com a corrupção.

    Independentemente das atuações nos gramados, no Congresso Nacional a bancada da bola trata de defender a cartolagem, como se viu na CPI da CBF, estropiada pelos Romeros Jucás da vida.

    Tite não faz parte do problema, mas da solução, pelo menos no futebol.

    Culpá-lo por ser competente obriga que seja defendido, sem esquecer de seu pecado.

    É Tite quem dá certo, não a CBF. 

  23. http://painel.blogfolha.uol.c

    Mais realista Ao chegar no jantar com o rei Carlos 16 Gustavo, da Suécia, segunda (3), em São Paulo, José Serra (PSDB-SP) passou por uma roda de convidados, fez um cumprimento descontraído e seguiu para a sua mesa. Então, foi avisado: “Senador, aquele com quem o senhor acabou de falar é o rei!”.

     

    1. DIPLOMATA

      Primeiramente -ha!ha!ha!ha! (chorei de rir com a charge)

      Filosofando:

      Serra agiu na conformidade do “grande diplomata brasileiro pós-golpe” que ele foi.

      1. Sério mesmo :
        Serra  está

        Sério mesmo :

        Serra  está gagá;

        Ele nem sabe os 5 dos BRICS.

        E falando nisso, agora são 3. Dois foram rebaixados pra ”nadisque”—um deles é o Brasil e o outro a África.

        Assim sendo, quem sabe Serra consiga decorar 3 nomes.

        Porque 5 sua mente não consegue,

        Abraços !

  24. Após tentar inviabilizar o

    Após tentar inviabilizar o Uber, só falta o PT querer acabar com WhatsApp na esperança de reerguer os Correios que ele destruiu.

    DE BETINHO GOMES (PSDB-PE), sobre a Câmara ter aprovado a regulação de aplicativos de transportes com emenda que pode acabar com o serviço no país.

     

  25. Batalhão do Irajá simboliza

    Batalhão do Irajá simboliza outro fracasso da segurança do Rio

    Marco Aurélio Canônico

    RIO DE JANEIRO – “Vídeo flagra policiais atirando em homens feridos e desarmados no Rio”. A notícia, da última quinta (30), se liga a outras: “Quatro PMs são presos após morte de cinco jovens”“Policiais são suspeitos de vender carga roubada a traficante e morador”“Policial confunde macaco hidráulico com arma e mata dois jovens”.

    Publicadas na Folha desde outubro de 2015, todas essas reportagens referem-se a um mesmo batalhão da PM do Rio: o 41º, localizado no Irajá, bairro da zona norte. Ele patrulha uma das áreas mais violentas da cidade, que engloba os morros do Chapadão, do Gogó da Ema e da Pedreira.

    A PM fluminense é conhecida por ser uma das que mais matam e mais morrem no país. Só no primeiro bimestre deste ano, matou 182 pessoas, uma média de três por dia. E, até março, morreram 47 policiais —ainda que apenas sete deles em serviço. Nesse quadro catastrófico, o 41º batalhão é campeão de barbaridades. Fundado em 2010, em três anos passou a ocupar o topo do ranking de homicídios em supostos confrontos com a polícia.

    E nessa lista nem entram as vítimas de balas perdidas, como Maria Eduarda da Conceição, 13, atingida durante uma aula de educação física na escola, enquanto PMs e bandidos trocavam tiros do lado de fora —no mesmo dia em que foram registradas as execuções em vídeo. Na última segunda (3), outra adolescente de 13 anos morreu com um tiro vindo não se sabe de onde, na mesma região.

    O caso do batalhão do Irajá revela uma outra faceta do fracasso da política de segurança pública implementada por José Mariano Beltrame nos governos Cabral e Pezão: a incapacidade de extinguir as práticas corrompidas e de expurgar a banda podre da PM.

    Se isso não foi feito quando havia um secretário de segurança com apoio político e dinheiro à disposição, não vai ser agora, quando nem sequer se pagam salários em dia. 

  26. A empresa em atividade mais

    A empresa em atividade mais antiga do mundo é um hotel japonês chamado Nishiyama Onsen, que foi criado em 705 a.C e nunca parou os seus serviços.

    A imagem pode conter: montanha, céu, planta, árvore, atividades ao ar livre e natureza

     

  27. O cérebro humano produz de

    O cérebro humano produz de 12.000 a 50.000 pensamentos por dia, dependendo do quão inteligente a pessoa é.

    A imagem pode conter: 1 pessoa, barba e atividades ao ar livre

     

  28. Auroville, um distrito

    Auroville, um distrito experimental na índia. O lugar não tem políticos, religião ou moeda física, mas tem sua própria economia sustentável. A população compreende pessoas de 45 nações diferentes.

    A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, multidão, noite, céu e atividades ao ar livre

     

  29. “A nossa civilização está

    “A nossa civilização está condenada porque se desenvolveu com mais vigor materialmente do que espiritualmente. O seu equilíbrio foi destruído.”

    – Albert Schweitzer –

    A imagem pode conter: 1 pessoa, nuvem, céu, montanha, grama, natureza e atividades ao ar livre

     

  30. Você não sabe, mas Will Smith

    Você não sabe, mas Will Smith já foi um rapper de sucesso lá nos anos 80. Ele chegou a ganhar o primeiro Grammy da história na categoria rap, em 1988.

    A imagem pode conter: 1 pessoa, sorrindo, céu, selfie e close-up

     

  31. As orcas, conhecidas como

    As orcas, conhecidas como baleias assassinas, não são baleias. Elas são, na verdade, golfinhos.

    A imagem pode conter: água

     

  32. É hora, portanto, de o

    É hora, portanto, de o cidadão saber que notícias falsas dão (muito) dinheiro a seus criadores -como bem revelou reportagem publicada no caderno “Ilustríssima”. Também é hora de ficar claro que existem técnicas simples e eficientes para fazer frente a essa praga.

    Há cinco dicas básicas, bem básicas, dos checadores a serem seguidas por aqueles que defendem informação de boa qualidade. A primeira é: duvide de quem cita dados sem revelar fontes. É fácil manipular uma informação agindo assim.

    A segunda dica: duvide daqueles que promovem uma relação causal simples, dizendo que A provoca B. Há sempre diversos fatores envolvidos na concretização de um fato.

    Terceira: desconfie de números absolutos sem contexto. Ir de 1 para 2 é um aumento de 100%. Dependendo do assunto, porém, trata-se de algo irrelevante. Peça porcentagens e valores absolutos.

    Quarta: cuidado com as cifras muito exatas sobre temas como violência. Esses dados mudam a cada instante e nem sempre são computados a partir da mesma metodologia.

    Quinta: por fim, suspeite de frases que contenham expressões como “a maior/menor/melhor/pior do mundo”. Todas tendem ao exagero.

    CRISTINA TARDÁGUILA

    Combater as notícias falsas

    PU

    Se a mentira tem um dia só para ela, a verdade também merecia um, ao menos um. E foi guiada por essa certeza que a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de plataformas que checam o grau de veracidade de dados e informações contidos em discursos públicos, transformou o dia 2 de abril de 2017 no primeiro Dia Internacional do Fact-Checking.

    É a luta contra a notícia falsa entrando no calendário global e ganhando uma data especial.

    Nos últimos anos, a divulgação de informações não verificadas espalhou pânico em comunidades carentes e em bairros ricos do Rio de Janeiro mais de uma vez e embasou teorias conspiratórias na área da saúde que poderiam ter prejudicado milhares de cidadãos.

    No mundo, não foi diferente. Uma falsa vacina contra a Aids provocou alvoroço no Gabão. No Canadá, um professor que jamais havia pisado em Nice, na França, foi acusado de ter cometido o atentado de 14 de julho, com um caminhão.

    Nos Estados Unidos, o homem que, segundo levantamento do “Huffington Post”, foi capaz de pronunciar 71 informações questionáveis em apenas 60 minutos virou presidente.

    É hora, portanto, de o cidadão saber que notícias falsas dão (muito) dinheiro a seus criadores -como bem revelou reportagem publicada no caderno “Ilustríssima”. Também é hora de ficar claro que existem técnicas simples e eficientes para fazer frente a essa praga.

    Há cinco dicas básicas, bem básicas, dos checadores a serem seguidas por aqueles que defendem informação de boa qualidade. A primeira é: duvide de quem cita dados sem revelar fontes. É fácil manipular uma informação agindo assim.

    A segunda dica: duvide daqueles que promovem uma relação causal simples, dizendo que A provoca B. Há sempre diversos fatores envolvidos na concretização de um fato.

    Terceira: desconfie de números absolutos sem contexto. Ir de 1 para 2 é um aumento de 100%. Dependendo do assunto, porém, trata-se de algo irrelevante. Peça porcentagens e valores absolutos.

    Quarta: cuidado com as cifras muito exatas sobre temas como violência. Esses dados mudam a cada instante e nem sempre são computados a partir da mesma metodologia.

    Quinta: por fim, suspeite de frases que contenham expressões como “a maior/menor/melhor/pior do mundo”. Todas tendem ao exagero.

    Temos hoje 114 plataformas de checagem ativas no mundo. Dez delas acabam de passar por uma auditoria externa independente e receber o selo de qualidade da IFCN.

    Segundo os auditores, são iniciativas comprovadamente apartidárias, que prezam pela transparência e pela metodologia de trabalho, além de ostentar política pública efetiva para a correção de eventuais erros.

    Fazer checagem está na moda, mas uma checagem só tem credibilidade quando atende a essas cinco exigências. Fique de olho.

    Ainda vale destacar que redes internacionais de especialistas de diversas áreas estudam formas de combater a desinformação.

    O First Draft News e o Trust Project são exemplos que aproximam jornalistas, veículos de comunicação e empresas digitais.

    O site http://www.factcheckingday.com traz um calendário de atividades relacionadas à checagem de dados. Quem está cansado de ler ou ouvir mentira deve conferir as oportunidades que serão oferecidas aqui e ali. Novos checadores são bem-vindos.

    CRISTINA TARDÁGUILA é diretora da Agência Lupa e autora do livro “A Arte do Descaso” (Intrínseca)

     

  33. Painel leitor Folha
    Ao que

    Painel leitor Folha

    Ao que parece, o ministro Gilmar Mendes trata o STF e o TSE como atividades menores, esquecendo-se de que seu prestígio tem origem exatamente no exercício dos magnos cargos no Poder Judiciário brasileiro. O país pegando fogo e ele decide ir para Lisboa no próximo dia 10 e estender o passeio a Paris até o dia 25.

    JOSÉ HENRIQUE WANDERLEY FILHO (Recife, PE)

  34. PEdro Penido dos Santos e Edu

    imagem de Pedro Penido dos Anjos

    PEdro Penido dos Santos e Edu Pedasse

    Peço desculpas aos dois.

    Não é justo escrevererem primeiro e seus comentários irem para o além.

    Em nenhum momento quis meus comentários serem divulgados primeiro.

    Copiei os comentários de vcs pra irem antes dos meus.

    Mas não cola.

    Peço ao Nassa e equipe que divulgue os comentários por ordem de chegada.

    Melhor ainda: Queos meus comentários sejam os útimos a ser exibidos.

    Quando estiver com vontade de escrever. Tanto faz.

    1. Belíssimo/a :
      Estou elogiando

      Belíssimo/a :

      Estou elogiando Nassa ( quem escreveu o post) e mesmo assim me dá nota ruim ?

      Nenhum comentário no post citado ( mais de 60) deu nota ruim.

      Então, é comigo ?

      Vou te ensinar algo :

      Me elogiar ou criticar, como vc faz constantemente, é prova cabal que vc me segue,

      E ser seguido é um elogio.Porque ninguém segue com indiferença.

      Muito Obrigado !

       

    2. Mentira mesmo!  Nada

      Mentira mesmo!  Nada substitui um bom titulo de artigo!

      (Quanto a capas, ja cheguei a comprar um livro duas vezes porque nao lembrei que ja o tinha em casa e a capa tava diferente, e muito melhor que a arte do que eu tinha)

  35. Ministros do TST vão rebater

    Ministros do TST vão rebater Gilmar ao vivo

    Ives Gandra Filho, ex-amigo de Gilmar Mendes, informou ontem que não atenderá à solicitação formal que os ministros fizeram para que moções de apoio à Justiça do Trabalho contra os ataques de Gilmar fossem divulgadas no site do TST.

    Em consequência, as notas serão lidas pelos ministros no início da sessão de hoje que será transmitida ao vivo.

  36. Pelo menos umaz vez por ano

    Pelo menos umaz vez por ano vou ao ”rancho” Mazzaropi em Tabuaté.—

    Uma delícia.

    Na minha longa jornada em hotel fazenda. nãO perde pra  quase ninguém.

    Mas ainda perde pra o Solar das Andorinhas nos arredores de Campinas.

    Pela comida e pelo sossego em seus chalés.

     

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