Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Luis Nassif

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  1. Que bom seria que todos os filhos fossem especiais!

    O simples fato de ter um filho já é algo especial, porém maior é a felicidade quando temos o nosso filho como “especial”. Tê-lo nos braços, segurar-lhe as mão nos primeiros passos cambaleantes, estar por perto para ouvir suas primeiras palavras, mesmo que não seja “papai”, é algo que por lhe trazer momentos únicos, por si só já os tornam especiais. Por que, então, o medo de ter um filho especial? Isso deveria ser motivo de júbilo e não de prostramento. 

    Se o pai de Bernardo o tivesse como especial, será que o garoto não estaria vivo agora? Imagino que sim. Porém a culpa não foi do menino e sim do pai que não foi capaz de enxergá-lo de um jeito especial.  Então, em que consiste o problema de ser pai de um filho especial? Não consigo entender! Contudo suponho que o problema está nos outros que não tiveram a sorte de ser especiais para seus pais ou  não obtiveram a dádiva de ter um filho especial.Especial, por outro lado, não deve ser um rótulo, uma forma de identificar o diferente; afinal, diferente todos nós somos. Especial é um estado, é uma atribuição que deve partir do sentimento que temos por nossos filhos. Especial não pode motivar compaixão nos outros. O que é especial é motivo de alegria, pois é um sentimento único, nobre, não razão para lamentações.Perceba que quando temos um filho por especial, somos capazes de percebê-lo entre muitos outros. Se fosse o contrário, teríamos dificuldade de encontrá-lo entre as demais crianças, pessoas, porque não veríamos nele algo que o tornasse distinto entre os demais.Muitas vezes, infelizmente, vemos nos olhos dos outros um olhar especial para nossos filhos. Mas não é aquele olhar de satisfação e sim de compaixão! Compaixão de quê? De quem? Esse olhar de lamentação deveriam ter essas pessoas ao se verem no espelho, já que seriam elas merecedoras de “piedade” por não serem capazes de ver algo especial em seus filhos.Em alguns infelizes, a falta da capacidade de compreender o que torna um filho especial para alguém, toma a forma de preconceito, o que é… compreensível uma vez que estes jamais serão capazes de enxergar além do que veem. Aí o preconceito se torna uma venda, embrutecendo-os, tornando-os uns desafortunados. E eles, sim, merecendo toda a nossa compaixão. Ter a oportunidade de ver um filho de forma especial é algo que nem todos terão. Daí eles nunca descobrirão a felicidade que se sente em cada pequena conquista, nas mais simples das ações, nos mínimos passos que se dá para seguir em frente vivendo em meio a uma sociedade que, lamentavelmente, não se tem mostrado em nada especial.Por fim, só posso agradecer a Deus por me fazer pai de dois filhos especiais, independentemente, daquilo que os outros não enxerguem de especial neles. Sinceramente, muito obrigado!

  2. 15 anos do Massacre de Columbine

                          

    O massacre de Columbine aconteceu em 20 de abril de 1999 no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos, no Instituto Columbine, onde os estudantes Eric Harris (apelido ReB), de 18 anos, e Dylan Klebold (apelido VoDkA), de 17 anos, atiraram em vários colegas e professores.

    Eric Harris e Dylan Klebold eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta. Moravam em casas confortáveis. O pai de Klebold é geofísico, e a mãe, especialista em crianças deficientes.

    Harris e Klebold deixaram uma nota, encontrada perto dos corpos: “Não culpem mais ninguém por nossos atos. É assim que queremos partir”. Faltavam apenas 17 dias para o fim do ano letivo. Com 1965 alunos, Columbine é tão boa que muitas famílias se mudaram para Littleton, perto de Denver, com o objetivo de matricular os filhos na escola. Oitenta e dois por cento de seus alunos são aceitos em universidades (nos Estados Unidos não há vestibular, o que conta é o desempenho do aluno no segundo grau). Columbine também se orgulhava de não registrar casos de violência. O policial de plantão se limitava a multar alunos que estacionavam os carros nas vagas destinadas a professores. Não há, como nas escolas de Nova York, Los Angeles e Chicago, detectores de metais na entrada. Na festa de formatura, os alunos costumavam aceitar o pedido dos pais para vedar bebidas alcoólicas. Columbine era famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos times de futebol americano, basebol e basquete. Foi esse o estopim da tragédia.

    Possíveis motivações

    Harris e Klebold, ótimos alunos de boas famílias, não eram populares na escola. Preferiam os computadores ao desporto. Encontraram a sua turma num grupo, a Máfia da Capa Preta. Ridicularizados pelos atletas, remoíam planos de vingança e extravasavam seu ódio na Internet. Harris, principal cabeça por trás do ataque, tinha uma website, agora desactivado, no qual coleccionava suásticas e sinistros vídeos neonazistas e até dava receitas para a confecção de bombas. Em seu auto-retrato, escreveu: “Mato aqueles de quem não gosto, jogo fora o que não quero e destruo o que odeio”. Já Klebold dizia que seu número pessoal era “420”, possivelmente uma referência à data de nascimento de Hitler, 20 de Abril.

    Os diários dos jovens foram encontrados, mas ainda não se chegou há uma conclusão sobre o motivo do ataque. «Não eram rapazes comuns que foram importunados até retaliarem», escreveu o psicólogo Peter Langman no seu livro, “Why Kids Kill: Inside the Minds of School Shooters”: «Não eram rapazes comuns que jogaram jogos de vídeo demais», «Não eram rapazes comuns que apenas queriam ser famosos», «Eles simplesmente não eram rapazes comuns», «Eram rapazes com problemas psicológicos sérios».

    No seu diário Harris mostrava toda a sua revolta e seu desejo de ser Deus, enquanto Klebold mostrava grande depressão:

    Harris escreveu certa vez: “Eu sinto-me como Deus, e gostaria que fosse, para que todos estivessem OFICIALMENTE abaixo de mim” Enquanto Klebold escreveu “Eu sou um eus, um deus da tristeza”

    É dito que no dia do ataque Harris usava uma camisola escrita Natural Selection (Selecção Natural) e Klebold uma escrita «Wrath» (Ira/Raiva).

    A socióloga de Princeton, Katherine Newman, co-autora do livro de 2004, “Rampage: The Social Roots of School Shootings”, disse que jovens como Harris e Klebold não eram solitários, eles apenas não eram aceitos pelos garotos que importavam: «Obter atenção ao se tornar notório é melhor do que ser um fracasso».

    Langman, cujo livro traça o perfil de 10 atiradores, incluindo Harris e Klebold, descobriu que nove sofriam de depressão e pensamentos suicidas, uma combinação “potencialmente perigosa”, disse ele. «É difícil impedir um assassinato quando os assassinos não se importam em viver ou morrer. É como tentar deter um homem-bomba».

    Planejamento

    Eric Harris e Dylan Klebold conseguiram o seu arsenal comprando pela internet – duas caçadeiras, uma pistola semi-automática e uma rifle de assalto de 9mm, acharam também na Internet a receita para fabricar as bombas. Um vizinho viu os dois, na segunda-feira, véspera do fuzilamento, partindo garrafas com um taco de basebol. Os cacos seriam usados como estilhaços nas bombas, e o vizinho não desconfiou de nada. Harris escreveu num diário os planos do ataque à escola. Um diagrama mostra como as armas seriam escondidas sob as longas capas de couro preto. Num exemplar do livro de formatura do colégio, Harris decidiu, com palavras escritas sobre as fotos, quem ia morrer e quem seria poupado: “Morto”, “Morrendo” e “Salvo”.

    Até o final da semana pairava no ar a suspeita de que os atiradores tinham contado com a ajuda de cúmplices no ataque. Duvidando de que pudessem carregar sozinhos mais de 30 bombas para dentro do colégio, a polícia investigava outros membros da Máfia da Capa Preta. Entre a invasão da escola, às 11:30 da manhã, e a descoberta dos corpos pela polícia, às 4 da tarde, os cúmplices podem ter deixado o prédio misturados à multidão que conseguiu escapar. A equipe da SWAT ordenava que todos levassem as mãos à cabeça, mas não tinha como separar supostos atacantes de vítimas.

    Centenas de alunos e um professor trancados nas salas, ouviam os tiros e explosões sem saber o que estava acontecendo. Muitos ligaram para casa pelos telemóveis, sussurrando, para pedir socorro. Harris e Klebold acompanhavam tudo pela TV da biblioteca, vendo a transmissão ao vivo do cerco à escola. No final, depois de meia hora de silêncio, a SWAT invadiu a biblioteca e encontrou os corpos dos dois cercados de outros, alguns irreconhecíveis. O sangue era tanto que a polícia divulgou a estimativa de 25 mortos. Só no dia seguinte, desativadas todas as bombas, pôde-se retirar e contar os corpos.

    Mortos e feridos

    Mortos

    1. Rachel Scott, 17 anos, morta com tiros na cabeça, tronco e pernas em um gramado próxima a entrada oeste da escola.
    2. Daniel Rohrbough, 15 anos, morto com um tiro no tórax na escadaria oeste.
    3. Kyle Velasquez, 16 anos, morto por tiros na cabeça e nas costas.
    4. Steven Curnow, 14 anos, morto após receber um tiro no pescoço.
    5. Cassie Bernall, 17 anos, morta por um tiro na cabeça.
    6. Isaiah Shoels, 18 anos, morto com um tiro no peito .
    7. Matthew Kechter, 16 anos, com tiros no peito.
    8. Lauren Townsend, 18 anos, morta por diversos tiros na cabeça, tórax e parte inferior do corpo.
    9. John Tomlin, 16 anos, morto por diversos tiros no pescoço e cabeça.
    10. Kelly Fleming, 16 anos, morta um tiro nas costas.
    11. Daniel Mauser, 15 anos, morto por um tiro no rosto.
    12.Corey DePooter, 17 anos, morto com tiros no pescoço e tórax.
    13. Dave Sanders, 47 anos, morreu de hemorragia após recebeu um tiro no pescoço dentro do corredor sul.

    Feridos

    01. Richard Castaldo, 17 anos, baleado no braço, peito, costas e abdome no gramado perto da entrada oeste.
    02. Sean Graves, 15 anos, baleado nas costas, pé e abdômen na escadaria oeste shot.
    03. Lance Kirklin, 16 anos, baleado na perna, pescoço e maxilar. Também na escadaria oeste.
    04. Michael Johnson, 15 anos, escapou para o gramado, onde recebeu tiros no rosto, braços e pernas.
    05. Mark Taylor, 16 anos, baleado no peito, braços e pernas no gramado.
    06. Anne-Marie Hochhalter, 17 anos, baleada no peito, braços, abdômen, costas e perna esquerda próximo a entrada da cantina.
    07. Brian Anderson, 16 anos, atingido por um pedaço de vidro na entrada oeste após uma explosão.
    08. Patti Nielson, 35 anos, atingida por estilhaços perto da entrada oeste.
    09. Stephanie Munson, 16 anos, recebeu um tiro no tornozelo dentro do corredor ao norte.
    10. Evan Todd, 15 anos, sofreu ferimentos após a mesa em que estava escondido embaixo quebrou no meio.
    11. Patrick Ireland, 17 anos, receber tiros no braço, perna, cabeça e pé.
    12. Daniel Steepleton, 17 anos, baleado na coxa.
    13. Makai Hall, 18 anos, baleado no joelho.
    14. Kacey Ruegsegger, 17 anos, recebeu tiros na mão, braço e ombro.
    15. Lisa Kreutz, 18 anos, recebeu tiros nos ombros, mão, braço e coxa.
    16. Valeen Schnurr, 18 anos, recebeu tiros no tórax, braços e abdômen.
    17. Mark Kintgen, 17 anos, recebeu tiros na cabeça e ombro.
    18. Nicole Nowlen, 16 anos, baleada no abdômen.
    19. Jeanna Park, 18 anos, baleada no joelho, ombro e pé.
    20. Jennifer Doyle, 17 anos, recebeu tiros na mão, perna e ombro.
    21. Austin Eubanks, 17 anos, recebeu um tiro na cabeça e no joelho.

    Passado

    Os dois tinham antecedentes criminais. Em janeiro do ano anterior, foram presos depois de arrombar um carro e roubar equipamento eletrônico avaliado em US$ 400. Condenados, tiveram de prestar 45 horas de serviço comunitário e fazer um tratamento psicológico destinado a pessoas que cometem infrações menores. No mês anterior ao crime completaram com sucesso o programa de recuperação.

    No ano letivo de 1997-98, houve 42 homicídios em escolas americanas. O pior, até então, havia acontecido em março de 1998, quando dois meninos de 11 e 13 anos mataram quatro colegas e uma professora numa escola do Arkansas. Nos anos 1980, as escolas das grandes cidades, Nova York, Los Angeles e Chicago, eram campo de batalha de gangues. Nos anos 1990, a violência migrou para subúrbios ricos e pequenas cidades rurais, e os matadores passaram a ser meninos solitários e desequilibrados. “Eu não tinha outra saída”, explicou o adolescente de 16 anos que em outubro de 1997, no Mississippi, matou a mãe em casa e depois, na escola, fuzilou dois colegas e feriu sete.

    Cronologia

    A cronologia do ataque à Columbine High School foi montada a partir de informações captadas pelas câmeras internas da escola, chamadas de emergência e as reportagens locais:

    11:10 Harris e Klebold chegam à escola, e deixam seus carros no estacionamento do refeitório.

    11:14 Deixam mochilas com cerca de nove quilos de explosivos no refeitório.

    11:23 Eles esperam do lado de fora da saída oeste. Então sacam espingardas de caça e armas semi-automáticas e começam a atirar nos alunos. As pessoas começam a correr e um estudante faz a primeira ligação para os serviços de emergência.

    11:24 Os alunos do refeitório percebem o que está acontecendo. Os funcionários tentam removê-los para locais mais seguros. Um carro de polícia chega e atira nos suspeitos.

    11:27 A dupla entra na escola, atirando a esmo.

    11:28 Eles entram na biblioteca, matando 10 e ferindo 12 pessoas em pouco mais de sete minutos. Eles atiram na polícia pela janela em direção ao estacionamento, onde as viaturas se reúnem.

    Durante os próximos 40 minutos, Harris e Klebold percorreram a escola, atirando e deixando explosivos pelo caminho.

    12:06 Minutos antes da equipe da SWAT entrar no prédio, os suspeitos se mataram dentro da biblioteca.

    Como as autoridades não sabiam que os suspeitos estava mortos e como ainda havia explosivos instalados ao redor do prédio, levou-se mais de três horas para que os serviços de emergência chegassem a todos os sobreviventes e encontrassem Harris e Klebold.
     


    Memorial Columbine em homenagem às vitímas do massacre.

    Cinema e televisão

    O filme Diário de Um Adolescente (1995), com Leonardo DiCaprio, também foi lembrado a propósito do ataque na Columbine. Na película, DiCaprio interpreta um jovem drogado de Nova York que jogava basquete num colégio, nos anos 1960, e que num de seus delírios imaginava-se na sala de aula de sua escola vestido com capa preta e matando tudo e todos a seu redor. Suspeita-se de que os assassinos tenham se inspirado no filme quando decidiram usar só trajes pretos.

    O massacre foi tema do documentário Tiros em Columbine (2002), do cineasta Michael Moore, tendo ganhado o Oscar 2003 de melhor documentário.

    Também serviu de inspiração para o filme Elefante (2003), do cineasta Gus Van Sant. O diretor nos mostra possíveis motivações que os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold teriam tido para cometer uma atrocidade como a ocorrida em abril de 1999 no Instituto Columbine, colocando-os na pele dos personagens Alex e Eric.

    Outro filme que teve o Massacre da Columbine como enredo foi Dawn Anna (2005), que é o comovente testemunho do poder do amor e da família perante as dificuldades da vida. Dawn Anna é mãe solteira, luta por encontrar um trabalho como professora para poder sustentar os seus 4 filhos. Quando finalmente consegue esse trabalho como professora e treinadora e inicia uma relação com um homem, subitamente abate-se sobre ela uma debilitante doença. Após uma complicada cirurgia, vê-se forçada a aprender a falar e a andar de novo. Por fim, a desgraça volta a bater-lhe à porta, mas desta vez trata-se de uma tragédia nacional que choca o mundo inteiro (o Massacre da Columbine, que tira a vida de sua filha mais nova). Dawn terá de concentrar toda a sua força interior e o amor da família que criou para conseguir ultrapassar esta inacreditável tragédia e heroicamente continuar com a sua vida.

    Na televisão, temos o episódio,Rampage da série americana Cold Case, que retrata dois jovens insatisfeitos assim como Eric e Dylan, iniciaram um tiroteio num shopping matando 15 pessoas.

    Música

    O massacre serviu de inspiração para a música “Cassie”, escrita por Lacey Mosley da banda Flyleaf, e “This Is Your Time”, do cantor e escritor Michael W. Smith, em homenagem a Cassie Bernall, uma das estudantes assassinadas. Cassie foi morta quando Eric e Dylan a perguntaram se ela acreditava em Deus. Se ela dissesse não, eles poupariam sua vida, mas ela disse sim, mesmo sabendo que seria morta, apesar do que, tal especulação jamais foi confirmada pelo FBI.

    O compositor e tecladista Tuomas Holopainen, da banda de Symphonic Metal Nightwish, fez uma música chamada The Kinslayer baseada no massacre.

    Greg Barnes, sobrevivente do Massacre de Columbine, cometeu súicido em 1999 na garagem de casa ouvindo a música Adams Song. da banda blink 182 que falava sobre um menino escrevendo uma letra de súicidio

    A música People = Shit, do Slipknot, faz uma crítica pesada á sociedade moderna, que valoriza mais a estética humana do que sua própria alma, o que remete consequetemente aos sentimentos e prováveis motivos de Eric e Dylan antes e durante o massacre.

    Extraído de Massacre de Columbine

    Vídeos:

    Tiros em Columbine, de Michael Moore. Oscar 2003 de melhor documentário.

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=jbATTOh-ixM%5D

    Diário de um adolescente, de Scott Kalvert

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=gRGF0GaCVR4%5D

    Elefante, de Gus Van Sant

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=p1JhYUWcfJ8%5D

    Leia mais em: 

    Massacre em Columbine dá origem a dois filmes premiados

    De Columbine a Realengo

  3. Nas últimas semanas, o debate

    Nas últimas semanas, o debate em torno da prisão de José Dirceu se acirrou ainda mais, condenado pelo regime semi-aberto ele continua a cumprir pena no regime fechado. O Caso ganhou repercussão após o ator José De Abreu expressar sua indignação pelo twitter exigindo uma mudança de postura do Partido Dos Trabalhadores.

    A falta de ação do PT diante da arbitrariedade chama a atenção, porém não se pode deixar de enxergar o outro lado. Foi o próprio PT sob o comando de Lula e do próprio José Dirceu que deixou a situação chegar a esse ponto.

    A maioria da atual composição do STF foi indicada pelo atual governo, o atual ministério da Justiça é um vazio jurídico e não houve incentivo a canais alternativos de informação pela SECOM, com exceção da Internet que deu o pontapé inicial de crescimento de usuários no Brasil faça se justiça ao próprio Dirceu na Casa Civil (por isso a mídia tradicional não o perdoa).

    O caso mais emblemático é a opção petista por alianças duvidosas, como incentivar a militância petista a se engajar na defesa de um projeto político e de seu arquiteto na chegada ao poder? Se em muitos estados o PT é obrigado a abrir mão de um protagonismo legítimo para comportar um amplo arco de apoio multipartidário visando maior tempo de TV. 

    Nunca fui contrário as alianças, acho apenas que formar uma base de apoio ao governo é diferente de disputar eleições, a governabilidade petista poderia sim estar muito melhor que o quadro atual seguindo uma lógica de mais candidaturas próprias para dar muita visibilidade ao PT incentivando o voto na legenda dos eleitores apartidários de Lula/ Dilma e sem coligação proporcional com partidos mais conservadores.

    O PT não tem maioria nem para aprovar a convocação do juiz Bruno Ribeiro para depor no Senado, seus aliados não são de confiança e isso explica a acomodação petistas já que as bases estão desmotivadas por causa das escolhas da cúpula nacional.

    Minha experiência pessoal

    Desde 2002 (1ª eleição que votei) tenho votado sempre no PT para presidente, se fosse 20 anos mais velho e votado pela 1ª vez em 1982, imagino que meu 1º voto petista talvez seria mesmo em 2002:

    – Em 1989 escolheria Brizola (não saberia se no 2º turno votaria no Lula ou em branco);

    – Em 1994 seria FHC (nenhuma vergonha de dizer);

    – Em 1998 iria de Ciro Gomes (já que o PMDB impediu Itamar Franco de disputar);

    Como eleitor inexperiente fui influenciado pela “Carta aos Brasileiros”, até votei no Aécio para governador naquela eleição (voto que felizmente nunca mais repeti e nem pretendo votar novamente) muito mais por ter um sobrenome ligado a redemocratização.

    De pragmático fui ficando mais ideológico remando contra a maré, ao contrário do senso comum o que me aproximou do PT foi justamente o escândalo do mensalão, me solidarizei com a perseguição sofrida pelo partido, percebia a manipulação criada para ferir a legenda (mesmo sendo membro da “velha classe média”) e não entendia como uma agremiação que tinha até uma militância burguesa (apelidada por Darcy Ribeiro  “UDN de macacão”) de repente virou a Geni.

    Finalmente encontrei um partido, só não tive ainda coragem de me filiar a ele por causa dessa opção exagerada pelo pragmatismo, em 20 anos o PT sofreu um giro de 180 graus da intrasigência ao vale-tudo da realpolitik. Cândido Vacarezza, André Vargas, etc são símbolos desse “novo PT” igual as demais legendas em muitos aspectos.

  4. Europa arrastada a uma divisão do mundo entre devedores

    A Europa arrastada a uma divisão do mundo entre devedores e credores 
    – as soluções desesperadas dos EUA para não afundarem sós

     

    por GEAB [*]

    Composição de Walter W. Smith.A actual confrontação entre a Rússia e o Ocidente na crise ucraniana recorda inevitavelmente a imagem da guerra fria e os media evidentemente rejubilam com isso. Ora, ao contrário do que eles dão a entender, não é a Rússia que procura o retorno da cortina de ferro mas sim os Estados Unidos. Uma cortina de ferro separando antigas potências e países emergentes, mundo de antes e mundo de depois, devedores e credores. E nesta esperança um tanto louca de preservar o american way of life e a influência dos Estados Unidos sobre o “seu” campo na impossibilidade de poder impô-lo sobre o mundo inteiro. Por outras palavras, afundar com o maior número de companheiros possível para ter a impressão de não afundar. 

    Para os Estados Unidos, este é de facto o jogo actual: arrastar consigo todo o campo ocidental para poder continuar a dominar e a comerciar com um número suficiente de países. Assiste-se assim a uma formidável operação de viragem de opiniões e de líderes na Europa a fim de assegurar governos dóceis e compreensivos em relação ao patrão americano, operação apoiada por uma blitzkrieg para ligá-los definitivamente aoTTIP e para isolá-los do que poderia ser a sua tábua de salvação, ou seja, os BRICS, seus mercados imensos, suas dinâmicas de futuro, sua ligação com os países em vias de desenvolvimento, etc. Analisamos todos estes aspectos neste número do GEAB, assim como a utilização subtil do medo de uma deflação a fim de convencer os europeus a adoptarem os métodos estado-unidenses. 

    À luz da extrema periculosidade dos métodos empregues pelos Estados Unidos, não é preciso dizer que abandonar o navio estado-unidense não seria um acto de traição por parte da Europa mas sim um avanço importante para o mundo como já analisámos longamente em números anteriores do GEAB [1] . Infelizmente os dirigentes europeus mais razoáveis estão completamente paralisados e a melhor estratégia que actualmente ainda são capazes de executar, no melhor dos casos, parece ser uma simples temporização [2] , certamente útil e bem vinda mas dificilmente suficiente… 

    Plano do artigo completo: 
    1. MÁSCARAS ABAIXO 
    2. RÁPIDO, UM TTIP 
    3. UMA ABERRAÇÃO ECONÓMICA 
    4. INSTILAR NA EUROPA O MEDO DA DEFLAÇÃO, A SEGUNDA ARMA DOS EUA 
    5. DEVEDORES CONTRA CREDORES, O MUNDO CORTADO EM DOIS 

    Apresentamos neste comunicado público extractos das partes 1 e 2. 

    MÁSCARAS ABAIXO 

    Na era da Internet e dos casos tipo “-leaks”, guardar um segredo tornou-se difícil para os agentes secretos e para os países com mãos sujas. Além das revelações de Snowden ou da Wikileaks, soube-se recentemente que os Estados Unidos estavam por trás de uma rede social em Cuba que visava desestabilizar o governo [3] . Ou pode-se visionar este vídeo revelado oportunamente no Youtube [4] mostrando os americanos a manobrarem por trás do golpe de Estado na Ucrânia. Ou ainda que aparentemente eles não são inocentes na actual desestabilização de Erdoðan na Turquia [5] , país cuja situação pormenorizaremos no próximo GEAB [6] … As máscaras caem… com provas certeiras que já mais ninguém pode ignorar. 

    Mas os Estados Unidos já não se contentam com países em desenvolvimento ou repúblicas bananeiras… Na Europa, conseguem igualmente dobrar dirigentes uns após os outros, a fim de que sigam docilmente os interesses americanos. Não se trata mais de “O que é bom para a General Motors é bom para a América” como declarava em 1953 Charles Wilson (ex-presidente da GM), mas de “O que é bom para os Estados Unidos é bom para a Europa”. Eles já tinham o apoio de Cameron, Rajoy, Barroso, Ashton… Eles conseguiram obter o da Polónia de Donald Tusk apesar de este ter sido fortemente renitente no princípio do seu mandato [7] , o da Itália graças ao oportuno golpe de Estado de Renzi [8] e o da França de Hollande/Valls graças em particular à remodelação ministerial e a um primeiro-ministro pouco suspeito de anti-americanismo. Ao contrário [do que acontecia] no início do seu mandato quando jogava a carta da independência, no Mali ou em outras frentes, François Hollande agora parece completamente submisso aos Estados Unidos. Que pressões terá sofrido? A Alemanha, por sua vez, ainda resiste um pouco, mas por quanto tempo? [9] Aprofundámos esta reflexão na parte Télescope. 

    A Europa é assim arrastada para os interesses dos EUA. Como veremos, estes não são os seus nem em termos de política, nem de geopolítica, nem de comércio. Enquanto os BRICS escolheram uma via oposta e procuram livrar-se a todo custo da influência doravante profundamente nefasta dos Estados Unidos, a Europa neste momento é o peru da festa. Testemunho disso é, por exemplo, a compra pela Bélgica de 130 mil milhões de dólares de Títulos do Tesouro dos EUA ao longo de três meses, de Outubro 2013 a Janeiro 2014 (último dado disponível [10] ), ou seja, a um ritmo anual superior ao do seu PIB[11] … Certamente não é a própria Bélgica que é responsável por esta aberração, mas é claro que Bruxelas, ou seja, a UE como soldadinho dos EUA. 

    Politicamente a Europa está abafada pelos Estados Unidos que podem saltar de alegria com a ausência de qualquer liderança [europeia]. E o meio de selar definitivamente esta captura americana da Europa chama-se TTIP… 

    RÁPIDO, UM TTIP 

    Já documentámos amplamente: ao contrário dos discursos triunfantes da “retomada” que repousam sobre os preços imobiliário que sobem e da bolsa que está mais alta, a economia real dos EUA está a ganir. A taxa de privação alimentar é mais elevada do que na Grécia. 
     

    As lojas, mesmo as mais baratas, fecham a porta por falta de clientes [12] . Os pedidos de empréstimo imobiliário estão no ponto mais baixo, o que é de mau agouro e prenuncia uma reversão iminente como antecipámos no GEAB nº 81. 

    […] 

    Mas como já havíamos dito, não está aí o essencial. A grande aposta do TTIP é a preservação do dólar nos intercâmbios comerciais e a manutenção da Europa no regaço estado-unidense a fim de evitar que se constitua num bloco Euro-BRICS capaz de contrapor-se aos Estados Unidos. 

    Assim, a crise ucraniana, sob o pretexto da agressividade russa e do abastecimento de gás, é um bom meio, no pânico, de impor a agenda dos Estados Unidos e dos lobbies face a dirigentes europeus demasiado fracos para agir. O que não estava previsto é que o interesse destes lobbies não segue forçosamente o sentido que se crê… 

    […]

    Notas: 
    1. Assim como a China, em particular, ordena-lhe o que fazer por meio dos seus acordos de swap. 
    2. Aguardando as eleições europeias, nomeadamente. 
    3. Fonte: The Guardian , 03/04/2014. 
    4. Fonte: Reuters , 06/02/2014. 
    5. Na sequência da utilização pelos Estados Unidos das redes sociais em Cuba como mencionando anteriormente, não é de espantar que Erdoðan tenha decidido cortar o Twitter na Turquia. Por sua vez, o turco Fethullah Gülen, instigador do movimento Gülen que se opõe ao governo Erdoðan, reside… nos Estados Unidos. Fontes: Aljazeera (13/03/2014), Wikipédia . 
    6. Pequeno parênteses: nossa equipe não pode deixar de pensar que se De Gaulle, tão admirado em França, governasse hoje, ele também seria considerado como um autocrata a derrubar, a exemplo de Erdoðan ou de Putine… Dirigir eficazmente no interesse do seu país parece agora ser considerado como incompatível com a democracia sob a sua forma actual, que deve ser fraca… 
    7. Fonte: Wikipédia . Donald Tusk é agora um fervoroso apoiante do gás de xisto na Polónia e levanta-se contra a Rússia. Fontes: Wall Street Journal (11/03/2014), DnaIndia (05/04/2014). 
    8. Ler também RT , 01/04/2014. 
    9. Fonte: EUObserver , 10/04/2014. 
    10. Fonte: US Treasury . 
    11. Seu excedente comercial de cerca de 1% do PIB terá dificuldade em explicar por si só esta capacidade de compra… 
    12. Ver por exemplo ABCNews , 10/04/2014. 
    Abril/2014
    [*] Global Europe Anticipation Bulletin. 

    O original encontra-se em http://www.leap2020.eu/..

    Este comunicado público encontra-se em http://resistir.info/ .
     

     

    1. Credibilidade do GEAP

      O grupo intitulado Global Europe Anticipation Bulletin tem altos e baixos incríveis, tenho seguido há mais de três anos os boletins gratuítos de divulgação do GEAP, eles simplesmente fazem alguns resumos de fatos políticos e econômicos (baseados em dados reais), mas vendem uma coisa que não é real, os boletins de Antecipação. Em termos de levantamento do passado o que é escrito está sempre bem referenciado e bem estruturado, mas ao que estes senhores propõe é um desatre de previsões. Já previram para 2012 e 2013 a total derrocada do sistema fianceiro internacional, da Comunidade Européia e do Euro. Tinham até datas mágicas (meses em que isto ocorreriam) e em nenhuma dessas datas ocorreu.

      Eu diria que o GEAP são uma espécie de Adventistas do Sétimo Dia da economia mundial, que previram o fim do mundo em algumas oportunidades, o pessoal do GEAP faz o mesmo com a economia.

      Estou colocando este texto, pois eu logo no início até pensei em adquirir o direito de saber as previsões completas do GEAP (custa uma boa grana), pois as descrições do passado dos mesmos sãomuito boas e criteriosas, mas em termos de ANTECIPAÇÃO, como eles propõe são nulas, logo aviso aos incautos, podem ler com atenção o que eles escrevem, porque não é bobagem, mas se estiverem pensando em ANTECIPAÇÕES, esqueçam!

  5. Resposta ao Primo..
    De Pinga RESPOSTA AO PRIMO CHICO É o Pré-sal Chico.. http://tijolaco.com.br/blog/?p=16812 http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2014/02/06/refinaria-abreu-e-lima-tera-capacidade-de-processar-230-mil-barris-por-dia/ Vc é um cara inteligente e tá sem visão… tá olhando por baixo, não tá enxergando por cima.. Os de sempre estão de olho em nosso petróleo meu velho.. Na Petrobras tem ladrão, no PT tem ladrão, no Brasil inteiro tem ladrão.. nossa cultura e sociedade…nossa justiça, políticos e elite… empresarial, financeira e midiática… ataram nossas mãos… Tá dominado, Tá tudo dominado! No congresso o PMDB… TCU, TSE, STJ, STF…donos da “Notícia” … imagina as instâncias estaduais…  Lula incomodou muita gente, mexeu em muito vespeiro… pena que o brasileiro é preconceituoso..   nós da classe média nos incomodamos com o aeroporto cheio sim.. eu me incomodo! Foi essa elite escrota quem moldou nossa vida/sistema,  nossa forma de fazer política, de modo que tudo funcione em benefício de meia dúzia.. a vida inteira… Com certeza no PT tem ladrão! alguns estão inclusive julgados e presos! Porém, os demais partidos que sustentam essa elite (índices internacionais mostram que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, vc sabe disso desde que nasceu!) a décadas, junto com esse sistema político e Judiciário fajutos, fazem de tudo pra tocar terror e não permitir que esses privilégios acabem.. Já viu alguém da direita, empreiteiro, banqueiro preso? Já viu algum político do DEM, PSDB preso? Eu já vi no jornal nacional arruda sendo filmado recebendo dinheiro, daniel dantas subornando policial e gilmar mendes dar dois habeas-corpus em uma semana… olha o caso do metro de SP! Bilhões! Alôoo!! joaquim barbosa?! Vc acredita mesmo, de verdade, que aécio neves é mais sério do que Dilma? Acredita também que o entorno dele tá de boa intenção com o nosso Povo? Com eu e vc? Você também é contra que se envie médicos, seja daqui, seja do estrangeiro, pra atender quem nunca viu um, no sertão, nos cafundós? Acha que, enfraquecendo a Petrobras, ela privatizada, uma Chevron, Shell, da vida, ia tá construindo refinaria no nordeste? Apesar de tudo e de todos, tá saindo meu velho, to aqui vendo… dentro dela.. Apesar de tudo… Continuo otimista!E vejo no PT, alguns, com vontade de melhorar o país…  Beijo grande, fica com Deus! Pinga.      
    Pinga, 

    Você que é um Petista vermelho, o que você ta achando desses vagabundos metendo a mão na Petrobras, e essa corja não querendo fazer CPI, enrolando protelando, velho to com uma raiva desses nossos políticos que vc não imagina. Escândalo em Pasadena, Suape, é muita mafiagem.

    A copa chegando e esses aeroportos tudo mal acabado, mobilidade fudida, tudo uma merda e olhe que o dinheiro liberado dava pra fazer tudo.

    Agora, e esse vargas, metendo a mão na saúde, vai renunciar, sair imune e não vai dar nada.

    A polícia federal e o ministério público, até que se esforçam, mas a bandidagem da justiça não resolve porra nenhuma.

    o que você acha disso. ainda tem esperança???

    Abraços
     

     

    1. Feliz Páscoa!

      Ao Assis, ao Nassif e equipe e, também a todos os colegas do Blog, feliz Páscoa! Como sempre, nessas ocasiões, o Assis é o primeiro a se manifestar!  Que seu significativo post  seja elevado para as manifestações dos demais! 

       

  6. ‘Ninguém chuta cachorro morto’

    A Casa Branca está por trás do choque especulativo da Standart And Poor’s contra o governo Dilma.

    Cesar Fonseca | 04/04/2014

    O Brasil incomoda por que vai bem, obrigado, num mundo em crise.

    O que se pode deduzir das palavras bastante diplomáticas proferidas pelo consultor e jornalista Paulo Sotero (foto), diretor do Brazil Institute of the Woodrow Wilson International Center for Scholars, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na quinta feira, 04, é que, como diria o Barão de Itararé, há muita coisa no ar além dos aviões de carreira.

    Sotero, ex-correspondente do jornal O Estado de São Paulo, em Washington, um especialista formado em história, pela USP, profissional experimentado, destacou que são grandes as insatisfações da comunidade econômica e financeira americana com a situação criada pela suspensão da visita da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos, no segundo semestre do ano passado, devido ao episódio Snowden.

    A espionagem americana, da NSA, bisbiblotou a vida da titular do Planalto, assim como a de diversos outros mandatários pelo mundo afora, e teve o troco inusitado na reação dilmista, que serviu de base para o comportamento geral dos líderes políticos, de reagiram para além dos métodos sofisticados da diplomacia.

    Ângela Merkel, líder alemã, chiou.

    Francois Hollandé, lider francês, idem.

    A comunidade europeia reagiu forte.

    Dilma, na verdade, fez escola.

    Marcou ponto político importante, sendo a primeira a mostrar-se enérgica com os métodos fascistas de Tio Sam, na área da inteligência.

    A ONU vocalizou favoravelmente a atitude da presidenta brasileira.

    Não, apenas, suspendeu a visita oficial que faria a Obama, quando estava previsto lançamento de marco importante nas relações dos dois países, colocando elas num novo patamar de prioridades, de acordo com os mais altos interesses norte-americanos, no continente sul-americano, tendo o Brasil como alavanca continental, na linha de torná-lo ponto de equilíbrio em meio às tensões políticas nacionalistas que se ampliaram na América do Sul, nos últimos dez anos etc.

    O que deixou a Casa Branca abalada foi que logo após a suspensão da visita, Dilma anunciou a compra de aviões da Suécia, deixando virar fumaça as esperanças dos americanos de se tornarem clientes do Brasil, nessa área.

    Daí em diante azedou tudo.

    Os empresários americanos, afirmou Sotero, perderam negócios da ordem de 6 bilhões de dólares, no Brasil, desde a decisão dilmista.

    Os canais de entendimento comercial, embora independam, muitas vezes, das relações político-diplomáticas, relacionando-se, quase sempre, nas vantagens das ofertas e demandas dos compradores e vendedores, tiveram seus fluxos, relativamente, abalados.

    No ano passado, destacou Sotero, os americanos movimentaram, no Brasil, 135 bilhões de dólares, entre aplicações, investimentos etc.

    A balança comercial pendeu favoravelmente  para os americanos em 7 bilhões de dólares.

    Sendo os gringos adeptos, antes de tudo, da diplomacia comercial – o negócio dos Estados Unidos são os negócios, já disse alguém -, certamente, pressionaram Obama.

    O presidente americano, sob pressão, resolveu, da boca para fora, trabalhar diferente na área da inteligência, especialmente, com os aliados, dizendo que iria fazer e desfazer equívocos, como se isso fosse para valer.

    As tentativas de reaproximação diplomática estão em curso e os negócios avançam, mas cheios de constrangimentos de lado a lado, porque a soberba e a arrogância do império americano o impediram de atender o pedido de desculpas solicitado pelo governo brasileiro.

    O bate-boca, claro, vai continuar.

    Mas, Sotero, no meio da sua argumentação, disse que, depois do choque Dilma-Obama, começou a engrossar uma onda contra a economia brasileira, ganhando força o que o mercado financeiro diz, sem parar, ou seja, que a confiança dele, no governo Dilma, estava perdendo força.

    No rastro dessa ação, nitidamente, especulativa, o desgaste aumentou, por força, principalmente, da grande mídia, que compra, a preços superfaturados, as razões do mercado especulador, transformando no samba de uma nota só.

    Sotero, muito sutilmente, admitiu não descartar que o rebaixamento da nota de crédito da dívida brasileira, pela Standart and Poor’ , colocando o governo Dilma mal na cena internacional, não estaria desvinculada desse movimento de descrédito intensificado, depois que Dilma deu um chega prá lá em Obama por conta dos casos de espionagem.

    Essa possibilidade está no ar, especialmente, quando se pode ver e sentir o tipo de ação que o governo americano, por meio da sua diplomacia comercial, promoveu contra o governo brasileiro, em 1964, cujas metas eram reformas políticas e econômicas  que ampliavam o poder político das maiorias e o fortalecimento da economia, tornando-a sustentável.

    Materializadas, causariam incômodos à economia dos Estados Unidos.

    O nacionalismo dilmista-lulista guarda relação com o nacionalismo janguista-varguista, de apostar nas riquezas nacionais, no mercado interno, na valorização dos salários, na proteção das empresas brasileiras, no fortalecimento de programas sociais etc, ou seja, tudo que incomoda os Estados Unidos.

    JK-65, isto é, a campanha eleitoral, já estava na rua, às vésperas do golpe militar, e a dinâmica da campanha juscelinista ancorava-se no prosseguimento do desenvolvimentismo nacionalista.

    A aposta era a de uma nova agricultura, para ampliar a integração econômica nacional, ampliando o mercado interno e buscando conquistar o mercado internacional, onde os produtos agrícolas americanos davam as cartas.

    Mesmo Carlos Lacerda, que jogou pelo golpe-64, já em 1966, partiria para a formação da Frente Ampla, com Jango e JK, no exílio, levantando o argumento semelhante ao que Lula brandiria, na crise de 2007/08, ou seja, o da necessidade de o Brasil apostar nas suas próprias forças, na valorização dos salários e do mercado interno, para promover o desenvolvimento sustentável.

    Esse discurso, que ganhou sonoridade extraordinária na América do Sul, nas duas últimas décadas, com emergência de governos nacionalistas, foi o que levou Washington a financiar, nos anos 1960-70,  golpes políticos e militares, nos rastros dos quais foram preparadas estradas para os interesses econômicos americanos transitarem sem serem incomodados pela opinião pública, barrada pela repressão política policial tenebrosa.   

    Repetindo, portanto, o Barão de Itararé, por trás da avalanche de acusações ao governo Dilma, os fatos latentes demonstram ser muito mais relevantes do que os meramente aparentes, manipulados pela grande mídia, porta-voz dos argumentos dos especuladores, no ambiente da financeirização econômica especulativa que tomou conta da economia global, abalada pela bancarrota americana e europeia.

    Dilma, sim, virou pedra no sapato de Obama, de Washington, dos falcões do Pentágono, do mercado financeiro especulativo, que, mesmo dispondo de um juro mais alto do mundo, não se mostra satisfeito, querendo mais, agora, a cabeça dela, com medo de que, num eventual segundo mandato, se transforme num Hugo Chavez de saia.

    O jogo é parar a economia brasileira, que, no entanto, cresce, embora, pouco, mas cresce, enquanto as economias ricas, como demonstrou o relatório do FMI, nessa semana, estão ameaçadas de morte pela escalada da deflação.

    O Brasil incomoda por que vai bem, obrigado, num mundo em crise.

    Ninguém chuta cachorro morto.

    http://independenciasulamericana.com.br/2014/04/choque-dilma-obama-produziu-acao-da-sp/

  7. É governista mas não é

    É governista mas não é cego.

    ‘Desembrulhar o pacote de 2015 não vai ser fácil’, diz Belluzzo
     

    Para o economista que já foi conselheiro do ex-presidente Lula, a política fiscal caminha num corredor estreito, mas o cenário para os investimentos é promissor
     

    Mesmo sendo um economista “menos crítico ao governo”, como ele mesmo diz, Luiz Gonzaga Belluzzo acredita que é importante realinhar a rota do governo: “é preciso dar mais peso ao investimento do que ao consumo e elevar a meta de superávit primário”, diz.

    Na sua avaliação, outra tarefa prioritária é se dedicar à solução de problemas estruturais, como a indexação, que faz a inflação persistir, e o baixo crescimento. Entre as estratégias que defende está o fortalecimento da Petrobrás, que pode contribuir com a reindustrialização, e a permanência da política de campeões nacionais. “Você não pode entrar na competição global com uma carroça e concorrer com os caras que estão em carros de Fórmula 1”, disse na entrevista que segue.

    Como o senhor está vendo a economia?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Eu vejo a economia brasileira eivada de contradições e, às vezes de aporias – contradições que não se resolvem. Hoje o Brasil tem dificuldade para lidar com o regime de metas e para colocar a inflação na meta. Ouço muita gente dizer: vamos fazer uma recessão e colocar a inflação na meta. Pensar isso é ótimo, mas você vai ter que enfrentar as consequências políticas.

    Os economistas em geral navegam numa abstração em que o homem real e concreto não é levado em consideração – é como se dissessem, se você vai se estrepar o problema é seu. É difícil explicar alguns problemas na linguagem dos economistas. Por que coloco a inflação em primeiro lugar? Porque esse é o tema que no momento mais suscita debates, mas a questão vai além. Se você olhar ao longo do tempo fica muito claro que, desde a estabilização, a inflação está, na média, em 5,7%. É uma situação peculiar. Recentemente, isso chamou a atenção de um economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) chamado Shaun Roache. Ele escreveu sobre essa persistência da inflação.

    Falei sobre isso em um artigo na Carta Capital. Roache fez uma análise econométrica muito sofisticada para identificar essa persistência. A sua conclusão é: não há certeza se essa situação se deve ao fato de a indexação ainda sobreviver na economia ou se o problema decorre da reação do Banco Central, que, na expectativa dos agentes, é inadequada. No fundo, há um conflito entre o passado e o presente na política de metas. A política de metas não considera que as pessoas olham para o passado. Mas os agentes olham o passado – olham a indexação. Está correto olhar para frente, mas isso não permite que você elimine a indexação.

    Quando a gente fala isso, as pessoas ficam nervosas porque, para muitos os agentes, os formadores de preços, olham apenas para as condições futuras – quando na verdade não é bem assim. Os salários, por exemplo, estão indexados e, por isso, permitem que qualquer choque de preço passe adiante. Eu costumo usar o exemplo do tomate. O choque de preço do tomate passa para o salário, para o transporte, para a educação. Dentro a indexação dentro da Facamp (Faculdades de Campinas, instituição da qual Belluzzo é sócio e professor).

    Sofremos, por exemplo, a indexação das tarifas públicas. Falava sobre isso ontem com João Manuel (economista João Manuel Cardoso de Mello, também sócio e professor da Facamp). A segunda questão é o crescimento. Outra vez: se olharmos uma base longa, perceberemos que o Brasil vem tendo problemas para crescer. A partir dos anos 80, sofreu uma crise bastante importante que teve efeitos de longo prazo e estruturais. São 30 anos desde então. Primeiro, houve a década perdida.

    Eu, infelizmente, fui para o governo depois da crise da dívida externa. A situação era incontrolável. O financiamento organizado pelo comitê dos bancos (Comitê Assessor dos Bancos, representante dos credores) e pelo do Fundo Monetário Internacional nos mantinha com a água aqui no queixo. Havia a tensão sempre presente do estrangulamento cambial, que obrigava a desvalorização do câmbio. Houve vários choques na tentativa de se conter a inflação.

    A economia teve um comportamento errático e o crescimento, na média, foi muito baixo. Depois da estabilização, tivemos problemas de política fiscal, monetária e cambial. A estabilização foi feita com a âncora cambial. Se você pegar a taxa média de juros da economia, a Selic, do período verá que ela foi de 22% real ao ano. Houve momentos de grande tensão, por causa das crises. Fernando Henrique Cardoso pegou a crise mexicana, a crise asiática, a Russa – e a política econômica imaginada não era adequada para o momento porque supunha que os ganhos de competitividade viriam de uma valorização cambial que forçava os empresários a tomar providências. Isso é pelo menos duvidoso.

    Nenhum país em desenvolvimento fez isso. É muito fácil dizer que o governo de Fernando Henrique foi de baixo crescimento – de 2,3%, 2,4% na média –, mas houve as crises. O governo Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) teve a seu favor uma melhora sensível das condições internacionais por conta da China. O preço das commodities abriu espaço para que ele fizesse as políticas corretas, sociais, com distribuição de renda. Isso foi inédita no período. A exceção de alguns emergentes, o movimento foi o contrário.

    O mundo aumentou a desigualdade. Não que se tenha feito aqui uma nova classe média – fico nervoso quando ouço isso. Mas foi feito um avanço social importante, que teve repercussões até na forma de crescimento da economia. Entre 2004 e 2008, 2010, a taxa de crescimento foi mais elevada. Mas houve uma espécie de deslocamento da economia brasileira em relação ao que está acontecendo na economia internacional. Não conseguimos nos aproximar, nos articular, nas chamadas cadeias globais de valor. As mudanças no mundo nesses últimos anos foram muito profundas.

    É essencial entender alguns fenômenos. Uma deles foi a mudança da manufatura para a Ásia. Criou-se um cluster asiático, principalmente com a China e suas relações com países asiáticos. A China tem a liderança na produção de várias manufaturas. Ocorreu uma reconfiguração da setor manufatureiro em escala global. Você produz na China, mas as empresas que estão capturando os ganhos não estão lá. Veja o caso da Foxconn, que produz o iPad para a Apple. Ela produz um iPad por US$ 150 na Ásia, mas nos EUA ele é vendido por US$ 500.

    A Apple não produz quase nada nos Estados Unidos. O Brasil ficou fora dessa reconfiguração. Não avançamos na mesma direção que a industria global – tanto do ponto de vista da organização empresarial, quanto dos setores. Até o início da crise da dívida, diria que estávamos par e passo com o resto do mundo. Até o final dos anos 60, mais ainda. Se olharmos as taxas de crescimento e a diversificação da indústria brasileira, vamos perceber que estávamos bem ali, colados no que era a última palavra em indústria. Não é mais assim.

    Por que falei de inflação e depois de crescimento? Porque há uma relação entre as duas questões – e essa é uma questão que vai estar presente nos próximos anos. Vários aspectos dessa recuperação tem relação com a condução da política anti-inflacionária. Temos ai um problema. É impossível recuperar – ou pelo menos buscar alguns nichos industriais – sem uma política cambial compatível com essa reindustrialização. Eu espero que ninguém esteja lendo minha entrevista tente o suicídio. O que estamos vendo agora?

    O Banco Central fazendo um esforço enorme para impedir que a inflação avance. Para isso, está admitindo uma certa valorização do câmbio. As vezes noto, com surpresa, as pessoas dizerem que é ótimo o câmbio estar se valorizando. É ótimo no curto prazo, mas no longo é muito ruim porque afeta a indústria brasileira. Muitas indústrias se transformaram em importadoras. Muitas empresas praticamente fecharam as linhas de produção. Para a empresa, nenhum problema. Ela continua ganhando dinheiro importando. Mas isso pode nos custar muito no futuro. Vamos retomar a questão do crescimento.

    No segundo governo Lula, as taxas de crescimento foram maiores também porque a política econômica foi compatível e tivemos o benefício da melhoria dos termos de intercâmbio e o bom comportamento da balança comercial. O déficit em transações correntes era muito pequeno, perfeitamente financiável. Quando os agentes do mercado internacional viram o comportamento das commodities, correram para os países que eram produtores de commodities. Não só para nós. Foram também para Rússia, para Austrália. Os capitais entraram generosamente – tanto que acumulamos US$ 375 bilhões de reservas. Foi o grande benefício desse período. Nunca tivemos reservas tão elevadas, nem em proporção do PIB.

    A política do salário mínimo e a política social trouxeram um contingente importante de brasileiros para o mercado de consumo. Também ai houve um fator chinês. O preço das manufaturas despencou e o câmbio facilitou a aquisição de bens duráveis. Foi possível nesse momento, incorporar uma fração importante ao mercado de consumo e ao mercado de crédito. Nesse ponto vem a história da perda de dinamismo econômico.

    Houve um momento, logo depois da crise, em 2009, em que o governo tomou as medidas de restauração do crédito, a compra de carteiras, a mobilização do fundo garantidor do crédito – tudo isso porque o Brasil sofreu um contágio em 2009. O PIB caiu 0,3%, mas todo mundo, de repente, cortou os programas de investimento. Os empresários ficaram apavorados. Não se sabia a dimensão da crise. O governo foi muito feliz ao reestimular o consumo. Mas houve neste ponto, na minha opinião, um hiato, uma demora em perceber que o ciclo de consumo tem suas limitações – tanto pelo lado do crédito, quanto pelo lado da natureza do bem. A não ser famílias, como dizem os franceses, nanti (abastadas em francês), ninguém compra três carros, três geladeiras. Há também o peso da dívida sobre a renda disponível.

    O nível de renda aqui das classe mais baixas é bem diferente da dos Estados Unidos ou da Espanha. Logo se atinge um limite. Houve uma demora em coordenar a transição para os investimentos, principalmente em infraestrutura. Ao mesmo tempo, ocorreu algo muito delicado de se tratar: uma crise de confiança, que teve impacto sobre a decisão de investimento dos empresários e afetou muito a disposição dos bancos em conceder crédito. No último ano, quase 100% do crédito veio de bancos públicos. Os bancos privados se retraíram um pouco.

    Desde o Getúlio Vargas até o regime militar, a relação entre Estado e setor privado, por razões históricas, que não cabe tratar aqui, sempre ocorreu entre tapas e beijos. Eu lembro que ainda em pleno segundo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento dos anos 70), escreveram o Documento dos Oito (assinado por empresários do setor de bens de capital para romper a aliança do setor e o governo). Eu ajudei a escrevê-lo. Ele trazia a ambiguidade dessa relação, que tem momentos de auge, de satisfação, e momentos de desconfiança mútua. É normal.

    No momento, por diversas razões, há baixa confiança. Há uma dependência muito grande da opinião do setor financeiro. Eles tem um peso enorme. E não por acaso, porque eles vivem de confiança. Vou fazer uma reflexão. As avaliações são muito voláteis nessa área. Seria bom que os economistas relessem a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber, para ver como ele desloca a crença para o crédito.

    Crédito vem do latim credere, crença. A questão da confiança é importante e não é calculável. Lá na China, o Estado tem o comando da economia e autonomia para tomar decisões. Mas aqui no Brasil, o Estado não tem essa autonomia. Tem a restrição de ter de fazer o jogo de convencimento para virar as expectativas do mercado ao seu favor. Não adianta querer subir na parede contra isso porque sempre foi assim. E pesa ainda o fato de o Brasil não ter uma classe empresarial parecida com a americana e com a inglesa. Aqui você precisa lidar com o problema de uma economia que não inova, que precisa de incentivo do Estado. A construção desse espaço de confiança é importante.

    Esse é um desafio para o nosso crescimento. O desafio para 2015 é esse mesmo que todo mundo fala: é preciso dar mais peso ao investimento do que ao consumo.

    Os críticos dizem que o governo Dilma cometeu um erro de diagnóstico: fez uma aposta errada em mais consumo, quando deveria apostar em mais oferta e que isso levou a mais inflação e pouco crescimento.

    Luiz Gonzaga Belluzzo- É bom você perguntar, porque acho essa análise um tanto simplista. Eu não sou tão crítico do governo assim, mas eu falei isso antes de muita gente. Falei porque, a despeito das minhas relações afetivas com pessoas do governo, eu não vou me comportar como se fosse um porta-voz. Eu não sou um porta-voz deles. Graças a Deus, consegui sobreviver com uma certa independência.

    É correto o que está sendo dito do ponto de vista da demora do governo para perceber a mudança. Escrevi um artigo sobre isso dizendo que não era para fazer mais do mesmo. O governo deveria ter preparado os programas de investimento em infraestrutura. Demorou muito. Além disso, houve um descompasso também em relação à Petrobrás, que tem um peso importante no aumento do investimento – ela tem uma participação na formação de capital e, mais que isso, um horizonte pela frente com o pré-sal.

    A política em relação à Petrobrás também prejudicou o setor de etanol. Foi um pena, um descuido. A ideia original era desenvolver ao mesmo tempo o pré-sal e as energias renováveis. O Brasil com a cana tem vantagens em relação ao milho dos Estados Unidos, no entanto, pecamos nesse ponto que faria uma enorme diferença para o País.

    Vai ser preciso reestruturar o setor, criar uma nova política de estímulo porque não dá para continuar com esse preço que está ai. Enfim, houve um descompasso. Eu também fiquei preocupado ao ver a ideia de que era preciso tabelar a taxa interna de torno da economia. Eu falei, várias vezes que isso não dava. O Guido (Guido Mantega, ministro da Fazenda) chegou a ficar chateado comigo, mas depois admitiu que eu tinha razão.

    Enfim, atrasou e não foi favorável à conquista da confiança dos empresários. A demora foi corrigida e as coisas começaram a andar. A Petrobrás agora também começa a se recuperar. Temos que olhar para frente. Apesar de tudo, o Brasil tem um horizonte de investimento – coisa que não ocorre em muitos países. Do ponto de vista do longo prazo, é preciso explorar nichos para a reindustrialização. O que a Petrobrás demanda, por exemplo, de equipamentos e serviços são coisas muitas sofisticadas.

    Não estamos vendo, mas muitas empresas estão fazendo joint ventures para atuar no setor de petróleo e gás e também no de infraestrutura. O Brasil conta com esses dois marcos, infraestrutura e Petrobrás, e se você me perguntar o que vejo quando olho para frente, vou dizer que o Brasil tem horizonte favorável. Diferentemente de outras pessoas, não creio que a China vá desacelerar. Achei engraçado que um jornal publicou que a china tinha desacelerado de 7,5% para 7,4%. O Estado atua sobre o crescimento da China e ele não vai ficar abaixo disso.

    A demanda por commodities agrícolas e minerais vai se manter. Concordo com o presidente do Centro de Estudos Internacionais da Academia de Ciências que a China é outro arranjo entre Estado e setor privado. Lá o setor privado é muito maior. Há uma articulação maior entre privados e empresas estatais. O sistema de gestão da economia é muito eficaz. Mas, apesar de tudo isso, eu acho que o pacote de 2015 não vai ser fácil de desembrulhar – você vai encontrar coisas boas e coisas ruins.

    Na hora que o pacote for desembrulhado, há um primeiro problema a atacar?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- A política econômica vai ter de caminhar em um corredor muito estreito. Eu disse outro dia que a economia brasileira está metida numa camisa de 11 varas – é uma expressão velha, da minha avó, mas define. Seria muito ruim se tivéssemos uma perda do controle da inflação – até pelas razões que eu mencionei. Muito rapidamente o vício da indexação pode ser retomado porque ainda não conseguimos debelá-lo.

    Também é preciso considerar que o Brasil tem problema para administrar a inflação quando boa parte do mundo ruma para a deflação. A Europa está com deflação. O Japão não conseguiu se livrar do risco. Os Estados Unidos também está numa situação de baixo crescimento, com mercado de trabalho sem dinamismo. Há uma proporção muito alta de jovens desempregados.

    Os republicanos dizem que estão preocupados com a inflação nos Estados Unidos. Não sei por qual razão. Como diria Keynes (economista inglês John Maynard Keynes), só estando num hospício para não ter deflação. Se você não tem crédito, não tem estímulo, não tem mercado de trabalho, como ter inflação? Até na China o cenário é de deflação.

    A tendência quando se tem sobrecapacidade é ter deflação. O Brasil está na outra ponta. Tem tendência à persistência da inflação. Isso obriga o governo a ser muito cauteloso, principalmente com o ajuste do câmbio. Eu tenho lido no jornal o comportamento da balança comercial. A economia está com baixo crescimento, mas as importações crescem. Isso tem relação com preços relativos, não com o nível de absorção doméstica. Isso quer dizer: o câmbio está fora do lugar. Isso não ajuda em nada o processo de reindustrialização – ainda que a gente tenha essa perspectiva de investimento da infraestrutura e do investimento da Petrobrás.

    É claro que é possível subsidiar com políticas domésticas. Vou discutir um pouco essa questão das encomendas das Petrobrás e da compra no mercado doméstico. Eu vejo que há uma discussão muito grande dos economistas sobre isso – que a Petrobrás compra mais caro. É verdade, porém, não se pode ter duas coisas ao mesmo tempo.

    Ou você tenta recuperar a indústria nacional com essa política de compras – que está correta – ou acelera os investimentos da empresa e libera a empresa de comprar no mercado doméstico, perdendo uma oportunidade para recompor uma parte do setor industrial, como o metal mecânico e o de informática, entre outros. É claro que ai há outro conflito – o do câmbio com a inflação, o da política de investimento e com a política econômica. E não adianta fazer protecionismo a antiga.

    Aliás, um comentário: lendo o artigo de um rapaz em O Globo outro dia, que falava dos pudores desenvolvimentistas da Unicamp (Universidade de Campinas), eu perguntei para o João Manual: João, nós somos desenvolvimentistas? Essa é uma palavra vaga. Na verdade, nos tentamos entender como funciona o capitalismo brasileiro em suas várias etapas e momentos. Não somos desenvolvimentistas. Somos outra coisa. Para vocês saberem: o desenvolvimentismo é algo muito datado. Vem dos anos 30 e vai até os anos 70.

    Os militares deram sequência ao desenvolvimentismo nos anos do milagre. A preparação foi feita por Roberto Campos (economista e ex-ministro do Planejamento). Campos era como Monsieur Jourdain (personagem central da peça “O Burguês Fidalgo”, do francês Molière, que deseja se tornar aristocrata). Era um desenvolvimentista sem saber, assim como Jourdain fazia prosa sem saber. Roberto era uma figura admirável porque falava uma coisa e fazia outra. Na verdade, reestruturou todo o sistema de empresas estatais, recompôs as tarifas, na reforma feita logo depois da revolução.

    A gente não pode cometer o erro de fazer esse anacronismo em relação ao desenvolvimentismo. Voltando à contradição, ao problema do câmbio com a inflação. Hoje, muitos componentes são importados. Se você mexe no câmbio, o efeito sobre os preços e sobre a inflação é instantâneo. Na veia. O Banco Central está entendendo isso. É preciso conduzir isso com muito cuidado.

    Mas como se combate a inflação com esses limites? Os críticos do governo dizem que boa parte da inflação veio do aumento dos gastos públicos e de uma redução dos juros que teria sido forçada…

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Essa questão do gasto público, no fundo, tem relação com a questão da confiança. Eu não imagino que estejam falando, neste momento, que a inflação surge porque o gasto público está produzindo excesso de demanda. Acho que tem relação com o comportamento das dívidas. Pela necessidade de o governo produzir um superávit primário que garanta a estabilização da dívida – e da dívida bruta, porque a líquida, francamente, está muito baixa, pelas razões que nós conhecemos.

    Quando o câmbio é desvalorizado, a dívida líquida cai por um efeito meramente contábil. Para mim, seria muito mais razoável se o governo, nesse momento, fizesse um esforço fiscal maior. Eu já disse isso: colocaria menos peso sobre a política monetária. Como eu já disse, a questão da confiança está metida no meio da economia. A despeito de toda a oposição de economistas que pensam como eu e têm certa resistência em aceitar isso, acho que é um sacrifício necessário ter um superávit fiscal maior.

    Por que a resistência?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Não vale a pena falar. Às vezes é um keynesianismo de pé quebrado. Não quero criticar meus amigos, mas, do meu ponto de vista, é crucial para o governo dar esse sinal para o mercado – vai ganhar pontos e ter mais espaços para fazer um política menos apertado. Esse ganho de confiança teria um impacto sobre a inflação. A pior solução seria manter a taxa de juros nas nuvens e elevar o câmbio para combater a inflação.

    O Banco Central, acho, está sendo cauteloso para usar esses instrumentos. Seria o caminho mais adequado do meu ponto de vista. Vai ser positivo se combinar o avanço dos investimentos em infraestrutura com os da Petrobrás – que, apesar de toda essa confusão, está indo bem melhor. Ela está batendo recordes seguidos de produção. Projeta 4,2 milhões de barris para 2020. Aliás, quero fazer um parênteses: é inaceitável o que aconteceu na Petrobrás. Uma coisa dessa não pode ser.

    O sr. está falando de Pasadena?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Sim. No mínimo, para você ser gentil, houve um erro de avaliação. Não sou promotor público e não quero ser – apesar de meu pai ter tentado fazer com que eu fosse. Agora, outra coisa é dizer que a Petrobrás vai quebrar. Isso não tem pé nem cabeça.

    A Petrobrás teve R$ 23 bilhões de lucros no ano passado. Tem um estoque de reservas a ser exploradas. Ela tem um problema de alavancagem, sim. Deve ter um problema de caixa, sim. Mas não vai quebrar. Mas, enfim, como eu estava dizendo, é preciso que o governo tenha esse ganho na área fiscal. Vai abrir espaço para que tenha uma política monetária menos dura. Nós já vimos esse filme. As pessoas esquecem o passado. A taxa de juros a 19% e a inflação a 5,5%. Ou não teve esse momento? Teve. O Armínio (Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central) mudou a meta da taxa de juros quando teve um choque. Ele mudou para 8%, com intervalo de 2 pontos porcentuais. Vocês não lembram disso?

    Mas o senhor acha que seria o momento de fazer algo parecido?

    Luiz Gonzaga Belluzzo-Não. Estou dizendo que, na verdade, as apreciações são muito diferentes

    Pergunto porque algumas pessoas chegaram a falar em mudar a meta.

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Não acho que seja o caso. O próprio regime permite que o prazo para colocar a inflação na meta seja estendido. Isso está no modelo.

    Mas ainda há uma inflação represada…

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Sim. Eu ia falar disso – e quanto mais você demorar para ajustar isso, vai ser pior.

    Qual o tamanho do superávit necessário?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Acho que caminhar para 3% seria mais confortável.

    O senhor não está dentro do governo, mas onde seria mais fácil cortar para administrar esse superávit?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Quem está no governo sabe que há coisas no orçamento que podem ser cortadas – só não pode cortar o investimento, que já é baixo. Se eu fosse examinar o orçamento, em detalhe, poderia suspender vários contratos. Há emendas parlamentares também que, mesmo com as dificuldades políticas, podem ser adiadas porque não são urgentes. Há espaço para fazer cortes.

    Se a economia não cresce, fica mais difícil gerar o superávit. Se a economia tem recessão, você não consegue vencer a tendência ao déficit. Como dizia um bom keynesiano, o Joseph Stiglitz (economista americano, prêmio Nobel em 2001), o déficit e o superávit são endógenos: você pode determinar quanto você pode gastar, mas não pode determinar o resultado dessa decisão. Isso depende do funcionamento do resto da economia, de como ela reage. Veja o exemplo dos países europeus que estão tentando reduzir o déficit com corte de gastos.

    É complicado. É difícil. A atividade cai e a receita do Estado cai junto. É endógeno. De qualquer maneira, é possível decidir onde cortar sem afetar setores cujo impacto é maior sobre a economia. É por isso que um bom keynesiano gostaria de ter um orçamento de capital aparte, separado do orçamento corrente. É o que Keynes recomendava. O orçamento de capital é o regulador da economia. Ele determina qual vai ser o fluxo de gasto que você vai sinalizar para o setor privado reagir na direção de seus próprios investimentos. O investimento é a coisa mais sensível que existe.

    Qualquer desconfiança em relação a realização do que foi projetado, leva à retração. Veja o caso americano. As empresas americanas estão com trilhões no caixa e não investem porque não estão confiando que a economia vai deslanchar. Essa proposta de Keynes, que é antiga, diz que é preciso haver uma coordenação entre estados e municípios para se articularem. Aqui no Brasil, temos uma problema sério, que não mencionei, mas que inibe o crescimento.

    Há um controle ex-ante do gasto do Estado, feito de uma maneira institucional, muito séria, que bloqueia a agilidade do Estado. Ao invés de fazer a ação ex post, temos o ex-ante. Fico rindo quando dizem que formaram um cartel aqui em São Paulo. O cartel já existia. Em nível internacional, já existia. Se for olhar o nível de concentração de empresas globais, vai descobrir que é brutal. O número de empresas do setor ferroviário, por exemplo, não passa de cinco, seis. Isso é um empecilho. É preciso mudar as regras, encontrar outra forma de acompanhar isso.

    Hoje, quem perde pode entrar com recurso e bloquear todo o processo. Outro dia, Andrea Calabi (secretário da Fazenda do Estado de São Paulo)me contou: não consigo gastar. O problema do estado hoje é que ele não consegue gastar. A Justiça pode ir lá e bloquear. Criou-se um emaranhado burocrático no Brasil. O pessoal confunde a ação do Estado com essa burocracia que ninguém aguenta. A irracionalidade do sistema fiscal, dos impostos, obrigar as empresas a contratarem um número absurdos de funcionários.

    Qualquer um pode, de repente, receber uma multa da Receita Federal sem saber de onde ela veio. Há um emaranhado burocrático enorme. A usina de Belo Monte é um exemplo. Teve tantas interrupções que já se perdeu, há tempos, quantas foram. As pessoas precisam pensar que Estado elas querem. Um Estado enxuto? Bem, com certeza, é um estado mais eficaz. É uma bobagem discutir se o Estado deve ou não intervir na economia. Essa discussão é uma bobagem.

    Nem Adam Smith (filósofo e economista escocês) acredita nisso – ele era bem mais esperto do que se pensa. Ele era muito mais sofisticado do quem alguns fazem parecer. Mas, enfim, Adam Smith morreu faz tempo e escreveu a Teoria dos Sentimentos Morais sobre o setor privado. Muita gente deveria ler a Teoria dos Sentimentos Moraes de fato, é preciso reorganizar o sistema brasileiro e reduzir o peso da burocracia.

    Não dúvida que se você compara a facilidade de fazer negócio na China – que é um Estado pesado, mas eficaz – e compara do com o Brasil você perceber uma diferença brutal. Não tem esses empecilhos. Algumas coisas, eles deixam soltas. Aqui no Brasil, controlam o setor externo, sobretudo o movimento de capital de curto prazo, e têm controle sobre o sistema financeiro.

    A China tem isso, o máximo de competitividade, com o máximo de controle – mas controle onde interessa. Não adianta fazer controle empurrando uma coisa aqui, outra ali. Essa é uma questão que as vezes me aborre porque os liberais brasileiros falam que o Estado não pode nada, enquanto os outros acham que o Estado pode tudo – mas não pode. Ficou provado que a economia de comando fracassou e que as economias que vão melhor têm uma coordenação entre os setores público e privado.

    Nós podemos falar de vários. Podemos falar da China. Podemos falar da Suécia, que vai muito bem. Podemos falar da Noruega, que é um exemplo interessantíssimo. Vocês mesmos fizeram uma matéria mostrando isso – claro que são 5 milhões de pessoas. Mas com certeza o modelo de exploração do petróleo lá deu certo.

    Mas, enfim, o caso do Brasil não é que o Estado se meta muito na economia. Ele se mete de maneira inadequada. E mais do que isso, ele tem esse emaranhado burocrático. Há três coisas que preciso falar. Uma é que nós perdemos um mecanismo importante de coordenação – as empresas estatais. Nos destruímos as empresas estatais nos anos 70. Seguraram tarifa. Elas foram obrigadas a tomar financiamentos lá fora porque havia abundância de financiamento externo.

    Efetivamente, perdemos coordenação, porque o investimento delas funcionavam como uma coordenação, um harmonizador das expectativas do setor privado. A segunda questão está diretamente relacionamento com o desmonte feito dentro do Estado. Por exemplo, havia o Geipot (Grupo de Estudos para a Integração da Política de Transportes).

    Ao invés de termos 35 ministérios, poderíamos ter grupos executivos, com empresários e burocratas, no moldes do que foi feito pelo Juscelino (ex-presidente Juscelino Kubitschek). Era uma coisa muito mais eficiente do que a maluquice de ter 35 ministérios. A terceira coisa é resolver de maneira legal, institucional, o investimento público.

    Não adianta colocar um monte de controles “ex antes” (antes). Com isso, o que vai aparecer são dificuldades feitas para se vender facilidades. Ao invés de bloquear a corrupção, você incentiva a corrupção. O que deve haver é controle “ex post” (após). Se você pegou o cara fazendo coisa errada, prende. Tem que fazer. O que não pode é usar isso como argumento para manter leis e estruturas burocráticas que só servem para impedir que o Estado faça alguma coisa. Nos últimos anos, o Brasil virou isso.

    O sr. falou da função das estatais na condução da economia. Temos o exemplo de Petrobrás, que teve os preços de seus produtos represados e virou a empresa mais endividada do mundo. A Eletrobrás teve R$ 6 bilhões de prejuízo. A Infraero está numa situação difícil. Como o sr. avalia a situação das estatais no governo Dilma e o que é preciso fazer para corrigir os problemas – se que é o sr. vê algum problema?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Essa ideia de segurar as tarifas foi aplicada nos anos 70 e deu no que deu. A Petrobrás tem um horizonte que permite que a gente entenda que essa alavancagem vai cair. Já mencionei que esse tentativa de segurar o preço teve efeito sobre o setor de etanol e setores correlatos, como os fabricantes de equipamentos para o setor de etanol, que também foi afetado. Isso não é bom. Afeta a capacidade e a velocidade do investimento da empresa – que tem um papel prioritário. Sei que tem impacto sobre a inflação. Mas lá atrás, quando era necessário subir o preço, tinha que ter sido feito. Era para absorver o impacto sobre a inflação.

    Não há o melhor dos mundos. É preciso fazer escolhas. Parece que numa reunião recente, com banqueiros, alguém perguntou o que fazer. Eu vejo alguns economistas falarem – inclusive alguns que deram entrevistas para vocês – como se soubessem os caminhos das pedras. Ninguém sabe o caminho das pedras. Você avança pulando de pedra e pedra para não afogar. Algumas questões que vem lá de trás, não foram tratadas tempestivamente, o que vai acontecer? Você vai pagar pela decisão. Não tem jeito de enrolar e dizer que não está acontecendo nada.

    Eu me lembro que em maio de 2013, quando discuti esse tema com algumas pessoas, eu disse: está na hora, a inflação esta retrocedendo. Você não pode ter todas as vantagens ao mesmo tempo. Mas agora vai ter de trata com cuidado esse problema da Petrobrás.

    O senhor no começo falou muito do papel da Petrobrás no crescimento e agora que as estatais foram importantes para guiar os investimentos. A Petrobras tem um papel importante em um eventual novo modelo de crescimento? Qual seria esse modelo?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Acho que a Petrobrás tem importância, mas mais ainda tem importância o pré-sal e o modelo de partilha escolhido. É pertinente e permite que se tenha controle mais adequado dos recursos. Essa fonte de recurso precisa ser tratada como um patrimônio do País porque não é renovável. Não pode – vou usar uma expressão futebolística – mandar pau nesse dinheiro. Precisa colocar no fundo soberano e usar apropriadamente, como fazem outros países, com destinação específica. O dinheiro está destinado para a educação.

    A Petobrás produz hoje 1,9 milhão de barris. Logo chegará a 2 milhões. Está projetando para 2020, 4,2 milhões barris. A Petrobrás é hoje uma das 20 maiores empresas de petróleo e, certamente, será uma das maiores. Vai ficar, eu diria, tranquilamente, entre as 10 maiores. A Petrobrás em parte pertence ao governo brasileiro, mas em parte precisa dar retorno aos acionistas. Qual o benefício que ela vai gerar pelo fato de ter se mantido como estatal? É o benefício do modelo de partilha. Nessa crise da Petrobras, eu vejo gente defendendo que se retorne ao modelo de concessão.

    O modelo de concessão é apropriado para achar petróleo. A Petrobrás já achou o petróleo. Quantas plataformas ela tem em operação? Nove – até onde sei. Eu posso estar enganado e ter aparecido mais uma. Mas é por ai. Agora, o importante é definir o ritmo da operação e a destinação dos recursos, porque são recursos finitos.

    Não podemos nos comportar como a elite venezuelana. Durante anos, ela capturava as rendas do petróleo e ia para Miami. O resultado disso foi o Chávez (Hugo Chávez, ex-presidente falecido). Esse foi um mérito do governo Dilma. Ela montou direitinho um modelo de partilha. O resultado disso vamos ver lá na frente. Boa parte da sobrevivência do Estado de bem e dos avanços na Noruega se deve ao fato de que eles usaram corretamente da renda do petróleo. Não é difícil. Mas é preciso resistir às pressões. Além do mais, não pode segurar o preço da gasolina.

    E se tratando do setor elétrico. Vai ser preciso fazer uma reestruturação? Como o sr. avalia a setor.

    Luiz Gonzaga Belluzzo- O setor elétrico tem vários problemas. Não se vocês se lembram, havia um movimento dos empresários acusando as tarifas de energia serem as mais altas do mundo. De fato são – e não era para ser assim. Há um problema de coordenação no setor elétrico. Na verdade, temos uma reserva de recursos hídricos importante.

    Poderíamos ter usado outras formas de geração, sobretudo quando os preços dos painéis solares estão caindo – até por força dos chineses terem adotado uma política mais ativa nesse produto. Mas acho que o problema está na forma como foram feitas as concessões e o cálculo de reajuste das tarifas. Não tem cabimento corrigir tarifa pelo IGP-M. Depois disso, o problema foi agravado por uma falta de percepção de como integrar o setor.

    Tínhamos falado do modelo de crescimento. Um dos pontos centrais mencionados pelo senhor é que o câmbio – com essa limitação da inflação. Como a economia pode voltar a crescer sem o motor do câmbio e como tratar o câmbio no próximo governo?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Essa questão do câmbio é muito difícil de ser tratada. Se produzir um deslizamento mais suave, ao longo do tempo, o efeito sobre a inflação não será grave. O problema é a desvalorização abrupta. Já falei: com a atual estrutura de fornecimento vai ser um problema.

    O câmbio não suficiente para reanimar a indústria. São necessárias outras medidas, incentivos para recuperar certos elos das cadeias produtivas que foram eliminados. É preciso uma política de investimento e de “funding” (financiamento). Estou sempre pensando como fazem os asiáticos. Eu seu que esse é um exemplo complicado, mas o General Park Chunk-hee, o grande responsável pela industrialização coreana, decidiu fazer a petroquímica, os economistas dele disseram para ele não fazer. Mas ele insistiu e disse que iria dar incentivos, estímulos à industria do setor. Isso porque não faz industrialização apenas com câmbio.

    É preciso ir devagar. Não se pode mais permitir um período tão longo de valorização, como foi permitido porque ai temos outra questão – temos uma moeda não conversível. Somos um País ainda em crescimento. Precisamos de uma política específica para o câmbio. Se outros países mais desenvolvidos não tem é porque as moedas deles são conversíveis. Não sofrem choques.

    O senhor está defendendo o controle de capitais?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Claro. Temos de ter o controle de capitais como outros países. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional publicou um documento importante sobre essa questão do controle de capitais dizendo, claro, que o controle de capitais não é desejável em si mesmo, mas é preciso que se tenha a capacidade de dirigir a entrada de capitais de forma a te beneficiar. Muitos países já fizeram isso. Não é nenhuma heresia econômica. O que é inconveniente é ter momentos de euforia e depressão.

    O senhor falou da necessidade de recuperar a confiança. Mas isso não provocaria o efeito inverso, na medida que controlaria a retirada de dinheiro do Brasil?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Seria preciso fazer o controle da entrada de capitais. É evidente que o capital de curto prazo, que vem apenas fazer arbitragem, especulação com a sua moeda, não é desejável. Os chineses permitem a entrada de capital. Aliás, o crescimento chinês foi feito com a entrada maciça de capitais estrangeiros…

    O sr. fala muito dos asiáticos, da China, da Coreia. O modelo deles presume os campeões nacionais e demanda muitos recursos. É possível aplicar a receita no Brasil? O senhor defende a volta dos campeões nacionais?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Boa pergunta. Eu estava esquecendo de uma questão que você levantou. Eu tive a pachorra de ler inteirinho o World Economic Outlook Database (relatório de perspectivas econômicas globais do FMI). É muito chato, mas é bom para se informar sobre o que está ocorrendo nos gabinetes dos organismos bilaterais.

    Eles publicaram o Global Financial (no original Global Financial Stability Report, relatório de análise da estabilidade financeira, também do FMI) e o World Economic. Lendo a análise, bem feita e muito mais arejada do que foi no passado, escrevi até um artigo um artigo na carta Capital sobre isso. Eles fizeram um estudo muito cuidadoso para fazer a relação entre poupança e crescimento.

    Fizeram um painel com cento e tantos países, se bem me lembro, que mostra claramente que o crescimento precede a poupança. Essa é uma velha discussão: o Brasil não cresce porque tem baixa poupança? No Brasil, o mercado de capitais não consegue mobilizar esses recursos para o investimento de longo prazo. Só há uma fonte de financiamento de longo prazo, o BNDES. Até li, com satisfação, que o BNDES destinou R$ 3 bilhões para a compra e a venda papéis. Isso é muito importante, porque o Brasil não tem a tradição dos países anglo saxões de ter um “market maker” (provedor de liquidez). Você emite um debênture ou mesmo uma ação e precisa de liquidez para mobilizar o mercado de capitais.

    Espero que não achem que isso seja uma intervenção do governo na economia, que vejam como uma atitude benéfica. Mas o que mostra o estudo é que esses países aceleraram o crescimento usando o sistema de crédito, alavancando. A China está com 250% do PIB de endividamento total, principalmente das empresas e do governo, porque o das famílias é baixo. Em todas os países asiáticos houve alta alavancagem das empresas. Mas havia um sistema de absorção dos choques, de modo que as empresas não sofressem, com taxa de juros baixas e controle de capitais.

    O Banco do Japão, o banco central japonês, funcionava com um provedor de liquidez para os bancos ligados às empresas. Até um tempo atrás, o Japão não tinha uma mercado de capitais desenvolvido. Eram sistema bancário que fazia o crédito. Enfim, em todos os asiáticos as empresas eram muito alavancadas, porque o crédito vem na frente da poupança.

    O capitalismo tem dessas maravilhas. Inventou o sistema bancário que empresta um múltiplo de seus depósitos. Esses múltiplos poderiam ser infinitos se não fossem as medidas prudenciais. A Ásia tem taxa de poupança alta, tem, mas ela é “ex post”. Para aumentar a poupança, é preciso crescimento. Você não pode aumentar a poupança sem que a renda cresça. Para que você tenha renda, alguém precisa estar gastando. Esse é o paradoxo.

    Voltando ao BNDES. Ele acabou se tonando o grande agente financiador brasileiro de longo prazo. No fim, o BNDES não acaba inibindo a expansão do mercado? Vou dar um exemplo: nas concessões, o BNDES entrou para suprir 70% do crédito. Mas esse não teria sido um momento para tentar alternativas de financiamento que pudessem fomentar e ampliar o mercado?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Mas os bancos privados dão empréstimos de longo prazo de quanto? Cinco anos? A concessão é de 30 anos. Precisamos de crédito de mais longo do que isso. Eu não entendo como o BNDES pode inibir o setor privado.

    O argumento é que o BNDES recebe recursos do Tesouro e o BNDES consegue oferecer uma taxa de juros menor.

    Luiz Gonzaga Belluzzo- É a taxa de juros do setor privado que não consegue atrair os empresários. É um contra senso. Quando o Tesouro coloca dinheiro no BNDES e o BNDES empresa para a empresta, no fundo está criando um ativo rentável lá na frente – esperamos. É como dar injeção na veia. É assim que o Banco de Desenvolvimento da China faz. Você falou dos vencedores.

    O Banco de Desenvolvimento da China, muitas vezes, só começa a cobrar o empréstimos quando a empresa já está operando. Tirando os Estados Unidos e a Inglaterra, quase todos os emergentes asiáticos usaram essa estratégia – subsidiaram. Eu não vejo problema. Ao contrário: acho que o BNDES pode servir como um estímulo para os bancos.

    Qual é o problema dos bancos? Não é só um risco de crédito. É um risco de liquidez também. Porque o banco, quando empresta, individualmente, fica menos líquido, fica atrelado àquele negócio. Dar liquidez permite que ele securitize, saia e venda no mercado. É isso que o BNDES vai fazer agora.

    Todos os países asiáticos e sistemas financeiros fizeram coisas parecidas. Na verdade, nos períodos mais agudos da industrialização, eles não tinham mercado de capitais. Tinham bancos. O desenvolvimento da Alemanha também foi assim no século 19. Os bancos se juntando às empresas. Nos Estados Unidos foi diferente, porque, desde logo, tinha uma relação com a praça de Londres. E, desde logo, tinham mercado de capitais. Desenvolveram o mercado de capitais com os bancos de investimento.

    O Luciano Coutinho (presidente do BNDES) deu uma entrevista para o Estado anunciando que havia desistido da política de campeões nacionais. O sr. acha que deveria ser retomada?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Acho que nós temos problemas sérios de reestruturação da indústria brasileira. Não conversei com o Luciano. Faz tempo que eu não converso com ele. Você não pode entrar na competição global hoje com uma carroça e os caras concorrendo com um carro de Fórmula 1.

    Como se escolhe um campeão nacional?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Por exemplo, a Petrobrás é um campeão nacional natural. Ela é uma das grandes empresas petrolíferas do mundo. Não precisou de nenhuma política especial para transformá-la nisso. Quais os setores que você vai escolher? Tem que escolher os setores em que você tem vantagens e pode conduzir a um bom termo. Isso é uma coisa construída porque não há mais vantagens comparativas. Os asiáticos perceberam isso. Hoje está muito mais difícil. Os chineses estão…

    Mas isso não gera favorecimento de grupos empresariais?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Mas isso é a lógica do capitalismo. Ou você acha que você tem concorrência perfeita?

    Mas isso é um incentivo, não?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Sim, mas funciona assim. “I’m sorry”. Peço desculpas. Na verdade, o capital se centralizou. Te passo, se você quiser, uma lista de todos os setores para você ver quantas empresas estão no controle. São cinco. São duas. No máximo. Por exemplo: a indústria automobilística tem dez. Na indústria farmacêutica, pouquíssimas.

    Mas em que momento você para de financiá-las? Por exemplo, o JBS, na pecuária, um setor escolhido. Recebeu ajuda, se tornou o maior do mundo, mas a ajuda continua, agora no setor de papel. Em que momento a empresa caminha sozinha?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Tem um momento em que você precisa reduzir mesmo o impulso. Mas você como você acha, por exemplo, que a Coreia se transformou no maior estaleiro do mundo …

    Mas a Coreia era uma ditadura. A China não é uma ditadura?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Mais ou menos. A China é um regime político peculiar. Como disse o Fernando Henrique para mim, voltando da China, ‘ninguém lá atinge suas liberdades políticas, agora você não pode falar mal do Estado chinês’. Você tem restrições. A Coreia foi uma ditadura. O General Park Chunk-hee fez aquilo. Mas o Japão fez isso com o Partido Liberal. Não era uma ditadura.

    Mas era uma situação diferente, o pós-guerra, com apoio dos Estados Unidos, com bases militares no país…

    Luiz Gonzaga Belluzzo- A Coreia também teve apoio americano. No caso do Japão…

    É possível manter a economia fechada, como foram Japão e Coreia?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Mas elas não foram fechadas.

    No começo, Japão e Coreia adotaram restrições…

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Sim, mas não eram economias fechadas. Ao contrário. Mas é claro que foram favorecidas por critérios geopolíticos. Nós, na verdade, montamos um modelo de crescimento puxado pelas exportações. A Coreia teve taxas de câmbio múltiplas, como o Brasil teve também. Por que? Ela fez o controle de importação de bens de consumo, não tinha mesmo. Mas importação de bens de capital tinha, sim. De componentes, etc. Depois eles foram substituindo.

    Diferentemente do nosso modelo de substituição de importações em que, na verdade, você foi permitindo, pelo estrangulamento cambial, a substituição durante um bom período. No caso da Coreia, fizeram uma política intencional de controle das importações, não há dúvida nenhuma.

    Eu fui à Coreia. Nas lojas, havia aquela coisa de não comprar produtos que não fossem coreanos. Mas pega a composição da importação deles e vê como, na realidade, se apropriaram das tecnologias mais avançadas para produzir.

    O governo adotou uma medida mais protecionista no início do mandato da presidente Dilma e o empresariado tem pedido maior abertura da economia…

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Mas o que quer dizer isso, na verdade? Se você faz isso, nestas condições, com o câmbio valorizado, você vai tomar uma invertida. Eu acho que na atual conjuntura – já escrevi isto num artigo com o Julinho (Julio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) – você tem que importar para exportar. Porque você está perdendo peso nas exportações globais de manufatura.

    Não vamos fazer isso com câmbio desvalorizado, nem com ausência de política industriais. O que quer dizer mais abertura? Que você vai dar uma de “liberou geral”? Não existe isso no mundo. Nem os países asiáticos fazem isso. Eles, na verdade, regulam. A China é uma grande importadora. Tem déficit com os outros asiáticos, mas tem superávit com Estados Unidos.

    Os chineses montaram uma estratégia inteligente. Para eles, na verdade, as importações mais baratas – porque eles são grandes montadores – são importantes. Assim como o Brasil também. Fico preocupado com essas oposições binárias. Ou é abertura total ou é então você é protecionista. Tem que fazer política de comércio exterior.

    Os americanos fazem política de comércio exterior, a despeito deles terem perdido o controle para o conjunto de empresas deles. Elas não querem saber de voltar a produzir nos Estados Unidos. Essa história da reindustrialização americana está mal contada. Não que as empresas americanas estejam indo mal, elas estão indo muito bem. O sistema empresarial americano vai muito bem, o que não vai bem é a economia territorial americana.

    Tem mais essa questão – ocorreu a globalização. As pessoas falam ahhhh globalização, globalização – mas ela ocorreu de fato, com implicações que tornaram muito mais difícil você ter uma política industrial. Os chineses têm dificuldades de criar seus campeões nacionais. Eles estão muito bem do ponto de vista da organização da sua produção doméstica, com auxílio do investimento externo, mas criar os seus campeões nacionais está difícil.

    O que estão fazendo? Estão saindo. Compraram agora uma parte da maior empresa francesa de automóveis, a Peugeot. Compraram 30%. Eles estão saindo pelo mundo. Se você for olhar, estão começando a comprar em vários lugares. Hoje existe o problema da concorrência da marca.

    Os chineses não têm marca. Eles são os maiores produtores de automóveis do mundo. Mas eles exportam muitos automóveis? Não exportam. Essa coisa da marca na concorrência é importante. Você conhece alguma marca brasileira que tenha se destacado, que você perceba como um a marca de reputação? Porque isso faz parte de um padrão de consumo contemporâneo.

    Por 30 anos, o Brasil ficou praticamente afastado dessa construção. Perdeu vários passos que tinham de ter sido dados. Essa questão da criação de campeões nacionais é muito mais complicada hoje do que foi, por exemplo, quando os coreanos criaram a Samsung, a LG. Porque eles entraram numa brecha. Quando é que aconteceu isso? Nos anos 1980. Eles entraram numa brecha aberta pelo Reagan (Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos) no mercado americano, quando o Reagan valorizou o dólar. Numa das campanhas eleitorais, o adversário dele disse: “de fato, o Reagan colocou um frango na panela e dois carros na garagem dos americanos, só que os dois carros são japoneses e coreanos”.

    Hoje em dia é muito mais complicado. Os asiáticos entraram no mercado num momento muito favorável. A China estava começando a jogar o jogo.

    Mas a escolha é sempre complicada, não? A Coreia escolheu segmentos de ponta, eletroeletrônicos, automóveis, estaleiros. O Brasil escolheu pecuária e, ao mesmo tempo, matou o etanol..

    Luiz Gonzaga Belluzzo- O etanol é um bom exemplo.

    …O etanol que talvez seria o trunfo na nova fase da energia no mundo…

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Exatamente. O etanol é um bom exemplo, não só em si mesmo. O Brasil fez a escolha errada no II PND. Por que? Que setores foram escolhidos no II PND? Escolheram setores básicos. Mas já estava ocorrendo, estava em gestação, a Terceira Revolução Industrial. Não que as pessoas não soubessem disso. A revolução na eletroeletrônica, na automobilística, como está ocorrendo agora outra revolução tecnológica. E o Brasil, como faz? Um país deste tamanho? Nós perdemos ali, naquele momento, porque escolheram setores errados. Setores velhos.

    E agora, fizeram as melhores escolhas? E o exemplo do etanol?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- Estou te dando razão no caso do etanol. Nós deveríamos ter levado o etanol como um projeto importante para o Brasil. Foi o que o Lula fez. O Lula moveu este negócio do etanol. Você tem razão. Nós escolhemos errado. É um setor que tinha vantagens já quase absolutas. Nós podíamos ter avançado pelo lado do etanol. Mas o problema não se restringe a isso.

    Nós perdemos o padrão de industrialização da Terceira Revolução Industrial – essa que é a questão. Uma questão mais estrutural. E, agora, criar campeões nacionais é muito mais difícil. O que os asiáticos, japoneses, coreanos criaram nessas empresas, uns nos anos 1960 e 1970, outros nos anos 1980, foi com a determinada configuração da economia mundial. Hoje em dia, a configuração é completamente outra.

    Você me permite a oportunidade de falar de outra coisa: o eixo hegemônico está mudando de lugar. Isso demora para acontecer, mas está acontecendo. Está mudando do Atlântico para o maciço eurasiano, incluindo a Rússia. Não sei se você está vendo: os russos e os chineses estão fazendo um movimento recíproco de cooperação. Eles são economias complementares.

    Os russos são muito bem dotados de recursos naturais, como nós somos. Outro dias, eu estava vendo as maiores companhias petrolíferas do mundo. Das vinte maiores, três são russas. Eles têm vantagens na mineração e na manufatura. Eles estão, na verdade, caminhando na direção dos chineses. Se você quer que eu te diga uma coisa correta que o Brasil está fazendo, entre as críticas que eu fiz, é a aproximação com os Brics.

    É dessa aproximação que vai nascer o novo dinamismo da economia global. Esse grupo muito poderoso, de qualquer ponto de vista. Do ponto de vista da dotação de recursos, do ponto de vista da disponibilidade de água. A questão da água é fundamental para os próximos anos – e o Brasil é um dos únicos países que dispõe de abundância desse recurso natural. Não vai ser fácil resolver este problema global.

    O Brasil não tem que escolher ninguém, mas tem que ser estratégico, precisa se juntar onde o mundo está começando a redefinir suas relações entre as regiões. E essa região, com Rússia, China e Índia, é a região que terá o desempenho mais favorável. As pessoas não falam que nos Brics o Brasil tem um fundo de estabilização de US$ 100 bilhões com a China, com a Rússia. Eles estão criando um banco de desenvolvimento porque os chineses têm, e nós também devemos ter ambições – inclusive e sobretudo na América Latina – de ter investimentos binacionais ou trinacionais, o que você quiser. E os chineses estão menos voltados para a África e mais para a América Latina.

    Os russos, por razões estratégicas, têm dificuldades de lidar com o Ocidente. Então o Brasil está fazendo uma escolha correta do ponto de vista geopolítico. Isso não tem nada a vez com os campeões nacionais. Tem a ver com a integração econômica mais razoável e com mais probabilidade de dar certo.

    O sr. é um interlocutor frequente da presidente Dilma?

    Luiz Gonzaga Belluzzo- É o seguinte: depois que ela assumiu a presidência, falei duas vezes com ela. Não sou tão frequente assim. A frequência era muito maior com o presidente Lula. Com ela, foram duas vezes. Porque é o estilo dela. Eu não quero também me apresentar como interlocutor frequente da presidente.

    Você ficar assoprando coisas no ouvido do “príncipe”. Eu vejo que muitos economistas ficam envaidecidos com essa possibilidade de falar com o presidente. Isto não é legal. Você tem que falar com o público. Não chegar lá e começar a soprar coisas. Com o Lula, tenho muita liberdade. Conheço o Lula desde os anos 70, quando ele ainda estava criando o PT. Eu secretariei a primeira Conclat (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras), em Niterói. Sou amigo dele, gosto muito dele. Ele chamava a mim e ao Delfim (Delfim Netto, economista) com muita frequência. Ele ouvia a gente, ouvia mais gente, ouvia todo mundo e tomava a decisão.

    Eu nunca tive a ilusão porque sou conselheiro do presidente. É uma coisa ridícula. Posso dar minha opinião de outras formas. No caso dele, eu o considero uma pessoa amiga, pela qual tenho grande admiração pessoal. Ele é uma pessoa afetiva. Gosta dos amigos dele. Eu gosto muito dessa coisa do cara que gosta dos amigos. Ter amigo é bom. Eu me considero amigo dele, apesar das nossas divergências futebolísticas.

    Para dizer a verdade, ele era muito sábio nestas coisas. Ouvia todo mundo e tomava a decisão que achava conveniente. Foi assim na crise. Ele escolheu o caminho. Ele e o Guido Mantega – que, aliás, é muito injustiçado porque na crise ele foi muito bem. Agora, no caso dela, não. Ela tem outro estilo. Eu tenho até carinho por ela. Foi minha aluna. Mas isso não tem nada a ver. Não é um estandarte que se deva estar erguendo toda hora. Acho uma coisa muito ruim, muito brasileira, essa ideia de “tenho ali minha relação particular com o presidente”. Não é legal. É melhor que seja uma coisa mais impessoal – até porque me dá liberdade para falar o que eu falei para vocês sobre os problemas do governo. Se não, você fica driblando na área.

    Da mesma maneira, você não pode tratar o teu adversário na democracia como um inimigo. Eu vejo que, mesmo nas entrevistas que vocês fizeram, as pessoas têm um ressentimento partidário. Isso não é bom na discussão. Eu posso ter minhas preferências partidárias, mas não posso usar isso para elogiar ou para criticar.

    Eu tenho de fazer um esforço para me afastar dessa coisa. É muito difícil você dizer que nessa questão você vai fazer uma análise objetiva. Vocês são jornalistas e sabem que objetividade é uma questão relativa. Tem que, na realidade, tomar distância. Ser objetivo é um problema filosófico complicado. O que é a objetividade? O que é o real? Não vamos discutir isso. Mas você tem que se destacar e dizer com clareza, como eu estou dizendo aqui, partindo da minha visão de economia. Schumpeter (Joseph Alois Schumpeter, economista natural da República Checa) é que dizia: a análise vem depois.

    Primeiro vem a visão. Uma visão geral da questão, de como é que funciona. Como é que funciona esta economia capitalista hoje? Tem que partir desta visão. Pode ser que eu esteja completamente equivocado. Não obstante, nos últimos anos na análise dos antecedentes da crise, eu não me equivoquei tanto. Mas você se equivoca porque, na verdade você, não tem capacidade de incluir todos os dados que são relevantes na sua hipótese.

    Tem que admitir que sua análise está sujeita a falhas. A coisa que mais incomoda nos economistas são as certezas esféricas. Quando se olha por todos os lados, tem as mesmas certezas. É preciso ponderar. Tem que dizer o seu ponto de vista, mas considerar que é possível que as coisas não sejam assim.

  8. A privatização é uma porta para a corrupção e a indiferença uma

    A privatização é uma porta para a corrupção e a indiferença uma porta para a guerra

    Do “Resistir.info”

    http://resistir.info/crise/roberts_17abr14.html

    por Paul Craig Roberts

    A ideologia libertária favorece a privatização. Contudo, na prática habitual a privatização dá resultados muito diferentes dos postulados pela ideologia libertária. Quase sempre, a privatização torna-se um caminho para que interesses com boas ligações saqueiem tanto os fundos públicos como o bem-estar geral.

    A maior parte das privatizações, tais como aquelas verificadas em França e no Reino Unido durante a era neoliberal [NR] e na Grécia hoje e na Ucrânia amanhã, são saqueios de activos públicos por interesse privados com conexões políticas.

    Prisão e lucro. Outra forma de privatização é entregar funções tradicionais de governo, tais como a operação de prisões e muitas funções de abastecimento dos serviços armados, tais como alimentar as tropas, a companhias privadas com um grande aumento no custo do serviço. Basicamente, a ideologia libertária é utilizada para providenciar contratos públicos lucrativos para umas poucas pessoas favorecidas as quais então retribuem aos políticos. Isto é chamado de “livre empresa”.

    A privatização de prisões nos EUA é um exemplo do extraordinário custo e injustiça da privatização. A privatização de prisões exige taxas de encarceramento mais altas a fim de proporcionar lucratividade. Os EUA, supostamente “uma terra de liberdade”, tem de longe a mais alta de encarceramento de todos os países do mundo. Os “livres” EUA têm não só a mais alta percentagem da sua população na prisão como também o mais alto número absoluto.

    A “autoritária” China, com quatro vezes a população dos EUA, tem menos cidadãos na prisão.

    Este artigo mostra quão bem a privatização das prisões funciona para interesses privados com boas ligações:
    http://www.globalresearch.ca/privatization-of-the-us-prison-system/5377824

    Ele mostra também a vergonha extraordinária, a corrupção e o descrédito que a privatização das prisões trouxe para os EUA.

    Alguns anos atrás escrevi acerca da condenação de dois juízes que eram pagos por centros privatizados de detenção juvenil para sentenciar garotos a destinados às suas instalações.

    Como disseram Alain de Lille e posteriormente Karl Marx, “Dinheiro é tudo”. Na América, o dinheiro é tudo o que é importante para o sistema político e para a maior parte da população. Basicamente, a América não tem outros valores.

    Outra grande fantasia libertária é a Wall Street. Na mitologia libertária a Wall Street é a mãe dos empresários e do arranque de companhias que florescem em gigantes industriais, manufactureiros e comerciais. Nos factos reais, a Wall Street é a mãe de enorme corrupção. Como mostra Nomi Prins em All The President’s Bankers, isto sempre se verificou.

    Ultimamente tem havido uma enchente de denunciantes da Wall Street. Muitos são relatados por Pam Martens, no seu sítio Wall Street On Parade:
    wallstreetonparade.com/…

    Ao contrário dos ideólogos libertários, Prins e Martens são antigos iniciados da Wall Street e sabem do que estão a falar.

    Todos os mercados financeiros americanos são manipulados em benefício de uns poucos. Tivemos a revelação do trading de alta frequência a correr na frente [dos outros] ordens de compra e venda. Tivemos a revelação dos grandes bancos a manipularem a taxa de juro LIBOR e a cotação (fix) do preço do ouro em Londres. Tivemos a revelação da manipulação do Federal Reserve, através dos seus bancos dependentes, a manipularem o preço do ouro nos mercados de futuros. Tivemos a revelação em audiências no Congresso da manipulação de preços de metais e de commodities. O valor cambial do dólar é manipulado. E assim por diante. Mas nenhuma cabeça rolou. Recentemente um promotor da SEC, James Kidney, aposentou-se. Após a sua aposentação, ele proclamou que os seus casos contra grandes bancos criminosos haviam sido suprimidos pelas mais altas instâncias da SEC, as quais tinham os olhos cravados em grandes empregos junto aos bancos que estavam a proteger enquanto permaneciam ao serviço do governo.

    Assim são as coisas. O governo dos Estados Unidos é tão esmagadoramente corrupto que mesmo as agências reguladoras das finanças foram corrompidas pelo dinheiro dos capitalistas privadas que elas deveriam regular.

    América, a corrupta. Foi no que se tornou.

    Nem mesmo Vladimir Putin entende quão totalmente corrupta e insensível para com a humanidade é Washigton.

    A resposta de Putin à crise criada na Ucrânia pelo golpe de Washington em Kiev é confiar nos “parceiros ocidentais da Rússia”, na ONU, no regime Obama, em John Kerry, etc, para elaborar uma solução razoável para a crise.

    A esperança de Putin numa solução diplomática é irrealista. Os governos da NATO são comprados e pagos por Washington. Exemplo: a Alemanha não é um país. A Alemanha é uma mera peça do império de Washington. O governo alemão fará como Washington disser. O governo alemão representa a agenda de Washington. Os governos europeus a quem Putin está a falar não estão a ouvir.

    Paul Wolfowitz, o neoconservador que como vice-secretário da Defesa presidiu a orquestração da falsa evidência utilizada pelo regime Bush para lançar guerra de Washington no Médio Oriente, declarou a minimização do poder russo como o “primeiro objectivo” da política externa e militar dos EUA.

    “Nosso primeiro objectivo é impedir a re-emergência de um novo rival, tanto no território da antiga União Soviética como alhures, que apresente uma ameaça da ordem daquela apresentada pela antiga União Soviética. Isto é uma consideração dominante subjacentes à nova estratégia de defesa regional e exige que nos esforcemos para impedir qualquer poder hostil domine uma região cujos recursos, sob controle consolidado, seriam suficientes para gerar poder global”.

    O que Wolfowitz quer dizer com “poder hostil” é qualquer poder independente da hegemonia de Washington.

    Washington derrubou o governo eleito da Ucrânia a fim de orquestrar uma crise que distrairia a Rússia das aventuras washingtonianas na Síria e no Irão e a fim de demonizar a Rússia como um invasor a reconstruir um império que é um perigo para a Europa. Washington utilizará esta demonização a fim de romper os crescentes relacionamentos económicos entre a Rússia e a Europa. O objectivo das sanções não é punir a Rússia, mas sim romper relacionamentos económicos.

    A estratégia de Washington é audaciosa e implica risco de guerra. Se no Ocidente os media fossem independentes, o plano de Washington falharia. Mas o Ocidente tem um Ministério da Propaganda ao invés de media. O New York Times encontrou mesmo um substituto para Judith Miller. Como pode ter esquecido ou nunca sabido, Judith Miller era a repórter do New York Times que recheou o jornal com mentiras neoconservadoras do regime Bush acerca de armas iraquianas de destruição em massa. Ao invés de examinar e denunciar as afirmações falsas do regime Bush, o New York Times reforçou a argumentação do regime em favor da guerra ao utilizar a credibilidade do jornal para promover a agenda de guerra neoconservadora.

    O novo Judith Miller é David M. Herszenhorn, tendo como cúmplices Andrew Roth, Noah Sneider, and Andrew Higgins. Herszenhorn descarta a totalidade dos relatos dos media russos quanto aos acontecimentos na Ucrânia como “uma extraordinária campanha de propaganda” destinada a ocultar da população russa o facto de que toda a crise ucraniana é culpa do governo russo. “E assim começou mais um dia de arrogância e hipérbole, de desinformação, exageros, teorias conspiratórias, retórica acalorada e, ocasionalmente, absolutas mentiras acerca da crise política na Ucrânia que provêm dos mais altos escalões do Kremlin e repercutem na televisão russa controlada pelo estado, hora após hora, dia após dia, semana após semana”.
    http://www.nytimes.com/...

    Nunca havia lido uma peça de propaganda tão descarada como esta de Herszenhorn. Ele baseia sua reportagem em duas “autoridades”: Lilia Shevtsova do Carnegie Moscow Center, financiado pelos EUA, e Mark Galeotti, professor da Universidade de Nova York.

    Segundo Herszenhorn, os protestos generalizados no Leste da Ucrânia são totalmente por culpa dos manifestantes que estão a encenar um show para finalidades de propaganda. Os protestos não são uma resposta às palavras e feitos do governo fantoche que Washington instalou em Kiev. Herszenhorn descarta relatos de extrema russofobia neonazi como “afirmações sinistras” e encara o governo não eleito imposto por Washington em Kiev como legal. Contudo, Herszenhorn encara governos constituídos em resultado de referendos como sendo ilegais a menos que aprovados por Washington.

    Se acreditar em Herszenhorn, terá de descartar todas as reportagens como mentiras e propaganda, como estas abaixo:

    rt.com/news/eu-no-russian-interference-ukraine-844/ news.antiwar.com/… news.antiwar.com/… news.antiwar.com/… rt.com/news/ukrainian-tanks-kramatorsk-civilians-840/ rt.com/news/putin-ukraine-military-operation-740/ http://www.globalresearch.ca/... rt.com/news/ukraine-troops-withdraw-slavyansk-940/

    O Mundo Ocidental e o Mundo da Matrix protegido pelo Ministério da Propaganda. As populações ocidentais são subtraídas à realidade. Elas vivem num mundo de propaganda e desinformação. A situação real é muito pior do que a realidade do “Big Brother” descrita por George Orwell no seu livro, 1984.

    A ideologia conhecida como neoconservadorismo, a qual tem controlado os governos dos EUA desde o segundo mandato de Clinton, atiçou o mundo num caminho de guerra e destruição. Ao invés de levantar perguntas acerca deste caminho, os media ocidentais apressam nesse caminho. Leia o que médicos relataram, resultado da crença dos neoconservadores do regime Obama de que a guerra nuclear pode ser vencida:
    original.antiwar.com/lawrence-wittner/2014/04/14/your-doctors-are-worried/

    O governo chinês apelou à “desamericanização” do mundo. Os parlamentares russos entendem que fazer parte do sistema de pagamentos dólar é um subsídio russo ao imperialismo americano. O legislador russo Mikhail Degtyaryov disse ao Izvestia que “O dólar é diabólico. É um papel verde sujo tingido com o sangue de centenas de milhares de cidadãos civis do Japão, Sérvia, Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Coreia e Vietname”:
    rt.com/politics/russian-dollar-abandon-parliament-085/

    Contudo, porta-vozes da indústria russa, possivelmente na folha de pagamento de Washington mas mais provavelmente apenas pessoas despistadas, disseram que a Rússia estava obrigada por contratos para com o sistema dólar e que talvez em 10 ou 15 anos a Rússia pudesse adoptar uma abordagem mais inteligente. Isso é assumir que a Rússia ainda seria capaz de actuar nos seus próprios interesses depois de sofrer mais 10 ou 15 anos do imperialismo financeiro dos EUA.

    Todo país que deseje ter uma existência independente sem ter de viver sob o polegar de Washington deveria imediatamente afastar-se do sistema de pagamento dólar, o qual é uma forma de os EUA controlarem outros países. Este é o único objectivo a que serve o sistema dólar.

    Muitos países são afligidos por economistas treinados nos EUA na tradição liberal.

    Sua educação estado-unidense é uma forma de lavagem cerebral que assegura que os seus conselhos tornem seus governos impotentes contra o imperialismo de Washington.

    Apesar das ameaças óbvias que Washington apresenta, muitos não reconhecem as ameaças por causa da pose de Washington como “a maior democracia”. Contudo, académicos à procura da democracia não conseguem encontrá-la nos EUA. A evidência é de que os EUA são uma oligarquia, não uma democracia:
    http://www.globalresearch.ca/the-u-s-is-not-a-democracy-it-is-an-oligarchy/5377765

    Uma oligarquia é um país que é dirigido por interesses privados. Estes interesses privados – Wall Street, o complexo militar/segurança, petróleo e gás natural e agronegócio – procura a dominação, um objectivo bem servido pela ideologia neoconservadora da hegemonia estado-unidense.

    Os Oligarcas Americanos ganham mesmo quando perdem. Finalmente, a infame prisão de torturas de Washington, Abu Ghraib, foi encerrada. Mas não por Washington. A cidade iraquiana caiu na semana para a “derrotada” al-Qaeda. Lembre-se, nós vencemos a guerra no Iraque. US3 milhões de milhões desperdiçados, mas esse não é modo como o complexo militar/segurança vê as coisas. A guerra foi uma grande vitória para os lucros.
    news.antiwar.com/…

    Quanto tempo mais americanos estúpidos sucumbirão à fraude da bandeira a tremular?

    Os republicanos utilizaram as guerras a fim de criar enormes défices orçamentais e dívida nacional que agora estão a ser utilizadas para desmantelar a rede de segurança social, incluindo a Segurança Social e o Medicare. Há conversas de privatizar a Segurança Social e o Medicare. Mais lucros para Oligarcas em oferenda. A credulidade da população americana é realmente sem igual.

    A credulidade do público americano condenará o mundo à extinção.
    17/Abril/2014
    [NR] E em Portugal também.

    O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/...

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . 19/Abr/14

  9. Brasil é o país mais perigoso para defender o direito à terra e

    Brasil é o país mais perigoso para defender o direito à terra e ao meio ambiente

    Do site “Ciclo Vivo”

    http://ciclovivo.com.br/noticia/brasil-e-responsavel-por-metade-das-mortes-de-ativistas-entre-2002-e-2013

    Defender os direitos ambientais é uma das atitudes mais arriscadas no nosso país. É o que mostra o relatório da ONG britânica Global Witness, que foi divulgado na última terça-feira (15). O documento que analisa casos de assassinatos relacionados à causa ambiental e fundiária registrou 448 mortes só no Brasil.

    O levantamento aponta que 908 cidadãos foram assassinados entre 2002 e 2013, destes 448 ocorreram em território brasileiro – seguido das Honduras (109) e das Filipinas (67). Em 2012, com 147 mortes de ativistas registradas, o número triplicou em relação aos dez anos anteriores. Além disso, a taxa de homicídios subiu nos últimos quatro anos para uma média de dois ativistas por semana.

    “Muitas das pessoas que enfrentam ameaças são cidadãos comuns que se opõem à expropriação de terras, operações da indústria mineira e comércio de madeiras. Muitas vezes são obrigadas a abandonar as suas casas, sendo gravemente ameaçadas pela destruição ambiental. As comunidades indígenas são as mais afetadas. Em muitos casos, os seus direitos à terra não são reconhecidos pela lei nem na prática, deixando-as expostas à exploração por interesses econômicos poderosos”, alerta o relatório.

    Os autores do estudo ressaltam que certamente houve mais casos, entretanto “a natureza do problema torna a informação difícil de encontrar e ainda mais difícil de confirmar. A taxa de mortes aponta também para um nível muito superior de violência não mortal e intimidação que não estão documentados neste relatório”.

    A quem interessa proteger?

    O documento ainda reforça o sentimento de abandono, diante de situações em que os ameaçadores são aqueles que deveriam proteger. “Há vários casos que envolvem as forças de segurança pública que muitas vezes colaboram com empresas e proprietários de terras privados. A falta de vontade política em garantir que os grandes negócios que envolvem recursos sejam realizados de forma justa e aberta é idêntica à falta de vontade política em fazer justiça nos casos em que os conflitos resultam em assassinatos”.

    Outra questão levantada é a impunidade, sensação já bem conhecida pelos brasileiros. “Por detrás destes crimes existem redes complexas e secretas de interesses adquiridos. Só foram julgados, condenados e punidos dez agressores entre 2002 e 2013, cerca de 1% da incidência geral dos assassinatos conhecidos”.

    O que acontece no nosso país?

    Diante do fato de que o Brasil lidera o ranking com a metade das mortes de ativistas em todo o mundo, entre 2002 e 2013, a ONG Global Witness dedicou um capítulo para analisar a terra tupiniquim.

    O estudo atribui a liderança no ranking, em parte, aos padrões de propriedade da terra no Brasil, que está entre “os mais concentrados e desiguais do mundo”. Segundo a pesquisa, os direitos de terras e a exploração florestal ilegal são os principais fatores de conflitos. No centro da questão, estão os interesses agrícolas, base da economia brasileira.

    “Na província de Mato Grosso do Sul, há muito que a classe política é dominada por interesses de empresas agrícolas que incluem carne de vaca, soja e cana-de-açúcar. Estas elites têm conflitos frequentes com as comunidades Guarani e Kuranji, que se instalaram na região há vários séculos. Metade dos assassinatos de defensores em 2012 ocorreu nesta região, assim como 250 defensores de origem indígena, entre 2003 e 2010”, esclarece o relatório.

    A todo o momento, o documento deixa claro que a questão é urgente e que os casos não podem ser analisados de forma isolada. Há uma série de recomendações feitas pela ONG aos países mencionados no estudo. Confira o relatório completo aqui.

    Marcia Sousa – Redação CicloVivo

     

  10. Futuro à ‘Blade runner’

    Futuro à ‘Blade runner’

    Do site da revista “Ciência Hoje” – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

    http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/futuro-a-2018blade-runner2019

    Diante das urgências do terceiro milênio e das perspectivas sombrias do que está por vir, Jean Remy Guimarães critica o comportamento irresponsável de nossas autoridades, que agem como se ainda vivêssemos na década de 1950.

    Por: Jean Remy Davée Guimarães

    Publicado em 18/04/2014 | Atualizado em 18/04/2014

    Futuro à ‘Blade runner’

    O filme ‘Blade runner’, de 1982, mostra uma Los Angeles sombria em 2019. Se mantivermos nosso padrão de consumo e desperdício, o futuro da Terra poderá seguir o mesmo caminho lúgubre. (imagem: divulgação Warner Bros.)

    Que memória guardamos dos anos 1950, se os vivemos? Se nascemos depois disso, que imagem nos foi transmitida desse período? Basicamente a imagem de um período de pujança, crescimento e otimismo.

    Recém-saídos dos horrores e privações da Segunda Guerra, agora todos queriam consumir, e o crescimento foi notável, no mesmo ritmo da reconstrução de tudo o que havia sido destruído. Carros enormes, grandes obras de infraestrutura, fast-foods… Impunha-se o estilo de vida dos vencedores como modelo a ser seguido em escala global.

    O modelo dos anos 1950 é baseado em uma economia linear de extração, transformação, uso e descarte, movida a carbono fóssil de carvão, petróleo e gás, e muito marketing e lobby

    Esse modelo é baseado em uma economia linear de extração, transformação, uso e descarte, movida a carbono fóssil de carvão, petróleo e gás, e muito marketing e lobby. É de essência autoritária e tecnocrática, acredita que podemos tudo, que há solução de engenharia para todos os problemas e que o engenho humano, como a cavalaria dos filmes, sempre chegará a tempo com uma solução salvadora.

    Ter uma mente dos anos 50 é ser ingênuo e arrogante ao mesmo tempo e acreditar que fumar não dá câncer, que tudo se resolve com um bom plano quinquenal e que os mercados são bonzinhos e se autorregulam.
     

    Tudo mudou, nada mudou

    Num corte rápido para a atualidade, o choque é inevitável. Tudo mudou, mas nada mudou. A economia continua linear, a população se multiplicou, e o motor ainda é o carvão, o petróleo e o gás. Os níveis atuais de consumo e desperdício só seriam sustentáveis com dois ou três planetas Terra, que não têm data prevista de lançamento. Deixe seu e-mail e avisaremos quando o produto estiver disponível.

    Apesar de todos os avisos que grupos como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) têm divulgado há anos, as emissões de carbono fóssil só aumentam, e o aquecimento médio da Terra em mais de 2 ºC já é considerado inevitável.

    Plataforma de petróleoPlataforma de petróleo na bacia de Campos (RJ). A exploração de combustíveis fósseis tem impacto direto no aumento de carbono na atmosfera. Segundo o IPCC, é inevitável o aquecimento médio da Terra em mais de 2 graus Celsius. (foto: Programa de Aceleração do Crescimento/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

    Para tentar frear uma catástrofe dolorosa, as recomendações são quase óbvias. Entre muitas outras, reduzir o consumo e as emissões de carbono, o desperdício, o crescimento populacional e a desigualdade; aumentar a eficiência, o investimento em transporte público, a governança, o uso de energias menos sujas.

    Não sei se perdi alguma coisa, mas no planeta onde moro a adoção dessas recomendações tem sido tão lenta e gradual quanto a abertura política no Brasil dos anos 1970-1980.
     

    Rodízio e ‘apaguinho’

    E o que vemos no Brasil de hoje? O fantasma do colapso da economia, devido à seca, a reservatórios à mingua, à geração de energia termoelétrica, mais cara e poluente. A grande discussão é sobre quando e quanto a conta de luz vai aumentar e sobre quando terá início o racionamento de água. Lamento, mas é totalmente esquizofrênico: o racionamento de água já existe, e se chama rodízio; o de luz também, e se chama ‘apaguinho’.

    O que vemos no Brasil de hoje? O fantasma do colapso da economia, devido à seca, a reservatórios à mingua, à geração de energia termoelétrica, mais cara e poluente

    Chegamos ao fim de um verão tórrido e muito, muito seco, com reservatórios quase vazios, e agora terá início uma longa seca. Não precisa ser vidente para concluir que 2014 vai ser um ano bastante difícil, a menos que a seca tenha o bom gosto de ser tão atípica quanto o período chuvoso sem chuvas e nos devolva, se possível, em suaves prestações, toda a água que o verão ingrato nos negou.

    Caso contrário, pecuária, agricultura, indústria e geração de energia vão levar um baque, e é melhor não pensar muito nas metas relativas ao inventário de emissões e ao controle da inflação, sem falar em todos os outros efeitos que deixo o leitor livre para imaginar, depois de tirar as crianças da sala.

    Mas não se empolgue. Os climatologistas suspeitam que neste ano vamos ter um El Niño bem crescidinho – e ultimamente esses caras só têm dado bola dentro, exceto quando são otimistas.

    Eles dizem, por exemplo, que o frio polar do último inverno na América do Norte está relacionado com emissões de poluentes na Índia, China e outros países longínquos. Isso é que é globalização: exporta-se poluição e colhem-se extremos climáticos.

    PoluentesPoluentes lançados na atmosfera por grandes indústrias ajudam a tornar a Terra cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas. (foto: Guilherme Cecílio/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

    Civilizações com um mínimo de autoestima resistem a um ou dois anos de clima atípico, mas não a uma sequência contínua deles. O problema é que conseguimos alterar o clima a tal ponto, que a biosfera é agora uma fábrica de anos de clima atípico, e nunca no bom sentido.
     

    Um mapa de arrepiar

    Se o leitor já tirou as crianças da sala, pode consultar o mapa da vulnerabilidade terrestre às mudanças climáticas produzido pelo IPCC. É de arrepiar. Em vermelho escuro estão toda a África do Saara para baixo e a área costeira que gera o PIB da África do Norte. Na América do Norte, idem para a Louisiana e o sul da Flórida; laranja para boa parte da costa leste. E, para quase todo o México, a América Central, Cuba e uma faixa que pega o Peru, a Bolívia, o Paraguai e as áreas economicamente mais importantes do Brasil, idem. Além do sudeste Asiático quase todo, da Índia e do Paquistão, e de boa parte da China.

    Enquanto isso, alguns países continuam achando natural usar chuveiro elétrico para o banho depois de um dia de cozimento ao sol dos trópicos e exultam por ter achado petróleo 7 km abaixo do nível do mar

    Os efeitos serão bem menores no resto do mundo, isto é, a maior parte dos Estados Unidos, da Europa, da Rússia e do leste europeu. Veja que perversidade: os maiores consumidores e emissores de carbono – maiores responsáveis, portanto, pela desregulação do clima – pagarão a conta mais leve. Ah, talvez não, pois não falei das hordas de refugiados que esses países tentarão manter fora de suas vastas fronteiras. Eu avisei que era para tirar as crianças da sala…

    Evitar a concretização desse futuro à Blade runner talvez já não seja possível. Mas, se mesmo assim tentarmos revertê-lo, a tarefa será hercúlea e global – e já estamos muito, muito atrasados para começar a realizá-la.

    Enquanto isso, alguns países continuam achando natural usar chuveiro elétrico para o banho depois de um dia de cozimento ao sol dos trópicos, exultam por ter achado petróleo 7 km abaixo do nível do mar e ainda estão pensando se vão ou não iniciar uma campanha de racionalização do uso de água e energia. Isso é típico dos anos 1950.

    Com essa mentalidade e esse repertório, vai ser difícil evitar as previsões de James Lovelock, mencionadas na coluna anterior. E, com nossos atuais sistemas de representação, esse modelo não mudará tão cedo, qualquer que seja o seu voto nas próximas eleições.

    Jean Remy Davée Guimarães
    Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
    Universidade Federal do Rio de Janeiro

     

  11. Guerra e morte do dólar americano? Os EUA ou o mundo estão a che

    Guerra e morte do dólar americano?
    Os EUA ou o mundo estão a chegar ao fim?

    Do “Resistir.info”

    http://resistir.info/financas/morte_do_dolar_p.html

    por Paul Craig Roberts [*]

    2014 está a perfilar-se como o ano de ajuste de contas para os Estados Unidos.

    Duas pressões estão a acumular-se sobre o dólar americano. Uma decorre da declinante capacidade do Federal Reserve para manipular o preço do ouro quando as reservas ocidentais encolhem e se espalha no mercado o conhecimento da ilegal manipulação de preços feita pelo Fed. É inequívoca a evidência de quantidades maciças de vendas a descoberto a serem despejadas no mercado de futuros do ouro numa altura em que a comercialização é fraca. Tornou-se óbvio que o preço do ouro está a ser manipulado no mercado de futuros a fim de proteger o valor do dólar das consequências da quantitative easing (QE).

    A outra pressão provém das loucas ameaças do regime de Obama, de sanções contra a Rússia. Outros países já não estão dispostos a tolerar o abuso de Washington quanto ao padrão dólar mundial. Washington utiliza os pagamentos internacionais com base no dólar para prejudicar as economias de países que resistem à hegemonia política de Washington.

    A Rússia e a China já estão fartas. Conforme noticiei e conforme Peter Koenig noticia, a Rússia e a China estão a desligar do dólar o seu comércio internacional. Daqui em diante, a Rússia efectuará o seu comércio, incluindo a venda de petróleo e de gás natural à Europa, em rublos e nas divisas dos seus parceiros do BRICS.

    Isto significa uma grande quebra na procura de dólares americanos e uma queda correspondente no valor cambial do dólar.

    Conforme John Williams ( shadowstats.com ) deixou claro, a economia dos EUA não recuperou dos maus tempos de 2008 e tem continuado a enfraquecer. A grande maioria da população americana há anos que está a ser fortemente pressionada pela falta de crescimento dos rendimentos. Como actualmente os EUA são uma economia dependente quanto a importações, uma queda no valor do dólar aumentará os preços nos EUA e fará baixar o nível de vida.

    Todos os indícios apontam para o fracasso económico dos EUA em 2014, e é essa a conclusão do relatório de John William, de 9 de Abril.

    Este ano também pode vir a assistir ao colapso da NATO e talvez mesmo da UE. O golpe imprudente de Washington na Ucrânia e a ameaça de sanções contra a Rússia empurraram os estados marionetes da NATO para um terreno perigoso. Washington avaliou mal a reacção na Ucrânia quando derrubou o seu governo democraticamente eleito e impôs um governo fantoche. A Crimeia separou-se rapidamente da Ucrânia e juntou-se à Rússia. Poderão seguir-se em breve outros territórios outrora russos.

    Os descontentes em Lugansk, Donetsk e Kharkov estão a exigir referendos. Os descontentes promulgaram a República Popular de Donetsk e a República Popular de Kharkov. O governo fantoche de Washington em Kiev ameaçou dominar os protestos com a violência. ( rt.com/news/eastern-ukraine-violence-threats-405/ )

    Washington afirma que as manifestações de protesto são organizadas pela Rússia, mas ninguém em Washington acredita, nem mesmo os seus fantoches ucranianos.

    Notícias na imprensa russa identificaram mercenários americanos entre as forças de Kiev enviadas para dominar os separatistas na Ucrânia oriental. Um membro da extrema-direita, o neo-nazi Partido Patriota no parlamento de Kiev defendeu que os manifestantes fossem abatidos a tiro.

    A violência contra os manifestantes provocará provavelmente a intervenção do exército russo e o regresso da Rússia aos seus antigos territórios na Ucrânia oriental que foram anexados à Ucrânia pelo Partido Comunista soviético.

    Com Washington a aventurar-se a proferir ameaças em crescendo, Washington está a empurrar a Europa para duas confrontações altamente indesejáveis. Os europeus não querem uma guerra com a Rússia por causa do golpe de Washington em Kiev e entendem que quaisquer sanções contra a Rússia, se concretizadas, serão muito mais prejudiciais para eles próprios. Na UE, a crescente desigualdade económica entre os países, o alto desemprego, e a rigorosa austeridade económica imposta aos membros mais pobres têm provocado enormes tensões. Os europeus não estão dispostos a suportar o fardo dum conflito com a Rússia orquestrado por Washington. Enquanto Washington oferece à Europa guerra e sacrifícios, a Rússia e a China propõem comércio e amizade. Washington fará os possíveis para manter os políticos europeus comprados-e-pagos e alinhados com as políticas de Washington, mas para a Europa os riscos de alinhar com Washington são agora muito maiores.

    Em muitas frentes, Washington está a surgir aos olhos do mundo como aldrabão, inconfiável e completamente corrupto. James Kidney, promotor público da Securities and Exchange Comission [SEC], aproveitou a ocasião da sua aposentação para revelar que superiores seus haviam arquivado os seus processos da Goldman Sachs e de outros “bancos demasiado grandes para falir”, porque os seus patrões da SEC não estavam preocupados com a justiça mas “em arranjar empregos com altas remunerações após o seu serviço público”, protegendo os bancos contra processos pelas suas acções ilegais. ( http://www.counterpunch.org/2014/04/09/65578/ )

    A Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional foi apanhada a tentar usar meios de comunicação sociais para derrubar o governo de Cuba. ( rt.com/news/cuba-usaid-senate-zunzuneo-241/ )

    Esta imprudência audaciosa aparece a seguir ao derrube do governo ucraniano incitado por Washington, ao escândalo da espionagem da NSA, ao relatório de investigação de Seymour Hersh de que o gás sarin na Síria foi um incidente clandestino organizado pela Turquia, membro da NATO, a fim de justificar um ataque militar dos EUA à Síria, a seguir à imposição de Washington de fazer aterrar e passar busca ao avião presidencial do presidente boliviano Evo Morales, às “armas de destruição maciça” de Saddam Hussein, à má utilização da resolução de zona de exclusão aérea da Líbia para um ataque militar, etc. etc. Essencialmente, Washington conseguiu minar de tal modo a confiança de outros países quanto ao discernimento e integridade do governo americano que o mundo perdeu a fé na liderança dos EUA. Washington está reduzido a ameaças e subornos e aparece cada vez mais como um agressor.

    Estes tiros no pé reflectiram-se na credibilidade de Washington. O pior de todos é a crescente percepção generalizada de que a louca teoria de conspiração de Washington sobre o 11/Set é falsa. Grande número de especialistas independentes, assim como mais de cem prestadores de primeiros socorros contradisseram todos os aspectos da absurda teoria da conspiração de Washington. Nenhuma pessoa esclarecida acredita que meia dúzia de árabes sauditas, que não sabiam pilotar aviões, e a funcionar sem a ajuda de qualquer agência de informações, pudesse iludir todo o estado de Segurança Nacional, não apenas as 16 agências de informações americanas, mas também todas as agências de informações da NATO e de Israel.

    Nada funcionou no 11/Set. A segurança do aeroporto falhou quatro vezes numa hora, mais falhas numa hora do que ocorreram durante as 116.232 horas do século XXI, todas juntas. Pela primeira vez na história, a Força Aérea dos EUA não conseguiu interceptar inimigos no chão e nos céus. Pela primeira vez na história, o Controlo de Tráfego Aéreo perdeu aviões comerciais durante mais de uma hora e não o comunicou. Pela primeira vez na história, incêndios de baixas temperaturas, de vida curta, nalguns pisos, provocaram o enfraquecimento e colapso de estruturas de aço maciças. Pela primeira vez na história, três arranha-céus caíram em queda livre acelerada, sem o benefício de demolição controlada que eliminasse a resistência por baixo.

    Dois terços dos americanos acreditaram nesta patranha. A esquerda acreditou porque encarou-a como uma história de oprimidos a vingarem-se do império maléfico da América. A direita acreditou na história, porque interpretaram-na como de muçulmanos diabólicos a atacar a boa América. O presidente George W. Bush exprimiu muito bem a visão da direita: “Eles odeiam-nos por causa da nossa liberdade e democracia”.

    Mas mais ninguém acreditou nela, muito menos os italianos. Os italianos tinham sido informados, anos antes, de incidentes secretos, quando o seu presidente revelou a verdade sobre a secreta Operação Gládio . A Operação Gládio foi chefiada pela CIA e pelos serviços secretos italianos durante a segunda metade do século XX, para colocação de bombas que mataram mulheres e crianças europeias a fim de acusar os comunistas e, a partir daí, minarem o apoio aos partidos comunistas europeus.

    Os italianos foram dos primeiros a fazer apresentações em vídeo contestando a história bizantina de Washington sobre o 11/Set. A última desta contestação é o filme “Zero”, de 1 hora e 45 minutos.

    Podem vê-lo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=QU961SGps8g&feature=youtu.be

    “Zero” foi produzido pela companhia italiana Telemaco como um filme de investigação sobre o 11/Set. Nele aparece muita gente ilustre, juntamente com especialistas independentes. Em conjunto, contestam todas as afirmações feitas pelo governo dos EUA, relativas à sua explicação do 11/Set.

    O filme foi exibido no parlamento europeu.

    É impossível que alguém que veja este filme acredite numa só palavra da explicação oficial do 11/Set.
    A conclusão é que cada vez é mais difícil desmentir que elementos do governo dos EUA tenham feito ir pelos ares três arranha-céus de Nova Iorque a fim de destruir o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, a Somália, a Síria, o Irão, e o Hezbollah, e de lançar o programa dos neoconservadores dos EUA para uma hegemonia mundial dos EUA.

    A China e a Rússia protestaram mas aceitaram a destruição da Líbia embora tenha sido em seu próprio prejuízo. Mas o Irão é uma linha vermelha. Washington ficou bloqueado, por isso decidiu provocar grandes problemas à Rússia na Ucrânia a fim de desviá-la do programa de Washington noutros locais.

    A China tem estado hesitante sobre os compromissos entre os seus excedentes comerciais com os EUA e o crescente cerco de Washington que lhe é feito com as suas bases navais e aéreas. A China chegou à conclusão de que a China e a Rússia têm o mesmo inimigo – Washington.

    Pode acontecer uma de duas coisas: ou o dólar americano será posto de lado e o seu valor entra em colapso, acabando assim com a situação de superpotência de Washington e a ameaça de Washington à paz mundial, ou Washington empurrará os seus fantoches para um conflito militar com a Rússia e a China. O resultado duma guerra dessas será muito mais devastador do que o colapso do dólar americano.

    10/Abril/2014 Do mesmo autor:
    Washington Drives The World To War. CIA Intervention in Eastern Ukraine , 15/Abril/2014

    O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/... . Tradução de Margarida Ferreira.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . 16/Abr/14

  12. A Europa arrastada a uma divisão do mundo entre devedores e cre

    A Europa arrastada a uma divisão do mundo entre devedores e credores
    – as soluções desesperadas dos EUA para não afundarem sós

    Do “Resistir.info”

    http://resistir.info/crise/geab_84.html

    por GEAB [*]

    Composição de Walter W. Smith. A actual confrontação entre a Rússia e o Ocidente na crise ucraniana recorda inevitavelmente a imagem da guerra fria e os media evidentemente rejubilam com isso. Ora, ao contrário do que eles dão a entender, não é a Rússia que procura o retorno da cortina de ferro mas sim os Estados Unidos. Uma cortina de ferro separando antigas potências e países emergentes, mundo de antes e mundo de depois, devedores e credores. E nesta esperança um tanto louca de preservar o american way of life e a influência dos Estados Unidos sobre o “seu” campo na impossibilidade de poder impô-lo sobre o mundo inteiro. Por outras palavras, afundar com o maior número de companheiros possível para ter a impressão de não afundar.

    Para os Estados Unidos, este é de facto o jogo actual: arrastar consigo todo o campo ocidental para poder continuar a dominar e a comerciar com um número suficiente de países. Assiste-se assim a uma formidável operação de viragem de opiniões e de líderes na Europa a fim de assegurar governos dóceis e compreensivos em relação ao patrão americano, operação apoiada por uma blitzkrieg para ligá-los definitivamente ao TTIP e para isolá-los do que poderia ser a sua tábua de salvação, ou seja, os BRICS, seus mercados imensos, suas dinâmicas de futuro, sua ligação com os países em vias de desenvolvimento, etc. Analisamos todos estes aspectos neste número do GEAB, assim como a utilização subtil do medo de uma deflação a fim de convencer os europeus a adoptarem os métodos estado-unidenses.

    À luz da extrema periculosidade dos métodos empregues pelos Estados Unidos, não é preciso dizer que abandonar o navio estado-unidense não seria um acto de traição por parte da Europa mas sim um avanço importante para o mundo como já analisámos longamente em números anteriores do GEAB [1] . Infelizmente os dirigentes europeus mais razoáveis estão completamente paralisados e a melhor estratégia que actualmente ainda são capazes de executar, no melhor dos casos, parece ser uma simples temporização [2] , certamente útil e bem vinda mas dificilmente suficiente…

    Plano do artigo completo:
    1. MÁSCARAS ABAIXO
    2. RÁPIDO, UM TTIP
    3. UMA ABERRAÇÃO ECONÓMICA
    4. INSTILAR NA EUROPA O MEDO DA DEFLAÇÃO, A SEGUNDA ARMA DOS EUA
    5. DEVEDORES CONTRA CREDORES, O MUNDO CORTADO EM DOIS

    Apresentamos neste comunicado público extractos das partes 1 e 2.

    MÁSCARAS ABAIXO

    Na era da Internet e dos casos tipo “-leaks”, guardar um segredo tornou-se difícil para os agentes secretos e para os países com mãos sujas. Além das revelações de Snowden ou da Wikileaks, soube-se recentemente que os Estados Unidos estavam por trás de uma rede social em Cuba que visava desestabilizar o governo [3] . Ou pode-se visionar este vídeo revelado oportunamente no Youtube [4] mostrando os americanos a manobrarem por trás do golpe de Estado na Ucrânia. Ou ainda que aparentemente eles não são inocentes na actual desestabilização de Erdoðan na Turquia [5] , país cuja situação pormenorizaremos no próximo GEAB [6] … As máscaras caem… com provas certeiras que já mais ninguém pode ignorar.

    Mas os Estados Unidos já não se contentam com países em desenvolvimento ou repúblicas bananeiras… Na Europa, conseguem igualmente dobrar dirigentes uns após os outros, a fim de que sigam docilmente os interesses americanos. Não se trata mais de “O que é bom para a General Motors é bom para a América” como declarava em 1953 Charles Wilson (ex-presidente da GM), mas de “O que é bom para os Estados Unidos é bom para a Europa”. Eles já tinham o apoio de Cameron, Rajoy, Barroso, Ashton… Eles conseguiram obter o da Polónia de Donald Tusk apesar de este ter sido fortemente renitente no princípio do seu mandato [7] , o da Itália graças ao oportuno golpe de Estado de Renzi [8] e o da França de Hollande/Valls graças em particular à remodelação ministerial e a um primeiro-ministro pouco suspeito de anti-americanismo. Ao contrário [do que acontecia] no início do seu mandato quando jogava a carta da independência, no Mali ou em outras frentes, François Hollande agora parece completamente submisso aos Estados Unidos. Que pressões terá sofrido? A Alemanha, por sua vez, ainda resiste um pouco, mas por quanto tempo? [9] Aprofundámos esta reflexão na parte Télescope.

    A Europa é assim arrastada para os interesses dos EUA. Como veremos, estes não são os seus nem em termos de política, nem de geopolítica, nem de comércio. Enquanto os BRICS escolheram uma via oposta e procuram livrar-se a todo custo da influência doravante profundamente nefasta dos Estados Unidos, a Europa neste momento é o peru da festa. Testemunho disso é, por exemplo, a compra pela Bélgica de 130 mil milhões de dólares de Títulos do Tesouro dos EUA ao longo de três meses, de Outubro 2013 a Janeiro 2014 (último dado disponível [10] ), ou seja, a um ritmo anual superior ao do seu PIB [11] … Certamente não é a própria Bélgica que é responsável por esta aberração, mas é claro que Bruxelas, ou seja, a UE como soldadinho dos EUA.

    Politicamente a Europa está abafada pelos Estados Unidos que podem saltar de alegria com a ausência de qualquer liderança [europeia]. E o meio de selar definitivamente esta captura americana da Europa chama-se TTIP…

    RÁPIDO, UM TTIP

    Já documentámos amplamente: ao contrário dos discursos triunfantes da “retomada” que repousam sobre os preços imobiliário que sobem e da bolsa que está mais alta, a economia real dos EUA está a ganir. A taxa de privação alimentar é mais elevada do que na Grécia.
     

    As lojas, mesmo as mais baratas, fecham a porta por falta de clientes [12] . Os pedidos de empréstimo imobiliário estão no ponto mais baixo, o que é de mau agouro e prenuncia uma reversão iminente como antecipámos no GEAB nº 81.

    […]

    Mas como já havíamos dito, não está aí o essencial. A grande aposta do TTIP é a preservação do dólar nos intercâmbios comerciais e a manutenção da Europa no regaço estado-unidense a fim de evitar que se constitua num bloco Euro-BRICS capaz de contrapor-se aos Estados Unidos.

    Assim, a crise ucraniana, sob o pretexto da agressividade russa e do abastecimento de gás, é um bom meio, no pânico, de impor a agenda dos Estados Unidos e dos lobbies face a dirigentes europeus demasiado fracos para agir. O que não estava previsto é que o interesse destes lobbies não segue forçosamente o sentido que se crê…

    […]

    Notas:
    1. Assim como a China, em particular, ordena-lhe o que fazer por meio dos seus acordos de swap.
    2. Aguardando as eleições europeias, nomeadamente.
    3. Fonte: The Guardian , 03/04/2014.
    4. Fonte: Reuters , 06/02/2014.
    5. Na sequência da utilização pelos Estados Unidos das redes sociais em Cuba como mencionando anteriormente, não é de espantar que Erdoðan tenha decidido cortar o Twitter na Turquia. Por sua vez, o turco Fethullah Gülen, instigador do movimento Gülen que se opõe ao governo Erdoðan, reside… nos Estados Unidos. Fontes: Aljazeera (13/03/2014), Wikipédia .
    6. Pequeno parênteses: nossa equipe não pode deixar de pensar que se De Gaulle, tão admirado em França, governasse hoje, ele também seria considerado como um autocrata a derrubar, a exemplo de Erdoðan ou de Putine… Dirigir eficazmente no interesse do seu país parece agora ser considerado como incompatível com a democracia sob a sua forma actual, que deve ser fraca…
    7. Fonte: Wikipédia . Donald Tusk é agora um fervoroso apoiante do gás de xisto na Polónia e levanta-se contra a Rússia. Fontes: Wall Street Journal (11/03/2014), DnaIndia (05/04/2014).
    8. Ler também RT , 01/04/2014.
    9. Fonte: EUObserver , 10/04/2014.
    10. Fonte: US Treasury .
    11. Seu excedente comercial de cerca de 1% do PIB terá dificuldade em explicar por si só esta capacidade de compra…
    12. Ver por exemplo ABCNews , 10/04/2014.
    15/Abril/2014
    [*] Global Europe Anticipation Bulletin.

    O original encontra-se em http://www.leap2020.eu/...

    Este comunicado público encontra-se em http://resistir.info/ . 20/Abr/14

  13. Executivos dos EUA ganham 331 vezes mais que um empregado médio

    Executivos dos EUA ganham 331 vezes mais que um empregado médio

    Do “Diário Liberdade”

    http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/404-laboraleconomia/47798-executivos-dos-eua-ganham-331-vezes-mais-que-um-empregado-m%C3%A9dio.html

    Estados Unidos – Esquerda – [Jim Lobe] Esta realidade contrasta drasticamente com a que existia após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em 1950, por exemplo, os salários dos diretores das corporações eram 20 vezes maiores que os dos trabalhadores.

    Uma sondagem divulgada nesta semana pela maior federação sindical dos Estados Unidos conclui que os diretores executivos das principais empresas do país ganharam 331 vezes mais que o trabalhador médio em 2013.

    Segundo o banco de dados 2014 Executive PayWatch, da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO, das suas siglas em inglês), os executivos de 350 empresas do país ganharam uma média de 11,7 milhões de dólares no ano passado, em comparação com o trabalhador médio, que recebeu 35.293 dólares.

    Os mesmos chefes obtiveram, em média, um rendimento 774 vezes maior que os trabalhadores que receberam o salário mínimo federal por hora de 7,25 dólares, ou pouco mais de 15.000 dólares ao ano, segundo o banco de dados.

    Outra investigação das principais 100 corporações dos EUA, divulgada pelo The New York Times, concluiu que a compensação média de um diretor dessas empresas no ano passado foi ainda superior: 13,9 milhões de dólares.

    Esse relatório, o Equilar 100 CEO Pay Study, conclui que, em conjunto, esses altos executivos ganharam 1.500 milhões de dólares em 2013, um pouco mais que no ano anterior.

    Como nos últimos anos, quem mais dinheiro recebeu foi Lawrence Ellison, diretor executivo da Oracle: 78,4 milhões de dólares.

    Os dois estudos, divulgados na altura em que dezenas de milhões de pessoas apresentam a sua declaração anual de impostos, jogam lenha ao acalorado debate sobre o aumento da desigualdade de rendimentos neste país.

    O fenómeno saltou para o primeiro plano com o movimento Ocupy Wall Street de 2011.

    O presidente Barack Obama descreveu-o como “o desafio que define o nosso tempo”, quando inicia a campanha pelas eleições de meio do mandato.

    O presidente tentou dar-lhe resposta aumentando o salário mínimo e ampliando os benefícios para os desempregados e o pagamento de horas extra aos trabalhadores federais, entre outras medidas.

    O facto de Obama mencionar a desigualdade e os perigos que ela acarreta fá-lo ganhar um verdadeiro apoio intelectual, e mesmo teológico, nos últimos meses.

    Numa revisão da sua tradicional ortodoxia neoliberal, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou no mês passado um estudo sobre os efeitos negativos da desigualdade no crescimento económico e na estabilidade política.

    A diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, advertiu que a desigualdade cria “uma economia da exclusão”, que ameaça “o precioso tecido que mantém unida a nossa sociedade”.

    O papa Francisco também se pronunciou reiteradamente sobre os perigos que representa a desigualdade económica, por exemplo, numa reunião privada que no mês passado manteve com Obama no Vaticano.

    O relatório “Global Risks” do Fórum Económico Mundial, publicado em janeiro, sustenta que a marcada desigualdade de rendimentos será o maior risco para a estabilidade mundial na próxima década.

    Entretanto, um novo estudo do economista francês Thomas Piketty, “O capital no século XXI”, que compara a desigualdade de hoje com a de finais do século XIX, recebe críticas favoráveis em praticamente todas as principais publicações.

    A obra baseia-se em dados de dezenas de países do Ocidente que remontam a dois séculos.

    Piketty argumenta que são necessárias medidas radicais de redistribuição, como um “imposto mundial ao capital”, para reverter as atuais tendências para uma maior desigualdade. O autor está nesta semana em Washington para dissertar diante de expoentes de vários centros de pensamento.

    A decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que no início deste mês ampliou os limites das contribuições que podem fazer os abastados aos partidos políticos e às campanhas eleitorais, faz temer a muitos que a democracia dos EUA vá a caminho de se converter numa plutocracia.

    A diferença de 331 a um entre o que recebem os 350 diretores executivos e o trabalhador médio é coerente com a desigualdade salarial característica da última década.

    Esta realidade contrasta drasticamente com a que existia após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em 1950, por exemplo, os salários dos diretores das corporações eram 20 vezes maiores que os dos trabalhadores.

    Em 1980, antes que o governo de Ronald Reagan (1981-1989) começasse a implementar as suas políticas económicas da “magia do mercado”, era preciso multiplicar por 42 o salário de um trabalhador para obter o de um alto executivo, segundo Sarah Anderson, veterana observadora das compensações do Instituto de Estudos Políticos de Washington.

    “Não acho que ninguém, exceto talvez Larry Ellison, possa dizer que os gerentes de hoje são uma forma evoluída do homo sapiens em comparação com os seus predecessores de há 30 ou 60 anos”, ironizou Bart Naylor, promotor de políticas financeiras na organização Public Citizen.

    “Os que criaram a indústria farmacêutica e a de alta tecnologia… eram altos executivos e não drenavam a economia do modo que o fazem os executivos de hoje”, disse à IPS.

    “O mecanismo de recompensas aos executivos está arruinada”, acrescentou.

    O que enfurece os sindicalistas é que muitas destas empresas sustentam que não podem se dar o luxo de aumentar os salários aos seus trabalhadores.

    “A Pay Watch chama a atenção sobre o enlouquecido nível de compensações dos diretores executivos, enquanto os trabalhadores que criam esses ganhos não conseguem receber o suficiente para cobrir as suas despesas básicas”, disse o presidente da AFL-CIO, Richard Trumka.

    “Vejam os benefícios pela reforma do presidente da Yum Brands, dona da KFC, da Taco Bell e da Pizza Hut: mais de 232 milhões de dólares, com impostos diferidos”, disse Anderson.

    “É obsceno para uma corporação que emprega mão de obra barata”, acrescentou.

    Atualmente, o Congresso legislativo considera várias medidas para abordar o assunto, ainda que a maioria delas conte com a oposição dos republicanos, que são maioria na Câmara de Representantes.

    Não obstante, um projeto tributário apresentado pelo presidente republicano do poderoso Comité de Meios e Arbítrios dessa câmara pode pôr fim a uma clara injustiça, a que exime os executivos de pagar impostos pelos “honorários por desempenho” que recebem quando cumprem certas metas fixadas pela direção da empresa.

    Além disso, a Comissão Nacional de Valores começa a aplicar uma norma pendente desde há tempo que exigirá às corporações que cotadas em bolsa que revelem os rendimentos dos seus diretores executivos, comparados aos seus empregados de tempo completo, parcial, temporário, tanto norte-americanos como estrangeiros.

    17 de abril de 2014

    Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

  14. Cotando o desastre ambiental na Bolsa

    Nassif, esta semana vi em diferentes sites na internet, como o Envolverde, Diário Liberdade, Carta Capital, artigos chamando a atenção sobre uma nova tendencia de riscos e catástrofes ambientais serem cotados em bolsa ou serem objeto de especulação financeira, como são vários textos ao inves de coloca-los todos aqui fica a sugestão para um debate sobre o assunto, já que parece que a ideologia financista perdeu os escrúpulos de vez, seguem os links:

     

    Desastres ambientais viram um bom negócio para o mercado financeiro

    http://envolverde.com.br/category/economia/

    Catástrofes climáticas cotadas na bolsa: Quando as finanças se conectam com a natureza

    http://www.diarioliberdade.org/mundo/consumo-e-meio-natural/47668-cat%C3%A1strofes-clim%C3%A1ticas-cotadas-na-bolsa-quando-as-finan%C3%A7as-se-conectam-com-a-natureza.html

    Brincando com a catástrofe climática

    http://www.diarioliberdade.org/mundo/consumo-e-meio-natural/47412-brincando-com-a-cat%C3%A1strofe-clim%C3%A1tica.html

    Quando as finanças se conectam com a natureza

    http://www.diarioliberdade.org/mundo/consumo-e-meio-natural/47278-quando-as-finan%C3%A7as-se-conectam-com-a-natureza.html

     

  15. Estados Unidos: soa o alarme da desigualdade

    Estados Unidos: soa o alarme da desigualdade

    Do “Le Monde Diplomatique”

    http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=1624

     

    O enriquecimento de uma minoria estimularia o crescimento, favorecendo a queda do desemprego e a melhora de vida dos pobres: esse postulado há tempos preside o destino dos EUA. Enquanto as classes populares continuam a sofrer com a crise e o fosso social aumenta, essa concepção é posta em xeque pelo presidente Obama

    por Kostas Vergopoulos

    Nas águas tranquilas dos debates sobre o futuro do capitalismo, quem veio quebrar a calmaria não foi um contestador declarado, mas um dos mais ardentes defensores do sistema: Lawrence Summers. Ex-reitor de Harvard, ele ficou famoso por sua paixão pela desregulamentação bancária quando ocupou o cargo de secretário das Finanças do segundo governo Clinton (1999-2001). Nomeado por Barack Obama diretor do Conselho Econômico Nacional (National Economic Council, NEC), cargo que ocupou até 2010, Summers agora distribui seus conselhos para o mundo das finanças (o fundo especulativo D.E. Shaw dirigiu-lhe US$ 5,2 milhões entre 2008 e 2009), sobretudo por meio de conferências pelas quais se pagam até US$ 135 mil. Assim, ninguém esperava que dele soprasse a menor brisa de contestação.

    Mas ela veio no dia 9 de novembro de 2013, na conferência anual do Fundo Monetário Internacional (FMI),1 em Washington. “E se o capitalismo não puder ser reformado e estiver preso na armadilha de uma estagnação secular?”, perguntou o amigo dos banqueiros. “Tentamos de tudo para reiniciar o crescimento, mas o sistema hesita em reiniciar como antes.” Constatando que, como já praticava taxas de juros próximas a zero, o Federal Reserve (banco central norte-americano) quase não tinha mais margem de manobra para estimular a economia, Summers apresentou uma tese que deve ter gelado o sangue da plateia: “As bolhas talvez tenham se tornado o preço inevitável a pagar para evitar os riscos mais graves de deflação e desemprego estrutural em massa”.

    Quatro indicadores fundamentais, todos com tendência de baixa, explicam esse humor negro: a queda contínua, por três décadas, da taxa de juros natural,* ou seja, o lucro (os termos marcados com asterisco estão explicados no glossário); o recuo, há treze anos, da produtividade do trabalho; a contração da demanda interna desde a década de 1980; e, finalmente, a estagnação ou mesmo regressão do investimento produtivo* e da formação bruta de capital fixo* desde 2001, a despeito das injeções maciças de estímulos monetários praticadas tanto por Alan Greenspan como por seu sucessor à frente do Federal Reserve, Ben Bernanke.2

    Resultado: ansiosos por garantir sua própria sobrevivência, os detentores do capital já não procuram maximizar os lucros incrementando a produção, mas aumentando as retiradas sobre o valor agregado* – mesmo à custa da contração do crescimento. O sistema estaria exausto, sem nenhum remédio que pareça capaz de socorrê-lo, tendo ainda de enfrentar problemas sociais que agravam um pouco mais a “corrosão” do edifício. De um lado, o crescimento das desigualdades enfraquece a classe média, considerada “fiadora” da estabilidade da sociedade, das instituições e da democracia; de outro, o desemprego em massa leva ao mesmo tempo a uma perda de rendimento (para a nação) e de lucros potenciais (para o capital).

     

    Empresas que não mais investem

    Assim que as palavras “estagnação” e “secular” foram lançadas, começaram a chover reações. Elas foram de perplexidade entre os progressistas, surpresos por se reconhecerem na constatação da “irreformabilidade” do capitalismo colocada por um de seus adversários ideológicos declarados; e de negação entre os conservadores, desconfiados ao ver um dos seus duvidar também. A estes, no entanto, o dissidente lembrou: “Não devemos confundir previsão e recomendação”.3

    O temor de Summers primeiro foi percebido como um eco do diagnóstico formulado nos anos 1930 pelo economista norte-americano Alvin Hansen (1887-1975).4 Mas a “estagnação secular” vislumbrada por este decorria sobretudo do abrandamento do crescimento demográfico e do esgotamento das grandes inovações tecnológicas capazes de insuflar uma segunda juventude ao sistema econômico. Sua análise colocava-se ao lado daquela elaborada por John Maynard Keynes, pessimista sobre o futuro do capitalismo, porém convencido de que a crise deveria (e poderia) ser evitada. Summers, no entanto, não evoca o fator demográfico nem qualquer esgotamento das inovações tecnológicas. Ele fundamenta sua avaliação no balanço empírico das últimas três décadas.

    A direita neoliberal acusa-o de inverter a cadeia de causalidade: as bolhas financeiras não teriam estimulado o crescimento, mas conduzido ao impasse; o resultado econômico pífio dos países ocidentais não explicaria seu superendividamento, mas decorreria dele. O ex-membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE) Lorenzo Bini Smaghi assim avalia: “Não é a austeridade que enfraquece o crescimento, mas o inverso: é o crescimento fraco que torna a austeridade necessária”.5 Há quem chegue a apelar para Keynes contra Summers: enquanto o economista britânico propunha a “eutanásia dos rentistas” – nada menos que isso –, tolerar as bolhas financeiras para estabilizar a economia seria, ao contrário, adulá-los.6

    Quando o ex-ministro pediu a restauração do “círculo virtuoso” do crescimento, seus críticos ortodoxos apresentaram-lhe as virtudes da “austeridade expansiva”, que estimularia a economia “saneando” suas bases. Se o problema atual é realmente secular, argumentam, ele requer soluções que também o sejam, e não “passes de mágica”. Exemplos de soluções estruturais evocadas: redução da carga fiscal sobre as empresas ou, como reivindicam os republicanos nos Estados Unidos, “libertar a economia do peso esmagador do Estado de bem-estar”, descrito como “o mais caro do mundo”.7 Outros, como Kenneth Rogoff, professor de Harvard, sugerem que o baixo crescimento desde 2008 não reflete uma tendência secular, mas a incapacidade de os governos gerirem sua dívida sem prejudicar o crescimento.8

    No campo progressista, Paul Krugman, vencedor do Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, do Banco Real da Suécia, endossa a constatação de Summers, mas refuta sua conclusão: a ideia da estagnação como “nova norma” do sistema capitalista.9 Segundo ele, é um equívoco considerar que foram empregados todos os meios para estimular a economia: apenas a arma monetária teria sido usada, por meio da baixa da taxa de juros e da emissão de liquidez adicional. Resta, portanto, a arma orçamental, que permite o estímulo por meio de investimentos públicos, o que permitiria compensar a contração de seus corolários privados.

    Isso porque, embora tenham caixa, as grandes empresas não investem. Em 22 de janeiro, o Financial Timesinformou que as empresas não financeiras dos Estados Unidos detinham US$ 2,8 trilhões, sendo US$ 150 bilhões apenas nos cofres da Apple. O jornalista James Saft observou, no New York Times: “As empresas parecem bem mais dispostas a empilhar notas, ou utilizá-las para recomprar ações, do que a criar novas capacidades produtivas”.10 Os ativos intangíveis* representavam cerca de 5% dos ativos de empresas norte-americanas nos anos 1970; em 2010, essa proporção era de 60%.

    Entre 2010 e 2013, o Federal Reserve injetou quase US$ 4 trilhões na economia dos Estados Unidos. Mas, longe de reforçar a capacidade produtiva do país, boa parte dessa soma foi para investimentos especulativos altamente rentáveis, sobretudo nos países emergentes. De modo que a quantidade total de liquidez hoje “disponível” na economia norte-americana continua inferior à de 2008. O mesmo fenômeno acontece na Europa.11

    Uma economia que se recusa a reagir com dinheiro fluindo? O problema é bem conhecido: trata-se da “armadilha da liquidez” descrita por Keynes em 1930. Para sair disso, uma única solução: recorrer à segunda ferramenta da política econômica, a despesa orçamentária. “Em tempos de recessão”, diz Krugman, “qualquer despesa é boa. A produtiva é melhor, mas até a despesa improdutiva é melhor que nada.”12

     

    Uma ideia absurda na Europa

    Enquanto os admiradores dos grandes pensadores liberais, como Ayn Rand, Friedrich Hayek e Milton Friedman, continuam a defender a desigualdade, a qual erigem em condição incontornável para a recuperação e a prosperidade, os Estados Unidos tomam consciência de sua nocividade. Em sua fala no dia 4 de dezembro de 2013, e mais ainda no discurso sobre o estado da União em 29 de janeiro de 2014, o presidente Obama não apenas denunciou as diferenças de renda e riqueza – que não param de crescer –, mas também insistiu que “a desigualdade mata a economia, o crescimento, o emprego”.

    Ex-ministro do Trabalho de Bill Clinton, Robert Reich acaba de fazer um documentário, intitulado Inequality for all[Desigualdade para todos], sobre o agravamento das desigualdades nos Estados Unidos. O salário médio era de US$ 48 mil em 1978; hoje, em termos de poder de compra, não passa do equivalente a US$ 34 mil. Em contraste, a renda familiar média do percentil mais rico da população norte-americana, que em 1978 era de US$ 393 mil, passou para US$ 1,1 milhão. Em cinco anos, 1% da população captou 90% do crescimento do PIB e 99% da população dividiu os outros 10%. Quatrocentos e cinquenta indivíduos dispõem sozinhos do mesmo montante que 150 milhões de norte-americanos.13 No entanto, embora nos Estados Unidos se admita cada vez mais abertamente a relação entre desigualdade e estagnação, na Europa, e particularmente na Alemanha, essa ideia ainda é tida como maluquice.

    A situação atual lembra outro período da história marcado por uma concentração de riqueza comparável: os anos 1920, que terminaram no crashde 1929 e na Grande Depressão. Então por que continuar negando a relação de causa e efeito entre o empobrecimento da maioria da população e a desaceleração econômica? As despesas de 450 indivíduos nunca poderiam valer as de 150 milhões de norte-americanos: quanto mais os rendimentos se concentram no cume, mais a despesa nacional se contrai, em favor da poupança e da financeirização, em detrimento do investimento e do emprego. Quando o patrimônio dos mais ricos cresce não por meio da produção, mas por uma drenagem sobre o valor agregado, o crescimento desacelera. E o sistema corrói as próprias condições de sua reprodução.

    O neoliberalismo, que pretendia tirar o capitalismo da crise, aprofundou-a. E não estamos diante de uma “nova norma”, mas de um impasse…

     

    Glossário

     

    Ativos intangíveis

    Distinguem-se dos ativos físicos (terrenos, imóveis, commodities…) e abrangem tudo que se relaciona aos conhecimentos e competências da empresa, sua marca, patentes, propriedade intelectual, a qualidade de sua organização, técnicas comerciais etc.

     

    Formação bruta de capital fixo

    Parte do PIB dedicada ao investimento em capital fixo (equipamentos e capacidades produtivas).

     

    Investimento produtivo

    Investimento que aumenta a produção e o emprego, em oposição aos investimentos financeiros, que geram lucros sem produção ou emprego.

     

    Taxa de juros natural

    Conceito utilizado pelo economista sueco Knut Wicksell (1851-1926) para distinguir o rendimento “natural” do capital, ou seja, o aumento da produção causado por uma unidade adicional de capital, de seu rendimento “monetário”, igual às taxas de juros em vigor.

     

    Valor agregado

    Soma das riquezas produzidas em um ano. Ele se divide em duas partes: salários e lucros. Se um aumenta, o outro diminui 

    Kostas Vergopoulos

    é professor emérito de Ciências Econômicas da Universidade Paris 8.

    Ilustração: Dahmer

    1  “Forteenth Jacques Polak Annual Conference: Crises, yesterday and today” [14ª Conferência Anual Jacques Polak: Crise, ontem e hoje], FMI, Washington, 8-9 nov. 2013.

    2  Lawrence Summers, “Why stagnation might prove to be the new normal” [Por que a estagnação pode vir a ser a nova norma], Financial Times, Londres, 22 nov. 2013.

    3  Lawrence Summers, “Economic stagnation is not our fate – unless we let it be” [Estagnação econômica não é nosso destino – a menos que a deixemos ser], The Washington Post, 18 dez. 2013.

    4  Cf.Alvin Hansen, Fiscal policy and business cycles[Política fiscal e ciclos de negócio], Norton & Company Inc., Nova York, 1941.

    5  Citado pelo Financial Times, 12 nov. 2013.

    6  Cf. Izabella Kaminska, “Secular stagnation and the bastardization of Keynes” [Estagnação secular e o abastardamento de Keynes], Financial Times, 13 nov. 2013.

    03 de Abril de 2014

     

  16. O acordo com o FMI conduz a Ucrânia à mesma depressão que na Gré

    O acordo com o FMI conduz a Ucrânia à mesma depressão que na Grécia

    Do “Diário Liberdade”

    http://www.diarioliberdade.org/mundo/laboral-economia/47742-o-acordo-com-o-fmi-conduz-a-ucr%C3%A2nia-%C3%A0-mesma-depress%C3%A3o-que-na-gr%C3%A9cia.html

    Ucrânia – Esquerda – [Jack Rasmus] A 27 de março de 2014, o FMI deu a conhecer as linhas mestras das condições para os seus empréstimos e outras medidas destinadas à economia ucraniana. Essas condições não significam um resgate da economia ucraniana mas o início de uma depressão económica do mesmo tipo que a da Grécia para o povo ucraniano.

    A economia da Ucrânia já tinha entrado em recessão, a terceira desde 2008, no segundo semestre de 2013. Algumas estimativas recentes da provável contração económica em 2014-2015 oscilam entre 5 e 15 % de queda do PIB. O texto do “Acordo de Emergência do FMI com a Ucrânia” publicado a 27 de março, reconhece a gravidade da atual instabilidade económica da economia ucraniana. No entanto, o que não diz é que efeitos negativos terá o pacote de medidas do FMI para esta economia.

    Empréstimo de 27.000 milhões de dólares

    O acordo com o FMI propõe um empréstimo de 14.000 a 18.000 milhões de dólares norte-americanos ao longo dos próximos dois anos, 2014 e 2015. Em teoria preveem-se outros 9.000 milhões de dólares procedentes de diversos países, em termos ainda não especificados. O Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) contribuirá, ao que parece, com 2.000 milhões desses 9.000 milhões. É de supor que o pacote de ajuda dos EUA, de entre 1.000 e 2.000 milhões de dólares, que se está a tramitar atualmente no Congresso norte-americano, estará também incluído nos 9.000 milhões. Dos 5.000 milhões que faltam para completar os 9.000 milhões, que não procederão do FMI, ainda não se sabe nada de concreto.

    O total de 27.000 milhões é bastante mais que os 15.000 milhões de dólares de que se tinha falado previamente na imprensa e mais que os 20.000 milhões que a Ucrânia tinha solicitado ao FMI em finais de 2013, o que indica que desde o começo de 2014 a economia se deteriorou mais rapidamente do que o anunciado. Em anteriores artigos sobre a situação económica da Ucrânia, há umas semanas, o autor destas linhas calculou que seriam precisos pelo menos 50.000 milhões de dólares para estabilizar a economia ucraniana nos próximos dois anos. É possível que este montante inclusive aumente em 2015.

    A declaração do FMI de 27 de março assinala o que considera os principais pontos débeis da economia ucraniana que é preciso abordar de imediato e de forma prioritária. Estes pontos débeis incluem o atual défice comercial, a rápida diminuição das suas reservas de divisas, o défice orçamental do Estado e o da companhia estatal de gás, Naftogaz. O FMI calcula que o défice comercial da Ucrânia (exportações menos importações), que cifra em cerca de 9 % do PIB (17.000 milhões de dólares por ano), se deve à estagnação das exportações. O que propõe o FMI para resolver isto é permitir que a moeda ucraniana “flutue mais livremente”. Uma moeda que já caiu 26% face ao dólar, este ano. Portanto, a ideia é que há que deixar que a moeda da Ucrânia se desvalorize ainda mais. Em teoria, com esta medida as exportações serão mais competitivas e assim poder-se-á reduzir o défice comercial. O problema é que também pressuporá um forte aumento do custo das importações e, portanto, da inflação para as famílias ucranianas. Por outras palavras, a política do FMI de promover a desvalorização da moeda impulsionará a inflação, que afetará sobretudo as famílias e provocará uma diminuição do gasto por parte das famílias na compra de outros bens e serviços.

    Desvalorização monetária

    Deixar que a moeda continue a desvalorizar-se também indica que a política do FMI é que o banco central ucraniano não intervenha ativamente nos próximos meses para revalorizar a moeda nos mercados mundiais. Isso permitirá dedicar uma maior parte do empréstimo do FMI a pagar os juros e a devolver aos bancos ocidentais os empréstimos atuais e anteriores. Como assinala a declaração do FMI, “em 2014-2015 vencem importantes amortizações de dívida estrangeira”. O custo a pagar cifra-se em 6.200 milhões de dólares. Deste modo, as famílias ucranianas pagarão em parte as amortizações de dívidas aos bancos ocidentais ao ter que suportar uma inflação maior e reduzir o seu gasto real. Já que 6.200 milhões dos 27.000 milhões de dólares do pacote total do FMI servirão para amortizar dívidas a bancos ocidentais, teoricamente só ficarão cerca de 21.000 milhões do resgate total do FMI para estimular a economia ucraniana. A palavra chave nesta frase é “teoricamente”, pois serão muito menos de 21.000 milhões de dólares os que serão destinados realmente à economia, e essa quantidade ver-se-á compensada pelo que for sacado à economia por causa do acordo com o FMI.

    Uma injeção líquida do FMI de 21.000 milhões de dólares é uma ilusão económica. Vejamos porquê. Em primeiro lugar, a economia da Ucrânia decrescerá por causa do pacote do FMI porque as medidas impostas por este implicam uma série de mudanças importantes da política monetária e fiscal que deprimirá em vez de estimular, em termos líquidos, a economia ucraniana. Por exemplo, a declaração do FMI reclama uma política monetária que propugne a “estabilidade de preços internos mantendo ao mesmo tempo uma taxa de câmbio flexível”. O que isto significa é que o banco central, isto é, o Banco Nacional da Ucrânia (BNU), terá que reduzir a massa monetária ucraniana e deste modo aumentar as taxas de juro nacionais no quadro da “luta contra a inflação no decurso dos próximos doze meses para estabilizar as perspetivas inflacionistas”. Para além do jargão económico, o que isto significa é que a política do BNU e do FMI de incrementar as taxas de juro deprimirá a economia com o fim de contrabalançar as pressões inflacionistas previstas, devido à desvalorização da moeda. Este aumento das taxas de juro, para contrabalançar a inflação importada, travará ainda mais a economia. E isto traduzir-se-á em novas perdas de postos de trabalho, porque as empresas reduzirão a produção, devido ao aumento das taxas de juro.

    Aumento de 79% do preço do gás

    Mas há mais. As medidas do FMI não só darão lugar a um aumento da inflação importada, mas também gerarão pressões inflacionistas ainda maiores em resultado das condições estipuladas pelo FMI em relação ao gás natural. Calcula-se que o preço do gás aumentará no final 79 % devido ao incremento de 50 % exigido pelo FMI. Ao mesmo tempo que aumentará o preço do gás eliminar-se-ão totalmente os subsídios ao consumo de gás das famílias durante os próximos dois anos, segundo o acordo com o FMI. Assinalou-se que os subsídios ao consumo de gás das famílias representam 7,5 % do PIB da Ucrânia. Portanto, a eliminação destes subsídios comportará uma redução do consumo no valor de 6.500 milhões de dólares por ano, já que as famílias terão que reduzir outros consumos a fim de pagar agora o preço mais elevado do gás e devido à eliminação total dos subsídios.

    Esta eliminação dos subsídios ao consumo de gás e o aumento de 79 % do seu preço comportará uma redução real do consumo de 13.000 milhões de dólares ao longo de dois anos, em 2014-2015. Estes 13.000 milhões supõem uma nova redução dos 21.000 milhões que ficavam do pacote do FMI, com o que não ficarão mais de 8.000 milhões de estímulo líquido para a economia real em virtude do acordo com o FMI. Não obstante, isto ainda não é tudo no que respeita ao impacto negativo do acordo com o FMI na economia ucraniana. Este acordo reclama além disso reformas da “política fiscal”, ou o que denomina de necessidade de “implementar um ajustamento fiscal mais profundo” para “reduzir o défice fiscal a cerca de 2,5 % do PIB em 2016”. Um corte orçamental do 2,5 % representa outros 4.500 milhões de dólares de corte anual combinado da despesa pública ucraniana (ou de aumento dos impostos), previsivelmente nos dois próximos anos.

    Despedimentos e cortes salariais aos funcionários públicos e cortes nas reformas

    Os cortes da despesa serão realizados sem dúvida mediante uma redução do emprego público e dos salários dos funcionários públicos que conservarem o seu posto de trabalho. Também comportarão sem dúvida profundos cortes no sistema de pensões, que afetarão todos os reformados e que segundo alguns suporão uma redução de 50 % das pensões para 2016. É possível que a redução do défice público em 4.500 a 9.000 milhões de dólares nos próximos 1 ou 2 anos comportem aumentos dos impostos sobre as vendas para as famílias enquanto se baixam os impostos às empresas, já que a declaração do FMI de 27 de março também reclama “medidas para facilitar as devoluções do IVA às empresas”. Nessa declaração, o FMI não especifica expressamente os cortes requeridos do emprego, dos salários e das pensões. Sem dúvida espera que seja o governo interino de Ucrânia a lançar estas investidas económicas contra si mesmo e contra a população ucraniana, depois do qual a administração e o comité executivo do FMI aprovarão o acordo oferecido.

    Em resumo, o acordo do 27 de março com o FMI exige que sejam pagos 6.500 milhões de dólares ao longo dos próximos dois anos aos bancos e prestamistas ocidentais de juros e amortizações de dívidas. Além disso, reclama a redução dos subsídios ao consumo de gás das famílias no montante de outros 13.000 milhões de dólares e a eliminação progressiva completa destes subsídios. E indiretamente impõe ao governo ucraniano um corte da despesa pública em 8.000 milhões de dólares no mínimo (2,5 % do PIB) ao longo dos próximos dois anos na forma de eliminação de empregos públicos, cortes salariais a funcionários públicos e redução das pensões de cerca de 50 % para os reformados em geral. Somando estes custos, o total equivale, como era de esperar, a cerca de 27.000 milhões de dólares.

    São 27.000 milhões de dólares de despesa e estímulo económico que o acordo com o FMI corta à economia real ucraniana. Em outras palavras, praticamente a mesma quantidade que supostamente contribuirá o FMI para o PIB ucraniano, segundo o anúncio de 27 de março. O que significa que as famílias ucranianas pagarão os 27.000 milhões do FMI através dos aumentos dos preços do gás, a eliminação dos subsídios ao consumo de gás, os cortes de emprego público e salariais e fortes reduções das pensões. Porém, estes 27.000 milhões não são realmente uma “contrapartida equitativa”, mas um estímulo negativo real para a economia ucraniana devido ao conteúdo do acordo com o FMI. Recordemos que os 6.200 milhões que irão para pagar as dívidas aos bancos ocidentais não terão absolutamente nenhum efeito positivo no PIB da Ucrânia. Assim, em primeiro lugar, a contribuição líquida do FMI será de 21.000 milhões face aos 27.000 milhões que diminuirão da economia do país. Mas nem sequer este cálculo reflete toda a realidade.

    Redução do PIB da Ucrânia em 30.000 milhões de dólares em dois anos

    Os 27.000 milhões de dólares diminuídos encerram um “efeito multiplicador” na redução do consumo das famílias que é muito maior que os 21.000 milhões líquidos injetados pelo FMI. Se assumimos um efeito multiplicador de 1,5 (uma cifra bem conservadora), a quantidade extraída da economia ucraniana aproxima-se mais dos 40.000 milhões de dólares ao longo dos dois próximos anos: uma soma enorme, tendo em conta que o PIB da Ucrânia em 2012 foi apenas de 150.000 milhões e em 2013 não variou substancialmente. Certamente, a cifra de 40.000 milhões diminuídos tem de ser ajustada tendo em conta os 21.000 milhões contribuídos mais o seu efeito multiplicador, mas enquanto a diminuição se produzirá sem lugar a dúvidas, não há garantias de que a injeção de 21.000 milhões se produza efetivamente na sua totalidade.

    Sem dúvida, o banco central ucraniano guardará uma parte desses 21.000 milhões de dólares a fim de repor as suas reservas de divisas, que atualmente rondam apenas os 10.000 milhões. Uma parte desse dinheiro será usada para ajudar as empresas ucranianas a adquirir bens intermédios importados da Europa, cujo custo aumentará significativamente à medida que se continuar a desvalorizar a moeda da Ucrânia. E outra parte será destinada a empréstimos do BNU às empresas ucranianas, que guardarão o dinheiro efetivo e não o empregarão para expandir a produção. Tudo isto significa que a injeção de dinheiro de que beneficiará a economia ucraniana não superará nem metade dos 21.000 milhões de dólares contribuídos pelo FMI. Devido a estas “fugas”, os efeitos multiplicadores das contribuições do FMI serão sem dúvida negativos. Não é uma tolice supor que o estímulo total líquido que a economia ucraniana receberá no fim mal atinja os 10.000 milhões de dólares.

    Face a estes 10.000 milhões de estímulo líquido temos a redução de 40.000 milhões de dólares da economia real ao longo dos próximos dois anos.

    Uma redução líquida do PIB da Ucrânia de 30.000 milhões de dólares nos próximos dois anos, ou de cerca de 15.000 milhões em cada ano, supõe uma diminuição acumulada de pelo menos 18 %. E isto é uma depressão como a da Grécia. Ao introduzir a economia ucraniana na zona euro, esta última tomará efetivamente sob as suas asas outra “Grécia” e outra “Espanha”, e como é o caso destas duas economias, quem acaba por pagar não serão os banqueiros nem as empresas multinacionais, mas o povo ucraniano. É a repetição da mesma história das intervenções do FMI nas três últimas décadas.

    Artigo de Jack Rasmus, publicado a 28 de março de 2014 em zcomm.org. Traduzido para espanhol por Viento Sur e do espanhol para português por Carlos Santos para esquerda.net

    Jack Rasmus é doutorado em economia, professor no St. Mary’s College na Califórnia e na Universidade da Califórnia, Berkeley.

     

  17. Guerra de informação – o que será isso?

    Guerra de informação – o que será isso?

    Do “Global Research”

    http://www.globalresearch.ca/guerra-de-informacao-o-que-sera-isso/5378217

    Governos e grandes corporações controlam, ou pelo menos tentam manipular, a opinião pública e os processos do debate na comunidade através da comunicação midiática. Os governos e as grandes corporações conduzem a guerra de informação através do uso de comunicações de massas da mídia. Como em outros acontecimentos geopolíticos esse foi o caso com o protesto anti-governamental na Ucrânia, seguido do golpe de estado de fevereiro 2014, em Quieve. Essa guerra de informação é uma disputa onde as redes internacionais de notícias, e os maiores jornais, agem como exércitos onde a mídia é usada como arma maior, sendo que a linha de frente é o espaço interactivo conhecido como a esfera pública. Frequências de radio, feeds de satélites, social mídia, fazer uploads de celulares, ou de telefones moveis, redes de comunicação, e a internet, tudo isso faz parte dessa guerra.

    Guerra de informação – o que será isso?

    Diferentes tecnologias e modos de comunicação são usadas para dar força a certos temas no conflito. O tipo de linguagem, as palavras selecionadas, particulares expressões, e imagens específicas, apresentações multimidiática, e comunicação, são as armas dessa guerra.

    O objetivo dessa guerra é poder usar o discurso, ou seja as idéias e informação para influenciar populações através do mundo e estabelecer um total monopólio do fluxo da informação, da percepção das audiências, e do processo discursivo formando o mundo moderno. Aqui entra que nos seus fundamentos hoje em dia o poder e as relações estão sendo realizados através da comunicação midiática.

    As mensagens e as ideias para a comunicação de massas são construidas por aqueles que controlam a mídia que irá então depois transmitir essas mensagens e idéias para construir as percepções das audiências. Como o conhecimento da maioria das pessoas, na maior parte das sociedades modernas, é formado pelos meios de comunicação de massas, a mídia está sendo usada para levar as audiências a formarem certas opiniões, isso sendo então porque as pessoas fazem suas decisões baseando-se nos seus conhecimentos. Isso  poderá ser feito de maneira súbtil, ou através da contínua repetição das mensagens.

    As mensagens sendo passadas as audiências das correntes principais da mídia, e das redes de informação, são de uma maneira geral uma forma de ação porque a distribuição por esses canais toma em consideração as reações das suas audiências antes que a informação seja propagada. As reações que consideram incluem tanto reações físicas como outros processos materiais. Isso também inclui considerações a respeito de potenciais ações de protestos como uma reação a informação sendo distribuida, assim também como reações de considerações econômicas, como retiradas de investimentos, desvalorização de moedas e ou movimentos no mercado.

    Monopolizar a narrativa sendo apresentada ao público, desacreditando narrativas alternativas ou rivais, sejam elas sanas ou falsas, é um aspecto importante da guerra de informação. Se bem que esse tipo de guerra não seja novo, essa está se tornando cada vez mais sofisticada e intensiva, tornando-se denominadamente então numa importante táctica usada como instrumento de guerra não convencional, o que está se apresentando cada vez mais como uma característica desse século.

    O tipo de gerenciamento de informação que as maiores redes de notícias tentam criar, sejam essas redes particulares ou públicas, é o que cientistas sociais denominam como senso comum, o qual inclue por definição suposições, as quais irão [de acordo com o que a ciência do comportamente humano hoje acredita] dirigir as reações e ações das audiências, em direção a específicos objetos e situações. Esse senso comum que querem construir não se basearia então em fatos reais existindo no mundo real, mas seria formado [artificialmente] através do que a mídia vem, premeditadamente repetindo e apresentado como fatos reais e conhecimentos convencionais, quando não o são. A apresentação das situações internacionais, através de mensagens profundamente politizadas comunicadas as audiências, levaram a suposições e depois a atitudes baseadas no adquirido senso comum, que acabou por acreditar que os muçulmanos xiitas e sunitas são inimigos inconciliáveis, que Hugo Chavez foi um autocrata, ou de que existiria um abismo de profundo ódio entre sérvios e croatas. Nenhuma dessas suposições se baseiam na realidade, mas foram aos poucos sendo consolidadas como cânones, ou seja normas e regras a serem respeitadas. O objetivo que aqui foi alcançado implica que falsas suposições foram tomadas por verdades fundamentais, as quais agora dirigem então a compreensão de muitos segmentos da audiência internacional, quanto a questões globais fundamentais.

    Ainda mais, em muitos casos essas mensagens, as quais são comunicadas abaixo do disfarce de uma neutral não política objetividade, impedem que grandes segmentos da sua audiência não se perguntem quanto aos motivos e implicações das notícias sendo transmitidas.

    Correntemente a Ucrânia é uma frente de guerra, assim como o são também a Síria e a Venezuela, nessa global guerra de informação a qual se reflete através das batalhas das redes de notícias internacionais. O objetivo dessa guerra midiática é assegurar e gerenciar a opinião pública, tanto nacional como internacional, por ex. em apoio ao golpe realizado em Quieve e ao governo de transição resultante do mesmo.

    Guerra Midiática Internacional: recuo da BBC World e CNN Internacional

    Os Estados Unidos costumavam ter quase que o monopólio da disseminação da informação na mídia internacional, mas isso foi mudando no decorrer dos anos de quando países como a Rússia, Irã, China e Venezuela, respectivamente foram montando redes internacionais de notícias como a Russia Today, RT- (Rússia Hoje), Press TV, Televisão Central Chinesa (CCTV) e a panlatinoamericana La Nueva Televisora del Sur (teleSur) – para desafiar as redes midiáticas internacionais dos Estados Unidos e seus aliados. Tem-se então aqui agora que essas novas redes midiáticas internacionais antiestabelecimento – se assim puderem ser descritas – da Rússia, Irã, China, Venezuela, e de outros países, coletivamente começaram a desafiar o ”status quo” da mídia internacional.

    As narrativas predominantes sendo apresentadas pelas dominantes redes de notícias internacionais, especialmente a em Atlanta baseada ”Cable News Network” (CNN) e a britânica estatal British Broadcasting Corporation (BBC) que tinha quase que monopólio na cena internacional, foram lentamente desgastadas. Usando as palavras do Presidente da Rússia Vladimir Putin, do quando visitando os estúdios da RT em Moscou, em junho de 2013, ( Moscow studios of RT in June 2013 ) a tarefa das redes de notícias internacionais antiestabelecimento, como a RT, seria a de tentar quebrar o monopólio Anglo-Saxão nas correntes globais de informação.

    As mais novas redes internacionais de notícias, como a RT e a Press TV, tornaram-se tão efetivas em desafiando o discurso e pontos de vista sendo propagados pelas principais redes de notícias como a CNN, BBC, Fox News, e Sky News, que personagens oficiais começaram a reconsiderar as suas estratégicas midiáticas e a examinar vias para desafiar e invalidizar as redes de notícias internacionais desafiando seu controle sobre o fluxo da informação. As medidas tomadas pelos Estados Unidos e seus aliados incluiram o bloqueio da versão em inglês da Press TV, ( the blocking of the English-language Press TV  )  a versão em lingua árabe da Al-Alam, e outras estações estatais do Irã na Europa e em outros lugares.

    O quase monopólio que os Estados Unidos e a Inglaterra gozavam na arena internacional foi claramente quebrado de quando em 2011 muitos tele-expectadores começaram a diversificar suas fontes de informação. Estações como a CNN e BBC foram fortemente desacreditadas de quando das suas coberturas da US-liderada guerra da OTAN contra a Jamahriya Árabe da Líbia.

    A de então sexagésimo-sétima secretária de estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, foi forçada a publicamente explicar o importante papél da comunicação de massas que as redes de notícias internacionais  tinham quanto ao sucesso, ou não, da política externa dos Estados Unidos. Enquanto frente a um comité do Congresso, encarregado da gestão dos negócios estrangeiro no Congresso dos Estados Unidos, em 2011, Clinton declarou que Washington estava perdendo a guerra de informação na arena internacional. Ela disse ao comité que estava testemunhando que os Estados Unidos tinham que retroceder ao estilo midiático das transmissões da Guerra Fria, e a outros métodos de alcance, enquanto requerindo-se a necessidade de aumento de fundos para as operações midiáticas dos Estados Unidos  para que essas pudessem  deslanchar uma guerra de informação contra a mídia estrangeira apresentando mensagens divergentes das dos Estados Unidos. Ela apontou para a RT, sem a denominar diretamente, descrevendo-a como o canal da lingua inglesa dos russos, acrescentando que isso seria então muito instrutivo.

    A Secretária Clinton lamentou-se de que os Estados Unidos e a estatal BBC estavam diminuindo suas operações midiáticas internacionais e que Washington precisava reverter esse processo ”para conseguir anunciar a mensagem da América”. Entretanto, ela estava errada quanto a diminuições de atividades midiáticas dos Estados Unidos e da BBC. O problema não seria exatamente a falta de recursos. O número decrescente de audiências sintonizando, ou não, em estações como a CNN Internacional ou BBC World, esse sim é o real problema.

    As declarações de Clinton estavam dando eco a Diretoria de Transmissão de Rádio e Televisão -(Broadcasting Board of Governors US federal Agency)-  uma agência federal dos Estados Unidos, a qual administra a Rádio Free Europa [Radio Europa Livre], Voice of America -VOA  [Voz da América], Alhurra  no Iraque, assim como todas as outras transmissões internacionais administradas pelo estado nos Estados Unidos. Walter Isaacson, presidente da Diretoria de Transmissão de Rádio e Televisão, acima mencionada, tinha declarado alguns meses antes que os Estados Unidos estavam empreendendo uma guerra de informação, e que a ”América não podia deixar que seus inimigos a deixassem por fora na área da comunicação” ”- America cannot let itself be out communicated by its enemies.”  Isaacson que é ex-diretor presidente da CNN também pôs ênfases no fato de que ”a distribuição de notícias, indo da direção ao público tinha de ser completada com uma nova abordagem que usasse as redes sociais como catalizadores.” É muito importante manter isso em mente de quando considerando as interrelações entre protestos antigovernamentais, as redes sociais, e as principais vertentes da mídia convencional.

    Enquanto apresentando a declaração da Secretária Clinton em 2011 a respeito dos Estados Unidos estarem envolvidos numa guerra global de informação, a cobertura da mídia convencional nos Estados Unidos a respeito dessas declarações de Clinton foram selectivas e distorcidas, para dar uma imagem inocente e amigável do governo dos Estados Unidos trabalhando para se comunicar com o mundo exterior. Em vez de fazer qualquer reflexão a respeito, ou uma substancial análise de que o que estava acontecendo em Capitol Hill era um debate entre os representantes oficiais dos Estados Unidos a respeito de aguçar a propaganda dos mesmos no exterior, assim como a dominância da informação a qual deveria então, abaixo dessas condições, ficar disponível para o público internacional, a mídia dos Estados Unidos ou encobriu o conteúdo lógico das declarações da Secretária Clinton ao Congresso, ou completamente omitiu todo o acontecido.

    O Washington Post (The Washington Post )  por exemplo, nem tentou fazer qualquer reportagem que analisasse o que Clinton e os senadores dos Estados Unidos estavam discutindo. Quando o Senador Richard Lugar, um conhecido gavião de guerra e expansionista militar, disse que as operações da Diretoria de Trasmissão de Rádio e Televisão ”continuava a ser uma importante força diplomática para colocar nossa mensagem no mundo”, Joby Warrick, reporter do Washington Post, ganhador do prêmio Pulitzer, nem mesmo elaborou, ou deu maiores detalhes que mostrassem que o que Lugar estava falando a respeito, era que os Estados Unidos exerciam seu poder sobre outras nações através de usar a mídia para influenciar esses governos através de um influxo de informação, feita sob medida, para as populações desses países.

    A passividade demonstrada pelas principais vertentes da mídia de quando da cobertura do testemunho de Clinton frente ao Congresso é de maneira geral justificada por uma falsa objetividade. Isso é regra e norma quando se trata de questões importantes envolvendo governos, corporações, empresas, indivíduos, ou entidades, que essas vertentes da mídia não querem criticar, subverter, ou minar. Dizem então que os fatos estão simplesmente sendo reportados sem distorção, parcialidade, ou interpretações subjetivas.

    A cobertura do evento nas principais vertentes da mídia nos Estados Unidos seria certamente muito diferente se fosse o caso de um representante oficial russo testemunhando frente a um comité do parlamento russo, a Duma, que falasse a respeito do uso da mídia russa para influenciar países estrangeiros. Não se aplicam os mesmos padrões quando tratando-se de entidades midiáticas rivais. Ao contrário, aqui tem-se de repente reportagens assertivas e dogmáticas a respeito das notícias sendo apresentadas, além de ataques diretos para subverter e minar as decisões, assim como as ações das entidades midiáticas rivais. Tudo isso então sendo feito em nome do jornalismo investigativo e da análise crítica.

    A mídia ocidental ataca violentamente a iraniana, chinesa e russa pelo fracasso na Síria

    Conquanto aqui já se tivesse uma guerra de informação em andamento, uma guerra midiática muito mais nítida e distinta surgiu em 2011. A guerra da OTAN contra a Líbia, (The NATO war on Libya ) onde as redes de notícias internacionais fizeram um importante papél, jogou luz alta nisso tudo. As novas redes de notícias anti-estabelecimento tinham amadurecido o suficiente para poder desafiar a propaganda dos Estados Unidos e providenciar interpretações alternativas que desafiavam a legitimidade das transmissões da CNN e BBC, chegando mesmo a ferir a credibilidade dessas o que veio a diminuir assim as suas audiências, tanto nacionais como internacionais. Entretanto, a Líbia foi só o começo do processo, enquanto a Síria veio a mostrar claramente que um conflito aberto e intenso entre as redes de notícias estava sendo lutado pelas suas versões em inglês, árabe e espanhol. A efetividade das redes midiáticas anti-estabelecimento em desafiando a perspectiva das redes como a CNN, BBC, Fox News, e Al Jazeera a respeito da Síria, demonstraram claramente que os dias do estrangulamento do fluxo de informação, liderado pelos Estados Unidos, já fazia parte do passado.

    A mídia dos Estados Unidos, assim também como a britânica, começaram a criticar muito abertamente as redes midiáticas internacionais chinesas, iranianas, e russas, pelas suas reportagens sobre a Síria desde o começo de 2012. A BBC afirmou, erradamente, como um dos seus títulos ilustra, que ”Sómente a mídia chinesa e iraniana tinham apoiado o veto na ONU a respeito da Síria” (Chinese, Iranian press alone back UN Syria veto )  em 6 de fevereiro de 2012, enquanto Robert Mackey do New York Times era da opinião, como o título do seu texto ilustrava, que  ”A crise na Síria mostra-se muito diferente em canais de satélites pertencendo a Rússia e ao Irã” (Crisis in Syria Looks Very Different on Satellite Channels Owned by Russia and Iran ) isso sendo uns dias mais tarde, em 10 de fevereiro de 2012. Atacando violentamente as perspectivas da mídia chinesa, iraniana e russa, a mídia dos Estados Unidos, e a britânica, omitiram os segmentos da mídia africana, árabe, asiática, européia e latinoamericana que compartilhavam o mesmo ponto de vista que a iraniana, chinesa e russa em países como a Algéria, Argentina, Belio-Rússia, Bolívia, Brasil, Cuba, Equador, El Salvador, Índia, Iraque, Líbano, Namíbia, Sérbia, África do Sul, Ucrânia e Venezuela. Enquanto tentando deliberadamente minar e diminuir o apoio que a Síria gozava vindo de um segmento da comunidade internacional de quando falando as suas audiências, a mídia dos Estados Unidos, e a britânica, não só trairam seus senhores, como também mostraram a frustração das agendas políticas dos que controlavam seus discursos e ações.

    A guerra midiática reflete as rivalidades entre atores poderosos no mundo real. Portanto, não deveria vir como uma surpresa que tenha sido no mesmo tempo em que Hillary Clinton tinha começado a publicamente exibir a frustração dos Estados Unidos contra a mídia russa e chinesa que ela tenha começado a instruir seus companheiros de diversos ministérios do exterior, ou seja os ministros do exterior de outros países os quais estavam reunidos na conferência internacional de apoio a mudança de regime e operações militares contra a Síria, dizendo a esses que os russos e chineses teriam que ”pagar um preço”  ( pay a price ) por se oporem as idéias dos Estados Unidos quanto ao significado do conceito ”progresso”.

    Vale a pena rever a declaração de Clinton feita em julho de 2012 ( July 2012)  de quando ela disse que: ”Eu não penso que a Rússia e a China acreditem que teriam que pagar um preço – qualquer que fosse – por estarem apoiando o regime de Assad. O único caminho para mudar isso seria que cada país aqui representado [na conferência] direta e sem demora fizesse claro que a Rússia e a China irão pagar por isso, porque estão a impedir o progresso – o estão bloqueando – e isso já se tornou intolerável!” (no longer  tolerable).  A definição de progresso na Síria, para Clinton, e isso tem que ser mencionado, significa mudança de regime em Damasco assim como uma campanha de bombardeamento militar contra os sírios. Ela estava exprimindo a raiva de Washington, porque ela fez essa declaração depois de Moscou e Pequin terem recusado a deixar que os Estados Unidos, a Inglaterra, e a França conseguissem que o Conselho de Segurança da ONU autorizasse uma guerra contra a Síria.

    Depois de Washington ter demonstrado a sua fúria contra a Rússia por essa ter impedido uma mudança de regime na Síria, os Estados Unidos começaram a sériamente examinar caminhos pelos quais esses pudessem aplicar sanções contra os russos, assim como métodos para fazer as redes midiáticas internacionais russas de alvos na guerra midiática sendo empreendida, por eles. Essas considerações estão agora se materializando, ou sendo activadas, com a crise na Ucrânia. Os apelos para sanções contra a Rússia, entretanto, não seriam simplesmente o resultado da crise na Ucrânia; elas fazem parte de uma inclinação que Washington já vinha alimentando, assim também como até mesmo por deliberações que oficiais americanos estavam fazendo de como ”minar o mega acordo do negócio petróleo-por-mercadorias” ( to undermine the mega oil-for-goods trade deal )  que os russos e iranianos tinham negociado.

    Como a mídia ocidental está enquadrando os atores na crise ucraniana

    As principais vertentes da mídia seleciona quais serão as narrativas, e as mensagens, que irão entrar em circuito e dominar as conversas. Algumas vozes são permitidas a só serem ouvidas rápidamente, outras são excluidas, ou completamente ignoradas na conversa, enquanto circunstâncias que poderiam desafiar o que as principais correntes estão tentando por como um ramo, dentro do qual as coisas deveriam ser compreendidas pelas suas audiências, são em muitos casos deixadas por fora da conversa, ou trivializadas e desacreditadas.

    Uma narrativa manipulada apoiando uma expansão União Européia-OTAN na Ucrânia está sendo construida através de uma realidade distorcida e falsa que então apresentam como sana e refletindo o que aconteceu em Quieve. O uso das sequências do vocabulário, ou as palavras que se relatam umas as outras, determinam o tempo do discurso a respeito dos protestos antigovernamentais, o que apresenta-se como muito ilustrativo. O Presidente Viktor Yanukovych é constantemente apresentado como corrupto, como mostra o sempre presente e constante focus da mídia em sua riqueza e na sua mansão ( the constant media focus on his wealth and mansion present ) isso além de sempre sublinhar que ele é pro-Rússia. Entretanto, os que estão protestando são apresentados como ativistas e democratas, sem que se aprofundem no passado dos líderes dessa oposição. [..que como sabemos pode até dar medo a qualquer um.]

    As palavras e as frases indicam, ou para por isso francamente, desvendam a posição política das redes midiáticas.

    As descrições e as mensagens são formuladas em bases de julgamento que transportam as posições das supostamente objetivas fontes midiáticas. Esse massivo transporte está se tornando cada vez mais numa imposição psicológica. As apresentadas perspectivas, valores, e posições relacionadas a uma realidade distorcida são gradualmente aceitas pelas audiências, uma vez que essas estão sendo continuamente bombardeadas pelos mesmos pontos de vista e falsas narrativas a respeito dos protestos antigovernamentais na Ucrânia.

    A narrativa apresentando os ramos para o discurso, e as conversas, é que um regime corrupto, e pro-Rússia, tinha sido derrubado por uma revolução democrática [observe-se aqui então a contradição entre os termos do conceito]. Isso não tem nada a ver com o que realmente aconteceu. As mesmas fontes midiáticas apresentando Yanukovych como um autocrata corrupto, assim como uma pessoa de grande avidez, não sucedem em mencionar que pessoas da oposição, que eles apresentam tão favoravelmente, também podem ser milionários ou mesmo bilionários, tendo mansões, objetos de arte impagáveis, piscinas, coleções de carros, e muito vastas riquezas, quase que difíceis de se conceber. Elas também não sucedem em ao menos mencionar que principais líderes da oposição já tinham estado no poder, o qual perderam por má gestão e corrupção. Nem tão pouco sucederam em mencionar que os que agora tomaram o poder, isso eles o tinham feito através de um golpe de estado, o que por definição é ilegal e não aceitável. Quanto a Yanukovich ser pro-Rússia, qualquer fonte que mencione isso ou estará mentindo ou é completamente ignorante a respeito da política ucraniana; o partido de Yanukovych, o Partido das Regiões, dirige-se mais, mas não sómente aos russos étnicos, ou que usem a lingua russa na Ucrânia,  (os quais realmente preferem a Rússia aos Estados Unidos),  mas o seu partido não é de maneira alguma pró-Rússia, e esteve até mesmo adiantando uma cooperação com a OTAN tendo também desapontado seus constituintes por ter levado a Ucrânia para mais perto da união Européia, em vez de para mais perto da Rússia, depois das últimas eleições.

    A vilificante linguagem sendo usada contra a Rússia e Vladimir Putin nessas reportagens é muito reveladora também. Ela revela as convicções e atitudes que esses ramos da mídia desejam projetar a respeito da Federação Russa e seu representante, Vladimir Putin. O Presidente Vladimir Putin está sendo apresentado como um autocrata e um brutal militarista. O passado dele como ex-KGB oficial é frequentemente referido com o objetivo de o demonizar, enquanto o passado de ex-CIA oficial de George H. W. Bush, quase nunca se mencionava, e se isso o fizessem isso seria feito de maneira passiva, ou positiva. A linguagem negativa que reservaram para o presidente Vladimir Putin, de quando falando sobre uma suposta invasão da Criméia, nunca foi usada por redes como a CNN ou a BBC para descrever qualquer que fosse presidente dos Estados Unidos ou altos representantes britânicos, envolvidos nas reais e de-facto invasões, e guerras [ilegais] contra o Afeganistão, Iraque ou Líbia.

    Essas atitudes de quando enquadrando a apresentação da Rússia e do presidente Vladimir Putin baseiam-se em posições hostís quanto a Rússia como um rival econômico e geopolítico. Essa hostilidade está estruturalmente enquadrada nas estruturas do poder que controlam a comunicação de massas da mídia nos Estados Unidos e na União Européia. Os jornalistas, assim como outros empregados do sector midiático, consciente ou inconscientemente trabalham circundando os contornos subentendidos e, ou sabendo disso ou não, servem o objetivo de vilificar a Rússia, fazendo-a ser vista como ”o outro”, a ser vista como adversária, ou pertencendo a estruturas alheias, e não como próxima e amiga.

    A mídia ocidental fez a RT e a mídia russa de alvo para poder controlar as narrativas sobre a Ucrânia.

    Durante o começo das crises na Líbia e na Síria os Estados Unidos e seus aliados se negaram a admitir que estivessem apoiando militantes com pontos de vista desviantes e intolerantes, que muitos viam como ou da Al Qaeda, ou de forças afiliadas a essa. Com o tempo os Estados Unidos e seus aliados foram gradativamente obrigados a admitir que essas forças intolerantes e desviantes estavam ativas sim, na Líbia e na Síria. Esse reconhecimento feito pelos Estados Unidos e seus aliados foi resultado da campanha de informação realizada com sucesso pelas redes midiáticas dos aliados da Síria como o Irã, a China e a Rússia. A rede Al Jazeera, baseada em Qatar,  com sua dominante posição no mundo árabe, saiu até chamuscada de quando canais como a Rusiya Al-Yaum, Al Manar, e Al-Mayadeen desafiaram a sua cobertura dos acontecimentos na Síria.

    Foi o mesmo com o caso da Ucrânia, de quando os Estados Unidos e seus aliados tentaram negar envolvimentos ultranacionalistas no país e enquadrar a história de maneira a fazê-la beneficial para os interesses ocidentais na Ucrânia. Entretando, a mídia russa esteve, ao que tudo indica, enfiando espinhos a torturá-los, de quando então desafiando as falsas representações da realidade, feita pela mídia ocidental. Dessa maneira uma campanha foi iniciada pelos Estados Unidos, e seus aliados, contra a mídia russa. Isso foi feito da mesma maneira de quando expressaram sua frustação contra as redes internacionais russas pela sua cobertura na Síria. O objetivo das principais vertentes midiáticas dos Estados Unidos e da União Européia é agora o de apresentar as vertentes principais da mídia russa como não objetivas e confiáveis; foi por isso que Claire Bigg, da pelos Estados Unidos gerenciada RFE, fez a reportagem de um artigo em dezembro de 2013, ( RFE’s Claire Bigg reported in a December 2013  ) dizendo, de quando da abertura do programa, que os ”canais de televisão gestados pelo estado na Rússia não eram conhecidos pela sua imparcialidade”, tentando depois apresentar, de maneira conspiratória, uma imagem da mídia russa onde essas até iriam dizer que o mau tempo na Ucrânia estaria ligado aos protestos no país, isso o fazendo através de tirar as palavras de um meteorologista russo, para fora de seu contexto.

    A campanha contra a mídia russa aponta particularmente para os segmentos internacionais da mídia russa em inglês, denominadamente então a RT America e a RT Internacional, que desafiaram as narrativas que Washington e Bruxelas queriam vender para a opinião pública a respeito do golpe de estado na Ucrânia. Comentários de dois empregados da RT, a respeito da questão da autonomia na Criméia, foram usados para ataques contra a RT America e a RT Internacional. Nesse último caso vale a pena notar que quando parecia que poderia haver uma possibilidade de que o golpe contra o governo ucraniano pudesse falhar (especulativamente falando, porque talvez tivessem esperado que o golpe se daria em 20 de fevereiro, depois de atiradores livre, com armas de fogo, terem matado demonstrantes), a mídia Atlanticista começou a publicar reportagens de como a parte ocidental da Ucrânia poderia seccionar-se, e isso então sem dar maiores sinais de preocupação, quanto a isso.

    O ”The Guardian” apresentou o seguinte quanto a situação, em 21 de fevereiro de 2014- (February 21, 2014 ). ”Conquanto os protestos continuem nas ruas centrais de Quieve, as cidades no oeste da Ucrânia estão inclinadas a uma autonomia, com novos governos paralelos, e forças de segurança que abertamente admitiram que tinham se juntado aos protestos.” Apesar de que seja importante notar que essa reportagem não mencionava o papél das milícias ultranacionalistas em tomar as cidades do oeste, e intimidar seus políticos, o ponto a ser observado aqui é que o movimento da Criméia,  [com grande etnia russa, no sul do país],  para uma independência, foi tratado pela mídia Atlanticista de uma maneira completamente diferente. As principais vertentes da mídia dos Estados Unidos e da União Européia, que não tinham apresentado nenhum problema quanto a uma autonomia para o oeste da Ucrânia, agora apresentavam outros padrões quanto a Criméia, e se opunham a isso. Essa mesma mídia ignorava, ou diminuia, a capacidade do povo da Criméia de movimentar-se para sua própria independência, apresentando tudo o que acontecia como uma decisão tomada pelo Kremlin.

    A RT foi atacada, súbtil ou abertamente, pelas principais vertentes da mídia dos Estados Unidos, e da União Européia, como um braço de propaganda do Kremlin, dizendo que a RT se recusava a apresentar ”honestamente” a ”invasão” da Criméia pela Rússia, da mesma maneira como a BBC, CNN, Fox News, Sky News e France 24. [aspas acrescentadas]. No entanto, é a CNN, assim também como muitas das outras redes de notícias dos Estados Unidos, entre outros, que têm uma muito bem conhecida história de distorcer e falsificar os fatos. Essas redes estão agora, sem parar, demonizando a população pró-Rússia na Criméia. Numa reportagem do ”The Telegraph”, em 21 de março de 2014 ( The Telegraph in a March 11, 2014 ) feita por Patrick Reevell e David Blair, foi tão longe quanto a dizer que na votação para uma República Autônoma da Criméia, só se apresentavam duas opções para a população: juntar-se a Rússia agora, ou depois. Elastificando a sua interpretação da questão da votação, o jornal britânico dizia que o referendo iria perguntar ao povo da Criméia se eles queriam juntar-se a Federação Russa diretamente. ou por vias parlamentares. Isso em vez de dizer diretamente que o referendo ia perguntar ao povo da Criméia se queriam juntar-se a Rússia, ou permanecer parte da Ucrânia, abaixo da Constituição da Criméia de 1994, o que  permitiria a possibilidade para uma votação parlamentar quanto a uma futura [re]integração com a Rússia. O jornal britânico tinha feito uso de uma linguagem contorcida como meio de desacreditar o referendo.

    Um outro exemplo de demonizar através de reportagens da mídia apresenta-se com um artigo escrito por Nick Paton Walsh, Laura Smith-Spark, e Ben Brumfield – da CNN – onde logo perto do começo eles declaravam, ”Se você vier por trem espere ser escrutinado pelas milícias dos pró-russos. Se você quiser demonstrar apoiando o interím governo, pró-ocidente, colocado no poder na Ucrânia, espere ser aproximado por insistentes indivíduos pró-russos.” Nessa narrativa o povo que estaria sendo reprimido seria o mesmo que apoiava o não constitucional, pós-golpe governo em Quieve, enquanto as pessoas pró-Rússia são aqui convenientemente apresentadas como agressivas. Essa narrativa não só pinta a Rússia e os na Criméia que desejam juntar-se a ela negativamente, como também ignora o golpe de estado realizado em Quieve, além  do fato de que o escrutínio nas fronteiras são destinados a impedir que agentes armados ou ultranacionalistas venham a destabilizar a Criméia.

    Tanto os meios de comunicação visual como verbal foram usados para desacreditar a RT. Por ex. a BBC declarava que a RT estava apresentando o leste e o sul da Ucrânia (regiões com uma grande maioria de etnicidade russa) como se fizessem parte da Rússia em suas reportagens. Isso a BBC o estava fazendo com bases num mapa que tinha sido tirado do seu contexto. Other claims showed a map of Crimea out of context.    Outras afirmações também mostram o mapa da Criméia fora de seu contexto original dizendo que a RT a tinha reconhecido como parte da Rússia. O indivíduo, ou indivíduos que se decidiram por reproduzir as imagens da RT fora de seu contexto original são sem sombras de dúvidas desonestos e sem princípios. Eles intencionalmente falsificaram o sentido das imagens e gráficos apresentando-as fora da sua realidade original.  Eles também omitiram o fato de que os mapas faziam parte de uma reportagem que mostrava divisões demográficas internas da geografia da Ucrânia e/ou diversas possibilidades que o povo da Criméia tinha a sua frente.

     

    A BBC tem uma história de falsamente apresentar filmes e imagens. A BBC foi pega em flagrante com diversos tipos de fabricações muitas vezes, enquanto nunca houve algum caso da RT fazendo o mesmo. Monges tibetanos, abaixo de pancadas, dadas pelas forças de segurança da Índia, foram apresentados pela BBC como tibetanos sendo reprimidos pelo governo da China, em 2008. Um outro caso foi o de quando num comício de massas na Índia, onde essas esvaiavam suas bandeiras ondulantes, imagens as quais foram apresentadas pela BBC como massas na Líbia celebrando a derrubada do governo da mesma, em 2011.

    Mais recentemente a BBC foi até pega em flagrante de novo quando usando uma só e a mesma gravação com diversas coberturas de diversas situações apresentando-as como se fossem ao vivo na Síria, em 2013. O ex-diplomata britânico Craig Murray merece ser quotado quanto a essa fabricação da BBC quanto a Síria: ( Craig Murray is worth quoting about the BBC’s Syria fabrication :)  ”O que é disturbante é que a sequência filmada da médica falando é exatamente a mesma o tempo todo. Essa foi editada de maneira a dar a impressão de que a médica estava falando em tempo real com sua própria voz – lá não havia nenhuma dos reconhecidos instrumentos usados para indicar que se tratava de uma transladação da sua voz. Mas tem que ser verdade, que em pelo menos uma, ou possivelmente duas das vezes, nos cortes feitos, ela não estaria falando em tempo real com sua própria voz.”

    O que simples perguntas da mídia ocidental demonstram

    O papél dos jornalistas na confrontação também não podem ser diminuidos. Por ex. numa reportagem da BuzzFeed, Rosie Gray apresentou para a diretora da RT Margarita Simonyan, as seguintes questões: ( BuzzFeed reporter Rosie Gray presented Margarita Simonyan, )

    1) Você tem regularmente reuniões no Kremlin ou com representantes oficiais do governo russo? Você pode descrevê-los, se isso for o caso? Quanta influência direta tem o Kremlin sobre o que a RT apresenta?

    2) Porque é o seu escritório, como me disse um empregado, seria localizado num outro andar do que o da redação?

    3) Foi Anastasia Churkina empregada por causa de ser filha de quem é? Porque foi ela autorizada a entrevistar seu próprio pai, frente as câmaras?

    4) Me disseram também que a RT árabe é administrada pelo/a responsável das traduções do Presidente Putin – seria essa a razão pela qual o posto foi ocupado como o foi?

    É difícil dizer se essas questões seriam sérias, ou se deveriam ser vistas como insultos. Nenhum reporter nos Estados Unidos teria se atrevido a perguntar como foi que Mika Brzezinski teve seu posto na MSNBC, e seu pai teria qualquer coisa a ver com esse seu emprego. Se questões desse tipo forem feitas, isso o será feito de maneira muito mais súbtil. Entretanto, a mídia dos Estados Unidos, e seus jornalistas, não aplicam os mesmos padrões quando tratando com russos, ou membros de outras sociedades.

    Independente da seriedade, ou não, dessas questões essas são erradas, ou destinadas a exigirem uma específica resposta por parte do respondente. Em primeiro lugar, as questões são dirigidas, e isso porque são destinadas a dirigir a resposta numa certa direção, aqui no caso para embaraçar ou desacreditar a RT como rede de notícias. Em segundo lugar, as questões não são neutras, são carregadas de suposições predestinadas a limitar as possibilidades da resposta., de modo a servir a agenda do entrevistador/a. Um exemplo modelo de uma tal pergunta seria: ”Você já parou de bater nos seus filhos?” A premissa da pergunta como tal seria aqui no exemplo baseada completamente numa suposição incorreta. Na maioria dos casos não importaria o que os respondentes dissessem, esses estariam já numa situação embaraçosa e ofereceriam a pergunta uma certa legitimidade simplesmente por tentar respondê-la de uma ou de outra maneira.

    Em resposta, Margarita Simonyan simplesmente ridicularizou as não-neutrais e equívocas perguntas a ela apresentadas. [1]

    Os perigosos abusos da comunicação midiática na Idade da Informação

    As discórdias entre os Estados Unidos e a Rússia irão se petrificando enquanto a situação na Ucrânia continuar a ferver lentamente. As ramificações dessa crise serão sentidas globalmente indo da Síria, da Península da Coréia e da ONU até a mesa de negociações entre Tehran e os P5+1, a respeito do programa nuclear em questão.

    No final, o deslanchar de uma guerra de informação entre os Estados Unidos e a Rússia poderá aparecer aproriada nessa juncção da história denominada como a Idade da Informação. O controle e a manipulação da informação pela comunicação de massas feita pela mídia impede aos indivíduos de ficarem autenticamente conscientes a respeito do mundo a sua volta, assim como das relações sociais que encontram-se por detrás das estruturas de suas vidas quotidianas e do seu poder de poder determinar as decisões que serão tomadas ou não. O poder da mídia quanto a poder socializar os indivíduos e de formar a cultura popular está sendo abusado.

    A guerra de informação não é só empreendida entre poderes e blocos econômicos rivais. O controle e a manipulação da informação é usada internamente por governos e corporações contra os escalões da sociedade que se encontrem em posições de desvantagem. Isso atomiza também a informação que poderá então ser usada como um meio de criar um sistema cego, e fechado, que ignora as realidades sociais, os privilégios e a desigual destribuição de meios e poder da mesma.

    Mesmo os que estão por detrás das falsas narrativas e fabricações podem ser pegos como reféns de uma não autêntica e desumanizante perspectiva do mundo. Os propagandistas podem tornar-se reféns do que suas próprias mãos semearam. O discurso a respeito do poder do Pentágono faz com que os dirigentes políticos nos Estados Unidos possam pensar que uma confrontação entre os Estados Unidos e a Rússia, ou a China, trariam pequenas consequências para eles e não implicaria a possibilidade de uma guerra nuclear. A Rússia e a China poderiam formam uma formidável aliança, com um mortal arsenal de armas nucleares além de vastos e importantes recursos militares. Um confronto entre os Estados Unidos com a Rússia ou a China poderia ter consquências apocalípticas para a vida nesse planeta.

    Se a informação não for usada de maneira apropriada nessa Idade da Informação nós iremos retornar a Idade da Pedra, como Einstein realmente nos precaveu.

     Mahdi Darius Nazemroaya

  18. BOA IDEIA

    ESTUDANTE CRIA APLICATIVO PARA ORIENTAR CEGOS

    :

     

    Um estudante de Desenvolvimento de Software idealizou um aplicativo para orientar deficientes visuais e idosos em Manaus para serem avisados do momento em que um ônibus se aproximar do ponto de parada. O aplicativo funciona em qualquer celular pré ou pós-pago

     

    20 DE ABRIL DE 2014 ÀS 09:38

     

    d24am.com/Redação – Manaus – “O seu ônibus foi chamado, aguarde a confirmação do motorista”. “Atenção! Seu ônibus está chegando, aguarde”. É com essas mensagens de voz, enviadas pelo celular, que os deficientes visuais e idosos da cidade de Manaus serão avisados do momento em que o ônibus estiver se aproximando do ponto de parada.

    O aplicativo, ainda sem nome, foi idealizado pelo estudante de Desenvolvimento de Software José Erivaldo Zane Ferreira com o objetivo de solucionar as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam para identificar as linhas de ônibus, principalmente à noite. O Amazonas tem 651.262 pessoas com deficiência visual e 210.173 idosos, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010.

    Ferreira explica que o aplicativo é prático e simples. “Ele funciona em qualquer celular pré ou pós-pago com capacidade de acesso a pacote de dados. Os deficientes visuais utilizam um celular adequado as suas necessidades, com um aplicativo que os orienta de forma auditiva. Nós consideramos o sistema já disponível nesses celulares para desenvolver o nosso aplicativo”, explica.

    Para utilizá-lo, depois de baixar e instalar o programa, basta que o usuário insira o número da linha de ônibus desejada. O motorista será avisado que em determinado ponto há um deficiente visual ou idoso e, em seguida, confirma a informação. O aviso será enviado ao celular com antecedência de uma parada ao ponto em que o deficiente se encontra.

    “Para que essa interatividade ocorra é necessária a instalação de dois dispositivos de áudio (receptores), um no ponto de parada e outro dentro do ônibus, que emitirão o sinal de aproximação do transporte coletivo para o celular”, explicou.

    Segundo Ferreira, a implantação do sistema depende do interesse da Prefeitura de Manaus em disponibilizar o serviço para a população, fazendo-se necessária a produção dos receptores por uma empresa especializada.

    Incentivando a criação de novas tecnologias, o Programa Viver Melhor/Pró-Assistir foi idealizado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Secti-AM) e lançado em abril de 2012. Seu desenvolvimento e implementação são possíveis graças a parcerias com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e à Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Seped).

    O projeto ‘Sistema de Áudio para Identificação do Transporte Coletivo Urbano’ foi um dos oito projetos voltados para tecnologias assistivas contemplados, em 2012, pelo Programa Estadual de Atenção à Pessoa com Deficiência – Viver Melhor/Edital de Apoio à Pesquisa para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (Viver Melhor/Pró-Assistir), financiado pela Fapeam.

    De acordo com o secretário adjunto da Secti-AM, Eduardo Taveira, os recursos financeiros disponíveis no Edital n. 006/2012-Pró-Assistir permitiram que pesquisadores e inventores transformassem suas ideias em produtos de tecnologias assistivas. “Não fosse o edital, os participantes continuariam com essas ideias apenas na cabeça e nunca se cristalizariam num produto de fato”, comenta.

    Taveira disse que um novo acesso a recurso financeiro está sendo pensado para o ano de 2015, com a finalidade de transformar os protótipos em produtos. Ele acredita que, com a divulgação dos projetos para a sociedade, os protótipos possam chamar a atenção de organizações não governamentais e de investidores que visem às potencialidades desses produtos e queiram lançá-los no mercado.

     

  19. Mudar de vida é possível
    19/04/2014 22:53:32

    Ex-camelô que fez R$ 12 virarem milhões vive agora de dar palestras

    Conhecido como ‘David, The Camelot’, David Portes escreveu nos últimos dez anos história de sucesso na área do empreendedorismo

    AURÉLIO GIMENEZ

    Rio – Um tem 56 anos e finalizou o segundo livro com o título ‘Ficar rico é de graça: 100 dicas do homem que transformou 12 reais em milhões’. O outro tem 32 anos e no Réveillon de 2012 vendeu 52 mil litros de chope na Praia de Copacabana. Agora também escreve a biografia ‘Foco, força e fé’. Apesar da diferença da idade, ambos têm em comum a mesma origem para vencer na vida: começaram nas ruas, como camelô e ambulante.

    Conhecido como ‘The Camelot’, David Portes já proferiu mais de 1.800 palestras em diversos países. Ele cobra R$ 20 mil por cada eventoFoto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia

    Conhecido como ‘David, The Camelot’, David Portes escreveu nos últimos dez anos história de sucesso na área do empreendedorismo. Com ousadia e visão, o empresário se tornou um camelô diferenciado na década de 1980, quando inovou no mercado de rua implantando ações de marketing na sua barraca — a banca do David — na Avenida Presidente Wilson, no Castelo.

    Na época, desempregado e com a mulher grávida, os dois perambulavam pelas ruas do Centro. Um dia, com apenas R$ 12 emprestados, ele decidiu arriscar tudo. Em vez de comprar o remédio, para qual havia pedido a quantia, comprou doces para vender no sinal. Logo dobrou o dinheiro e descobriu a vocação de vendedor.

    ENCANTAR OS CLIENTES

    Com apenas a 7ª série do hoje Ensino Fundamental, David introduziu em sua barraca métodos pouco ortodoxos para um camelô da época: criou o serviço de entregas em escritórios da região, cujos pedidos chegavam via ‘orelhão’ (o telefone público da esquina) e implantou sistema de milhagens para fregueses fiéis, fazendo sorteios e promoções. 

    “Queria encantar as pessoas. A minha barraca tinha tapete vermelho, lixeira, serviço de entrega e distribuía brindes. Muitos achavam que estava louco e perdendo dinheiro. Mas, às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar vários para frente”, diz ‘The Camelot’. 

    Hoje, David vive de dar palestras sobre empreendedorismo em diversas partes do mundo, além de administrar, junto com o filho Thiago Portes, o InvestCom — grupo de investimento que controla cinco empresas nas áreas de Educação, Tecnologia, Comunicação e palestras motivacionais. 

    Atualmente, David cobra R$ 20 mil por eventos. Mas apesar de ter vencido na vida e ter saído das ruas, o empresário diz que só se sentirá um milionário de verdade quando as empresas de aceleração de Tecnologia e Educação renderem frutos.

    “Agora vou levar minhas palestras, de graça, para os jovens das comunidades pacificadas. Esse é o meu sonho”, diz o ex-camelô.

    Da garrafa d’água ao carrinho de chope

    Filho de um policial militar aposentado e uma costureira, o jovem Rafael Feitosa teve uma infância difícil. Desde cedo, ele percebeu que teria que se virar para ser alguém na vida. Com 12 anos, escondido do pai, começou a vender garrafas d’água, que ele comprava no Mercadão de Madureira, num cruzamento sob o Viaduto Negrão de Lima. 

    No vai e vem entre o ponto, no sinal de trânsito, e o mercadão, Rafael comprava as bebidas para ele próprio e para outros ambulantes. Logo ele percebeu que poderia faturar mais, apenas revendendo o produto para os demais camelôs. 

    Foi quando deixou de ser ambulante e se tornou revendedor de bebidas. Hoje, é um dos maiores distribuidores da Ambev, comercializando diretamente com os ambulantes que atuam nas praias, no Carnaval, na SuperVia e shows de música, como Rock in Rio ou na Praça da Apoteose. 

    “O ambulante movimenta, informalmente, milhões. É o caminho mais curto para a indústria chegar ao consumidor final”, explica Feitosa, que ajudou a criar os carrinhos de chope da Brahma e possui uma frota de 70 deles.

    Mais de 40 mil ambulantes

    De acordo com a Prefeitura do Rio são 12.564 camelôs com autorização ativa na cidade, sendo 1.224 no Centro.

    Porém, a Associação dos Empreendedores do Comércio Ambulante do Rio (Aecarj), oficializada no fim de 2013 e presidida por Rafael Feitosa, tem 40 mil ambulantes cadastrados.

    Um ambulante atuante pode tirar R$ 150 por dia, segundo Rafael.

    “A maioria dos ambulantes tem a história parecida. São de classe baixa ou de favelas, sem instrução e que não conseguem emprego. Então, virar ambulante é a primeira opção. Apesar de serem marginalizados, não é vergonha. Porém, eles têm que receber orientação. É isso que a associação vai fazer a partir de agora”, explica o empresário.

    Dicas de sucesso

    POSSÍVEL E REAL 

    Não adianta querer ser o homem mais rico do país em 12 meses. O objetivo deve estar ligado essencialmente ao seu dia a dia.

    PRAZO 

    É necessário ter um período de tempo para chegar ao objetivo. Pode ser um mês, um semestre ou um ano. Este intervalo de tempo não pode ser muito grande para não haver grande desestímulo.

    VER O OBJETIVO 

    Escreva em um papel o objetivo e o coloque num lugar que possa vê-lo sempre. Pode ser no espelho do banheiro ou na geladeira.

    INCENTIVO 

    Comente o objetivo para pessoas próximas e peça a elas que cobrem e incentivem o seu desejo.

    PLANEJAMENTO 

    Escreva também em um papel as etapas necessárias para atingir o objetivo, elaborando as estratégias de cada uma.

    DEDICAÇÃO 

    Se quer mudar de vida, não custa repetir: muita dedicação. A pessoa deve ser a primeira a chegar e a última a sair. Há sempre alguém neste minuto fazendo aquilo que você faz, por isso você tem que ser melhor e ter mais afinco. A dedicação é desenvolver as coisas com envolvimento cada vez melhor e com um aproveitamento também cada vez melhor.

    IDIOMA DO SORRISO 

    Seja gentil, trate bem as outras pessoas e sorria bastante. O sorriso é o único idioma universal da riqueza. Quando se levantar pela manhã, tenha em mente que você deve tratar de forma cordial todos com quem você fala. Procure ser divertido e alegre . Pode ter certeza que as pessoas preferem fazer negócios com quem tem energia positiva que estão em harmonia com seus pares e levam a vida de maneira mais leve. 

     

     

     

     

     

     

     

  20. Tecnologia de fusao nuclear aa frio, parte 1

    (Repostando no lugar certo)

    Dedicada aa presidente Dilma Rousseff, essa vai ser uma serie ocasional, randomica tambem, nao tou com pressa nenhuma.  Parte 1 de naoseiquantas (e de fato, nem sei se vou ter saco pra escrever mais sem um computador decente).

    A tese principal nao eh provar que P = NP -pois isso eu ja fiz varias vezes- mas demonstrar que se voce sabe o que eh “raio cosmico” voce ja o sabe usar, portanto a tecnologia eh alcancavel mais ou menos “facilmente”a partir da propria arquitetura do raio cosmico…  essa extracao de conhecimento somente funciona se P = NP.  Portanto, nao tou com grande preocupacao com isso, mas sim com mostrar o que eh radioatividade e como simular fusao nuclear aa frio com uma nova tecnologia.

    O que sao “raios cosmicos”?

    Raios cosmicos sao -ponto por ponto, infinitesimo por infinitesimo, o equivalente luminoso de um nucleo instavel -isso eh, radioativo.  Vou me ater aa radioatividade de emissao de particulas embora o exemplo seja fotonico -se sao equivalentes, nao ha diferenca, nao eh mesmo?

    Aqui temos um raio de luz de frequencias especificas, em baixo grau de magnificacao, e seus fluxos atomicos que ele comporta uma vez um detector seja atingido.  De novo, os numeros nao significam nem 1 nem 0 em conteudo -nao vem ao caso.

     

    1234   1529  1657   136C

    5678   63C0  3284   2509

    90AB  74EA  C9DE 87BD

    CEDF 8DBF 0BAF 4AEF

     

    1238  1520  1654  1369

    5647  639C  3278  25C0

    0CAB 48EA  90DE 74BD

    9EDF 7DBF CBAF 8AEF

     

    1237  152C  1658   1360

    5684  6309   3247   259C

    C9AB 87EA  0CDE 48BD

    0EDF 4DBF 9BAF  7AEF

     

    Cujo campo eh esse:

    1224

    2244

    4433

    4331

    E sabemos que esse campo eh dessa particula que recebeu o foton mas tambem pode ser de outras (nao exatamente nessa resolucao baixa, eu precisaria de mais magnificacao).

    O subcampo 1 eh imanente -nao “irradia” a esse ponto.  O subcampo 2 (que consiste de vizinhos cantorianos 2, 3, 5, 6) seu espelho subcampo 3 (11, 12, 14, 15) e subcampo 4 no meio (4, 7, 8, 9, 10, 13)

    O que eles tem em comun eh o movimento do fluxo na mesma direcao.  Isso nao acontece necessariamente num raio cosmico.  Num raio cosmico, as “rotacoes eletricas” podem ser invertidas sem que o foton caia aos pedacos, digamos, 2 e 3 mudam de direcao juntos (um eh espelho do outro) ou o 4 muda de direcao.  E o que acontece quando um foton desses encontra um atomo normal?

    Ele provoca um curto circuito interno e o atomo pode desde cair aos pedacos a se tornar radioativo.  Auto-referencialmente isso implica que radiacao (de particulas) tem o mesmissimo modelo que eu acabei de escrever, e que o atomo que tem um  dos fluxos internos (ou par de fluxos internos) ao inverso reage bem “ruinzinho” ao encontro com certas luzes.

    E que seus subfluxos (porque o conceito nao foi inventado ainda, ele nao tem nem nome exceto esse que eu inventei) podem ser mais ou menos controlados fotonicamente -ou pelo menos manipulados.

    Ainda auto-referencialmente:  eu nao tenho acesso e nao quero “fazer” uma maquina de raios cosmicos.  Pra mim eh suficiente saber que fotons tambem tem campo interno manipulavel.  Aqui entra a extracao de conhecimento:  como toda luz eh amplificavel, eu posso simular exatamente as mesmas condicoes “cosmicas” aa frio porque eh so baixar o facho a respeito de conversa “nuclear” e inventar um laser “autocontraditorio”.  Nem precisa ser la muito poderoso porque ele afetaria ate mesmo materia nao-radioativa, isso eh…  fusao aa frio.

    Nao coloquei conteudo nenhum nesses 16 numeros:  independente deles serem 1’s ou 0′, o output dos subcampos somente pode ser duas coisas:  particula ou onda.  A esse ponto eu nao vou “olhar” pra onda, nao tenho paciencia.

    (A continuar…  maybe.  Eu realmente tou cansando disso.)

  21. O “BLACKBLOCÔMETRO” DA FOLHA E O PRÓXIMO GOLPE

    O “BLACKBLOCÔMETRO” DA FOLHA E O PRÓXIMO GOLPE

    por colegunhas, uní-vos!!!

     

    Você pode achar difícil de acreditar, mas há coleguinhas mais paranoicos do que eu e eles não estão internados. Mesmo casos claramente clínicos, que necessitam ajuda profissional séria, estão nas redações e produzindo boas matérias – até porque, como se diz, “o fato de a pessoa ser paranoica não quer dizer que ela não esteja mesmo sendo seguida”. E esse é o caso agora: reavalio a minha posição e passo a considerar, se não provável, pelo menos possível, a possibilidade de haver uma tentativa de golpe no Brasil.

    O ponto de inflexão foi a criação, pela Folha de São Paulo, do “blackblocômetro”. Falei dele na terça passada (aqui), comparando-o ao “lulômetro”, índice criado pelo banco Goldman Sachs para espalhar o terror entre os investidores no país durante a eleição de 2002 e faturar uma grana em cima. No caso da Folha, a ideia é, claramente, é deixar o país mais tenso nos próximos meses, a fim de canalizar os protestos, que fatalmente virão na esteira da Copa, contra o governo Dilma, a fim de facilitar a eleição de um de seus colunistas (Aécio Neves) ou, se não for possível, Eduardo Campos, também comprometido com a agenda conservadora para o país, embora menos do que Aécio.

    Mas mesmo se, contra esse fogo todo, Dilmão se reeleger, como é que fica? Não haveria problema, apesar dos 16 anos seguidos de governos petistas, se a derrota de 2018 não fosse mais do que provável, com a candidatura do Nove-Dedos. Essa perspectiva seria desesperadora para os barões da mídia e seus asseclas espalhados pelas camadas mais abastadas da sociedade brasileira tão bem representadas, nos veículos de comunicação, por Rachel Shererazade, Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnoli e quejandos. Com essa derrota no horizonte não é improvável que os barões começassem a tramar um golpe de estado para os próximos anos.

    Agora, as boas notícias.

    Não será fácil os barões montarem um golpe como aquele de que participaram há exatos 50 anos. Os obstáculos seriam muitos:

    1. Excesso de experiência: Como está se vendo esse ano, o Golpe de 64 ainda não foi superado, muito pela resistência dos próprios barões e das Forças Armadas em admitirem suas culpas na triste experiência pela qual passaram os brasileiros por 21 anos. É bem pouco provável que, com esse sofrimento ainda fresco na memória, estamentos importantes da sociedade – como a Igreja e a maior parte da sociedade civil – entre nessa canoa furada mais uma vez.

    2. Falta de contexto: Em 64, havia o contexto da Guerra Fria e os americanos faziam qualquer negócio para impedir que os vermelhos saíssem de debaixo das camas, especialmente no seu quintal América Latina pós-Cuba. Hoje, eles têm muito mais com que se preocupar com a ascensão da China, a sempre incômoda Rússia e os radicais islâmicos, sem falar na sua clara decadência econômica e social interna, algo que, há 50 anos, nem em seus piores pesadelos eles pensariam enfrentar.

    3. Falta de grana: Sem o incentivo ideológico da Guerra Fria e enfrentando desafios complexos em diversas partes do mundo, inclusive em casa, que não existiam há cinco décadas, os americanos não têm motivação para coçar o bolso a fim de financiar uma aventura golpista, mesmo em seu quintal, e, como se sabe, não se constrói um golpe na América Latina sem a grana deles. E não é pouca bufunfa não. É só lembrar que os protagonistas do Golpe sempre disseram que havia dólares a rodo à disposição para derrubar Jango, sem contar a esquadra da Operação Brother Sam.

    4. Falta de armas: Entre esses gatos escaldados que citei no item 1, os mais proeminentes talvez sejam os militares. Parece haver, hoje, o consenso entre eles que foram usados como bucha de canhão pelos norte-americanos na Guerra Fria e pelos plutocratas brasileiros (entre eles os barões da mídia) para construírem essa concentração de renda obscena que caracteriza do Brasil. É pouco provável que a alta hierarquia das três Armas adira a um novo golpe e, sem militares, não há golpe de Estado em lugar nenhum do mundo, pois não se organiza um sem armas.

     

    Assim, embora agora concorde com os meus amigos (mais) paranoicos de que passará pela cabeça dos barões da mídia a ideia de um golpe – se é que já não está passando, como indica o “blackblocômetro” da Folha -, acho muito difícil sua execução com sucesso. Ainda assim, “pelo sim, pelo não, pelo quem sabe, pelo talvez” (by Odorico Paraguassú) é bom ficar de olho aberto para as próximas iniciativas dos barões da mídia que visem balançar o coreto da democracia que tentamos construir no Brasil.

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