Fora de Pauta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

O espaço para os temas livres e variados.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ponte para o futuro? Andamos 10 anos para trás

    Tijolaço

    Ponte para o futuro? Andamos 10 anos para trás

     

    investpng

    Os arautos do “corte de gastos” não dizem nos seus discursos tecnocratas que, além da degradação dos serviços públicos de saúde e educação, atira na paralisia tudo o que vinha sendo feito no Brasil em matéria de habitação, mobilidade urbana e infraestrutura em geral.

    A matéria publicada hoje pela Folha mostra o tamanho do retrocesso em investimentos em obras e instalações públicas.

    Na comparação até julho, uma volta a patamares de dez anos atrás. Como o Governo tem de cortar e cortar mais desesperadamente a partir de agora, para tentar cumprir a meta do “rombo ampliado”, é provável que ao final do ano, o nível caia mais alguns anos, na comparação, aos tempos em que Lula recebeu o país quebrado de FHC.

    “As despesas com obras, conservação de estradas e Minha Casa, Minha Vida despencaram 40% no período (de 2013 para cá).Em julho (somando as despesas dos últimos 12 meses), esses gastos somaram R$ 19 bilhões, ante os R$ 32 bilhões despendidos em 2013.

    Despencaram, não: seguem despencando. Em 2016, o acumulado no programa de habitação, nos sete primeiros meses do ano, caiu de R$ 9 bilhões para apenas R$ 3 bi. Agora, baixou para R$ 1,65 bi.

    Nas não é só o investimento público que está caindo. O privado, já paralisado pela crise, ainda vai perder a sua fonte maior, o BNDES, que será forçado a devolver, este ano e em 2018, R$ 180 bilhões em títulos públicos que lastreiam seus empréstimos, para ajudar as fechar as contas de Henrique Meirelles.

    No Brasil, para investir, não há outra alternativa para investir senão o crédito do BNDES, exceto para quem tem tamanho para tomar crédito em dólar no exterior. E olhe lá se farão isso neste momento de dólar subvalorizado e tensões mundiais à vontade, criando um risco imenso para endividar-se em moeda estrangeira.

    É por isso que o “espetáculo do crescimento” que Meirelles anuncia para amanhã só pode acontecer como bolha financeira. Farsa, como tudo o que acontece por aqui, ultimamente.

    http://www.tijolaco.com.br/blog/ponte-para-o-futuro-andamos10-anos-para-tras/

  2.  
     
     
    “Aquilo que é tem muita

     

     

     

    “Aquilo que é tem muita força” (Guimarães Rosa)
    .
    A charge simples e magistral que inspira esse texto poderia ter o título bem óbvio, “O pigmeu e o gigante”. Porque é disso que se trata, a imagem realística e a igualmente real DIMENSÃO desses dois personagens do nosso tempo.
    Gosto disso, me conforta, me alivia, me alegra saber que “é assim…..” – “aquilo-que-é” não pode ser falseado porque querem os brasileiros de nossa elite e classe média, enfermos, tornados num pobre rebanho humano que se alimenta (e apenas isso regurgitam…) de preconceitos, fanatismo, nojos e ódios…..
    A toda-poderosa Globo idem, faça o que fizer, nada pode contra a História, a verdade dos fatos, a aclamação do mundo a Lula, o respeito e admiração que ele segue angariando dos intelectuais e estadistas sérios mundo afora.
    .
    Latuff teve inspiração especial ao fazer essa charge. Poderia só ter dimensionado melhor os personagens: Moro não chega a tanto! E é interessante notarmos como a patologia do narcisismo atinge mais ao ser apequenado, o juiz que incorporou o papel de justiceiro, que usa seu cargo para denegrir, humilhar, perseguir e destruir o ser que se tornou o símbolo máximo de sua vida: Lula! É um evidente caso de obsessão, de inveja, ressentimento e ódio, um ódio selvagem, corrosivo…. Este homem sem brilho, de escrita paupérrima em seus despachos e sentenças, patético em suas expressões corporais subservientes diante dos irmãos Marinho, ao receber seu prêmio na Globo, patético ao demonstrar sem pudor suas preferências políticas, quando aparece sorridente ao lado de um Aécio ou um Dória Júnior, patético ao não perceber que todo seu poder não é originário de características de sua personalidade, mas diretamente da omissão covarde e pusilânime das instâncias superiores do nosso Judiciário. É capaz de Sérgio Moro sequer ter noção, de que num país de instituições sérias, compostas por homens respeitáveis, simplesmente não haveria ambiente, espaço, para a existência de um “Sérgio Moro”…..
    .
    Passado o tempo de sua utilidade, o que lhe restará, já que seu poder vem do cargo que ocupa e da outorga que lhe deram de um absolutismo sem precedentes no país? Pobre Moro…. como sobreviverá, quando estiver diante do que é, nu, sem a Globo a inflá-lo, sem os ministros covardes do Supremo a dar-lhe a liberdade total de fazer suas estrepolias grotescas?
    As pessoas esquecem que chega o tempo de terem que viver mais consigo mesmas e o que delas diz a História, do que da falsa fama e sucesso que Mefistófeles lhes concede a prazo vencido…. Esteja nos EUA, seu sonho de consumo, ou na Sibéria, Sérgio Moro saberá em poucos anos, o que dele se pensa, se diz, esse “o que restou dos meus atos, do que eu fiz…?” – e não haverá Globo que dê jeito.
    .
    Lula, ao contrário! Em relação ao seu passado, seu tempo presente, seu futuro, pode estar tranquilo, nesse aspecto – o histórico, o “aquilo-que-é” – a Lava Jato fez-lhe um bem, porque nenhum brasileiro vivo ou morto foi tão investigado, por centenas de policiais federais, dezenas de procuradores, um juiz obcecado, uma busca feita no Brasil e no exterior, centenas foram presos, torturados, chantageados, na operação mais vil, farsesca, nonsense desse país, e o que acharam de errado em sua vida? Absolutamente NADA que todos já não soubéssemos – o esquema de “toma-lá-dá-cá” entre o governo e os PMDBs da vida, e sim, talvez tenha recebido o mimo de uma reforma no sítio que usa com a família por uma empreiteira – o que só nas mentes doentes pode configurar corrupção.
    .
    Lula ganhou duas eleições presidenciais, mudou a face do Brasil, tirou milhões da miséria, criou novos paradigmas – inclusive para outras nações… – sobre como é possível acabar com a miséria, a fome, a indignidade de vida. Nenhum brasileiro a qualquer tempo foi aclamado como ele! Termos uma Suprema Corte que tenha deixado Moro chegar até onde chegou, humilha aos ministros, não a Lula. Lula tem o tamanho de um estadista, Moro segue sendo o que é: um juiz de primeira instância, um servidor que passou num concurso – e se prestou ao papel de destruir nossa maior liderança popular. Chegam ambos ao fim da Lava Jato, ainda mais marcados pelo que são, é interessante o juiz disso não se aperceber…. Será um juiz menor, um homem menor, antes nunca tivesse agarrado essa bandeira fanática, ela já é sua ruína, sua vergonha, a mancha impagável que nem ele nem ninguém podem hoje ou a qualquer tempo, apagar.
    .
    Lula, ao contrário…. estava quieto em seu canto, queria envelhecer ao lado de Marisa, sua companheira e os netos, queria com certeza atuar apenas como um conselheiro ou cabo eleitoral de seu partido, eventualmente “apagar um incêndio” político qualquer, mas sairá deste momento um gigante, pela força que demonstrou para enfrentar tudo com sua cabeça erguida e sua inocência absolutamente comprovada! O mundo sentirá vergonha por nós, não por ele, quando a ONU desmascarar a farsa da Lava Jato, a farsa viva que é esse senhor, Sérgio Moro…..
    .
    É uma caso típico da INVEJA e do RESSENTIMENTO, do ser medíocre que nada pode contra o MITO, o outro, a quem odeia, e só pode atingir desse modo covarde, perverso, eminentemente ACIDENTAL, acidente neste caso, o fato de um STF com a composição mais medíocre, rasa, abjeta de sua história. Um mínimo, apenas um mínimo de respeito à instituição que os abriga, e esses ministros teriam afastado e punido Sérgio Moro severamente, por vários abusos de poder e até crimes cometidos.
    .
    Moro é uma espécie de Salieri na vida de Lula, e assim será lembrado….
    Um Salieri tosco, capaz de atingir a família do inimigo, capaz de violências inomináveis, típicas do ser menor, do invejoso sem escrúpulos…. O sorriso patético de menino deslumbrado na pré-estreia do filme que o exalta, revela o que é, quem é Sérgio Moro, e sua dimensão… Eis sua recompensa final…. um filme ruim, um arremedo de ideologia fascista, e os tapinhas nas costas das pessoas ricas e de classe média alta do nosso país…..
    .
    Lula? Lula está nos braços do povo, numa caravana onde foi recebido com amor e admiração pelo povo que tanto ajudou em seu governo…. Lula segue sendo Lula, APESAR DA GLOBO, Moro só consegue ser Moro, POR CAUSA DA GLOBO….
    .
    Um está nos braços do povo, e se não fosse impedido, ganharia sua terceira eleição para presidente do Brasil….
    .
    Moro? Coitado….. com oito seguranças, e algumas centenas de bajuladores, num shopping de Curitiba para ter seu momento de glória….. É o máximo que terá daqui pra frente….
    .
    Parabéns ao Latuff, que numa charge genial, nos mostrou o “aquilo-que-é” desses dois personagens: o juiz medíocre, patético, narcisista e um dos maiores líderes do mundo de todos os tempos…..
    .
    Será que Moro sabe disso, coitado….?
    .
    (eduardo ramos)
    .
    charge do Latuff no DCM / 2016

  3. Palocci, o ouro de tolo de Moro

    Palocci, o ouro de tolo de Moro.

    Nem tudo que reluz é ouro (dito popular)

     

    Por Edivaldo Dias de Oliveira.

     

     

    Depois de amanhã quarta feira, é dia 13, número emblemático do PT e de todxs nós petistas, com ou sem carteirinha, como eu.

    É também o dia do segundo depoimento de Lula, frente a frente com Moro em segundo processo. No primeiro, dizem, Lula ganhou de lavada, aplicando-lhe uma surra merecida, mas o juiz é o dono da bola e Lula foi condenado. Também será condenado nesse segundo enfrentamento, mas parece que Moro não quer tomar mais uma surra do condenado como da outra vez, mas vai.

    Para evitar a surra tomou o depoimento de Palocci, preso há quase um ano, preso mais próximo do ex presidente, segundo contam. Fez Palocci ajoelhar no milho, delatando o amigo como criminoso, para ter sua pena reduzida, pelo amor de Deus! Pois como diz a música de Zé Ramalho, Vila do sossego  “Nas torturas, toda carne se trai” e embora haja exceções como Zé e Vaccari, o ex ministro não ficou entre elas.

    Tudo isso uma semana antes do depoimento de Lula, numa demonstração pública de que a prática da tortura vem se tornando corriqueira em Curitiba, através da PF, Procuradoria e Justiça de lá, com a cobertura e ou acobertamento da Rede Globo, como foi no período militar, sem que para isso haja por parte dos torturadores qualquer preocupação em esconder ou dissimular a sua prática, como ocorria naquele tempo sombrio, muito pelo contrário, fazem questão de demonstrar o que fazem, como fazem e contra quem fazem, e quem não gostar que vão se entender com eles, que eles torturam também.

    Curitiba ainda será conhecida como a capital nacional da tortura, graças a Lava Jato.

    Qualquer semelhança com a existência de milícias nos morros cariocas ou do PCC em São Paulo não é mera coincidência. Num caso como noutro, estamos diante da falência do Estado e quando isso ocorre, impera a delinquência, a lei da selva grassando por todo o país, como nos mostra os chefões dos morros e da Lava a Jato. É o tempo perfeito para o surgimento do tirano, do salvador da pátria, se bem que este já foi posto lá pelos milicianos de Curitiba, que fazem o papel de lugares tenentes da Globo, que agora quer desalojá-lo de lá. O que vai ser difícil por se tratar de bandidos que não tem para onde ir se não para a cadeia, são pessoas desesperadas e dispostas a matar e morrer, como aqui já escrevi. Quanta diferença de quem eles tiraram!

    Mas voltemos ao dia 13. Moro está certo de ter nas mãos uma pepita de ouro, capaz de colocar Lula também de joelhos, na lona. Ledo engano: é ouro de tolo, daquele que fazendeiros malandros espalhavam por suas terras no velho oeste americano para vendê-las a aventureiros incautos e ambiciosos a peso de ouro, que tem o nome cientifico . Vou mostrar;

    – Sendo Palocci o mais próximo amigo de Lula a depor, é dele também a maior responsabilidade em apresentar provas documentais de seu depoimento e isso ele não fez e não fará.

    – Temer tem Rocha Loures, a quem disse a Joesley ser seu homem de confiança, apto a pegar mala de dinheiro com direito a filmagem.

    – Lúcio Funaro está entregando pilhas de documentos da sua delação.

    – Geddel reservou um apartamento só para guardar malas e caixas de dinheiro dele e provavelmente dos amigos.

    O que Palocci entregou? Nada.

    – O que disse sobre a existência de provas contra Lula? Nada.

    – O Amigo preso mais intimo do Lula não tomou parte em nenhuma reunião importante com ele envolvendo valores escusos. Que estranho!

    – Não trocou nenhum telefonema com ele relacionado com corrupção, mesmo em conversas disfarçadas, codificadas. Que confiança!

    – Não trocaram e-mails sobre temas afins. Que coisa!

    – Não estabeleceram uma ponte entre ambos, alguém com quem pudesse  trocar informações e que agora pudesse apontar como prova entre as partes. Santa ingenuidade Batman! Palocci ingênuo…?

    – Mesmo num lance de traição Janotiana, poderia entregar seu secretário particular como a pessoa que fazia o meio de campo; não fez.

    A maior prova do seu falso brilhante é a entrega de Dilma na mesma bandeja de Lula, pois todos sabem do rancor que nutre por ela, como sabem também que Dilma pode ser portadora de muitas incompetências, como todos nós, mas o apreço pelo mal feito não está entre elas e foi por isso que Palocci não se criou em seu governo.

    Quem, entre todos os delatores, mais deveria dar concretude, prova, aos desejos, devaneios e convicções do juízo de fala fina e faro grosso nada entregou ou disse que entregaria. Mas o juízo se deu por satisfeito, achando que tem nas mãos o mapa do tesouro, se não o tesouro inteiro.

    A (i)responsabilidade e desfaçatez de Moro em condenar Lula em mais um processo fraudulento ficará muito maior aos olhos do mundo  e toda a Lava Jato vai se desmoronando como um castelo de areia, ou como a Mãos Limpas em que o juiz se inspira e que teve um final desastroso para a sociedade italiana.

    Aos italianos foi dado Berlusconi, a nós o Temer, aos dois povos um rastro de  destruição, escândalos e roubos muito mais nocivos do aqueles que disseram combater.

    Moro, após o depoimento de Palocci, deveria ser o maior interessado no adiamento da oitiva de Lula, até que o depoente entregasse as provas do que delatou. Mas não fará isso, pois no fundo sabe que as provas não existem nem vem ao caso.

    Por tudo isso, no dia 13 de setembro de 2017, Moro crava mais um prego no caixão da Lava jato, cuja destruição e desmoralização ele e Dallagnol são os maiores responsáveis.

     

    Ps. Ouro de tolo tem o nome cientifico de pirita, daí talvez o fato de deixar muita gente embriagada ao se deparar com ela. Quem sabe um dos muitos nomes da “marvada” tenha se originado daí. 

    1. Perfeito, Edivaldo! Moro não

      Perfeito, Edivaldo! Moro não se importa com mais nada, embriagado que está com seu poder sobre Lula, já que a segunda instância praticamente nada lhe nega, nem o STF, pode seguir com sua obsessão e seu desejo íntimo de destruir Lula.  Seu disgnóstico está correto: a falência do Estado é que causa tanto um PCCC quanto uma República de Curitiba.  No futuro, o nome Sérgio Moro estará indelevelmente ligado ao que é torpe, covarde, indigno. Abraço!!!

  4. Os caminhos da desigualdade: revolta ou distopia

    Desigualdade econômica conduz à desigualdade social e, esta, conduz à perda de oportunidades. A concentração de riquezas cresce ininterruptamente há décadas. O mundo encontra-se frente a uma escolha, entre um modelo de sociedade inclusivo e distribuidor de oportunidades e um modelo que acentua as diferenças. Quem tem consciência social e observa o mundo ao seu redor não pode ignorar o processo de aprofundamento da desigualdade em curso e sua amplitude mundial. Não são previsões, está acontecendo e seus efeitos se mostram, inclusive, nos países centrais.

    A preocupação dos economistas, sociólogos e antropólogos e dos estudiosos da sociedade humana com a desigualdade criada pela concentração de riqueza vem desde os anos 70 e adquiriu especial destaque mais recentemente.

    Inúmeros autores têm denunciado a desigualdade econômica e seus efeitos sociais e políticos. Dentre estes situam-se os notórios Joseph Stiglitz, Noam Chomsky e Naomi Klein. No Brasil, o Instituto de Economia da Unicamp tem produzido farto material sobre esse tema por meio de acadêmicos como Pedro Paulo Zahluth Bastos, Fernando Nogueira da Costa, Eduardo Fagnani e Luiz Gonzaga Belluzzo, apenas para citar alguns.

    Uma abordagem rápida de como a crise do capitalismo surge e se desenvolve, bem como, ao cenário que conduz, baseada nas resenhas de 3 livros sobre o tema pode ser vista em artigo da revista Foreign Affairs, Capitalismo em crise (BLYTH Mark. Capitalism in crisis – What went wrong and what comes next. Tampa (FL): Foreign Affairs; 2016 Jun. Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/reviews/review-essay/2016-06-13/capitalism-crisis. Acessado em 19 de ago. 2017).

    Fato: o sistema capitalista está em crise.  

    Fato: a origem está no excessivo financismo, onde os fluxos monetários globais estão longe de qualquer controle das autoridades monetárias.  

    Fato: indiscutível que o dinheiro adquiriu “vida própria”, isto é, deixou de ter o destino original de retornar e se reincorporar como insumo financeiro ao ciclo real da economia, financiando investimentos nas estruturas produtivas de bens e serviços (oferta) e suportando o processo de geração de renda e de acumulação (consumo e poupança).

    Os excedentes financeiros não param de crescer ocasionando uma imensa bolha de liquidez. Segundo dados do MacKinsey Global Institute, BIS – Bank for International Settlements e Deutsche Bank, ao fim de 2015, os ativos financeiros globais montavam a US$ 294 trilhões, representando, 378% do PIB mundial. O mercado de derivativos, em dezembro de 2016, segundo relatório do BIS, movimentava contratos com um valor nominal total (notional amount) de US$ 483 trilhões com um valor bruto de mercado, o custo de resgatar todos os contratos a preços de mercado, que totalizava R$ 15 trilhões. A formação bruta de capital fixo, ou seja, o valor dos investimentos em bens de produção, em 2015, representava US$ 18 trilhões. Esses números dão uma medida da proporção dos ativos financeiros que ficam retidos no mercado especulativo, isto é, esterilizados como instrumentos de desenvolvimento e de fomento à atividade econômica.

    Em resumo, dinheiro gerando dinheiro. E, o dinheiro gerado é extraído da base da pirâmide para o topo aumentado a concentração e a desigualdade. Segundo o conhecido Relatório da Riqueza Global, 2016, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Credit Suisse, enquanto 33 milhões de indivíduos, representando 0,7% da população adulta, detém 45,6% da riqueza global, à base da pirâmide, com 73,2% do restante, são destinados apenas 2,4% da riqueza, implicando em um valor médio de US$ 1,7 mil por indivíduo.

    Até então, a posição hegemônica do topo dessa pirâmide tem se mantido com o êxito de uma longa campanha de propaganda onde se convenceu as pessoas de que há mérito no enriquecimento.

    Ricos são os que souberam trabalhar duro, perseverar contra as vicissitudes, construir oportunidades e vencer por todos os seus méritos.  Enquanto a pobreza não é mais do que o resultado da menor capacidade intelectual, da falta de iniciativa e da ausência de ambição, ou seja, só é pobre quem quer ou é “inferior”.

    Sobre essa ideia central se assenta outra, complementar, mas essencial para a perpetuação do modelo. É quando outro mecanismo entra em funcionamento. A exploração e a espoliação correm em sentidos inversos. A exploração é exercida do topo da pirâmide sobre a base, enquanto a espoliação segue sentido contrário, com a riqueza se transferindo da base para o topo. Ocorre que esse fenômeno, visto como um grande movimento social entre classes distintas, tende a se replicar no microcosmo da interação de pequenos grupos sociais e entre indivíduos.

    Também no aspecto pessoal há sempre uma assimetria de informação e de poder entre os indivíduos ou grupos criando previlégios, onde, os em posição vantajosa, se apropriam dessa vantagem para explorar e espoliar. Isso ajuda a criar uma escala de valor, um ranking de meritocracia entre exploradores/espoliados, o que valida e justifica o sistema.

    É, por exemplo, o que explica, em parte, a razão da classe média – que perde poder aquisitivo e qualidade de vida progressivamente – aderir e apoiar o modelo de funcionamento de um sistema que, também, a oprime.

    Parece serem esses os mecanismos que mantém as pessoas presas ao sistema e conformadas com uma sociedade que exclui, subjuga, destrói e corrompe bilhões de seres humanos. De acordo com as estimativas do Credit Suisse metade de todos os adultos no mundo possuem em média menos do que US$ 2.222 e 20% menos do que US$ 248. 

    Encontrar uma forma de alterar o modelo é, talvez, o maior desafio com que a civilização humana já se deparou. Há uma enorme complexidade no equacionamento desse problema que envolve ainda uma crescente escassez de fatores como território, recursos naturais, alimentos, água potável e ar respirável, bem como, o acesso a serviços essenciais de habitação, saúde, educação e justiça.

    Não é necessário qualquer esforço especial para concluirmos que esse modelo é fadado ao desastre e que se encaminha à ruptura. A grande questão é saber como essa se dará e no que resultará.

    As possíveis hipóteses extremas são:

    a) uma revolução de base em que as pessoas, tomando consciência de sua situação e do fato de constituírem uma absoluta maioria, assumam o protagonismo e forcem a mudança do sistema e;

    b) o poder no topo assumir tal dimensão que se transforme em uma plutocracia institucionalizada, suportada em poderio bélico-policial e submetendo pela força o restante da humanidade; e

    c) no meio-termo, um rearranjo pragmático onde se abra algum espaço para maior mobilidade social e inclusão, mudando para manter.

    Qualquer solução entre a revolta e distopia, se é que há alguma viável, passaria necessariamente pela sensibilização, engajamento e união da sociedade na sua idealização e construção, o que, ante o cenário atual, parece ser algo improvável de vir a ocorrer.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador