Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Luis Nassif

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  1. Contra a matança de botos na Amazônia

    O Boto-vermelho (Inia geoffrensis), também conhecido como Boto cor-de-rosa, está sendo massacrado na Amazônia para virar isca de peixe. Um animal que é protagonista de muitas lendas e um dos ícones mais emblemáticos da Amazônia. Uma espécie topo de cadeia, totalmente adaptada a seu ambiente e elo fundamental do equilíbrio ecológico na bacia Amazônica. 

    A Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) lançaram a campanha Alerta Vermelho para combater a caça ao boto-vermelho na Amazônia. 

    Além do manifesto online (aqui), o movimento está recebendo doações, em dinheiro. O valor arrecadado será investido em ações de fiscalização. 

    A carne do boto é usada como isca para a captura do peixe piracatinga. Estima-se que cerca de 2.500 botos são mortos todos os anos e, se a pesca ilegal não for combatida, a espécie poderá desaparecer em um futuro muito próximo.

    Participe! Saiba mais no hotsite da Campanha Alerta Vermelho – http://www.alertavermelho.org.br 

    1. Povo amendrotado com atos de

      Povo amendrotado com atos de vandalismo em manifestações e violência (está, generalizada).

      Alckimin adota linha dura contra “blacs”, violência e grupos de desordeiros.

      Alckimin colhe (pela repressão) junto aos eleitores de SP (pesquisas eleitorais) os frutos da violência nas manifestações.

      Taí o fio a ser investigado.

      “Siga o dinheiro e chegará ao chefe”

  2. Um peso, duas medidas. Assim

    Um peso, duas medidas. Assim funciona a justiça no Brasil. O mensalão do PT teve julgamento no STF, o mensalão tucano o STF mandou para as várias instâncias e os crimes já estão prescrevendo. No caso do IPTU, em São Paulo a justiça vetou o aumento de Haddad do PT, muito mais gravoso para a população foi o que ACM Neto implantou em Salvador e a justiça aprovou.

    Julgamento do IPTU é suspenso com 7 a 1 pela constitucionalidade da cobrança

    O pleno do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) começou a decidir nesta quarta-feira (30) sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU )de Salvador. Quando a votação estava 7 a 1 em favor da constitucionalidade da cobrança  executada pelo prefeito ACM Neto, a desembargadora Telma Brito pediu vistas ao processo e o julgamento foi mais uma vez adiado.

    Até o momento se posicionaram pelo mérito, considerando constitucional a cobrança, os desembargadores Ivete Caldas, Lícia Laranjeira, José Alfredo, Jataí Fonsenca, Deise Lago, acompanhando o desembargador Gesivaldo Britto pelo mérito. O desembargador José Edivaldo Rotandano votou pela liminar e ainda não se posicionou pelo mérito. O único que votou pela inconstitucionalidade da cobrança do IPTU foi Roberto Frank. São 33 desembargadores com direito a voto.

    As ações foram movidas pela Ordem de Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA) e o Ministério Público do Estado (MP-BA). Partidos políticos também ingressaram, como o PT, PSL e PCdoB.

    O adiamento anterior foi provocado após a desembargadora Silvia Zarif questionar aspectos formais do processo, baseado no regimento interno da Corte. O posicionamento de Zarif foi seguido por outros 25 desembargadores, que marcaram o julgamento do mérito para esta quarta-feira (30).

    Segundo a desembargadora, a ausência da remessa de cópias do parecer do Ministério Público Estadual (MP-BA) sobre a Adin justificava o adiamento da apreciação.

    A Prefeitura de Salvador publicou no dia 8 de julho uma lei que congela o aumento do IPTU até o ano de 2017 e calcula o valor do imposto com base na variação mensal do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que terá um acréscimo de juros de 1% ao mês. A tributação para terrenos em construção também sofreu alterações nesta nova legislação. Os lotes agora terão 50% de desconto por um período de quatro anos, contados a partir da data de emissão do alvará de licença.

    http://www.bocaonews.com.br/noticias/politica/justica/92525,julgamento-do-iptu-e-suspenso-com-7-a-1-pela-constitucionalidade-da-cobranca.html

  3. O SUJO FALANDO DO MAL LAVADO

    Paredes de megatemplo da Igreja Universal não foram tributadas

    Pedras importadas de Israel para construção do Templo de Salomão tiveram isenção tributária ao chegarem ao Porto de Santos

    OGLOBO | RENATO ONOFRE | 30/07/2014


    Reprodução digital do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus – Reprodução

    SÃO PAULO – A Igreja Universal do Reino do Deus (IURD) conseguiu, na Justiça, a isenção de impostos sobre a importação das pedras de Israel usadas na construção do Templo de Salomão. Em 2011, o material chegou a ser retido no Porto de Santos por agentes da Receita Federal que não aceitaram a justificativa religiosa da importação do material como passível de isenção de impostos.

    Os magistrados entenderam que a compra do material para a construção do templo se enquadra nos dispositivos da Constituição Federal que veda quaisquer dos entes da Federação criem impostos sobre os templos de qualquer culto.

    A decisão da Receita Federal foi questionada na Justiça pela Universal que entrou no mesmo ano com uma liminar pedindo a liberação do lote com a justificativa de não atrasar a construção do Templo de Salomão. A liminar foi aceita pela 2ª Vara Federal de Santos que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário incidente na importação de parte da compra de um total 39.009,37 m² de pedra cantaria, considerada sagrada e proveniente da cidade de Hebron, em Israel, e tinha determinado o desembaraço aduaneiro das mercadorias.

    Em junho, em decisão unanime, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) ratificou a primeira decisão favorável a Universal entendendo que os lotes de pedras destinados à construção da fachada faraônica do templo, orçado em R$ 680 milhões, não poderiam ser taxados com base nos artigo 5º, incisos VI e VIII.

    A Universal importou três tipos de pedras para a construção do templo. O primeiro modelo, chamado de Taltishe, muito utilizada na maioria das edificações de Jerusalém, serviu para revestir todo o exterior do templo, cerca de 19 mil metros quadrados. O piso interno recebeu o modelo Brushed Stone. Os pilares receberão um tipo de pedra chamado Matabeh.

    Segundo o desembargador federal André Nabarrete, relator do acórdão, justificou que “é incontroverso que a importação de material para a construção do próprio templo religioso é imune à incidência dos impostos sobre a importação e produtos industrializados, na medida em que irá se incorporar ao patrimônio da impetrante e, assim, se subsume perfeitamente na regra constitucional imunizante”.

    Fonte: 

    http://oglobo.globo.com/brasil/paredes-de-megatemplo-da-igreja-universal-nao-foram-tributadas-13433311#ixzz392p1zbS

  4. Israel e Palestina

    As Bases do Conflito Histórico Entre Israel e a Palestina

    SUPERINTERESSANTE | Luíza Antunes |  25/07/2014

    De um lado, um povo que sofreu anos de perseguições e conseguiu formar um Estado com poderio militar gigantesco. Do outro, um povo que teve domínio da região por séculos, mas se viu expulso de casa e abandonado por seus vizinhos. O conflito entre israelenses e palestinos é centenário e de difícil resolução. Os palestinos (mais especificamente o grupo Hamas) são acusados de praticar atos terroristas contra Israel. Ao mesmo tempo, os ataques militares dos judeus atingem civis palestinos, causando mortes de crianças e idosos. Os conflitos de 2014 começaram com mortes de jovens dos dois lados: um novo estopim para uma guerra que parece não ter fim. Conheça 10 marcos históricos do conflito entre palestinos e israelenses.

     

    Terra Santa

    jerusalem

    Antes de tudo, é preciso relembrar a aula de geografia. A Palestina é uma região localizada no cruzamento de três continentes, considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos. Jerusalém fica nessa região e tem grande importância espiritual: no Monte Sião está a igreja onde acredita-se que Maria, a mãe de Jesus, morreu. Também é lá que fica o edifício onde pode ter ocorrido a última ceia e onde está a tumba do Rei Davi. Dentro da Mesquita de Omar fica o Domo da Rocha, local onde Maomé ascendeu aos céus. Ainda, o Muro das Lamentações é parte do antigo Templo de Salomão.

    Com tantos marcos sagrados, a região da Palestina foi habitada por diversos povos ao longo da história: nos tempos bíblicos, eram os judeus quem viviam ali, mas acabaram sendo expulsos com as ocupações dos impérios Árabe e Romano. Durante a Idade Média, a maioria da população era árabe – os europeus cristãos tentaram mudar isso com as Cruzadas, mas os anos de conflito não tiveram muito resultado. Por fim, a partir do século XV, o domínio passou a ser do Império Otomano.

     

    Movimento Sionista

    No final do século XIX surgiu um movimento que tinha como proposta a criação de um Estado para o povo judeu, que sofreu muitas perseguições e estava espalhado mundo afora. O nome desse projeto foi Movimento Sionista.

    Os sionistas começaram a incentivar a migração dos judeus de volta para a Terra Santa, de onde eles foram expulsos pelos Romanos no século III. Em 1903, 25 mil imigrantes judeus migraram para a área, que na época ainda pertencia ao Império Otomano. Com as guerras mundiais, o movimento sionista cresceu. Em 1948, antes da criação do Estado de Israel, a quantidade de judeus imigrantes chegava a 600 mil pessoas.

     

    As Guerra Mundiais

    Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano se desfez e a Inglaterra assumiu o controle da região da Palestina. A relação entre os ingleses e os povos árabes que habitavam a região não era das mais pacíficas e, enquanto isso, os judeus continuavam sua migração. Com a perseguição dos nazistas e a Segunda Guerra Mundial, o fluxo de judeus para a região aumentou drasticamente.

    Após a Segunda Guerra, as notícias sobre os horrores do Holocausto acabaram fazendo com que a opinião pública pressionasse a Inglaterra para abrir mão da colonização da área. Para tentar resolver o impasse entre árabes e judeus, a ONU propôs, em 1947, a divisão do território palestino, criando dois estados e deixando Jerusalém como um “enclave internacional”. Os árabes das nações ao redor não concordaram com a proposta – eles desejavam criar o “Estado Unido da Palestina” em todo o território – dessa forma, os judeus seriam minoria.

     

    O Estado de Israel

    israel

    Em 14 de maio de 1948, os judeus declararam independência e conseguiram criar o Estado de Israel, nas áreas que haviam sido sugeridas pela ONU, que correspondiam a 60% da Palestina. Em seguida, Egito, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque atacaram Israel, mas acabaram sendo derrotados, o que formalizou o controle israelita não só sobre as áreas originais, mas também sobre mais da metade da área que pertencia ao estado árabe.

    Cerca de dois terços dos árabes que moravam na região fugiram ou foram expulsos do território sob controle judaico. O problema é que essas pessoas não foram admitidas nos países árabes vizinhos, criando um grupo enorme de refugiados: os árabes palestinos, que reivindicam o retorno às suas antigas casas.

     

    A Guerra dos Seis Dias

    Em 1967, as tensões na região escalonaram para um conflito armado de Israel contra Egito, Jordânia e Síria. Israel conseguiu se adiantar ao conflito e neutralizou as forças armadas dos outros países. Como o nome diz, a guerra durou exatos seis dias. Mas as consequências duram até hoje.

    Além de os Estados Árabes perderem boa parte do seu poderio militar, as fronteiras de Israel expandiram e passaram a incluir as Colinas de Golã, a Cisjordânia (Margem Ocidental) e a Península de Sinai. Além disso, Jerusalém, a cidade sagrada, passou ao controle do Estado Judeu. Ao mesmo tempo, o número de refugiados palestinos aumentou ainda mais.

    A ONU aprovou, em 1967, a Resolução 424, determinando a retirada de Israel dos territórios ocupados e exigindo uma solução para o problema dos refugiados. Porém, Israel se recusou a cumprir, exigindo que primeiro os Estados Árabes deveriam reconhecer o Estado de Israel.

     

    Guerras Árabes X Judeus

    arafat

    O conflito de 1967 só acirrou os ânimos. No final da década de 60, foi criada a Organização de Libertação da Palestina (OLP), uma luta armada terrorista, que passou a fazer uma série de ataques contra israelenses ao redor do mundo. Em 1972, nas Olimpíadas de Munique, 11 atletas israelitas foram sequestrados e assassinados. Uma operação chamada Cólera de Deus foi criada para encontrar e executar os responsáveis pelos assassinatos.

    Em 1973 ocorreu a Guerra do Yom Kippur, o Dia do Perdão, com Egito e Síria se lançando de surpresa contra Israel. Mesmo enfrentando mais dificuldades, Israel saiu vencedor do conflito novamente. Em 1978, Israel e Egito assinaram um acordo de paz, com o primeiro se retirando da Península de Sinai e o segundo reconhecendo oficialmente o estado israelense.

    No mesmo ano, Israel invadiu o Líbano a fim de acabar com as bases da OLP. Após o sucesso militar, acabaram recuando. Em 1982, eles invadiram o país novamente, contra o líder do Fatah, Yasser Arafat. Somente em 1985 eles se retiraram do território libanês, exceto por uma faixa de terra, designada Zona de Segurança Israelense. A retirada completa só ocorreu nos anos 2000.

     

    Intifadas

    intifada

    As Intifadas foram revoltas populares dos palestinos contra o domínio israelense, que eles consideram abusivo. Em 1987, ocorreu a Primeira Intifada, um levante de civis palestinos, que atacaram soldados israelenses com paus e pedras. A resposta desproporcionalmente violenta dos militares israelenses chocou a opinião pública internacional. A revolta civil só terminou em 1993, com a assinatura dos Acordos de Oslo, que definiram, entre outras coisas, a retirada das forças armadas israelenses da faixa de Gaza e da Cisjordânia. Essas regiões passariam a ser governadas pela Autoridade Palestina. Em contrapartida, a Palestina pararia com os ataques terroristas. Nenhuma das duas partes cumpriu o acordo.

    A Segunda Intifada foi no ano 2000. Essa revolta popular só terminou em 2005, com milhares de mortos, a maioria civis palestinos, além de destruição de casas e prisões de centenas de pessoas, inclusive crianças.

     

    Hamas x Fatah

    Em 2005, Israel retirou suas tropas e os assentamentos judeus da Faixa de Gaza e do norte da Cisjordânia. Mas os judeus continuaram controlando fronteiras e recursos naturais da região. Em 2007, ocorreram eleições parlamentares da Autoridade Palestina e o grupo Hamas saiu vitorioso, o que não foi reconhecido pelo grupo opositor Fatah, e nem por Israel, que os considera terroristas. Com isso, ocorreu uma racha na administração: o Hamas passou a controlar a Faixa de Gaza e o Fatah é responsável pela Cisjordânia.

    Praticamente não existe diálogo entre Hamas e Israel. O governo israelense impôs um bloqueio a Gaza, restringindo a circulação de pessoas e mercadorias, e estabeleceu um racionamento de recursos naturais. Com isso, a situação se tornou insustentável para a população palestina civil que vive por lá. Além de enfrentarem uma séria escassez de recursos, os palestinos passaram a viver numa espécie de prisão a céu aberto. Eles também estão sujeitos aos tribunais militares israelenses, que prendem cerca de 2 crianças palestinas por dia.

     

    O Estado Palestino

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    Em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu a Palestina, ou seja, os territórios ocupados por esse povo, como um Estado não-membro da ONU, um status político semelhante ao Vaticano. Assim, o Estado Palestino pode participar das reuniões da ONU, mas sem direito a voto. A decisão teve apoio de 139 países. Foram apenas nove votos contrários, entre eles, de Israel e Estados Unidos.

    Com o reconhecimento internacional do Estado Palestino, Israel anunciou retaliações, iniciando a construção de residências para colonos israelenses em áreas da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. A política de colonizações de Israel é considerada um dos grandes entraves para a conquista da paz na região.

     

    A Paz distante

    bomba

    Em 2010, 2012 e 2014, mais conflitos sérios aconteceram entre os dois lados, causando mortes de civis e dificultando cada vez mais as negociações de paz. O principal ponto de tensão continua sendo Gaza, onde ocorrem os conflitos entre Hamas e Israel. Além disso, algumas questões sempre geram impasse e adiam uma possibilidade de cessar-fogo na região.

    A questão de Jerusalém: A cidade é sagrada para os dois lados. Israel reivindica o controle de toda área para si, o que não é reconhecido pela comunidade internacional. Já os palestinos clamam pela parte Oriental de Jerusalém, território ocupado em 1967, onde eles gostariam de estabelecer sua capital. Para complicar mais a questão, Israel ainda estimula o assentamento de comunidades judias na área (e também na Cisjordânia, o que só piora a situação).

    Os refugiados palestinos: Nos conflitos do século XX, cerca de 700 mil palestinos foram expulsos de suas casas. Esses refugiados e seus descendentes hoje chegam a cerca de 7 milhões de pessoas. Os refugiados reivindicam o direito de voltar para casa. Do outro lado, Israel pontua que não tem como abrigar 7 milhões de palestinos. Até porque isso tornaria os judeus minoria dentro de seu próprio estado.

    A segurança nacional: Israel teme que a criação um estado independente palestino possa iniciar uma nova série de guerras na região, parecida com a que aconteceu nos anos 1970. Além disso, eles temem que o Hamas ganhe poder sobre a Cisjordânia e passe a atacar Israel, assim como eles fizeram em Gaza. Depois de tantos anos de conflitos, os palestinos dificilmente concordariam em prometer uma desmilitarização permanente.

  5. A Bíblia que você nunca leu

    TRECHOS DA BÍBLIA QUE OS CRENTES FINGEM DESCONHECER

    Pena de morte para virgens defloradas, palmadas para as crianças, regras para a poligamia… e uma política radical de juros. Conheça as leis mais curiosas da Bíblia. Tópico por tópico. Ao pé da letra.

    Alexandre Versignassi e Tiago Cordeiro

    A Bíblia não é apenas a Bíblia. Ela também funciona como uma espécie de Constituição. Natural: o Livro Sagrado não é exatamente um livro, mas uma coleção de 66 livros. Alguns são basicamente de histórias, caso do Gênesis, que narra o início dos tempos e as origens do povo de Israel. Outros não. Eram obras que, antes de entrarem para a Bíblia, tinham vida própria na forma de códigos de conduta. Ou seja: eram versões antigas, escritas entre o século 10 a.C. e 5 a.C., daquilo que hoje conhecemos como “código civil” e “código penal”.

    Esses códigos, essas leis, estão principalmente nos livros Deuteronômio e Levítico. Mas aparecem por praticamente toda a Bíblia, inclusive no Novo Testamento, escrito a partir do século 1 e que revisa boa parte dessas leis. Por essas, muitos preceitos bíblicos são contraditórios ou sujeitos a mais de uma interpretação. “No contexto em que foram escritos, porém, eles ajudaram a formar um povo com uma identidade tão forte que sobreviveria a séculos de diáspora e uma religião que dominaria o mundo ocidental”, diz o historiador Marc Zvi Brettler, professor de estudos judaicos da Universidade Brandeis, nos EUA. Nas próximas páginas, vamos fazer uma viagem pelas leis daquele tempo e daquele espaço. É a Bíblia. Mas como você nunca leu.

    MARIDOS & ESPOSAS

    Poucas coisas mudaram tanto nos últimos 3 mil anos como a instituição do casamento. Então esse é o nosso primeiro tópico. Para começar, o Velho Testamento deixa claro que as mulheres deveriam ser funcionárias de seus maridos. Funcionárias mesmo: não só com deveres, mas com direitos também. Se uma esposa fosse “demitida” pelo parceiro, por exemplo, podia ganhar uma carta de recomendação, que a moça podia usar como trunfo na hora de tentar uma vaga de mulher de outro sujeito.

    Não é exagero falar em “vaga”: um homem podia ter tantas esposas quanto quisesse (ou melhor: quanto pudesse adquirir e sustentar). A poligamia era a regra. Tanto que o primeiro caso aparece logo no capítulo 4 do primeiro livro da Bíblia: “E tomou Lameque para si duas mulheres” (Gênesis).

    A situação era tão comum que vários dos personagens mais importantes do Antigo Testamento viviam com mais de uma esposa sob o mesmo teto. Abraão acolhe uma segunda mulher a pedido de Sara, sua número 1, que não conseguia ter filhos. Depois a própria Sara dá à luz Isaac, enquanto a escrava Hagar tem Ismael. Nota: a tradição considera o primeiro como pai de todos os judeus e o segundo, patriarca dos povos árabes.

    O caso de Jacó, filho de Isaac e também patriarca de todos os judeus, é o mais conhecido: ele casa com as irmãs Lea e Raquel, filhas de Labão. E compra o dote delas trabalhando no pastoreio do sogro por 14 anos – 7 anos de labuta por cada esposa.

    Mas nunca na história do Livro Sagrado houve maior predador matrimonial que Salomão, o rei: foram 700 esposas. Setecentas de papel passado, já que o sábio soberano ainda mantinha 300 concubinas. E tudo isso sem pílula nem camisinha… Por isso mesmo o Deuterônimo traz regras para a distribuição de bens entre filhos de diferentes mulheres – os rebentos de mães com mais milhagem em anos de casamento ganham mais. E os primogênitos também. Mas por quê, afinal, a poligamia era a regra lá atrás? “Provavelmente porque havia mais mulheres do que homens entre os judeus, que com frequência estavam envolvidos em guerras violentas. A poligamia, então, era uma forma de garantir a manutenção da população”, diz o historiador Richard Friedman, professor de estudos judaicos da Universidade da Geórgia. “Além disso, uma mulher solteira tinha pouquíssimas alternativas para sobreviver, a não ser se prostituir. Quando um único homem é provedor de várias mulheres, essa questão acaba minimizada.”

    O Novo Testamento não cita tantos exemplos de poligamia, mas sugere que ela ainda era comum no século 1. Jesus não toca no assunto, mas, em duas cartas, são Paulo recomenda que os líderes da nova comunidade cristã tenham apenas uma esposa porque “assim eles teriam mais tempo para dedicar aos fiéis”. “O cristianismo só refuta a poligamia quando se aproxima do poder em Roma, que proibia a poligamia”, afirma Brettler. Como escreve santo Agostinho no século 5, “em nosso tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar outra esposa”.

    Escravas também tinham direitos: se um homem casava com uma de suas servas, só poderia se divorciar se vendesse a mulher para outro senhor. Bom para a mulher, já que evita a situação constrangedora de trabalhar para o ex – e de graça… Menos “feminista” é outra lei bíblica: quando um homem morre e deixa uma viúva, seu irmão deve casar com ela, para garantir que o patrimônio da família não se perca. O adultério, adivinhe, é crime – pudera: no Brasil mesmo era crime até 2005 (detenção de 15 dias a 6 meses, segundo o artigo 240 do Código Penal). A diferença é que lá a pena era de morte mesmo – para ambos os envolvidos na relação sexual fora da lei.

    Mais brando é são Paulo, que dá orientações para o dia a dia do casal. Ele até diz que os homens são a cabeça da relação, mas pede que os maridos respeitem as esposas. Um grande salto para nas regras de matrimônio da Antiguidade.

    SEXO

    Além de polígamo, qualquer homem podia ter amantes, contanto que oficiais. Eram as concubinas. Jacó trabalhou 14 anos pela posse de suas duas mulheres – mas ganhou duas concubinas de bônus pelos bons serviços prestados. Uma série de regras estabelece como deve ser a vida sexual também: toda mulher tem de se casar virgem, ou então poderá ser dispensada pelo marido – por outro lado, se o marido acusar falsamente a esposa de não ter casado casta, deve permanecer com ela até o fim da vida. Para comprovar sua pureza, a acusada devia apresentar testemunhas dispostas a defender a limpidez do passado dela. As leis sexuais, enfim, eram bem abrangentes: “Quem tiver relações com um animal deve ser morto”, diz o Êxodo. E masturbação também não pode. Como diz o sutil são Paulo: “A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao marido. E o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à esposa”. “O sexo na Bíblia é cheio de contradições”, diz o arqueólogo Michael Coogan, autor de God and Sex (Deus e o Sexo). “É de se desconfiar que fossem realmente levados a sério naquela época.”

    BÍBLIA S/A – NEGÓCIOS E FINANÇAS

    A ética comercial do Livro Sagrado tem regras simples: não roubar nem trapacear no peso ou fazer nada que prejudique a outra parte. A cobrança de juros também é proibida. As ordens se repetem ao longo da Bíblia, sempre em tom firme: “Não tomarás dele juros nem ganho” (Levítico), “Não emprestando com usura, e não recebendo mais do que emprestou” (Ezequiel). E isso numa época em que a grande moeda corrente eram sacos de grãos. O fato é que a restrição à cobrança de juros é mais antiga do que a Bíblia. As leis da Babilônia, codificadas mil anos antes, já impunham tetos na cobrança de juros, provavelmente para evitar que os mais espertos enriquecessem à custa de empobrecer o resto da sociedade. Jesus, inclusive, radicaliza. Não só condena os juros como também a cobrança do principal (a quantia emprestada inicialmente): “E se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito há nisso?” (Lucas). Cristo, aliás, dá muita atenção à cobiça. “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus, 6:24), diz. E pede que seus seguidores façam como os lírios-do-campo, que recebem proteção e alimento da divindade sem precisar trabalhar. Também diz, para desespero de um fiel cheio de posses, um de seus maiores hits verbais: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos Céus”. Mas existe uma exceção na política bíblica de juros: nos casos em que o empréstimo é concedido a um não-judeu (“um estranho”, nas palavras do Deuterônimo), é permitido praticar a usura. Até por isso os judeus se tornaram os grandes banqueiros da Idade Média. Os cristãos também respeitavam a Bíblia, e não emprestavam a juros entre si (para eles, os “estranhos” eram os judeus). Mas num mundo sem juros o estímulo para conceder empréstimos é nulo. Então a maioria cristã pedia empréstimos para quem os concedia, a juros – as minorias judaicas. O fato de os judeus não terem direito à posse de terras também ajudava – emprestar a juros era uma das poucas formas de renda possíveis para quem não tinha como plantar para acumular excedentes.

    Se o Livro Sagrado proíbe a cobrança de juros, mas só entre judeus, o mesmo vale para a escravidão. Você pode ter escravos, contanto que “sejam das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas”, diz o Levítico. Mas havia uma exceção: era possível a um judeu endividado vender a si mesmo para o credor.

    “A escravidão era comum entre todos os povos daquela área, mas os servos eram relativamente bem tratados, sem violência desnecessária. Os próprios israelitas seriam respeitados quando foram forçados ao exílio na Babilônia”, afirma a historiadora Catherine Hezser, professora de história das religiões da Universidade de Londres e autora de Jewish Slavery in Antiquity (Escravidão Judaica na Antiguidade).

    Por isso mesmo, os israelitas são orientados a conceder uma série de direitos a seus escravos, que servem por 6 anos, e no sétimo são libertados. Se ele for escravizado com a esposa, os dois são libertados juntos. Até para punir os indisciplinados existem regras – se o dono arrancasse um olho do servo, seria obrigado a libertá-lo (Êxodo). Ou seja: a Bíblia também servia como uma espécie de CLT para escravos.

    Mas a parte mais humanista nas relações de trabalho previstas na Bíblia é uma regra para os fazendeiros: sempre deixar sem colher as plantações das bordas do terreno. Para quê? Para que as pessoas mais pobres, sem-terra, possam aproveitar essa parte.

    MARVADO VINHO

    O álcool nem sempre foi consumido com moderação na Bíblia. A palavra “vinho” é citada mais de 200 vezes, e os porres são frequentes: Ló é embebedado pelas filhas e Amnon, filho de Davi, está mais pra lá do que pra cá quando é assassinado por ordem de seu irmão Absalão – a quem interessar: foi pelo crime de ter estuprado a própria irmã, Tamar. “Os sacerdotes são orientados a não beber antes de entrar no templo, e o álcool é relacionado à perda de controle pessoal e da capacidade de diferenciar o bem do mal. Mas nada no texto bíblico proíbe o consumo”, diz historiador Marc Zvi Brettler.

    O álcool chega a ser recomendado para curar os males da alma. Está no livro Provérbios: “Dai bebida forte ao que está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito”.

    Às vezes, a coisa era uma festa da uva mesmo. Davi, num arroubo de populismo, oferece uma jarra de vinho a cada cidadão de Israel. E tem o primeiro milagre de Jesus: transformar água em vinho ¿ segundo o evangelista João, no melhor vinho da festa. São Paulo vai mais além: recomenda a um discípulo, Timóteo, que troque a água pelo vinho. A dica tinha um motivo prático. “Às vezes, naquele tempo, era mais saudável consumir álcool do que água, que frequentemente era insalubre”, diz Brettler.

    SAÚDE E EDUCAÇÃO

    A medicina bíblica é obcecada por manchas na pele – uma preocupação muito compreensível para um povo que vivia no deserto, sob um sol escaldante. Os líderes religiosos é que faziam o papel de médicos. “Quando um homem tiver na pele inchação ou pústula, então será levado a Arão ou a um de seus filhos, os sacerdotes” (Levítico).

    Os sacerdotes avaliavam pessoalmente cada caso suspeito, seguindo as regras estabelecidas por Deus, transmitidas a Moisés e transcritas no Livro Sagrado. Primeiro, passar azeite sobre o ferimento (o mesmo produto também é recomendado para lavar os cabelos). Depois de uma semana, no retorno da consulta, vem o diagnóstico definitivo: se o pelo sobre a mancha estiver mais claro, e a ferida estiver mais funda do que a pele, o doente tem lepra.

    A partir desse momento, a vítima não tem mais espaço na comunidade. É obrigada a andar pelas ruas, anunciando sua condição para evitar que desavisados entrem em contato com o doente e também sejam contaminados. Ocasionalmente, profetas conseguiam curar leprosos. No Novo Testamento, os sacerdotes cristãos são indicados para curar todo tipo de doença. “A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará” (Tiago).

    A preocupação com a pele não era a única norma de conduta social. Era proibido cortar e aparar a barba ou vestir tecidos que misturassem lã e linho (Levítico) – hoje, entre as comunidades que buscam seguir a Bíblia ao pé da letra, existem testadores de tecido, especializados em monitorar a composição das roupas com um microscópio e impedir fiéis de desobedecer à orientação e cometer pecado. Pela regra, também é importante vestir sapatos seguindo uma ordem – primeiro o pé direito. Se for necessário amarrá-lo, é o contrário: primeiro o esquerdo.

    A Bíblia também orienta na educação dos filhos. Eles devem ser apresentados a Deus recém-nascidos e, no caso dos meninos, circuncidados no oitavo dia de vida. Ao longo da infância, os pais têm a obrigação de repassar a eles a palavra de Javé. Já o Novo Testamento é mais pedagógico, digamos assim: enfatiza a educação pelo bom exemplo dos pais, para que os jovens respeitem a Deus e se comportem corretamente por vontade própria, e não porque foram forçados. Criar adultos calmos e centrados também é importante. “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios). Quando não funcionar, o Antigo Testamento indica que um bastão flexível deve ser usado para bater nos desobedientes (no Brasil, seu uso poderá trazer problemas com a Justiça caso seja aprovada a Lei da Palmada). O objeto tem até nome, vara da correção, e é indicado para qualquer situação em que o pai considere que a criança não seguiu suas instruções.

    “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe” (Provérbios), diz o texto bíblico, que promete: o castigo pode dar frutos no futuro. “Disciplina seu filho, e este lhe dará paz, trará grande prazer a sua alma”. Mas cuidado – a punição não pode ser exagerada: “Castiga seu filho, mas não te excedas a ponto de matá-lo” (Provérbios).

    HOMOSSEXUALIDADE

    O amor entre homens era punido com a morte – a não ser que você fosse o rei Davi. Os livros Samuel I e Samuel II contam a história da amizade entre ele e Jonatã, filho do rei Saul, antecessor de Davi e candidato natural ao trono de Israel. Davi acaba escolhido para a sucessão, mas isso não abala o relacionamento dos dois. Está escrito: “A alma de Jonatã se ligou com a alma de Davi. E Jonatã o amou, como à sua própria alma” (Samuel I). Em outra passagem, Jonatã tira todas as roupas, entrega a Davi e se deita com ele. “E inclinou-se 3 vezes, e beijaram-se um ao outro” (Samuel I). “Esse relato incomoda os intérpretes tradicionais da Bíblia, que tentam explicar a relação como uma forte amizade, e o beijo como um costume comum entre homens”, diz o historiador finlandês Martii Nissinen, da Universidade de Helsinki e autor de Homoeroticism in the Biblical World (Homoerotismo no Mundo Bíblico). “Mas é difícil negar a referência à homossexualidade nesse caso, mesmo que a lei judaica a proíba expressamente.” Em mais de uma ocasião, os relacionamentos entre homens são chamados de “abominação” e “pecado contra Javé”. Para alguns especialistas, o Antigo Testamento também sugere um relacionamento homossexual entre duas mulheres, Noemi e sua nora Rute. Está no livro de Rute um trecho em que ela diz a Noemi: “Aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu.” Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada”.

    SACRIFÍCIOS

    Muito sangue jorra na Bíblia. Abraão é orientado a sacrificar seu próprio filho Isaac a Javé – e teria obedecido, caso um anjo não aparecesse no último minuto dizendo era tudo um teste para sua fé. Além disso, durante os 40 dias em que detalha suas regras ao patriarca, Deus exige uma série de sacrifícios de animais.

    Os rituais são descritos com grande riqueza de detalhes. Moisés manda matar e drenar 12 bois. O sangue é colocado numa tina. Metade é lançada no altar e o resto sobre a multidão. Carneiros abatidos são esfregados no corpo de fiéis, que seguram seus rins nas mãos para oferecê-los a Javé. Pedaços de bichos são queimados sobre o altar. Era uma forma de trocar favores com os deuses. Por isso mesmo, o sacrifício de animais existe em praticamente todas as culturas da Antiguidade. “O sangue é o maior símbolo da vida. Ao usá-lo em rituais, os fiéis reforçavam seu vínculo com a divindade e se purificavam”, diz Richard Friedman.

    Jesus aparece com uma novidade: não pede sangue animal. “Eu quero a misericórdia, não o sacrifício”. Friedman explica: “Na interpretação cristã posterior, o próprio Jesus é considerado o sacrifício final, que limpa os pecados da humanidade de forma definitiva, o que dispensa a morte de animais”.

    CRIME E CASTIGO

    Sequestro, adultério, homossexualidade, prostituição… Tudo isso dava pena de morte. Até fazer sexo com uma virgem poderia custar a vida do “criminoso”. Esse caso, aliás, é um labirinto jurídico: se um homem transar com uma virgem dentro de uma cidade, os dois morrem; se for no campo, só ele. A lógica é que, dentro da cidade, alguém ouviria a virgem gritando por socorro caso o sexo não fosse consentido. Se ninguém ouviu é porque ela não gritou, supõe a lei. E se não gritou é porque cometeu um crime também – o de consentir. No campo é diferente: não dá para saber se ela gritou ou não. Na dúvida, então, morre só o homem.

    Matar também dava em pena de morte, claro: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu” (Gênesis). Adorar outros deuses também trazia problemas sérios, já que é sinal de desobediência a um mandamento fundamental: “Não terás outros deuses diante de mim”. Moisés chega a mandar matar 3 mil judeus por causa disso.

    Matar o próprio escravo também trazia problemas. “Se alguém ferir seu escravo ou sua escrava com um bastão e morrer sob suas mãos, seja punido severamente, mas se sobreviver um ou dois dias, não seja punido, porque é seu dinheiro” (Êxodo). A pena indicada, nesse caso, é o açoite, com um limite de 40 chibatadas.

    O Levítico também manda matar prostitutas a pedradas, a não ser que a moça de vida fácil seja filha de um sacerdote. Aí a punição é pior: “Com fogo será queimada”. A regra seria fortemente contestada por Jesus, com a famosa frase que salvou Maria Madalena: “Aquele que não tem pecado atire a primeira pedra”. Ainda assim, nem todos os autores do Novo Testamento parecem concordar com a recomendação de Cristo. As cartas de são Paulo, por exemplo, defendem o respeito à lei romana, que autoriza o apedrejamento a prostitutas.

    Como o Antigo Testamento não aceita o aborto, é crime provocá-lo, mesmo que por acidente, mas a pena depende da gravidade da situação. Se dois homens brigarem e, no meio do quebra-pau, ferirem sem querer uma mulher grávida que estava por perto e provocarem a morte do feto, os dois vão pagar uma indenização estabelecida pelo marido – que perdeu um bem precioso, seu herdeiro. Agora, se a mãe ficar gravemente ferida ou morrer, então vale a famosa lei do Talião – “Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe” (Êxodo). Em geral, a pena de morte por apedrejamento não precisava ser julgada pelos sacerdotes. A maioria dos crimes recebia a punição na hora, diante de um grupo de pessoas que presenciaram a cena ou que estavam por perto da cena do crime e foram informadas. Mas também existem regras mais amenas, estas, sim, negociadas dentro dos tribunais e com direito a defesa do acusado. Por exemplo: o Antigo Testamento estabelece que toda mulher menstruada é tão impura que até mesmo os lugares onde ela se senta devem ser evitados. Se um homem encostar na esposa, na mãe ou na irmã nesse período do mês, ele não pode sair de casa por sete dias. E, se fizer isso, pode ter de pagar uma multa.

    Em caso de roubo e furto ou qualquer outro prejuízo ao patrimônio alheio, como matar por acidente o cabrito do vizinho, a pena é o pagamento de 4 vezes o valor do bem que foi levado ou destruído. Se a pessoa que cometeu a infração não tivesse condições de pagar, podia ser vendida como escrava.
    Tudo isso, é claro, são aspectos de uma vida cotidiana que não existe mais. Mas com a mensagem essencial dos textos sagrados é diferente. E essa mensagem pode ser resumida em uma frase, que também ecoa em todas as grandes religiões da Terra: não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem com você. Ou mais ainda, como Jesus diz no Evangelho de Mateus: “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós”. Está aí uma recomendação impossível de refutar. E que geralmente traz ótimos resultados. Em qualquer lugar, em qualquer tempo.

    Link: http://super.abril.com.br/religiao/biblia-como-voce-nunca-leu-690375.shtml

  6. Lentidão das ações de proteção ao consumidor

    Nassif, quem assistiu aqui as denúncias contra a Tlexfree e o tempo que as autoridades demoraram para agir, depois do prejuízo causado, não deve se admirar do que ainda vem acontecendo em inúmeras outras áreas. Então aqui vai mais uma:

    Como já me acostumei a comprar pela Internet de diferentes sites e nunca tive problemas, embarquei numa compra na Dafiti. E infelizmente não busquei na rede informações sobre a mesma. Como a mercadoria não chegava, corri atrás.

    http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/07/1486344-procon-sp-notifica-dafiti-sobre-problemas-de-atendimento.shtml

    http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1062/noticias/bolha-com-br

    https://www.facebook.com/Dafiti

    O site nada informa, óbvio, e as vendas irão continuar. Aonde ir? Como evitar o pagamento- já foi debitado no cartão de crédito. A que instituição recorrer?

    Pensar que terei de recorrer ao judiciário me dá engulhos.

  7. Aplicativo Eleições

    Caro Nassif,

    Bom dia! Que tal vc e a ggn laçarem um aplicativo para smartphone com a temática “eleições”. Teríamos grande prazer em prestigiar uma iniciativa como esta.

    Abs.

  8. Para subsidiar as inconsistências do GGN

     LÍDER DO PT SOBRE AÉCIO: “RECONHECER NÃO BASTA”

    :

     

    Ao 247, deputado federal Vicentinho (PT-SP) comenta a admissão, pelo candidato Aécio Neves (PSDB), de que usou o aeroporto construído em terra de sua família, na cidade de Cláudio (MG); “Eu acho que reconhecer não basta, reconhecer um fato notório que põe em dúvida a postura ética do Aécio não basta”, disse; petista lembra que, por isso, apresentou requerimento para que a Anac investigasse o aeródromo; “Isso (o reconhecimento) não o isenta de culpa de nada”, acrescentou; sobre a influência do caso nas eleições, opinou: “o povo deve avaliar”; em artigo publicado hoje, tucano disse reconhecer “equívoco”

     

    31 DE JULHO DE 2014 ÀS 12:47

     

    Gisele Federicce, 247 – O líder do PT na Câmara, deputado federal Vicentinho (SP), acredita que “reconhecer não basta” no caso do uso, pelo candidato Aécio Neves (PSDB), do aeroporto construído em terra de sua família na cidade mineira de Cláudio. Ontem, pela primeira vez, o senador tucano admitiu ter usado a pista “várias vezes” e reconheceu a possibilidade de um “equívoco” ao não ter se preocupado em examinar em que estágio estava o processo de homologação da obra.

    “Eu acho que reconhecer não basta, reconhecer um fato notório que põe em dúvida a postura ética do Aécio não basta”, afirmou Vicentinho, em entrevista ao 247nesta quinta-feira 31. “Por isso é que eu fiz um requerimento à Anac para que se investigue” o caso, acrescentou o parlamentar, citando, por exemplo, quais aviões e quando foram realizados voos na pista construída no final do mandato de Aécio como governador de Minas.

    “Isso (o reconhecimento) não o isenta de culpa de nada. Como alguém que reconhece que matou uma pessoa, tem que pagar pelo crime”, defendeu ainda o petista. Questionado sobre como o fato poderia respingar na campanha presidencial do tucano, Vicentinho evitou prever consequências negativas. “O povo deve avaliar né. Nossa preocupação não é fazer um jogo político eleitoreiro, mas ir em busca da vitória”, declarou, sobre a presidente Dilma Rousseff.

    Na última segunda-feira 28, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, avaliou o caso como “a ponta do iceberg de Aécio”, o que gerou reação indignada dos tucanos. Sobre a declaração, Vicentinho novamente evitou polêmica: “Eu não sei ainda o que tem pela frente, por isso pedimos para apurar”. De acordo com denúncia publicada pela Folha de S. Paulo há 11 dias, Aécio construiu o aeroporto em uma propriedade que pertenceu ao seu tio avô usando R$ 14 milhões do governo.

     

     

  9. As entrelinhas das guerras por alimentos

     As entrelinhas das guerras por alimentos

    Por Vandana Shiva, no La Jornada.

    Do site “Articulação Nacional de Agroecologia”

    http://www.agroecologia.org.br/index.php/noticias/noticias-para-o-boletim/676-as-entrelinhas-das-guerras-por-alimentos

    A Monsanto e seus amigos na indústria biotecnológica, seus lobistas e seus representantes pagos nos meios de comunicação continuam incentivando o controle monopólico dos alimentos no mundo mediante sua oferta de sementes.

    Esse império é construído sobre argumentos falsos: que a Monsanto é a criadora/inventora da vida, e portanto pode ser a proprietária das sementes através de patentes, e que a vida pode ser produzida com engenharia e máquinas, como um iPhone.

    Pela ecologia e pela nova biologia sabemos que a vida é uma complexidade organizada por si mesma: ela se constrói sozinha, e não é possível manufatura-la. Isso se aplica também à produção de alimentos mediante a nova ciência da agroecologia, a qual nos brinda com um conhecimento científico mais profundo sobre os processos ecológicos a nível do solo, as sementes vivas. As promessas da indústria biotecnológica – maiores rendimentos, redução do uso de agrotóxicos e controle de ervas daninhas e pragas – não se cumpriram. No mês passado, um fundo de investimentos processou a DuPont em um bilhão de dólares por promover cultivos resistentes a herbicidas sabendo que não poderiam controlar as ervas daninhas, que por sua vez contribuíram para o surgimento de “super-ervas-daninhas”.

    Ao criar a propriedade das sementes mediante patentes e direitos de propriedade intelectual, e impô-la ao planeta através da Organização Mundial do Comércio, a indústria biotecnológica estabeleceu um império monopólico sobre as sementes e os alimentos. Além de reclamar a propriedade das sementes que vende e cobrar royalities, em matérias de controles e equilíbrios sobre a segurança a indústria biotecnológica destrói sistematicamente leis nacionais e internacionais relativas à biosegurança, afirmando que “seus produtos são como a natureza os criou”. É esquizofrenia ontológica!

    A biosegurança é a avaliação multidisciplinar do impacto da engenharia genética sobre o ambiente, a saúde pública e as condições sócioeconômicas. No âmbito internacional, a biosegurança é direito internacional consagrado pelo Protocolo de Cartagena sobre Biosegurança. Eu fui designada por um grupo de especialistas para elaborar a base do programa ambiental das Nações Unidas, com a finalidade de por em vigor o artigo 19.3 da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB).

    A Monsanto e seus amigos têm tentado negar aos cidadãos o direito à alimentação saudável opondo-se ao artigo 19.3 desde a Cume da Terra no Riod e Janeiro, em 1992. Nestes dias, eles tentam desmantelar as leis nacionais sobre biosegurança na Índia, Paquistão, União Européia e em toda a África e América Latina. Nos Estados Unidos, distorcem a Constituição ao entrar com demandas contra governos estaduais que tem promulgado leis para etiquetar os alimentos geneticamente modificados, alegando que o direito dos cidadãos de saber o que consomem está abaixo do direito da indústria biotecnológica de impor alimentos perigosos para os consumidores desinformados, o que manejam como liberdade de expressão da empresa, como se esta fosse pessoa física. Deslocam sua maquinaria de propaganda para atacar com argumentos não científicos os pesquisadores que trabalham com biosegurança, como Árpad Pusztai, Ignácio Chapela, Irina Ermakova, Eric Séralini e eu.

    Muitos jornalistas sem conhecimentos científicos se alinharam como soldados nesse assalto propagandístico. Homens brancos privilegiados, como Mark Lynas, Jon Entine e Michael Specter, sem experiência prática em agricultura, munidos somente com graus de bacharelado e vinculados a meios controlados pelos consórcios são usados para solapar as verdadeiras descobertas científicas sobre os impactos dos OGM em nossa saúde e ecossistemas.

    A indústria biotecnológica usa seus títeres propagandistas para sustentar a falácia de que os OGM são a solução para a fome no mundo. Essa negativa a um autêntico debate científico sobre como os sistemas vivos evoluem é respaldada por um assalto intensivo e maciço de propaganda, que incluem a utilização de agências de inteligência como a Blackwater.

    Em 2010, a Forbes citou-me como uma das sete mulheres mais poderosas do planeta, “por colocar as mulheres à frente e no centro da solução do assunto da segurança alimentar no mundo em desenvolvimento”. Em 2014, o jornalista Jon Entine escreveu um artigo de opinião, no qual sustentava que eu não tinha estudado física. Além de ter feito um pós-graduação em física e realizado meu doutorado sobre os fundamentos da teoria quântica, passei 40 anos estudando ecologia em granjas e florestas da Índia, onde a natureza e os sábios camponeses foram meus mestres. Essa é a base da minha experiência e agroecologia e segurança alimentar.

    A boa ciência e as tecnologias aprovadas não necessitam propaganda, agências de inteligência e governos corruptos para demonstrar fatos. Se os ataques infundados de um não cientista a uma cientista de um país em desenvolvimento são um de seus instrumentos de dar forma ao futuro, erraram completamente. Eles não se dão conta da crescente indignação cidadã contra o monopólio da Monsanto.

    Em nações soberanas, onde o poder da Monsanto e de seus amigos é limitado, o povo e os governos rechaçam seu monopólio e sua tecnologia fracassada, mas a máquina de propaganda suprime essa notícia.

    A Rússia proibiu completamente os OGM; o primeiro ministro Dmitry Medvedev advertiu: “se os norte-americanos gostam dos produtos OGM, que os comam. Nós não precisamos deles; temos espaço e oportunidades suficientes para produzir comida orgânica”. A China proibiu os OGM em produtos alimentícios militares. A Itália acaba de promulgar uma lei, a Campo Livre, que castiga com prisão de um a três anos e multa de 10 mil a 30 mil euros a semeadura de cultivos OGM. A ministra italiana da Agricultura, Nunzia de Girolamo, assinalou em um comunicado: “Nossa agricultura se baseia na biodiversidade e na qualidade, e devemos continuar a elas sem aventuras que, sob o ponto de vista econômico, não nos tornariam mais competitivos”.

    As peças de propaganda na Forbes e no New Yorker não podem deter o despertar de milhões de agricultores e consumidores sobre os verdadeiros perigos dos organismos geneticamente modificados em nossa comida, e as desvantagens e defeitos do sistema de alimentos industriais que destrói o planeta e nossa saúde.

    (*) Vandana Shiva é diretora executiva do Fundo Navdanya

  10. Em Transição 2.0

    Em Transição 2.0

    Do blog “Sustentabilidade é Ação”

    http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com.br/2014/07/em-transicao-20.html

    “A Transição é uma experiência social em grande escala. Não sabemos se resultará. Mas estamos convencidos de que, se esperarmos pelos nossos governantes, virá pouca coisa e… demasiado tarde. Se agirmos como indivíduos, será muito pouco. Mas se agirmos em comunidades, poderá muito bem ser suficiente, e mesmo a tempo.” (do filme)

    «In Transition 2.0” é o novo filme da Rede de Transição, que reúne histórias inspiradoras de Iniciativas de Transição em todo o mundo. Histórias que respondem a tempos incertos com criatividade. Comunidades que imprimem seu próprio dinheiro, que cultivam os seus alimentos, localizando as suas economias e criando centrais de energia comunitárias. É uma ideia que se tornou viral, uma experiência social que trata de responder a tempos incertos com soluções e otimismo.» (adaptado daqui)
    De 2012, três anos depois de “In Transition 1.0” (2009). Veja, inspire-se, e seja positivo!

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=FFQFBmq7X84%5D

  11. “Atiram sobre nossas cabeças.

    “Atiram sobre nossas cabeças. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz Kaiowá em área retomada

    http://www.brasildefato.com.br/node/29386

    Reprodução/Cimi

    Com a retomada, os Kaiowá inserem mais um episódio na história de uma luta emblemática pela terra Guarani travada numa das regiões mais violentas do estado

    31/07/2014

    Por Renato Santana,

    Do Cimi

    Tão logo retomaram mais um naco de terra tradicional do tekoha – lugar onde se é –  Passo Piraju, nesta última segunda-feira, 28, o acampamento de oito famílias Kaiowá erguido no local passou a ser atacado por homens armados. “Atiram sobre nossas cabeças. Pá, pá, pá, pá. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz um dos indígenas presentes na área reocupada. No Mato Grosso do Sul, este é o “olá!” de fazendeiros antes do início de qualquer mesa de diálogo. 

    Lideranças indígenas da Aty Guasu, a grande assembleia Guarani Kaiowá, pedem proteção aos Kaiowá de Passo Piraju. Com a retomada desta segunda, os Kaiowá ganham um pouco mais de espaço – não sabem ao certo o tamanho da terra recuperada – e inserem mais um episódio na história de uma luta emblemática pela terra Guarani Kaiowá travada numa das regiões mais violentas do estado.

    Passo Piraju fica às margens do rio Dourados, entre os municípios de Dourados e Laguna Carapã, região de Porto Kambira. Os Kaiowá ocupavam cerca de 20 hectares, retomados a partir de 2004, e mantidos com a típica resiliência do povo entre fazendas de soja e cana, tiros de pistoleiros, criminalização de lideranças, além de sucessivas tentativas de reintegração de posse – a última teve um desfecho positivo aos Kaiowá no ano passado.   

    A retomada é apenas mais um importante passo entre tantos que precisam ser dados para que os Kaiowá voltem a viver no território de onde foram expulsos na primeira metade do século 20. Fazendeiros incentivados pelo governo federal e apoiados pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) chegaram em Passo Piraju, conforme o relato dos mais velhos, e disseram para os Kaiowá irem embora da fazenda. O tempo passou e a reparação do erro cometido pelo Estado está longe de se efetivar pelo cumprimento dos termos da Constituição de 1988. 

    Se por um lado o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo determinou a paralisação das demarcações de terras indígenas, por outro também não cumpre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado junto ao Ministério Público Federal (MPF) em 2007, para que fossem constituídos grupos técnicos com foco na identificação e delimitação das terras indígenas Guarani e Kaiowá no cone sul. 

    O Relatório Circunstanciado de Identificação do tekoha Passo Piraju foi entregue pelo antropólogo responsável à Funai em outubro de 2011. O estudo estava no escopo das ações do Grupo de Trabalho (GT) Dourados-Amambaipeguá, um dos seis GT`s criado pelo órgão indigenista do Estado em 2008 por força do TAC. Porém, nenhum foi capaz de concluir os procedimentos apesar das inúmeras promessas feitas aos indígenas. 

    “Plantem meus ossos aqui”  

    Passo Piraju possui posto de saúde, escola, poço artesiano, roças e criação de animais. Em diversidade, os kaiowá produzem mais culturas do que os monocultivos de cana e soja do entorno. Se para o governo federal e agronegócio, para a Bolsa de Chicago ou para a China uma terra indígena é a representação do atraso econômico, aos Kaiowá é a certeza de não voltar para a situação de dez anos atrás quando viviam sem ter o que comer às margens da rodovia. Assim ainda vivem milhares de Guarani e Kaiowá pelo Mato Grosso do Sul afora: cercados por bilhões de dólares em soja, cana e gado sugados da terra ancestral, mas sem as famílias terem o que comer ou um pedaço de terra para plantar.

    Durante ameaça de reintegração de posse em outubro de 2012, Carlito Kaiowá (na foto ao lado), liderança de Passo Piraju, declarou: “Se a lei vai ter o poder de tirar de nós o Passo Piraju, eu quero que a lei retire só as minhas crianças. Eu quero deixar a minha carne, o meu osso em cima dessa terra aqui. Eu vou deixar. Podem vir fazer o despejo. Só que daqui eu não saio. Eu quero que a minha morte, que minha catacumba seja no rio. Quero que minhas crianças, quando elas voltarem de novo, que elas cacem o meu osso para plantar de novo na aldeia. Eu quero que me plante na aldeia Passo Piraju, porque aqui eu nasci, daqui eu fui expulso, aqui que eu vou poiá minha catacumba”.

     

  12. Padilha deve ir para o 2²

    Padilha deve ir para o 2² turno segundo os votos do PT em SP em 2010

     

    Alguns números  e análise animadora  que recebi de um  amigo Atento:

    Considerando-se  a votação no Estado de SP em 2010 – no primeiro turno- para
    presidente, tem-se o seguinte:
    Serra = 40% dos votos
    Dilma= 37%
    Marina= 20%

    Para governador,  em 2010,  só havia  dois candidatos fortes: o Alckmiin que ficou
    com 50,6 dos votos e foi eleito e o Mercadante que ficou com 35,23. O
    celso Russomano fez miseros 5,42%

    Disto se deduz :
    1-que o PT vai fazer uma votação parecida, chegando em torno de 37 a
     40 %  e com a entrada do Skaf na disputa, que deve fazer entre
     25 e 35%. Por causa disto, o Alckimin deve estar suando frio!
    Com certeza vai dar 2º turno.

    2- Por esses números acima,  tem-se  nítido, que essas pesquisas
    –Datafolha, Ibope e Sensus  e que são replicadas no Jornal Nacional, Tvs
    e radios, colocando o Padilha com 4%–, manipulam e mentem descaradamente
    para tentar realizar o “efeito manada” pra cima dos eleitores, antes do
    horario eleitoral!!

    3- E  mais, o PSDB contaminou o buscador Google com postagens, dando 50,3
    a 54% para Alckimin. Não foi fácil achar esse mapa de votação pra
    verificar!

    O mapa de votação no 1º turno em 2010 por estado é este aqui ó feito
    pelo próprio uol com base nos numeros do TSE:

    http://placar.eleicoes.uol.com.br/2010/1turno/

    Obs: é só clicar no mapa no estado e ver a votação feita

  13.  
    Morreu Harun Farocki, o

     

    Morreu Harun Farocki, o cineasta que escrevia diante das imagens

    José Marmeleira

     

     

    31/07/2014 – 15:40 (actualizado às 19:41)

     

     

         

    O realizador alemão faleceu com 70 anos, mas o seu cinema nunca foi tão urgente, tão necessário. Vê-lo hoje é rejeitar as imagens que fazem a guerra, sem abdicar de pensar sobre o mundo que elas constroem.

     

    Harun Farocki fotografado no Museu Ludwig em Colónia, em 2009. Markus J. Feger

     

    “Desapareceu” Harun Farocki (1944-2014), um dos autores mais interventivos e interpelantes da história do cinema. Não é uma frase gratuita. Foi Farocki, antigo estudante da Academia Alemã de Filme e Televisão de Berlim (entre 1966 e 1968), que nos deixou esta ideia: diante das imagens da guerra, o espectador transforma-se num “técnico da guerra”. É verdade que o contexto era o da primeira Guerra do Golfo, mas também era já o da influência do digital, pelo que a morte do cineasta, com 70 anos, exprime uma ironia violenta e amarga.

    Próximo, em termos geracionais, de Werner Herzog, Wim Wenders e Rainer Werner Fassbinder, Farocki tinha motivações que o distanciavam dos dos seus pares. “Ele desejava sobretudo interrogar as imagens, até ao máximo”, diz Jürgen Bock, director da Escola Maumaus e da Galeria Lumiar Cité. “Mas criando sempre as circunstâncias para o espectador pensar, para tirar as suas próprias conclusões. Nunca insistiu numa verdade, nem na verdade do documentário que, para ele, era também uma manipulação, uma construção”. 

    As convulsões sociais e políticas dos finais da década de 1960 marcariam para sempre o entendimento do cinema por Harun Farocki. Testemunha das revoltas estudantis e do espectáculo da guerra do Vietname na televisão, o cineasta assumiu uma posição militante, criticando a fábrica de Hollywood e a indústria cultural (a tal posição não foram alheias leituras profundas de obras da teoria crítica alemã ou de Hannah Arendt).

    “Defendia que narcotizavam as pessoas, com a velocidade, com a identificação com as personagens, fazendo com que o espectador se esquecesse de si próprio”, acrescenta Bock. As afinidades revelar-se-iam com Alexander Kluge, Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (com quem viria a colaborar em 1983), ou Andrei Ujica (com quem viria a realizar, em 1992, Videograms of a Revolution).

    “Ele era um grande conhecedor de cinema”, sublinha o (também) curador. “Foi editor da Filmcritik, uma importante revista de cinema, que distribuiu nos bares de Berlim. Posicionou-se sempre diante das imagens para as questionar, mas não é justo dizer que não amava o cinema. Leia-se a conversa que ele tem com a [ensaísta americana] Kaja Silverman sobre o cinema do Godard [no livro Speaking about Godard, de 1999]. Há uma análise crítica, fria, mas também uma parte emocional, poética. Ele conciliava as duas, devolvendo ao espectador uma autonomia diante das imagens”.

     

    Preocupação com o mundo e com as pessoas

    Da filmografia de Farocki, Jürgen Bock destaca a obra Interface (1995). “É um filme sobre a sua maneira de trabalhar, examinando imagens preexistentes, com aspectos muito poéticos e conduzido por associações. Ele não conseguia escrever sem ter as imagens à sua frente, percebia muito bem o conceito de ideia de montagem. Era, por isso, muito crítico dos documentários televisivos. Dizia que ficavam à superfície das imagens. Não era isso o que [Farocki] procurava. Ele queria vê-las por dentro, o que elas escondiam, o que estava por detrás. A imagem não era, para ele, uma coisa dada”.

    Between Two Wars (1978) é outro filme que o curador realça. “É um filme lento, muito bonito, onde se percebe a influência de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet. E que hoje é muito actual, pois o pano de fundo das conversas entre as personagens é a convergência das grandes empresas alemãs durante os anos 20 e a autofagia do capitalismo. Há um lado militante e um olhar sensível, atento, que não nos diz como devemos pensar. Ele preocupava-se, de facto, com o mundo e com as pessoas”.

    Em Portugal, Harun Farocki foi, desde 2000, um cúmplice e um companheiro de Jürgen Bock. Participou no ciclo Project Room, concebido nesse ano pelo curador para o Centro Cultural de Belém. Três anos depois, a sua obra foi objecto de uma retrospectiva no Festival Vídeo Lisboa, comissariada por Bock, e nos seguintes voltariam a colaborar em exposições e seminários no âmbito da actividade da Escola Maumaus, das programações da Lumiar Cité (2011 e 2013) e do DocLisboa (2011).

    Adivinham-se as razões da presença regular do cineasta em museus e centros de arte: o confronto inevitável do white cube com as imagens em movimento, ou a revelação de universos comuns que aproximam autores. Mas o director da Maumaus tem outra explicação. “Muitos dos primeiros filmes do Harun Farocki foram apoiados pela televisão pública alemã. Ora, com a liberalização do espaço televisivo e a preocupação com audiências e receitas, esses apoios desapareceram. E, de alguma forma, os museus vieram ocupar esse vazio, apoiando os projectos que as televisões passaram a ignorar”, nota Bock.

     

    http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/cineasta-alemao-harun-farouk-morre-aos-70-anos-1664975

  14. ”Não conseguirão destruir o

    ”Não conseguirão destruir o movimento”, diz Sininho, que se diz ”libertária”

    http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2014/07/28/nao-conseguirao-destruir-o-movimento-diz-sininho.htm

    Estadão Conteúdo No Rio

    28/07/201419p0 

    Severino Silva/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

    Sininho se classifica como ''libertária''

    Sininho se classifica como ”libertária”

    Acusada de liderar uma “quadrilha armada para a prática de atos violentos em protestos” no inquérito policial que fundamentou a denúncia do Ministério Público contra 23 militantes no Rio, a produtora cultural Elisa Quadros Sanzi, a Sininho, 28, afirma: “Por mais que mirem em mim, estão destruindo uma pessoa, mas não vão destruir o movimento”.

    Elisa foi presa na véspera da final da Copa do Mundo e ficou 13 dias em uma cela da penitenciária de Bangu, na zona oeste carioca, até ser beneficiada por habeas-corpus, na quinta-feira (24).

    Perguntada pelo Estado sobre a acusação de ser uma das lideranças da Frente Independente Popular (FIP), ela afirma: “Historicamente, o Estado, o poder, precisa criar um líder para matar e criminalizar o movimento. É isso o que estão fazendo. E vão fazer com todos. Vão destruir as identidades através da mídia, para depois justificar prisão, tortura e assassinato. Eles precisam disso. Mas o movimento é espontâneo, não aceita esse tipo de coisa. Não adianta tentar criar o que não existe.”

    Elisa classificou de “abobrinha e história surrealista” o conteúdo do processo de 15 volumes contra os 23 acusados. “Somos perseguidos políticos”, diz ela, que usa como perfil no Facebook uma foto de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dora, presa, torturada e banida para o Chile durante a ditadura, que suicidou-se em 1976, em Berlim, no exílio.

    “Vão fazer 5.000, 20 mil páginas de abobrinhas, de história surrealista. Porque não existe, são 23 pessoas que mal se conhecem. Nunca falei com a maioria dessas pessoas. Que líder é esse que não fala com os seus? Não existe liderança.”

    Orientada pelo advogado Marino D’Icarahy, Elisa não comentou trechos do inquérito policial, como o depoimento de uma testemunha que a acusa de ter incitado manifestantes a incendiar o prédio da Câmara de Vereadores do Rio –o suposto plano teria sido abortado por outros militantes.

    Ela não se diz anarquista, mas “libertária”. “A polícia não sabe o que é anarquismo. Dentro de um movimento espontâneo, de massa, que a gente está vivendo no Brasil, existem várias linhas de pensamento político diferentes, e cada um atua da forma que acredita. É isso o que faz (o movimento) ser horizontal. Tem anarquista, tem comunista, tem socialista e tem até capitalista no meio desse povo querendo destruir o sistema, como eu não sei. Eu sou uma libertária.”

    Elisa afirmou ter presenciado “torturas psicológicas” e ter sido impedida por agentes penitenciárias de cantar palavras de ordem e músicas de Chico Buarque e Geraldo Vandré, entre outras, no período em que ficou presa em Bangu. “Elas falavam: canta hino de louvor ou pagode. Você ali é refém, aí não canta.”

  15. Um novo banco para um velho

    Um novo banco para um velho desenvolvimento?

    Movimentos sociais reuniram-se em evento paralelo à VI Cúpula dos BRICs em Fortaleza. Assista ao vídeo com representantes dos cinco países falando sobre riscos e oportunidades trazidos pelo novo banco

    Desde o dia 15 de julho existe um novo banco na praça do sistema financeiro internacional.

    O Novo Banco de Desenvolvimento, como batizado, foi criado na VI Cúpula dos BRICS, realizada em Fortaleza, no Ceará, com a presença dos presidentes dos cinco países integrantes do bloco. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (que formam o acrônimo da sigla) oficializaram assim a até agora maior ação da coalização – que desde 2009 se articula com o objetivo de intervir no cenário político e econômico internacional.

    Lançado como uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, o Novo Banco de Desenvolvimento deverá, a partir de 2015, financiar projetos de infraestrutura nos países dos BRICS e em outras nações emergentes parceiras, diminuindo assim a dependência destes às outras duas instituições financeiras, ambas criadas no pós-guerra e desde então dominadas por Europa e Estados Unidos. Atualmente os BRICS já somam 20% do PIB global.

    A criação do novo banco foi saudada pelos setores econômicos dos cinco países. As organizações das sociedades civis dos BRICS, que representam 40% da população mundial, no entanto, não foram ouvidas. Durante evento paralelo à cúpula oficial, realizada em Fortaleza, ativistas, integrantes de organizações não governamentais e de comunidades afetadas por atividades econômicas como a mineração debateram os riscos e oportunidades trazidos pelo novo banco.

    Nos depoimentos e avaliações de integrantes do evento paralelo, também realizado em Fortaleza, a participação social é vista como crucial para aprofundar o intercâmbio entre as sociedades e evitar que o bloco sirva apenas aos interesses econômicos, acirrando ainda mais os impactos sociais e ambientais do atual modelo de desenvolvimento econômico.

    Veja o vídeo com entrevistas de representantes dos cinco países integrantes da coalização.

    https://www.youtube.com/watch?v=HlR93pXC68E&list=UURVbqma6TaIHp9E151nC8sA

  16. BELO EXEMPLO

    Operadora terá que indenizar em R$ 50 mil funcionária que se recusava a mentir para clientes

    Funcionária da Vivo se recusou a mentir para cliente que queria celular pré-pagoFuncionária da Vivo se recusou a mentir para cliente que queria celular pré-pago Foto: Guilherme Pinto / Agência O GloboExtraTamanho do texto A A A

    A operadora Vivo terá que pagar uma indenização por danos morais de R$ 50 mil a uma funcionária que era alvo de chacota e xingamentos dos colegas de trabalho por se recusar a mentir para clientes afirmando que o sistema estava fora do ar para venda de planos pré-pagos. A prática da empresa buscava privilegiar a comercialização de pacotes pós-pagos. A decisão foi tomada pela 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS).

    A funcionária adquiriu transtornos psíquicos devido ao assédio moral que sofria no trabalho. Além da indenização de R$ 50 mil, ela receberá salários correspondentes aos 12 meses de garantia de emprego a que teria direito em virtude de doença ocupacional. Ela foi despedida um dia depois de voltar de uma licença médica.

    O depoimento de um cliente relatando o que aconteceu na loja da Vivo em um shopping de Porto Alegre ajudou a funcionária. Ele contou que, por dois dias seguidos, tentou comprar um celular e, quando manifestava o desejo de habilitar um plano pré-pago, o atendente dizia que o sistema estava fora do ar. Ao presenciar a negativa dos colegas, a funcionária resolveu atendê-lo e realizou a venda normalmente. Depois dessa situação, os colegas e o próprio supervisor da loja passaram a hostilizar a trabalhadora, ainda na presença do cliente.

    Um colega de trabalho confirmou os fatos e lembrou que a empregada precisou sair mais cedo por ter se sentido mal com a situação. Ele também confirmou a prática de dar menos atenção a clientes que queiram habilitar planos pré-pagos, porque a venda desse tipo de serviço não aumenta a remuneração dos vendedores e não seria estimulada pela operadora.

    A empresa divulgou a seguinte nota sobre o assunto:

    “A Telefônica Vivo informa que cumpre a legislação em vigor e que irá interpor Recurso de Revista ao Tribunal Superior do Trabalho visando a modificação de tal decisão”.

    Acompanhe o noticiário de Economia pelo Twitter @AnoteePoupe.

     

    Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/economia/operadora-tera-que-indenizar-em-50-mil-funcionaria-que-se-recusava-mentir-para-clientes-13441839.html#ixzz395oqOpw1

  17. LEITURAS DO ‘GLOBO’ O editorial e a luta de classes

    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed809_o_editorial_e_a_luta_de_classes

    Quinta-feira, 31 de Julho de 2014   |   ISSN 1519-7670 – Ano 18 – nº 809

     Imprensa em Questão

    LEITURAS DO ‘GLOBO’

    O editorial e a luta de classes

    Por Cátia Guimarães em 29/07/2014 na edição 809

    A maior afronta ao Estado de direito no Brasil não são os black blocs, como defendem os pacifistas, e nem mesmo os miseráveis embrutecidos da Polícia Militar, como costumam apontar os radicais. A instituição que mais corrói até os limitados caminhos de liberdade que a democracia capitalista pode oferecer não precisa usar máscaras nem se expor ao descontentamento das ruas. Organizações Globo: esse é o aparelho privado de hegemonia que assumiu, sem medos, o papel de recolocar o barco na direção que ele seguia antes dos abalos de junho. Mas quem leu Gramsci sabe que hegemonia é mais do que um disciplinamento artificial, que o bom resultado desse processo, para a classe que quer se manter dirigente, requer que a relação entre consenso e coerção, força e convencimento, seja razoavelmente equilibrada. Quando abusa da força – ainda que só ideologicamente –, atacando violentamente todos os indivíduos, grupos e instituições que acompanham os movimentos das ruas, o/a Globo está pondo em risco a dimensão do consenso estável.

    Toda a cobertura das prisões políticas ocorridas no Rio de janeiro, mas também em São Paulo, traz evidências disso. Na edição de quarta-feira (23/7) do Jornal Nacional, William Bonner não conseguiu disfarçar a cara de derrota e desaprovação quando deu a notícia de que o desembargador Siro Darlan havia concedido habeas corpus para 23 presos políticos. Informação e cara feia, nem um detalhe a mais. Mas o último golpe de verdade, pelo menos enquanto escrevo, foi um editorial publicado no dia anterior (22/7), intitulado “Entre a liberdade de manifestação e a criminalidade”, em que o jornal O Globo diz, no espaço de opinião, tudo aquilo que ele tentou travestir de informação nas matérias que fingiu que eram jornalísticas.

    Mentiras e meias verdades

    O texto dá destaque ao fato de “repórteres da imprensa profissional” terem se “transformado em alvo” dos vândalos (ilustrados pelos black blocs, mas não só), lembrando, como sempre, da morte do cinegrafista Santiago Andrade. Com isso, ignora no editorial, como sempre ignorou nas reportagens, a informação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo que mostra que 70% dos casos de agressão contra profissionais da imprensa em manifestações partiu da Polícia Militar, e não de ativistas.

    O editorial informa que, “liberada parte do material colhido pela polícia nas investigações, ficou-se sabendo que poderia ter havido uma carnificina nas manifestações que programaram para o dia seguinte, o da final, na Tijuca”. Em primeiro lugar, é bom esclarecer que o material não foi “liberado”, mas traficado por autoridades do Estado brasileiro diretamente para as Organizações Globo, que tiveram acesso ao inquérito antes do desembargador envolvido no caso e antes mesmo dos advogados de defesa. Portanto, “ficou-se sabendo” pelo/a Globo algo que não podia ser contestado no detalhe simplesmente porque o sujeito oculto do/da Globo não funcionou para o direito de defesa que a democracia garante.

    Até que o julgamento termine – na verdade, ele primeiro precisa começar, porque até agora só houve condenação pública – e a polícia (e o/a Globo, claro) prove que drink significa coquetel molotov, líquido significa gasolina e livro significa bomba, a “carnificina” poderia ser considerada, no máximo, uma bebedeira intelectual. Se quisesse ser sensacionalista e irresponsável como o editorial do Globo, eu diria que aconteceu, de fato, uma carnificina na Tijuca, no dia da final da Copa, só que feita pela polícia. Não foi uma carnificina, não houve “matança” ou “extermínio”, que é o que essa palavra significa, mas houve gente presa por horas numa praça pública e pessoas feridas impedidas de voltar para casa ou de seguir para um hospital. E quem fez isso foram vândalos armados e fardados, organizados numa quadrilha oficial.

    O editorial afirma a adesão acrítica e unilateral às informações incompletas da polícia, que as matérias publicadas pelo jornal já tinham deixado claro. Informa que as ligações telefônicas grampeadas pela polícia e “vazadas” pelo Globo apontam conversas sobre compra de fogos de artifício e confecção de bombas. Isso é mentira. Como não temos acesso a todo material do processo, não se sabe se essas conversas existem, mas o que foi disponibilizado pelo/a Globo não contém esse conteúdo.

    Em nenhuma gravação apresentada pelo “furo de reportagem” desse grupo empresarial travestido de jornalístico fala-se em nada do que o editorial cita. A única referência próxima aparece quando um dos meninos investigados comenta, com sua interlocutora, sobre o coquetel molotov que ele viu cair sobre um policial. Ele ri e comemora, é verdade. O Globo só esquece de dizer que isso (o riso e a felicidade íntima com o fato) não é crime. Logo depois das primeiras manifestações de junho, ouvi uma liderança de favela contar que a maior felicidade para os moradores de comunidade que estavam na passeata foi ver os black blocs colocarem o “caveirão” para correr. Para pessoas que vivem oprimidas por uma polícia que humilha, bate e mata diariamente, principalmente nos bolsões de pobreza desse estado, não se pode pedir sentimento cristão. Não comemorei nenhuma violência pessoal sofrida por qualquer pessoa em qualquer manifestação, mas não vou fazer julgamento moral de quem sofre a dor que eu não sofro e muito menos transformar isso em crime. Lamento pelas almas sensíveis, mas a fila da nossa sensibilidade está grande, com Amarildos, Cláudias e muitas crianças palestinas para serem choradas na frente.

    Do editorial para as ruas

    Por fim, o editorial volta a atacar partidos políticos e sindicatos – estes referidos como “máquinas sindicais” – citando, nominalmente, o PSOL, o Sindspetro, Sindsprev e Sepe. Acusa-os de cometerem “ilegalidade”, sendo “cúmplices de atentados” e de apoiarem “organizações antidemocráticas, contrárias à Constituição”. Critica diretamente os parlamentares do PSOL que formalizaram uma queixa contra o juiz que decretou as prisões políticas junto ao Conselho Nacional de Justiça e, numa insinuação leviana, quase lamenta que o PSOL “continue a negar” seu envolvimento, não se sabe bem com o quê.

    Para qualquer leitor minimamente informado e bem intencionado, não é preciso apontar o mundo de discordâncias e turbulências entre partidos políticos e movimentos sociais combativos à participação eleitoral que o editorial do Globo oportunamente ignora. O esforço é de matar todos os coelhos com uma cajadada só mas, para nos mantermos entre os ditos populares, o tiro pode sair pela culatra.

    Que os anjos digam amém e a união que o Globo promoveu transborde das páginas do jornal e se transforme em ação efetiva. Que a solidariedade em função dos presos políticos, que articulou frações muito diversas de indignados com a violência e a arbitrariedade a que chegamos, sobreviva às diferenças. Que os partidos políticos “mais à esquerda” e sindicatos não recuem, e não aceitem se defender daquilo que é – ou deveria ser – a sua própria razão de existência: a relação orgânica com os movimentos sociais organizados, com as lutas populares e com a democracia direta. Transformar em acusação a solidariedade de classe, materializada no apoio financeiro e logístico a manifestações, e o exercício efetivo da representação popular que justifica um mandato eleitoral é parte da estratégia de trazer as forças sociais para o campo de quem se coloca contra elas, sob a falsa máscara do terreno neutro da democracia, que só é convocada nessa hora para mostrar os seus limites.

    O momento atual no Brasil é pedagógico em ensinar que não se pode cair na armadilha de submeter inteiramente a luta concreta à institucionalidade porque, sozinha, a institucionalidade é o terreno do outro. Não há, portanto, direito de resposta que dê conta da concretude que o editorial do Globo e todo esse ataque aos princípios mínimos da democracia representam. A resposta está nas ruas, antes, durante e depois das eleições, no Executivo, no Legislativo e, principalmente, na organização de base. O importante é saber que, em todos esses espaços, existem eles e existimos nós. O nome disso é luta de classes.

    ***

    Globo inventa novo modelo de jornalismo investigativo

    No tempo em que a democracia se disfarçava de bem comum, a imprensa se disfarçava de instrumento da democracia. Como tratou-se, desde sempre, da democracia burguesa, o fato de essa imprensa ter se tornado grande empresa capitalista não era um inconveniente porque o seu grande trunfo era a independência em relação ao Estado. O argumento era que a “livre concorrência” no mercado e a liberdade de “escolha individual” – o tal poder do controle remoto – seriam suficientes para impedir que interesses particulares se sobrepusessem aos interesses da sociedade. Claro que isso nunca foi verdade, até porque, no frigir dos ovos, apesar de todas as disputas internas, o Estado é instrumento de classe e, não por acaso, da mesma classe que a grande imprensa representa. Mas essa imagem fazia parte do jogo. E uma das ferramentas mais importantes desse papel que a imprensa dizia desempenhar na democracia que se dizia ter é o jornalismo investigativo, que andava mal das pernas, mas acaba de ser ressuscitado numa versão adaptada.

    Depois de uma primeira cobertura abstrata, em que sobravam adjetivos e faltavam dados sobre as prisões de manifestantes ocorridas no Rio de Janeiro no dia 12/7, o/a Globo saiu a campo, correu contra o tempo e nos brindou com uma enxurrada de informações em primeira mão, verdadeiros furos de reportagem. Não é jornalismo investigativo e sim um jornalismo que reproduz a investigação dos outros – nesse caso, a polícia. Mas como também não é democracia, quem vai notar a diferença?

    No lugar daquela imagem romântica do jornalista que segue pistas, convence fontes e apura as inconsistências e os não-ditos, principalmente das ações relacionadas ao Estado, temos altos executivos que, provavelmente com um simples telefonema a um dos seus, conseguem acesso a um inquérito que nem o desembargador envolvido no caso nem os advogados dos acusados tinham lido. A isso se chama furo de reportagem e ainda se diz que faz bem à tal da democracia. No lugar das emocionantes descobertas e desmentidos públicos, temos a reprodução, sem dúvidas nem questionamentos, do que a polícia diz que viu, ouviu e encontrou e tudo apresentado de forma mais concisa, definitiva e dinâmica do que no relatório da investigação. Durma-se com um barulho desses: os grandes jornalistas do/da Globo viraram copidesques da polícia.

    Manipulação explícita

    Foi assim que o Globo e o Jornal Nacional nos explicaram, didaticamente, que quando um manifestante fala “líquido” ou “drink”, ele quer dizer “gasolina” ou “coquetel molotov”. Entenderam? Nem eu. Não tenho ideia do que essas pessoas conversavam entre si, mas a tal grande imprensa que se diz independente deveria estar apurando junto à polícia explicações sobre como se chegou a essa conclusão. A polícia – que compõe o Estado – investiga o cidadão e a imprensa – que na farsa que se manteve até pouco tempo, fingia vigiar o Estado em defesa do cidadão – reproduz a investigação da polícia. Simples assim.

    Atos que teriam sido descritos por testemunhas – que não são identificadas nas matérias e não se sabe se o são no inquérito –, ouvidas pela mesma polícia que acusa, nas páginas dos jornais viram afirmações de atos e vontades dos manifestantes presos. E tudo isso caprichado nas tintas, lançando-se mão de recursos escusos para promover uma manipulação muito explícita, própria de um período em que os grupos garantidores dos seus interesses de classe partem para o tudo ou nada.

    Num momento tenso e decisivo para o desenvolvimento do caso, exatamente enquanto uma das ativistas que está com a prisão decretada pedia asilo no consulado do Uruguai, o Globo online publicou aquela que deve ter sido a chamada mais corajosamente desonesta da história desse grupo empresarial no pós-ditadura empresarial-militar: “Eloísa Samy ordenava atos violentos e fazia reuniões em casa”. Subchamada: “Advogada pede asilo político ao consulado do Uruguai no Rio”. Assim mesmo, sem “segundo fulano”, “de acordo com beltrano”. O jornal repete, em nome próprio, assumindo para si, a acusação de alguém que nem foi julgado.

    Pouco tempo depois, o texto mudou – “Eloísa Samy é acusada de organizar atos violentos entre ativistas” –, mas, para não deixar dúvidas sobre a certeza que o jornal queria provocar, acrescentou-se um link em que se lia: “Escuta revela que Samy avisou manifestantes sobre busca e apreensão”. São chamadas que não correspondem aos títulos, que não correspondem ao conteúdo da matéria e, portanto, não informam coisa alguma. Desafio alguém que, influenciado por essa campanha vergonhosa, esteja apoiando a prisão dessas pessoas, a me explicar, a partir das informações dos jornais, qual foi o crime que essa moça cometeu. Talvez no inquérito as coisas estejam mais organizadas e façam algum sentido, mas o fato é que, na imprensa, há um claro e intencional esforço de desorganização e fragmentação das informações que, não compreendidas, só reforçam o senso comum conservador que, de modo geral, prefere a concretude da repressão, mesmo que injustificada, à abstração da garantia de liberdades e direitos.

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    Problemas e limites

    Não foi um caso isolado: “Sininho admite que há provas para ser indiciada em MG”, dizia outra chamada amplamente repetida no Globo online, com variações na versão impressa e nos outros veículos desse grupo empresarial. Em primeiro lugar, vale perceber que essa fórmula sugere ao leitor menos atento que houve um fato novo – algo como uma confissão da militante, transformada em inimiga pública número 1 pela grande imprensa brasileira. Mas isso nem de longe é o pior. O texto da matéria explica que a informação anunciada na chamada constaria de uma conversa telefônica gravada, que estaria transcrita no relatório do inquérito a que o veículo teve acesso. Mais uma vez, é trabalho da justiça apurar a procedência da “prova”, mas, jornalisticamente, o pulo do gato, com o qual as autoridades que “vazaram” o inquérito para o/a Globo certamente contaram, foi o fato de a primeira versão dessa matéria conter o link para o áudio de uma conversa telefônica da tal Sininho.

    A conversa traz as palavras-chave – polícia e Minas Gerais –, mas não há nela qualquer referência a provas ou outra coisa que indique confissão de algum crime. Ao contrário: o principal argumento da ativista para não ir a Minas é que lá as coisas estavam mais tensas, com gente colocando fogo em ônibus. Há, portanto, um áudio que não corresponde ao que é citado na matéria e destacado no título e na chamada – mas quantas pessoas sabem disso? Quantos se deram ao trabalho de clicar no link, ouvir o áudio até o final e comparar com a (des)informação produzida pelo jornal? E qual o feito que isso poderia ter em meio a um bombardeio de acusações sem defesa? Na cobertura inicial, junto com jornais subversivos, computadores e celulares, a diferença entre uma garrafa de gasolina e um explosivo era principalmente constrangedora.

    No meio do que se tenta vender como um “furo de reportagem”, a distância entre o que a matéria descreve e o que o áudio mostra denota a mais pura e consciente desonestidade. O julgamento passa a ser feito pelas páginas dos jornais ou pelo sorriso do William Bonner e o resultado é que tudo que a conquista da democracia, com todos os seus problemas e limites, garantiu, como direito de defesa e presunção de inocência, está sendo diariamente rasgado pelas Organizações Globo, sem que se possa fazer nada.

    Versão atualizada do Cidadão Kane

    Não faltaram outros artifícios rasteiros, que criam sentido pelo impacto e pela fragmentação. A imagem impactante de um incêndio em que uma pessoa aparece com o braço levantado, aparentemente comemorando, foi repetida mesmo sem que houvesse qualquer relação desse caso e dessa pessoa com os envolvidos e com o conteúdo das matérias; deu-se destaque a uma fala em que a tal Sininho comemora a derrota da seleção brasileira, numa tentativa vulgar de aumentar a rejeição pública a essa moça, que foi alçada a liderança maligna não se sabe do quê nem por quê; ressaltou-se, na mesma fala, a frase em que a “vilã” da vez comenta que a manifestação do jogo da final da Copa vai “bombar”, num lamentável esforço de associar essa gíria ao uso de bombas; e por aí foi.

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    Mas não parou. Depois de esgotar todas as combinações possíveis de fragmentação sensacionalista das informações, insinuando sem mostrar e julgando sem provar, o/a Globo reeditou a fórmula que foi amplamente usada no momento seguinte às manifestações de junho do ano passado. Depois da inimiga pública individual, resgataram-se os inimigos públicos coletivos, que também foram artificial e interesseiramente construídos: os sindicatos e partidos políticos. Embora faça questão de dizer que manifestar – pacificamente – não é crime, a doação de comida, transporte e carro de som para manifestantes é mais uma vez tratada como financiamento de atos criminosos em defesa de interesses escusos dos sindicatos envolvidos. Para isso, basta juntar as duas informações – a doação e a ocorrência de algum ato de violência em algum protesto – e produzir uma chamada sensacionalista.

    Como é parte do processo de construção ideológica a disseminação de valores que são próprios da ordem burguesa, como o individualismo, a competição e a primazia dos interesses particulares, é fundamental que qualquer manifestação de solidariedade de classe, que é o único recurso de que os trabalhadores dispõem, seja rapidamente transformada em aparelhamento institucional, barganha de interesses ou mesmo formação de quadrilha. É no mínimo curioso que ninguém tenha usado as mesmas lentes “investigativas” para denunciar o apoio financeiro que o ex-governador Sergio Cabral deu, em 2012, para garantir a presença de manifestantes nas ruas contra a distribuição dos royalties do petróleo. Na época, para incentivar a presidente Dilma Rousseff a vetar o projeto que havia sido aprovado no Congresso, e que se argumentava que traria muitos prejuízos ao estado do Rio, não só vários o ônibus foram alugados para trazer pessoas de diferentes cidades do estado como o então governador decretou ponto facultativo para o serviço público. Era dinheiro público financiando manifestação, mas a imprensa não achou que era um problema. Essa é a cara, sem máscara, da liberdade de imprensa burguesa, calcada no modelo profissional do jornalismo burguês.

    E não é nova. Diz a lenda que, em 1896, quando um repórter do New York Journal enviado a Cuba para cobrir a guerra hispano-americana informou que estava voltando porque, chegando lá, descobriu que não havia guerra nenhuma, William Hearst, um dos mais famosos empresários da imprensa dos EUA, e que tinha muito interesse no conflito, teria respondido simplesmente: “Não volte. Você enviará as fotos e eu farei a guerra”. Não se sabe se esse diálogo é verídico, mas ele parece perfeito para ilustrar o processo de manipulação explícita que as Organizações Globo estão promovendo na cobertura das prisões políticas que denunciam os limites intransponíveis da democracia burguesa. “Me mande o inquérito que eu produzo as provas”: eis a versão mais atualizada da adaptação brasileira do Cidadão Kane.

    ***

    Cátia Guimarães é jornalista

     

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