Fora de Pauta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O espaço para os temas livres e variados.

Lourdes Nassif

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  1. Ainda o debate da BAND
    A cada análise que leio acerca do debate mais tenho a impressão que não houve um “único debate”, porém vários, tamanha é a variação do que se diz a respeito do mesmo. Prova de que há muito mais subjetividade no que se diz do que uma análise “objetiva” do que aconteceu. Assim, não digo que concordo ou discordo da opinião de quem quer que seja; afirmo, no entanto, que tenho as minhas próprias convicções acerca do que assisti. Entretanto, de tudo que ouvi – acompanhei o debate pela tevê e os comentários no intervalo do debate pelo site da BAND -, considero como relevante o que disse um professor-comentarista – foge-me o nome do mesmo – , que estava na bancada analisando o que diziam os candidatos, quando ele diz que “Marina perdeu uma ótima oportunidade de apontar qual é o projeto de governo que ela tem para o país: ao dizer que faria uma ‘reforma tributária’ ou uma ‘reforma política’, a mesma não deixou claro em que ponto se dariam essas reformas”, ou seja, quem não conhecia de fato qual o programa de governo dela antes do debate, continuou na mesma situação depois dele! Quanto a mim, ficou bastante claro que o debate foi conduzido sob medida para Aécio – a grande mídia parece não ter desistido dele ainda. Os jornalistas da BAND formaram um “grupo” bem treinado para isso, daí o mineiro está à vontade, pois ele  sabia muito bem que não sofreria nenhum ataque por parte dos jornalistas. A respeito de DILMA, muita gente espera dela um comportamento típico de um LULA, só que nesse aspecto DILMA é DILMA e LULA é LULA; isso é fato! De início, também desejei que ela fosse mais incisiva em suas colocações, contudo ela tinha que ter bastante cuidado em suas intervenções para não criar nenhum “problema” ou dar munição para ser “questionada” pela oposição. Ela pareceu-me bastante consciente disso. E a respeito dela também, ouvi do professor e da analista, que avaliavam o debate a cada bloco, algo em comum entre eles: DILMA deixou bastante claro a sua mensagem quanto ao seu programa de governo par os telespectadores. Para os comentaristas, a mensagem da PETISTA foi que, neste primeiro mandato, ela preparou o terreno fazendo o que pôde diante das circunstâncias, quer dizer, teria sido feito o alicerce para um segundo mandato em que a PRESIDENTA teria a possibilidade de realizar muito mais. O discurso de DILMA foi “deem-me um novo mandato para que eu possa colher aquilo que foi semeado de 2011 até agora, isto é, ela teria realizado obras estruturantes, a base para as reformas e implantações de medidas durante o seu segundo período a frente do governo”. O programa de governo da PRESIDENTA ficou bastante claro – nós mudamos muita coisa no país e mudaremos ainda mais! Em alguns momentos, no caso da PETROBRÁS, a PETISTA teria teria “marcado” uma diferença muito clara acerca do que era a companhia e do que ela é agora: a PETROBRÁS valia 15 bilhões de reais na época dos tucanos e agora vale 10 vezes mais. Isso não é se prender ao passado, mas sim falar do presente. Sobre a postura do governo diante das manifestações, em que Marina questionou que a reação do governo diante das “pautas” levantadas pelos protestos não teriam resultado em nenhuma atitude prática, DILMA rebateu a candidata de oposição – seja ela de que partido for (PSB, Rede, PIG…?!)- relatando o que foi feito diante das “reivindicações” das ruas: a aprovação dos destinos de parte dos royalties do pré-sal para educação e para a saúde; as obras de mobilidade que já foram implantadas ou ainda encontram em processo de implantação por todo o país; a implantação do projeto “Mais Médicos” e os resultados já obtidos com ele, deixando claro que não se trata de uma medida paliativa, mas algo concreto que atenderia hoje cerca de 50 milhões de brasileiros; a REFORMA POLÍTICA que foi proposta pela PRESIDENTA não ocorreu por omissão dela, no entanto, por que foi barrada pelo congresso que aí está. Nesse ponto, o RECADO da PRESIDENTA para a população foi direto: DILMA deseja e quer realizar a propagada reforma, porém ela sozinha não conseguirá isso, por essa razão a CANDIDATA  à reeleição CONVOCOU os que foram ou não às ruas para tornar essa proposta mudança em REALIDADE. Isso ficou claríssimo na fala de DILMA, mesmo para “leigos”. Um ponto também relevante, foi que DILMA não caiu na armadilha proposta por Pannunzio ou Casoy, salvo algum engano de minha parte, quando um deles colocou a questão da “regulamentação” da mídia como se fosse controle dos “meios de comunicação”, embora eles tenham deixado transparecer que isso era muito mais uma proposta do PT do que de DILMA que, segundo eles, teria se colocado como uma “barreira” para que isso não fosse “implantado”. A PRESIDENTA, para mim, foi muito astuta, pois diante da desinformação do grande público acerca do tema e da manipulação midiática que existe a respeito disso, ELA foi habilidosa ao deixar isso como uma proposta do PARTIDO e não especificamente dela, afinal é no congresso que isso será decidido. E ELA está certíssima, por esse lado, o debate de uma forma ou de outra está sendo travado onde deve ser. Se ela tomasse para si essa bandeira, a oposição não deixaria de usar esse fato contra ela, pregando que a PRESIDENTA que impedir a bendita “liberdade de expressão” da mídia. Por fim, após o debate da BAND, o que se tem discutido é desempenho de outros candidatos e não da PETISTA, o que é um bom sinal, pois de quem têm sido cobradas explicações é Marina que, para muitos deixou muitos pontos a esclarecer.  Entre essas obscuridades da ex-senadora estão: as suas “alianças” políticas contraditórias diante de seu discurso de ser ela representante de UMA NOVA FORMA DE SE FAZER POLÍTICA no país; a sua aproximação com “economistas” ligados, principalmente, ao conceito econômico implantado e defendido pelos tucanos, ou seja, nesse campo seria a volta, se é que ainda se pode chamar assim,ao neo-liberalismo e à subserviência aos norte-americanos e a organismos internacionais como FMI e o Banco Mundial; a sua ligação com grandes grupos econômicos do país que querem e pregam, entre outras coisas, um “BANCO CENTRAL” independente,o que isso pode significar ESTAR AO LADO E A SERVIÇO DO MERCADO FINANCEIRO, representado entre outros membros da equipe da candidata do PSB, seu partido de aluguel,por NECA SETÚBAL; a sua dita forma de governar o país fazendo coalizões com o que a ex-senadora acriana chama do que “melhor” existe em cada partido ou área da sociedade brasileira, afinal como isso se dará se nem uma base política consistente ela terá, seja protagonizada pelo PeSseBistas ou pela famosa “REDE”… Ou seja, há muito o que se dizer e a esclarecer por parte de Marina. Já quanto a Aécio, ao declarar como seu “futuro” ministro da economia Armínio Fraga – um claro recado ao mercado financeiro para se contrapor à candidata que lhe ultrapassou nas pesquisas -, ficou bastante evidente que para ele e para o PSDB o grande problema a ser enfrentado, nesse momento, deixa de ser DILMA e o PT e passa agora a atender por outro nome MARINA. E isso  é um problema dele, não de nenhum outro candidato. Arrematando, essas são conclusões a que chegou não um emérito analista político, mas um simples ELEITOR que tem consciência de seu papel nessa eleição.

  2. Marina, quanto o Itaú doou para a sua campanha?

    Uma pergunta que não foi feita no JN:

    Bonner – Marina, quanto o Banco Itaú doou para a sua campanha?

    Marina- Foi algo em torno de mil reais, quero dizer, mil dólares, ou melhor, mil euros. Não, não, não , não. Foi mil libras, não foi, Nequinha?

      1. Nem forçando a barra

        Escolheu o nome de um outro banco aleatóriamente para tentar fazer um contraponto.

        Só que nem o dono do Bradesco nem de nenhum outro banco fica andando para cima e para baixo com a candidata Dilma e nem fica nos bastidores do debate mandando nela como se manipulasse um fantoche.

        Já a dona do Itaú faz isso com a candidata Marina Silva.

        Ou seja, nem forçando a barra dessa forma conseguiu esconder esse fato escabroso.

        Em toda minha vida (e tenho mais de meio século de estrada) nunca vi um candidato à presidência tão descaradamente manipulado por um banqueiro como vejo agora a Marina.

         

  3. Petrobrás

    Petrobrás volta a ser alvo de ataques

     

    Mais de sessenta anos depois de criada, a Petrobrás volta ser violentamente atacada no debate eleitoral. Mesmo  garantindo a produção de petróleo e gás, o fornecimento de combustíveis, a comercialização, o transporte e a autossuficiência na produção de petróleo.

     

    A história da Petrobrás se confunde com a luta do povo brasileiro. Nas décadas de 1940-50, durante a  campanha “O Petróleo é Nosso!”, o povo nas ruas garantiu a sua criação e o monopólio da União sobre o petróleo.

     

    Aquela mobilização popular foi vitoriosa, mas custou prisões, perseguições e a morte de muitos brasileiros, inclusive do presidente Getúlio Vargas. Nesse período, o petróleo ainda era um sonho. Na década de 1990, para barrar as privatizações, principalmente a da Petrobrás, os petroleiros fizeram uma greve de 32  dias, com  parada de produção, a maior da sua história.

     

    No confronto entre entreguistas e nacionalistas, os tucanos conseguiram, na prática, acabar com o monopólio da União sobre o petróleo. Mas não conseguiram privatizar a Petrobrás, nem mudar o nome da empresa para Petrobrax, graças à nossa resistência.

     

    Próximo às eleições presidenciais, o embate entre esses dois campos se acirra. De um lado está o grande capital e os mesmos interesses que levaram Getúlio à morte; de outro os que insistem em defender a soberania nacional. Os entreguistas agora se escondem por trás de uma CPI eleitoreira que visa tão somente desgastar a empresa, para privatizá-la. Tentam macular a imagem da Petrobrás, escudados em denúncias de corrupção e de desvio de conduta de um diretor, Paulo Roberto Costa, além da presidente da companhia, Maria das Graças Foster.

     

    O diretor está preso. Já Foster assumiu o posto, apesar de uma enxurrada de denúncias envolvendo seu nome. Muitas delas  estão postadas na página do Sindipetro-RJ há mais de ano. Mas, na época, a imprensa preferiu ignorá-las e erguer a  presidente à condição de uma das dez mulheres mais poderosas do mundo,  ao invés de cobrar a apuração dos fatos junto ao Ministério Público e à Polícia Federal.

     

    A mesma imprensa que antes enaltecia Graças Foster se utiliza de factóides numa campanha sórdida contra a Petrobrás, às vésperas de mais uma eleição presidencial.

     

    Além de cumprir a missão constitucional de suprir de petróleo e seus derivados o país, a Petrobrás desenvolveu tecnologia que permitiu a descoberta do pré-sal. O Brasil está entre as principais empresas de petróleo do mundo, tanto  em reservas de petróleo como em tecnologia. A Petrobrás tem condições de financiar a dívida social que temos com nosso povo.  

     

    Deveria ser motivo de aplauso e de reconhecimento da lisura dos órgãos federais, o ineditismo que representa a prisão do diretor de uma empresa do porte da  Petrobrás. Além disso, uma coisa é investigar os atos da presidente da companhia. Outra é querer destruir a empresa.

    Um dos candidatos, pastor Everaldo, prega a privatização da Petrobrás. Deve estar falando em nome do deus mercado, que aqui na terra pode tudo. Interessante é que os presidenciáveis que atacam a companhia nada falam sobre os bancos e os grandes empresários. Estes sim, lideram a lista de sonegação e são os corruptores que alimentam escândalos como o mensalão, metrô de São Paulo, sanguessuga fiscais da prefeitura de São Paulo, privatizações, etc.

     

    Queremos todos os corruptos e corruptores na cadeia. Mas não podemos permitir, como no caso da Petrobrás, que tentem jogar o bebê fora,  junto com a água suja da bacia.

     Emanuel Cancella é diretor do Sindicato dos Petroleirosdo Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação nacional dos Petroleiros – FNP

     

     

    Rio de Janeiro, 28 agosto de 2014;

     

    1. A PETROBRAS foi criada em

      A PETROBRAS foi criada em 1953 com o apoio integral da UDN, principal partido de oposição ao então Presidente Vargas,

      tanto que a refinaria de Minas Gerais tem o nome de Gabriel Rezende Passos, que foi lider da UDN nauela época.

      Depois de sua criação não se discutiu mais a viabilidade da Petrobrás e nem ele foi violentemente atacada. O governo militar de 1964 deu ENORME apoio à PETROBRAS, foi nesse periodo de 21 anos que realmente se iniciou a exploração de petroleo no mar em grande escala e se construiram oito das 11 maiores refinarias do Pais. Um dos Presidentes da Republica do regime militar, General Ernesto Geisel foi tambem Presidente da Petrobras e sempre teve pela empresa grande afeição.

      Ninguem está atacando a PETROBRAS como empresa e sim problemas de gestão reais que ocorreram no periodo Gabrielli. Tampouco tem qualquer sentido dizer que o Brasil tem grandes reserva de petroleo, não estão nem entre as médias, o Brasil tem, segundo a Agencia Internacional de Energia da ONU, reservas modesras que não chegam a 20 bilhões de barris, para o tamanho do Brasil são muito pouco, a Venezuela tem 279 bilhões e o Iraque 220 bilhões de barris,

      muito acima do Brasil estão o Canada, a Russia, a Nigeria, os EUA, Angola, China, Indonesia, Nova Guiné, México, as reservas antigas da Bacia de Campos estão baixando e as do pre-sal ainda não totalmente comprovadas segundo a Petrobras chegam a 15 bilhões de barris, é uma boa reserva mas nunca “”uma das maiores do mundo””.

      1. Petrobrás

        Só o campo de Libra tem reservas de 15bi de barris,

        No pré-sal os geologos da Petrobrás, a AEPET afirmam que possuimos no mínimo 50 bilhões de barris, o que nos garantem a auto suficiencia em petróleo e gás nos próximos 59 anos,

        Emanuel Cancella

        Técnico da Petrobrás e Secretário Geral do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros – FNP 

      2. Geisel tinha respeito?

        Geisel tinha respeito á Petrobras? Só que, pequeno detalhe, ele reduziu, e muito o investimento em propsecção, atrasando bastante o descobrimento de novas fontes.

  4. Loucura total!

    Até Ibope explica: povo admite que vai bem, mas noticiário enfia na cabeça que o país vai mal.

    http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2014/08/ate-ibope-explica-povo-admite-que-vai.html  Aquela história de votar com a mão no bolso, de acordo com a sensação de bem-estar social, favorece Dilma. Mas ainda não está refletida nas intenções de votos nas pesquisas.

    Pelo Ibope divulgado ontem, o povo admite que sua situação econômica está boa e acha que vai melhorar. Mas acha que a economia do próprio país em que vive vai mal.

    Como pode o povo se sentir bem economicamente, estar otimista com o futuro e ao mesmo tempo acreditar que a economia “do país” vai mal? Só o efeito do noticiário extremamente negativo sobre a economia, descolado da realidade, explica.

    Para Dilma liquidar de vez essa eleição e vencer, seja no primeiro ou no segundo turno, é só colar as duas realidades.

    É relativamente fácil explicar o óbvio: que o Brasil é exatamente o mesmo país onde o povo brasileiro vive, e não o das manchetes alarmistas que mais parece um país estrangeiro, que nada tem a ver com onde vivemos.

     

  5.  
    Cinco locais são candidatos

     

    Cinco locais são candidatos à primeira aterragem de uma sonda num cometa

     

    28/08/2014 – 08:52

     

     

    Até Novembro, ultimam-se os preparativos para o momento mais alto da missão da Roseta, quando um aparelho humano irá tocar num corpo preservado desde o início do sistema solar.

     

    O núcleo do cometa com alguns dos locais possíveis de aterragemESA 

    A Agência Espacial Europeia (ESA) já seleccionou cinco locais possíveis para a primeira aterragem de uma sonda num cometa — uma estreia absoluta na história da exploração espacial, marcada para meados de Novembro. Os cinco locais agora divulgados resultam já de informações recolhidas pela sonda europeia, a Roseta, desde o seu encontro no início de Agosto, ao fim de uma década em viagem pelo espaço, com o cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko.

    A Roseta não fez essa viagem sozinha, em que percorreu mais de 6000 milhões de quilómetros, com algumas passagens pela Terra e por Marte para ganhar impulso, usando a gravidade destes planetas, que a ajudasse a chegar até ao cometa — e que, na altura do encontro, a 6 de Agosto, estava a 540 milhões de quilómetros do Sol, entre Júpiter e Marte. A Roseta levou consigo uma sonda mais pequena, a File, e é ela que protagonizará a aterragem no cometa.

    Os cinco locais já são uma escolha entre dez apontados inicialmente, aos quais tinha sido atribuída uma letra, sem nenhuma ordem de classificação. A partir de imagens de grande resolução da superfície do cometa, de medições da temperatura e dos gases à volta do núcleo e de outros parâmetros como a sua rotação e massa (tem cerca de 10.000 milhões de toneladas, pelo que a sua pouca densidade pode indicar que é poroso), a lista mais reduzida foi decidida pelo Grupo de Selecção do Sítio de Aterragem numa reunião no último fim-de-semana.

    Ao chegar perto do núcleo do cometa em Agosto, ficando só 100 quilómetros, a Roseta revelou um corpo com uma forma extremamente irregular, muito longe da ideia da bola de gelo suja de poeiras geralmente associada aos cometas, e que parece composto por dois bocados colados um ao outro. Mantêm-se agora na corrida a local de aterragem três sítios no bocado mais pequeno do núcleo (identificados pelas letras B, I e J) e dois (A e C) na parte maior.

    Nunca um aparelho humano esteve tão perto do núcleo de um cometa. O mais perto que estivemos foi com a sonda Giotto, também da ESA, em 1986: a 605 quilómetros do núcleo do famoso cometa Halley, vimos então a sua forma abatatada.

    “Tendo em conta a forma especial e a topografia global do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, provavelmente não é surpresa que muitos locais tenham sido excluídos”, diz Stephan Ulamec, coordenador da File no Centro Aeroespacial Alemão em Colónia, em comunicado da ESA.

    Para já, considera-se que esta aventura é tecnicamente possível nos cinco locais, tendo em atenção alguns aspectos. “Por exemplo, todos têm pelo menos seis horas de luz solar durante uma rotação do cometa e o terreno é plano. Claro que cada sítio oferece a possibilidade de descobertas únicas”, diz Stephan Ulamec.

    “O cometa é muito diferente de tudo o que vimos antes e mostra características espectaculares, que ainda temos de compreender”, acrescenta Jean-Pierre Bibring, um dos cientistas principais da File.

    Assim, a Roseta vai aproximar-se ainda mais do cometa — até 50 quilómetros —, para os cientistas poderem estudar minuciosamente os locais na shortlist. A 14 de Setembro, já deverão ter uma classificação, sendo desenvolvido um plano pormenorizado das operações. Ao mesmo tempo, a Roseta irá reduzir a distância ao 67P/Churiumov-Gerasimenko para apenas 20 a 30 quilómetros, permitindo a elaboração de mapas mais pormenorizados dos locais, sem esquecer os calhaus.

    “O processo de selecção é extremamente complexo e dinâmico. À medida que nos aproximamos do cometa, veremos cada vez mais detalhes, que irão influenciar a decisão final de onde e quando poderemos aterrar”, diz Fred Jansen, coordenador da missão Roseta. “Depois da chegada ao cometa, tivemos de concluir muito depressa a análise preliminar dos locais candidatos e agora só temos mais algumas semanas para determinar o local principal.”

    A tarefa será tudo menos simples, ou não fosse preciso atender a várias questões, enumeradas no comunicado da ESA: “A sonda que aterrará será capaz de manter comunicações regulares com a Roseta? Quão comuns são os perigos à superfície, como calhaus, fendas profundas e encostas escarpadas? Há iluminação suficiente para as operações científicas e luz solar suficiente para carregar as baterias do módulo de aterragem para lá das suas 64 horas iniciais de vida, mas sem causar aquecimento excessivo?”

    O sítio deverá ser escolhido a 12 de Outubro, seguindo-se a confirmação final dois dias depois. Se tudo estiver a postos, o dia marcado para a aterragem é 11 de Novembro. Então, a Roseta libertará a File perto do cometa e ela, de apenas 100 quilos, descerá até ao local escolhido.

     

    http://www.publico.pt/ciencia/noticia/identificados-cinco-locais-para-a-primeira-aterragem-de-uma-sonda-num-cometa-1667764#/0

  6. 35 ANOS DA LEI DE ANISTIA E A PUNIÇÃO DOS TORTURADORES

     

     

    Oi Nassif,

     

    o CPMVJ – Comitë Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, junto com os comitês da Paraiba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, produziu três vídeos para marcar os 35 anos da votação da Lei da Anistia, nesta quinta-feira, dia 28. O objetivo é aproveitar a campanha eleitoral e levar o Brasil a discutir os crimes da ditadura, defendendo a revisão da Lei de Anistia de forma a chegar à apuração e punição desses crimes. Para isso decidimos interpelar os três poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – sobre a impunidade dos agentes do Estado no período da ditadura militar. Os três vídeos já estão no youtube e podem ser vistos nos links abaixo:

    https://www.youtube.com/watch?v=q0-ipZ6yU0&list=UUVwgAPWHe9ylaZYm0ktCATQ

     

    https://www.youtube.com/watch?v=yGTAmbDNEV4&list=UUVwgAPWHe9ylaZYm0ktCATQ

    https://www.youtube.com/watch?v=RASd14FoBzE&list=UUVwgAPWHe9ylaZYm0ktCATQ

     

    O questionamento ao Executivo é feito por Gregório Gomes da Silva, filho de Virgílio Gomes da Silva, torturado até a morte. Gregório faz um apelo à presidente Dilma Roussef, que compartilhou celas e torturas com sua mãe, Ilda Martins da Silva, para que nos ajude a não deixar impunes os assassinos de seu pai.

    Como representante do Legislativo escolhemos o senador Aloysio Nunes Ferreira, não só por ser candidato a vice-presidente mas, principalmente, porque – apesar de seu passado de militante da esquerda armada – defende a impunidade dos assassinos e torturadores de seus antigos companheiros. Quem o questiona é a professora Rosalina Santa Cruz, irmã de Fernando Santa Cruz, preso pelo Doi-Codi do Iº Exército em 1974 e desaparecido desde então.

    Ao Judiciário a interpelação é feita pelo professor Pedro Estevam Serrano, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Serrano exige dos ministros do STF a revisão imediata de sua interpretação de que a Lei da Anistia beneficia também os crimes cometidos pelos agentes do Estado, demolindo os argumentos de quem defende a impunidade de estupradores, torturadores e assassinos.

    O Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça (CPMVJ) considera que a discussão dos crimes da ditadura e sua punição, especialmente neste momento, é essencial para a construção da democracia no Brasil.

    Um abraço,

     

    A.C.Fon

  7. O Mito do Eleitor Racional

     

    A Irracionalidade e os Limites da Democracia

    Por

    Bryan Caplan

    Lead Essay

    November 5, 2006

    Se o eleitor comum é irracional, nós teremos que enfrentar as consequências.

    Há uma eleição à vista. Será que os eleitores sabem o que estão fazendo? De acordo com o economista mais comum – e vários cientistas políticos – a resposta é “Não, mas isso não importa.” Como isso poderia não importar? O principal argumento é que os erros do público se anulam mutuamente. Por exemplo, algumas pessoas subestimam os benefícios da imigração, e outras superestimam os benefícios. Porém, enquanto a crença do eleitor médio for a verdadeira, os políticos ganham ao promover políticas imigratórias baseadas em fatos.

    Essa história é boa de se ouvir, mas será que ela é correta? Será que as crenças do eleitor médio são verdadeiras? Em meu livro The Myth of the Rational Voter [O Mito do Eleitor Racional], lançado pela Princeton University Press, analiso um corpus significativo e concluo que, definitivamente, a resposta é “não”. Como mariposas em torno de uma lâmpada, os eleitores gravitam em torno de alguns enganos. E seus erros não se anulam: eles se combinam.

    Em meu livro, e nesse ensaio, concentro-me nos enganos do público em relação à economia. Em parte, faço isso por ser economista, porém, principalmente, faço-o porque a economia é um exemplo bem claro de um assunto que é politicamente importante (“é a economia, seu burro”), mas que é ainda pouco compreendido. Desconfio que os erros dos eleitores estendem-se para muito além da economia. Já existem provas convincentes de que a maior parte do público possui crenças pouco fundamentadas a respeito de toxicologia e câncer. Em política externa, igualmente, temos o efeito “reunião em torno da bandeira”, a tendência do público de apoiar guerras assim que são declaradas. Mas mesmo que o eleitor médio compreendesse cada assunto nãoeconômico, os enganos sobre a economia, por si, já seriam um problema sério para a democracia.

    Identificando os enganos

    Suponha que um acadêmico defenda que a crença dos eleitores em relação a X seja verdadeira, e outro negue essa afirmação. Para esse debate fazer sentido, ambos os lados devem afirmar possuir conhecimento sobre (a) o que o eleitor médio acredita, e (b) qual crença é a correta. Como podemos compreender esse tipo de disputa?

    É bem fácil compreendermos em que o eleitor médio crê. Existe fartura de boas pesquisas. A parte difícil é compreendermos como “ranquear” as crenças do eleitor médio – encontrar uma régua com a qual suas crenças podem ser medidas. A Pesquisa Nacional sobre o Conhecimento Público das Reformas da Assistência Social e do Orçamento Federal descobriu, por exemplo, que 41% dos americanos acreditam que as ajudas externas compõem uma das duas maiores áreas do orçamento federal – contra 14% que acreditam ser a seguridade social.

    A principal desvantagem dessa abordagem é que várias questões importantes são complexas demais para serem solucionadas com um almanaque. Mas existe outro espelho a ser levantado para a opinião pública. Nós podemos localizar pessoas que possuem maiores chances de saber a resposta correta, ver o que eles pensam, e então checar se o público concorda. Mas quem poderiam ser essas pessoas? Os candidatos mais óbvios seriam os especialistas.

    Para verificar se as crenças do eleitor médio sobre os efeitos econômicos da imigração estão corretas, por exemplo, você pode perguntar coisas ao público em geral e aos economistas profissionais e ver se, em média, eles concordam. Esse teste é infalível? Não. Os especialistas já erraram. Mas é difícil driblarmos a forte presunção de que, se os especialistas e os homens comuns discordam, os especialistas provavelmente estão certos e os homens comuns estão errados. E, mais importante, se você tem alguma razão específica para duvidar da objetividade dos especialistas, você pode levá-la em conta. Se você acredita que os bons salários dos economistas influenciam suas crenças, por exemplo, você pode verificar se os homens comuns e os especialistas concordam após termos ajustado suas rendas.

    Foi exatamente essa a abordagem que eu usei para analisar o melhor conjunto de dados disponível sobre as crenças econômicas, a Pesquisa Entre Americanos e Economistas Sobre a Economia. A descoberta principal foi que os economistas e o público em geral têm crenças completamente diferentes em relação à economia. Comparados aos especialistas, os homens comuns são bem mais céticos em relação aos mercados, especialmente o mercado internacional e de trabalho, e bem mais pessimistas em relação ao passado, o presente e o futuro da economia. Onde uma pessoa comum vê uma conspiração das empresas, os economistas veem oferta e demanda. Onde uma pessoa comum vê declínio, os economistas veem progresso.

    Enquanto os críticos dos economistas gostam de atribuir esses padrões à sua influência, à segurança em seus empregos e às suas ideologias de direita e esquerda, os fatos dizem outras coisas. Controlando a renda atual, o crescimento da renda, a segurança em seus trabalhos, gênero e raça, reduzimos apenas suavemente a distância entre os economistas e os homens comuns. E, já que o economista típico é na verdade um democrata moderado, controlar a identificação partidária e a ideologia faz a diferença entre eles aumentar. Os economistas acreditam que os mercados funcionam bem não por terem uma ideologia de extrema direita, mas apesar de sua ideologia levemente esquerdista.

    Segundo certo ponto de vista, essas descobertas não deveriam nos surpreender. Desde o tempo de Adam Smith, senão um pouco antes, os economistas têm reclamado que a política econômica se baseia em concepções errôneas e tentam fazer alguma diferença corrigindo os preconceitos de seus alunos contra os mercados, o comércio internacional, etc. Os economistas preservam essa tradição até hoje, quando dão aulas a universitários, escrevem para o público em geral ou conversam entre si. Entretanto, nas últimas décadas, a pesquisa econômica construiu uma compreensão contrária, segundo a qual as concepções dos eleitores seriam as verdadeiras. O que surpreende em meus resultados é que eu comparo uma visão econômica tradicional contra as pesquisas econômicas recentes, e a visão tradicional vence.

    O que as ideias erradas podem fazer

    Os cientistas políticos quase sempre criticam os economistas por suporem que os eleitores sejam egoístas. Os dados, em conjunto com minha experiência pessoal, me convenceram que os cientistas políticos estão certos. Não importa o quanto se sabe a respeito dos interesses materiais dos eleitores, ainda sim é difícil prever como votarão. Em contraste, se você sabe como um eleitor pensa ser o melhor para a sociedade, você pode contar que ele votará de acordo.

    Apesar disso, antes que consigamos deduzir que as políticas que forem melhores para a sociedade realmente prevalecerão, nós temos que adicionar exatamente a suposição que estou contestando: que as crenças do eleitor médio sejam verdadeiras. Se suas crenças são falsas, as suas boas intenções o levam a apoiar políticas que não sejam as mais adequadas e que, possivelmente, sejam verdadeiramente ruins.

    Considere o caso das políticas imigratórias. Os economistas são bem mais otimistas em relação aos seus efeitos econômicos do que o público em geral. A Pesquisa Entre Americanos e Economistas Sobre a Economia perguntou ao público se a existência de “imigrantes demais” seria uma razão que teria muita influência, pouca influência ou se ela não teria influência alguma em relação ao fato de a economia não estar tão bem quanto poderia estar. Entre os nãoeconomistas, 47% acreditam que a imigração tem muita influência, enquanto 80% dos economistas acreditam que existe influência alguma. Os economistas têm várias razões para possuir opinião tão diferente: eles sabem que a especialização e o comércio enriquecem tanto os americanos quanto os imigrantes; que existe pouca evidência de que a imigração realmente reduza a renda mesmo dos americanos com poucas qualificações; e, já que os imigrantes são, em sua maioria, jovens do sexo masculino, e já que a maior parte dos programas governamentais apóia as mulheres, os idosos e as crianças, os imigrantes acabam pagando mais em impostos do que recebem em benefícios.

    Dado o que um eleitor médio pensa acerca dos efeitos da imigração, é fácil compreendermos porque quase toda pesquisa descobre que a grande maioria dos imigrantes deseja reduzir a imigração, e quase ninguém deseja aumentá-la. Infelizmente, tanto para os americanos quanto para os imigrantes em potencial, há muitas razões para acreditarmos que o eleitor comum está enganado. Se a política fosse baseada em fatos, os americanos estariam debatendo agora como aumentar a imigração, ao invés de tentarem “endurecer” com os imigrantes que já estão no país.

    Não preciso nem dizer que não espero que algum político proeminente vá ler esse artigo e tornar pública a sua mudança de posição em relação à imigração. A democracia é uma competição de popularidade. Se o eleitor médio acredita que menos imigrantes é melhor para a sociedade, a democracia recompensa os políticos que se opõem à imigração. Isso não significa, necessariamente, que os detentores de cargos públicos estimulam os preconceitos da população. Os nossos líderes devem ter chegado ao topo do jogo político porque eles, sinceramente, compartilham dos preconceitos do público. Entretanto, independente do que acontece nas cabeças e corações dos políticos, nós devemos esperar que a democracia dê ouvidos ao eleitor comum, mesmo quando ele está errado. A evidência empírica indica que ele quase sempre está.

    Como as ideias erradas persistem

    A maior parte dos enganos econômicos que vemos hoje já eram bem conhecidos no tempo de Adam Smith. Como, então, as pessoas podem continuar mantendo políticas públicas errôneas, ano após ano, século após século?

    Os economistas da escolha pública estão acostumados a culpar o que chamam de “ignorância racional”. Em eleições com milhões de eleitores, os benefícios pessoais de se aprender mais sobre alguma política são desprezíveis, porque é pouco provável que um voto vá mudar o resultado. Então, por que nos incomodaríamos?

    Entretanto, em meu livro, eu argumento que a ignorância racional tem sido supervalorizada. A ignorância racional não consegue explicar por que as pessoas gravitam em torno de falsas crenças, ao invés de serem simplesmente agnósticas. Também não consegue explicar por que as pessoas que mal tenham pesquisado superficialmente sobre um tema são tão confiantes em seus julgamentos – e até mesmo se enraivecem caso você as contradiga. Por que, para voltarmos ao caso da imigração, as pessoas se convencem que a imigração é desastrosa, e não conseguem manter uma conversa civilizada com alguém que discorde?

    A minha visão é que esses são sintomas, não de ignorância, mas de irracionalidade. Na política, como na religião, algumas crenças têm um apelo emocional maior do que outras. Por exemplo, nos sentimos muito melhor quando culpamos estrangeiros por nossos problemas econômicos do que culparmos a nós mesmos. Isso cria uma tentação para relaxarmos os padrões intelectuais normais e isolarmos as crenças mais populares das críticas – em resumo, sermos irracionais.

    Mas por que existem algumas áreas – como a religião e a política – onde a irracionalidade parece ter uma relevância especial? A minha resposta é que a irracionalidade, como a ignorância, é sensível ao preço, e as falsas crenças sobre a política e a religião são baratas. Se você subestima os custos de beber em excesso, você pode arruinar a sua vida. Em contraste, se você subestima os benefícios da imigração, ou as evidências em favor da teoria da evolução, o que lhe acontece? É bem provável que aconteça a mesma coisa que aconteceria com você se você soubesse toda a verdade.

    Então, de certa forma, existe um procedimento por trás da loucura do eleitor comum. Mesmo quando suas visões estão completamente equivocadas, ele recebe o benefício psicológico das crenças políticas de grande apelo emocional a baixo custo. É por isso que “compra” essas opiniões a granel.

    Qual é o problema da democracia – e o que é melhor

    Infelizmente, o custo social da irracionalidade pode ser bem alto, mesmo que ele seja benéfico individualmente. Se uma pessoa polui o ar, nós mal percebemos. Se milhões de pessoas poluem o ar, a vida pode ficar bem desagradável. Da mesma forma, se uma pessoa possui uma visão irracional acerca da imigração, nós não percebemos. Mas se milhões de pessoas compartilham dessas opiniões irracionais, políticas danosas socialmente podem vir a prevalecer devido à demanda popular.

    Quando as escolhas individuais feitas no mercado possuem efeitos colaterais socialmente danosos, a maioria das pessoas deseja solucioná-lo. No caso da poluição, por exemplo, os economistas geralmente desejam cobrar impostos sobre as emissões, e os nãoeconomistas desejam estabelecer padrões de emissão. Poucas pessoas dão de ombros e dizem “a solução para os problemas do mercado é mais mercado.”

    Entretanto, quando as escolhas individuais em uma democracia têm efeitos colaterais sociais danosos, várias pessoas dão de ombros e dizem, “a solução para os problemas da democracia é mais democracia.” Se elas desejam soar um pouco mais obstinadas, poderão até citar Churchill: “a democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as outras que foram tentadas ao longo dos tempos.”

    No entanto, pensando bem, a citação de Churchill em face das falhas da democracia faz tanto sentido quanto dizermos, ao vermos o aumento da poluição do ar, “o livre mercado é a pior forma de organização econômica, excetuando-se todas as outras que foram tentadas ao longo do tempo.” Você pode criticar os mercados ou a democracia – e propor remédios – sem defender o socialismo ou a ditadura. A democracia, como o livre mercado, pode ser limitada, regulada ou subjugada.

    Então, que remédios eu proporia para a irracionalidade dos eleitores? Acima de tudo, confiarmos menos na democracia e mais nas escolhas privadas e nos livres mercados. Geralmente, nós nem mesmo perguntamos aos eleitores se nós devemos permitir que discursos impopulares ou religiões existam, e essa prática “elitista” nos salvou de inúmeros problemas. Por que não tirarmos várias questões da agenda? Mesmo que o livre mercado faça um trabalho medíocre, a questão relevante não é se uma regulação inteligente, bem intencionada, seria melhor. A questão relevante é se o tipo de regulação que exerce apelo sobre a maioria seria melhor.

    Outra forma de lidarmos com a irracionalidade do eleitor seria uma reforma institucional. Imagine, por exemplo, se o Conselho de Conselheiros Econômicos, no espírito da Suprema Corte, tivesse o poder de invalidar uma lei como sendo “não-econômica”. Da mesma forma, já que os dados mostram que os eleitores mais bem educados teriam visões políticas mais lógicas, nós poderíamos imitar a Grã-Bretanha pré-1949, dando aos graduados um voto extra.

    Eu suspeito que essas – entre outras! – reformas institucionais excêntricas seriam úteis, caso fossem tentadas. Infelizmente, existe um contrassenso: é improvável que a maioria vote pela redução do poder da maioria. Ainda assim, versões mais suaves dessas reformas podem encontrar algumas brechas. A população tem, em sua maioria, aberto mão do controle da política monetária em favor dos economistas profissionais; talvez a população também estivesse disposta a delegar ao julgamento de especialistas algumas outras áreas. E, embora seja improvável que a maioria aprove os votos múltiplos para os graduados, ela permite aos mais bem educados exercerem uma influência maior, em razão de seu maior comparecimento às urnas. Pode ser politicamente possível aumentarmos ainda mais a influência de fato dos eleitores mais bem educados, gastando menos dinheiro para aumentarmos o comparecimento às urnas.

    Apesar disso, no fim das contas, esse um contrassenso significa que talvez seja bem improvável que uma reforma constitucional seja um meio eficiente para monitorarmos a irracionalidade dos eleitores. E o que mais nós temos? Mesmo nos países mais democráticos, os atores políticos possuem um grau de negligência e demasiada “flexibilidade”, por ser sempre possível para os políticos se desviarem um pouco das preferências dos eleitores sem serem removidos do poder. E, para ser direto, se o eleitor comum possui crenças irracionais que o leva a apoiar más políticas, o uso da negligência política para aliviar os danos parece ser o que melhor poderia ser feito. Se o eleitor médio está enganado em relação à imigração, e você tem jogo de cintura para colocar em prática uma anistia, então o faça.

    A suprema corte pode ser o melhor exemplo de um corpo político com bastante flexibilidade. A justiça vale por toda a vida e é preciso uma emenda constitucional para se derrubar suas decisões. Isso sugere – e a história confirma – que eles detêm um poder significativo para produzirem algo melhor que os resultados democráticos. Se a corte tem a chance de legislar sobre a constitucionalidade da legislação inspirada ideias incorretas e antimercadológicas, então porque não impedi-la, por violar o andamento dos processos, ou a nona emenda, ou a décima emenda? Essa era a essência da chamada “jurisprudência da era Lochner.” Entretanto, dado o que sabemos sobre as inclinações econômicas da população, eu acredito que devemos a esses velhos juízes um pedido de desculpas.

    É claro que eu não espero que a suprema corte ressuscite Lochner em breve. Pelo menos, até onde a economia se estende, os julgamentos atuais, em geral, aceitam a ideia de que devem acatar as concepções da maioria. E, obviamente, eles não estão sozinhos. A visão dominante, mesmo entre os mais bem educados, e que seria inconveniente questionarmos a competência do eleitor médio. Várias elites vão mais longe, saudando as ideias do eleitor médio, não importa o quanto elas possam parecer idiotas.

    Enquanto as elites persistirem nessa deferência e nessa bajulação em relação à maioria, a contenção dos perigos da irracionalidade dos eleitores será bem difícil. Alguém deve dizer ao imperador que ele está nu. Ele pode não ouvir, mas se ninguém fala, é bem provável que ele continue se envergonhando e traumatizando os espectadores.

    Então, meu remédio final à irracionalidade do eleitor, é para que as pessoas que saibam mais do que o eleitor médio deixem de ser modestas. Quando os especialistas e aqueles que os ouvem se dirigir a grandes públicos – na mídia, em suas publicações ou em uma sala de aula – eles precisam se forçar às perguntas em que os especialistas e o público discordam e explicar, claramente, por que os especialistas estão certos e o público está errado. Assim, quando os especialistas chegarem aos ouvidos da população, eles não devem os importunar com as estatísticas da renda média nacional, ou tergiversar entre si em relação a questões marginais. Eles devem desafiar os enganos do público em relação ao mercado, aos estrangeiros, à economia de trabalho e ao progresso.

    Mas se o público é tão irracional quanto eu digo, será que isso funcionará? Isso poderá funcionar. A irracionalidade não elimina a possibilidade de persuasão, mas muda o que as pessoas acreditam ser persuasivo. Se as pessoas aceitam crenças, em parte, porque se sentem bem, é importante embrulhar a sua mensagem em um embrulho emocional satisfatório. Cai por terra o “Eu estou certo, você está errado, mude.” Porém, de acordo com minha experiência, “eu estou certo, as pessoas fora dessa sala estão erradas e vocês não querem ser como elas, querem?” é bem persuasivo. Frédéric Bastiat, talvez o maior educador econômico da história, deve ser o nosso modelo. Quem mais poderia fazer uma crítica aos preconceitos econômicos populares ser não apenas charmosa, mas também engraçada?

    Conclusão

    Eu suspeito que vários leitores pensarão que existe algo desafinado com a minha relação com a democracia. Sabendo ou não o que estão fazendo, será que as pessoas têm o direito de escolher?

    Eu compreendo quando as pessoas argumentam em favor da autoescolha. Mesmo se um indivíduo não sabe qual é o seu melhor interesse, eu acredito que, em geral, ele deva ser livre para cometer seus próprios erros. O problema com o voto irracional, infelizmente, é que as pessoas que fazem isso não estão apenas “causando danos a si mesmas”. Se o eleitor comum é irracional, nós todos teremos que enfrentar as consequências.

    Na realidade, todo pai pergunta a seu filho, “se todos os seus amigos pulassem de uma ponte, você pularia também?” Eu tenho uma pergunta que é bem mais difícil para aqueles que se recusam a criticar o entendimento do eleitor médio: “se a maioria das pessoas dissesse que nós deveríamos pular de uma ponte, você empurraria aquelas pessoas que se recusassem a pular?”

    Fonte: http://www.cato-unbound.org/2006/11/05/bryan-caplan/myth-rational-voter

  8. Xapurí pede passagem

    A voz legal dos povos da floresta e sua posição sobre a Novelite.

     

    Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri responde a Osmarina:

    “Diante da declaração da candidata à Presidência da República para as próximaseleições, Marina Silva, onde esta coloca o companheiro Chico Mendes junto a representantes da elite nacional, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), legítimo representante do legado classista do companheiro Chico, vem a público manifestar-se nos seguintes termos:

    Primeiramente, o companheiro Chico foi um sindicalista e não ambientalista, isso o coloca num ponto específico da luta de classes que compreendia a união dos Povos Tradicionais (Extrativistas, Indígenas, Ribeirinhos) contra a expansão pecuária e madeireira e a conseqüente devastação da Floresta. Essa visão distorcida do Chico Mendes Ambientalista foi levada para o Brasil e a outros países como forma de desqualificar e descaracterizar a classe trabalhadora do campo e fortalecer a temática capitalista ambiental que surgia.

    Em segundo, os trabalhadores rurais da base territorial do Sindicato de Xapuri (Acre), não concordam com a atual política ambiental em curso no Brasil idealizada pela candidata Marina Silva enquanto Ministra do Meio Ambiente, refém de um modelo santuarista e de grandes Ong’s internacionais. Essa política prejudica a manutenção da cultura tradicional de manejo da floresta e a subsistência, e favorece empresários que, devido ao alto grau de burocratização, conseguem legalmente devastar, enquanto os habitantes das florestas cometem crimes ambientais.

    Terceiro, os candidatos que compareceram ao debate estão claramente vinculados com o agronegócio e pouco preocupados com a Reforma Agrária e Conflitos Fundiários que se espalham pelo Brasil, tanto isso é verdade, que o assunto foi tratado de forma superficial. Até o momento, segundo dados da CPT, 23 lideranças camponesas foram assassinadas somente neste ano de 2014. Como também não adentraram na temática do genocídio dos povos indígenas em situação alarmante e de repercussão internacional.

    Por fim, os pontos elencados, são os legados do companheiro Chico Mendes: Reforma Agrária que garanta a cultura e produção dos Trabalhadores Tradicionais e a União dos Povos da Floresta.”

    Xapuri, 27 de agosto de 2014

    José Alves – Presidente

    Waldemir Soares – Assessor Jurídico

     

  9. A insustentável leviandade

    A insustentável leviandade do Zago

     

     Publicado em 26/08/2014 | 1 comentário

     

    …e de alguns outros.

    14.08.25_Osvaldo Coggiola_Zago

    [Marco Antonio Zago, atual reitor da Universidade de São Paulo, USP]

    Por Osvaldo Coggiola.

    A greve da USP (e da Unesp e Unicamp, excetuados os docentes da segunda), iniciada a 27 de maio, entrou no seu quarto mês, acrescida agora da decisão grevista dos estudantes de Medicina (FMUSP), que assim o decidiram em assembleia de 600 presentes, de todos os anos do curso. A greve, método por de luta excelência da classe trabalhadora, se sobrepôs à intensa propaganda contrária veiculada institucionalmente (pela Reitoria), ao corte de ponto dos funcionários técnico-administrativos, às ameaças de diretorias e chefias, à repressão da Polícia Militar e à hostilidade declarada da grande imprensa (que usou para o movimento em curso os qualificativos de “grevismo”, “baderna”, “grevistas folclóricos” e outros semelhantes), hostilidade que se estendeu ao próprio caráter público da instituição (a USP estaria “contra o muro” – o paredão? – segundo ponderado editorial da Folha de S. Paulo), a mesma imprensa que cobra das universidades públicas padrões de Primeiro Mundo, enquanto se satisfaz com padrões de Quarto Mundo para si.

    No caso da USP, a greve agiu também como catalisador de uma crise bem menos financeira do que institucional. O zero (0%) “oferecido” como reajuste salarial na data base (1º de maio) foi justificado como produto de um comprometimento excessivo (105%) dos repasses mensais do Estado pela folha de pagamentos, situação obviamente conjuntural e para nada nova (esse comprometimento já superou os 100% por diversas vezes no passado, e atingiu 167,4%, por exemplo, em dezembro de 1993; Unesp e Unicamp coexistiram por anos a fio com situação semelhante sem que fosse declarada situação de emergência). Desta vez, porém, essa situação foi declarada anunciadora de uma falência iminente da USP, e também reveladora de uma “crise estrutural”, caracterizada por excessivo número de funcionários (e até de docentes), com salários elevados, e custeio de estruturas que não deveriam fazer parte da USP, como, por exemplo… os hospitais-escola; tudo no quadro de uma previsível queda da arrecadação do ICMS (devida ao “desaquecimento” econômico), um percentual do qual (9,57%) é destinado ao financiamento das universidades públicas paulistas.

    Nesse quadro apocalíptico, e para combater essa “crise estrutural”, o Reitor Marco Antônio Zago (transformado em paladino do bom senso pela grande mídia) propôs uma política igualmente “estrutural” e apocalíptica: demissão “voluntária” (PDV) de aproximadamente (ou melhor, “chutadamente”) 3.000 funcionários, não realização de novas contratações (de funcionários e docentes), nem nos casos de aposentadoria ou morte, revisão do regime de trabalho dos funcionários remanescentes, revisão também do regime de trabalho (portanto, do salário) dos docentes (tendo sido formado um GT com esse objetivo), desligamento da USP do HU-Butantã e do “Centrinho” de Reabilitações Crâneo-faciais de Bauru (centro de referência internacional nessa área), venda do patrimônio imobiliário da USP; todas elas medidas aplaudidas de pé pela grande imprensa, que começou a propor outras por conta própria, destacando-se nelas a cobrança de mensalidades dos alunos (chamados carinhosamente de “elite estudantil bancada pelo ICMS”, na Folha de S. Paulo de 4/6), excetuando-se aqueles que conseguissem provar sua falta de meios para tanto, ou seja, os que conseguissem provar sua “inocência” financeira, depois de declarados culpados do delito de ter passado pelo vestibular mais difícil do país (e da América Latina, e também entre os mais difíceis do mundo, havida conta o enorme número de países em que inexiste tal instituição, em primeiro lugar a vizinha e sempre vilipendiada Argentina).

    Levando-se em conta que o pano de fundo da coisa toda é a queda “previsível” do ICMS e da quota-parte deste devida às universidades, queda não só discutível como devida, caso aconteça, sobretudo, à sonegação impositiva crescente e deslavada, e ao desconto indevido e ilegal de parcelas dessa base de cálculo por parte do governo estadual, que sonegou das universidades públicas R$ 2 bilhões entre 2008 e 2013, sendo R$ 540 milhões apenas no último ano (tal como denunciado minuciosamente pela Adusp, sem que a reitoria, a atual ou as precedentes, se pronunciasse a respeito, como seria seu dever), enfim, levando-se isso tudo em conta, a “corajosa” política do Magnífico Reitor se reduz, na melhor das hipóteses, a uma adaptação para nada corajosa, pelo contrário, muito covarde e subserviente, a uma situação de fato. Isto bastaria para desqualificá-la politicamente. Acontece que no pacote reitoral, e nos seus considerandos prévios, há otras cositas más, que revelam a verdadeira crise, política, institucional, moral e até intelectual, da USP. Vejamos.

    *   *   *

    Para justificar a existência uma “crise estrutural” a partir do mágico 105% mensal supracitado, a Reitoria e seus porta-vozes midiáticos lançaram mão de uma série de manipulações estatísticas torpes e amadoras, comparando literalmente alhos com bugalhos, a respeito do inchaço do quadro funcional (e docente) da USP, quando comparado com os de universidades bem situadas nos rankings internacionais, todas do “Primeiro Mundo”, especialmente dos EUA e da Grã-Bretanha. Obviando o óbvio: comparar uma universidade pública com universidades que são (as principais) privadas, comparar universidades com orçamentos abismalmente diferentes (em favor das universidades euro-norte-americanas), comparar uma universidade gratuita (a USP) com universidades (por exemplo, as inglesas) que cobram anuidades proibitivas para a maioria da população do país, comparar efetivos de alunos abismalmente diferentes (em favor da USP), comparar a USP com universidades de países cujas rendas per capita sextuplicam (ou mais) a brasileira, para não falar na desigual distribuição (“concentração”) da renda total existente entre uns e outros, e isto sem que os EUA ou o Reino Unido sejam os paraísos da igualdade social (muito pelo contrário, em especial nas últimas décadas neoliberais), mas que, mesmo se esforçando muito, não conseguem igualar nesse quesito à sétima (ex sexta) economia do mundo, a nossa, que ocupa o 79º lugar no IDH (entre 187 países), mesmo depois de tirar 23 milhões de pessoas da pobreza absoluta nos últimos anos; e com a segunda pior concentração de renda do mundo dentre os países medidos pela OCDE (0,30 de índice Gini em 2010, enquanto o índice do México, o país mais socialmente desigual dentre os medidos, era de 0,34).

    A Folha de S.Paulo, que se transformou numa espécie de torcida-vanguarda organizada do Reitor, apontou uma proporção de apenas cinco alunos por funcionário na USP (ela é de 5,5, para sermos mais precisos) supostamente escandalosa quando comparada a razão de 15:1 “que se pratica nas conceituadas universidades britânicas”, uma relação tirada vá deus (ou Deus) saber de onde. Essa proporção, na verdade, varia muito entre as universidades melhor “ranqueadas” do mundo, atendendo às suas especificidades e diferenças, às vezes enormes, que tornam bastante inútil tirar uma média mundial. Quanto ao fato dessa proporção in se provocar ou não uma “crise estrutural”, não precisava ir além-mar para buscar uma comparação chutada: na Unicamp, em 2012, o número de alunos era de 32,5 mil, e o dos funcionários técnico-administrativos de quase oito mil, do que resulta uma proporção de 4:1 (“pior” do que a da USP, se usados os simplórios critérios folhísticos) sem que, devido a isso, ninguém declarasse a Unicamp em situação de “crise financeira estrutural” ou de falência em potencial (ao contrário, nesta data-base seu Reitor decidiu conceder o índice de reajuste Fipe – 5,2 – sob a forma de abono não-salarial, aos seus docentes e funcionários, devido a dispor [tanto quanto a USP] de meios financeiros para tanto). 

    O Prof. Sean Purdy, da USP (canadense e anglófono, o que talvez o torne mais palatável, como veremos, para o staff reitoral) viu-se obrigado a precisar, na Carta Maior, o que segue:

    “Em todas as universidades britânicas, em 2013, houve 2.340.275 estudantes de graduação e pós-graduação, 196.845 funcionários técnico-administrativos e 185.535 professores. Isto é, 11,89 alunos por funcionário técnico-administrativo e 12,61 alunos por professor. De onde vem o número de Zago e da Folha de 15 alunos para 1 funcionário nas universidades britânicas, ninguém sabe, pois não citaram sua fonte. O mais confiável órgão de estáticas do Reino Unido diz que esse número é errado.

    Se olharmos nas quatro melhores universidades britânicas, segundo os rankings do Times Higher Education World Rankings para 2013, os números de Zago e da Folha pioram ainda mais.

    Na ordem do ranking são: University of Oxford, University of Cambridge, Imperial College e University College de Londres. Vamos supor que essas quatro universidades sejam as principais e conceituadas universidades no país citado por Zago e pela Folha.

    Em 2012/2013, na Oxford, houve 4,92 alunos por funcionário e 4,3 alunos por professor. Na Cambridge, 4,4 alunos por funcionário e 3,9 alunos por professor. No Imperial College, 3,4 alunos por funcionário e 3,8 alunos por professor. Finalmente, no University College de Londres havia 3,8 alunos por funcionário e 5,5 alunos por professor. Portanto, todas essas universidades tinham mais funcionários por aluno do que a USP, e bem menos alunos por professor.

    Não por acaso as melhores universidades do mundo têm mais funcionários e professores por aluno. No caso da USP, com sua importância central no estado e no Brasil, temos que também levar em conta os hospitais universitários, museus e outros institutos que contribuem com a missão geral da universidade pública”.

    A proporção alunos/docente na USP é atualmente de 15,5:1, variando enormemente (assim como a relação alunos/funcionário) de faculdade para faculdade, de departamento para departamento, de curso para curso, até de disciplina para disciplina, como não poderia ser de outro modo numa universidade do porte, abrangência e variedade da USP. Se a proporção alunos/professor de Cambridge tivesse que ser seguida na USP, o número de docentes desta última deveria ser de 23.300 (é apenas um quarto disso); e, em qualquer um dos casos citados, o número de funcionários técnico-administrativos da USP também deveria crescer. Comparar orçamentos é simplesmente inútil: o de Harvard (universidade também citada com frequência pela “elite” oligárquica uspiana) é de US$ 30 bilhões (R$ 75 bilhões) para 21 mil alunos; o da USP de R$ 4,3 bilhões (US$ 1,7 bilhão) para 93 mil alunos. O custo total anual de um estudante de graduação em Harvard no ano letivo de 2008-2009 foi calculado em 800 mil euros (R$ 2,8 milhões), sendo 400 mil euros (R$ 1,4 milhão) somente de matrícula, 200 mil euros (R$ 700 mil) de estadia e alimentação, e 200 mil euros (R$ idem anterior) de “outras taxas”. Quanto às reservas financeiras e patrimoniais de uma e de outra, bem, melhor nem começar…

    Como comentou Vladimir Safatle, “a relação aluno/professor em Harvard é de 7 por 1. A Universidade Católica do Chile teria ultrapassado a USP em certos rankings internacionais exatamente por ela ter uma relação alunos/professor menor. Com o congelamento da contratação de novos professores [na USP], a situação será ainda pior. O que se tira disto é que os professores e funcionários da universidade precisam responder por mais atividades com um salário que, comparado ao recebido em 1989 por um docente, teve o seu poder de compra reduzido em 9,5%. Estes números demonstram que a USP tornou-se uma universidade de massa em plena expansão sem ter recebido do Estado as condições para tanto. Ela é apenas um capítulo a mais da demissão do Estado em relação à educação pública”.

    Os docentes do Instituto de Biociências da USP ensinaram aos bisonhos matemáticos na inepta Reitoria uspiana que “o número total de estudantes matriculados na Universidade de São Paulo (USP) cresceu 95,8% em 25 anos, de 44.811 em 1989 (quando por lei a universidade passou a ter autonomia financeira) para 87.751 em agosto de 2014… No mesmo período, o número de professores na universidade foi de 5.626 para 6.008, um aumento de 6,8%. Já a quantidade de funcionários, a única que chegou a cair 13,5% entre 1989 e 2009, voltou a subir nos últimos cinco anos e igualou o patamar de 25 anos atrás”. Contabilizados todos os alunos, o número destes na USP é atualmente de quase 93 mil (cinco mil a mais do que indicado pelos docentes do IB-USP), o que torna os cálculos dos docentes de biociências bastante modestos. Quanto aos funcionários, eles são em número de 17.451, menos que os 17.735 de 1989, quando a USP era, em número de alunos (que mais do que dobrou no período considerado), de departamentos, laboratórios, unidades, faculdades, campi, cursos, disciplinas, responsabilidades em geral, bem menor.

    Ai está a explicação (refutação) da cifra citada pela Folha no editorial (19/8) em que o matutino paulistano pôs “a USP contra o muro”, devido a que “o quadro de funcionários não docentes cresceu 13% de 2010 a 2013, e o número de alunos aumentou 5%. Há algo de errado nessas contas”. Certamente, há algo de errado nas contas da Folha e, sobretudo, na própria Folha. O levantamento dos docentes do IB-USP (e outros semelhantes) demonstrou que o número de funcionários técnico-administrativos (e não de “não docentes”, como a Folha os chama, o que equivaleria a chamar à Folha de “não revista semanal”) cresceu, na USP, bem menos (em termos absolutos e proporcionais) do que o número de alunos, para não falar da expansão geográfico-institucional da USP (Lorena, EACH da Zona Leste), ou seja, novas faculdades e departamentos; do crescimento das atividades de pesquisa (que melhoraram espantosamente os índices internacionais da USP) e, last but not least, da espantosa expansão da extensão universitária, incluída a “Universidade para a Terceira Idade” e outros (muitos) serviços prestados à comunidade. Na USP houve um crescimento de 88% nos cursos oferecidos, pulando estes de 132 em 1995 para 249 em 2012, graças, principalmente, a construção de novos campi. O número de professores não cresceu no mesmo ritmo: somente 4% no mesmo período (uma defasagem de… 92%), aumentando a relação aluno/professor de 8: 1 para 15,5:1.

    Saiamos da “guerra dos números” e vejamos a justificativa política. Segundo o Magnífico Zago, a crise financeira foi devida ao inchaço da folha funcional, isto devido à implementação da nova carreira dos funcionários, e também aos gastos faraônicos (incluídas a abertura de escritórios da USP em Londres, Boston e até Cingapura) de seu megalomaníaco antecessor, João Pequenino Rodas, vários de cujos itens ainda não completados e pagos foram suspensos pela atual administração. Tal situação teria sido desconhecida dele próprio (Zago) e de seu staff atual até sua recente posse, em que pese sua participação (de todos, ou quase) no mais alto nível do staff de Rodas, que teria conseguido ocultar seus gastos e a situação financeira da USP até de seus colaboradores mais íntimos: “O Conselho Universitário não tinha consciência dessa situação financeira” (entrevista de Zago à Veja); “A questão do orçamento foi uma surpresa não agradável para toda a Universidade”, declarou Zago ao Jornal do Campus.

    Surpresa? A crise financeira da USP, a invasão inconsulta e deletéria por parte de Rodas das suas reservas financeiras, já tinha sido denunciada detalhadamente (e amplamente divulgada) no Informativo Adusp de junho de 2013 (há bem mais de um ano, portanto). Que um destacado Pró-Reitor da gestão Rodas declare agora tê-la ignorado naquele momento, e ainda depois, é bastante mais do que inacreditável e, se tomada ao pé da letra, teria desqualificado o ignorante (ex dirigente principal do CNPq, nada menos) para exercer qualquer função de responsabilidade administrativa.

    Segundo declarou a Profa. Ana Lúcia Pastore, superintendente de segurança da USP da gestão Zago, em reunião da Congregação da FFLCH, este teria qualificado em reuniões recentes da Reitoria a gestão de Rodas como “inescrupulosa” (o que equivale a criminosa). Pois bem, até agora nenhuma comissão de sindicância foi montada ou mesmo proposta a respeito (apenas a promessa de uma auditoria), isto numa universidade onde esse tipo de comissões, suspensões e expulsões de alunos, demissões de funcionários, tem sido moeda corrente, em que pese estes terem sido (supostamente) responsáveis por danos ao patrimônio público de magnitude infinitesimal quando comparados com prejuízos provocados pelos desmandos de Rodas, premiado este com uma nova função de conselheiro na Fapesp.

    Não só isso. Pouco antes do início da greve, em 21 de maio, o próprio Rodas publicou um longo artigo na página 3 da Folha de S. Paulo (“O orçamento da USP”) em que atribuiu a expansão de gastos de sua gestão à “expansão do ensino superior” (da USP), quando “decidiu-se – com a aprovação dos órgãos colegiados em que tinham assento os atuais dirigentes da USP – que parcela dessa reserva fosse aplicada em investimentos diversos, concentrados em instalações e equipamentos, moradia, segurança, transporte… Com a aprovação unânime do Conselho Universitário, os recursos viabilizaram a implantação de um plano de carreira para funcionários, superando antiga distorção, pois é notório que uma universidade dessa importância não pode prescindir de funcionários qualificados e motivados” (grifos nossos). Isto depois de desculpar pelo fato “a remuneração atual dos professores das universidades estaduais paulistas (que) é inferior à das suas congêneres federais” (correto). Este artigo não foi objeto de resposta por parte de nenhum membro da atual administração, nem sequer do Reitor Zago, apesar de serem explicitamente mencionados (para falar a verdade, acusados) como corresponsáveis (e, segundo a versão atual, cúmplices) dos “desmandos” que deram base à crise e a atual política de desmonte da USP.

    Médicos, enfermeiras e funcionários do Hospital Universitário se encontram em greve, em defesa de uma unidade que presta quase 300 mil atendimentos de emergência anuais (quase mil por dia), principalmente para a população carente, e realiza quase um milhão de exames laboratoriais por ano, só por nomear algumas estatísticas (estas bem reais) destacadas. Os diretores do setor médico e os chefes técnicos do hospital já se manifestaram contrários à passagem do HU para o governo do Estado, que significaria em breve a privatização de sua gestão (e, obviamente, de seus lucros potenciais) sob a forma de “organização social” (OS, o chamado “público não estatal”) ou fundação, seguindo o modelo federal do Ebserh (ou algo ainda pior). Os motivos expostos são a destruição do ensino prático e da pesquisa in situ que tal transferência provocaria. A justificativa da medida de desligamento do HU apresentada pela Reitoria, em reunião com os diretores de unidade da universidade, é que uma enfermeira do HU começa sua carreira com vencimentos de R$ 13 mil (algo inacreditável, pois esse é o salário bruto de um professor titular da USP, cargo conquistado depois de 25-30 anos de carreira) enquanto uma enfermeira do setor público de saúde percebe inicialmente só R$ 3.500.

    Além disso, a USP se comprometeria a manter o pagamento dos atuais funcionários (que não se “demitirem voluntariamente”) até sua aposentadoria (e morte) – sem importar-se muito em criar um monstrengo em que pessoas que executariam o mesmo trabalho receberiam R$ 13 mil (segundo a Reitoria) ou R$ 3.500, dependendo da fonte pagadora – tudo para gerar uma economia de… R$ 40 milhões anuais (custeio atual do HU), menos de 1% do orçamento (oficial) da USP, sendo que o HU não consome, na sua estrutura atual e incluídos os salários, mais de 6% desse orçamento. Rifa-se, portanto, hospital-escola (em que se realiza atualmente 40% do estágio hospitalar dos estudantes), pesquisa, atendimento ao público carente, patrimônio público, a troco de um troco. Viva a greve do HU!

    Já nos ocupamos das estatísticas e da política da atual (transitória) administração uspiana, vamos agora à sua ideologia (pois de algum modo é preciso chamá-la). Em famigerada entrevista à Veja (24/6) o Magnífico Zago desestimou a recente perda de posições da USP em alguns rankings internacionais, propondo no mesmo veículo, porém, uma política contrária à “estabilidade precoce” de docentes e funcionários, uma política que incluísse “a prerrogativa de contratar ou demitir de acordo com o desempenho”. Para atingir esse objetivo, claro, seria preciso “abandonar a dinâmica de sindicalismo na vida universitária”. Depois de encabeçar, durante quatro anos!, uma administração que se autoglorificou permanentemente da excelência da pesquisa uspiana e de sua progressão nos índices internacionais, detectou (outra “surpresa”, esta inadmissível para quem foi Pró-Reitor de Pesquisa) que os outrora (apenas ontem) louvados e performantes professores-pesquisadores da USP se encontram “em uma zona de conforto que os leva a projetos de sucesso garantido de antemão”, isto porque, depois de um tempo, “eles se casam, têm filhos, ficam mais prudentes, e o sistema aceita”. Poderia se deduzir que Zago possui uma concepção filosófica que considera que a ciência é incompatível, não só com sindicatos, mas inclusive com o preceito bíblico – “crescei e multiplicai-vos”. Mas duvidamos que tenha sequer pensado no assunto.

    Depois de citar os recorrentes “exemplos” de Harvard e do MIT (ignorando a força dos sindicatos universitários nos EUA, e as greves recentes nessas instituições), nosso Zago se desdobrou, para a Veja, em antropólogo, e detectou uma desvantagem ou falha (também “estrutural”) dos estudantes brasileiros (uspianos incluídos): eles não falam inglês desde a infância, mas português. Como não é possível mudar o país outrora colonizador da Terra da Santa Cruz, nem o Tratado de Tordesilhas (não sabemos se foram financiadas pesquisas a respeito) a solução é óbvia: “A prioridade número 1 da USP hoje é garantir o conhecimento da língua inglesa para seus alunos” (grifo nosso), mais importante, parece, que garantir seu ingresso mais democrático, ou sua permanência e bom desempenho nos estudos. Digamos que propaganda ou incentivos nesse sentido (anglófilo) não é o que falta, basta ligar o rádio ou a TV a qualquer hora do dia. Para quem cacareja “globalização” cada vez que abre a boca, porém, trata-se de uma conclusão bem primária e provinciana.

    Pois exatamente nos “centros globais” invejados por Zago and Co. existe hoje uma batalha cerrada (que Zago ignore isto seria detalhe menor, significaria apenas que ele não lê os jornais) contra o monoglotismo, especialmente anglófono, comprovadamente considerado como um fator empobrecedor da comunicação cultural e científica. Zago pretende, ao que parece, tornar inúteis e eliminar os tradutores dos congressos internacionais e das conferências de professores visitantes, eles seriam outra profissão (e área de pesquisa) inútil, instalada em outra “zona de conforto”. Há, porém, um problema. Pois uma língua não é só um meio de comunicação, mas a base de um sistema de pensamento. Para um dos primeiros grandes filósofos da língua, Wilhelm von Humboldt: “Sem unidade de forma não seria concebível nenhuma língua; falando, os homens recolhem necessariamente seu falar em uma unidade”. A forma da língua é o elemento diferenciador das comunidades nacionais, culturais e sociais. A forma perpassa toda a língua, e “a língua não é o instrumento para designar objetos já pensados, mas o órgão formativo do pensamento”. Sobre uma língua ergue-se uma personalidade nacional ou cultural, diversa da religiosa, que uma nação pode eventualmente compartilhar com outra. Certamente, pedir que Zago pare para pensar isto, seria pedir demais.

    Pois, afinal, quem foi esse pobre Humboldt, um velhote ultrapassado do século XIX, que se limitou, institucionalmente, a criar a universidade humboldtiana (1810), e nem devia falar inglês; nosso Zago “global”, um homem do século XXI, sucateia e desmonta universidades públicas e hospitais-escola, algo muito mais “moderno”. Metodologicamente, porém, ele se situa atrás do filósofo (embora arquiteto de formação) cearense, Falcão, que deu conta praticamente do problema humboldtiano na sua maravilhosa interpretação (em inglês) de Eu não sou cachorro não, de Waldick Soriano, demonstrando-o, como um bom matemático, pela via do absurdo. Faltou à nossa classe artística paulista, menos “inovadora” (no bom sentido zaguiano) do que a nordestina, destacar um bom intérprete para uma versão de Trem das Onze na língua de Shakespeare, mas, quem sabe, numa ECA “renovada” e anglicizada…

    Como toda grande ideologia, a do Zago tem suas fontes filosóficas; não, claro, as dos filósofos tradicionais costumeiramente usados pelos pesquisadores instalados na “zona de conforto”. Simon Schwartzman, que é despejado de modo inconsulto nos e-mails dos docentes da USP. E, sobretudo, o grande Hélio Schwartsman (parentes? em certo sentido, político, cabe pensar que sim) que veicula suas descobertas filosóficas na Folha de S. Paulo. A 4 de junho, sob o (originalíssimo) título de “Não há almoço grátis”, este sábio nos informa que “a constatação básica é a de que a palavra de ordem (?) de ‘universidade pública, gratuita e de qualidade’ é uma ilusão cognitiva (?). Uma universidade pode perfeitamente ser pública e de qualidade… mas alguém precisa pagar por isso”. Que descoberta notável, ninguém parou nunca para pensar nisso. Não vamos dizer quem é que deve pagar, segundo o filósofo folhiano, para não fundir os miolos do leitor.

    Num outro artigo (20/6), curiosamente intitulado “Ideias para a USP” (o curioso é a menção às ideias, não à USP), depois de discorrer sobre “as universidades públicas paulistas (que) conservam uma estrutura de comando muito arcaica, excessivamente voltada para dentro de si mesma”, sua descoberta revolucionária vem sob a prudente forma de pergunta: “Por que o reitor sempre vem dos quadros acadêmicos da própria universidade? Se sua principal tarefa é administrar a instituição, não faria mais sentido buscar um bom executivo no mercado, como faz grande parte das universidades americanas?”. Realmente, nossos filósofos e estrategistas universitários andam à court d’examples (sempre os EUA). Ignoram, claro, que as universidades que “buscam um bom executivo no mercado”, mediante licitação pública, nos EUA, são as privadas, não as públicas.

    Os candidatos que se apresentam, por outro lado (até ai chegou a luta nos EUA, por enquanto) são sabatinados por representantes dos diversos segmentos universitários (em entrevistas onde aqueles costumam suar gelado), não apenas (nem principalmente) sobre suas competências administrativas, mas sobre todos os temas relevantes para uma instituição que cumpre uma função social, mesmo quando sendo instituição privada (ou, em geral, público/privada). Quem subscreve presenciou, quando professor visitante na Universidade de Stanford, várias sabatinas de “reitoráveis”, em que os candidatos eram interrogados, inclusive, sobre sua opinião acerca da anexação da mexicana Califórnia (onde Stanford se situa) pelos EUA, em meados do século XIX. Não “gratuitamente”, mas para conhecer a base sobre a qual se assentaria uma política relativa aos estudantes (ou candidatos a estudantes) chicanos ou mexicanos em Stanford, e sobre as minorias oprimidas e segregadas em geral. O paraíso neoliberal-competitivo dos Zago-Schwartsman só existe na sua pobre imaginação ignorante e desprovida de ideias.

    A lógica schwartsmaniana, se válida para uma parte da cosa (res) pública, poderia valer para todas, ou seja, para a república toda; ergo, porque não usar o mesmo procedimento para escolher o “reitor” do Brasil, que também conserva “uma estrutura de comando muito arcaica, excessivamente voltada para dentro de si mesmo”, com dispendiosas eleições onde os candidatos, todos anacrônica e antiglobalmente membros da “comunidade interna”, discorrem e debatem (em português, ainda por cima!) sobre temas internos, provincianos e irrelevantes, como saúde, educação, transporte, salário, emprego, pobreza, gastos sociais e outros temas secundários, em vez de fazê-lo sobre infraestrutura para exportações, aeroportos, taxas de juro internacionais, enfim, o que realmente conta, e em inglês, para serem entendidos pelos que realmente contam, e mediante licitação internacional com apresentação prévia de currículum (em inglês, obviamente). A eleição seria realizada apenas com a participação dos que entendam, linguística e tecnicamente, as opiniões democraticamente expostas pelos candidatos.

    O que há de realmente arcaico, na USP, é sua estrutura de poder e de gestão. Ela se rege por um estatuto disciplinar ditado e baixado em 1971, em plena ditadura militar, redigido, além disso, pelo redator principal do AI-5. A composição dos órgãos colegiados não respeita nem sequer a LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O reitor é eleito pelo governador, sobre a base de uma lista tríplice para cuja nomeação vota um colegiado equivalente a pouco mais de 0,1% dos membros de sua comunidade, de aproximadamente 115-116 mil pessoas, todas adultas e habilitadas para o exercício de seus direitos políticos. O que urge, na USP, é democracia e autonomia.

    Contra isso se erguem alguns argumentos.

    A) A USP (a universidade, em geral) não é um demos, não estabelece nem cobra impostos, não é material nem financeiramente autossuficiente, suas autoridades devem ser designadas (ou validadas), por isso, pelos representantes do poder público. Se essa lógica fosse válida e legítima, ela deveria valer para todas as áreas da atuação pública, nas quais não deveria existir nem o menor resquício de autonomia e democracia. E também para a estrutura de gestão (e até de ensino e pesquisa) interna, isso é, para regular a nomeação e relações entre reitor e diretores de unidade, chefes de departamento e responsáveis por comissões, professores das disciplinas e chefes de laboratório, e, finalmente alunos, todos financiados pelo poder público e ligados por uma estrutura vertical piramidal, na qual só seriam admitidos os dissensos previamente autorizados e delimitados pelos elos superiores da corrente, ou melhor, pelos tijolos superiores da pirâmide. E teríamos uma bela (e perfeitamente inútil) universidade de papagaios.

    E: B) Democracia é incompatível com meritocracia, ela diluiria as prerrogativas oriundas do mérito comprovado (em concursos e exames públicos), alma da vida universitária. Esta idiotice é derivada da lamentável confusão entre poder (institucional) e autoridade (moral e intelectual). O primeiro vale, principalmente, para a gestão (exercício do poder); a segunda, sobretudo, para a progressão acadêmica e funcional (exercício do julgamento intelectual). O equacionamento entre as diversas componentes da vida universitária (que é parte da vida pública) não está dado por uma fórmula pré-fixada ou válida de uma vez para sempre. Ele atende a circunstâncias históricas, conjunturais e regionais ou nacionais. O peso institucional específico de cada segmento universitário (professores, alunos, funcionários, estudantes, pesquisadores pós-graduandos, com suas subdivisões internas), em cada área de gestão, e na gestão em geral, deve ser uma construção coletiva e democrática realizada por uma comunidade que é, supostamente, a mais qualificada do país para realizar tal tarefa.

    Na USP urge numa estatuinte. Não se trata (só) de “diretas para reitor”, mas de toda a estrutura de poder e gestão. Gritos alarmados surgem contra a “politização da universidade” em tal caso, até contra o “perigo de populismo”, como se as decisões autoritárias de Rodas-Zago não fossem políticas. Afirmar que o corpo universitário, considerado na sua totalidade, carece das qualificações necessárias para tanto, significa repetir anacronicamente a filosofia em outras eras exposta pelo filósofo Pelé (“o povo brasileiro não sabe votar”) que, como disse o deputado Romário, “é um poeta quando cala a boca”. Deixar as coisas como estão significa condenar à universidade a políticas autoritárias, não autônomas, anacrônicas, reacionárias e, como comprovado por gestão recente, beirando a insanidade mental. O custo da USP, em seus oitenta anos de história, foi grande demais para deixá-la nas mãos dos representantes de sua desqualificação e destruição.

    Sem democracia e autonomia não há universidade, e isto não é uma premissa metafísica, mas a comprovação emergente de mil anos de história. As “universidades britânicas” tão badaladas pelo tandem Zago-Folha, assim o comprovam. Elas foram protagonistas de uma revolução intelectual e científica na segunda metade do século XVIII, da qual emergiram a modernidade, as ciências humanas e as atuais ciências físico-naturais, e sua atual excelência universitária. Em Glasgow, essa revolução foi precedida de uma luta relativa à “eleição do reitor, o chefe titular de uma universidade tanto na Escócia quanto em diversos países europeus. O reitor Stirling [o Zago da época] excluiu os estudantes do corpo eleitor, o que se tornou um foco de descontentamento, embora em Glasgow os alunos fossem, na maioria, meninos no início da adolescência… Eles empregaram contra este [Stirling] um discurso que o pintava como um tirano e retratava sua própria causa como a defesa dos direitos”. Entre eles se encontrava um primeiranista muito lutador chamado Adam Smith: “A história estudantil em Glasgow deve ter ajudado a formar seu ponto de vista bem como sua instrução e suas leituras… Esse exercício do direito de eleger o reitor (foi) uma parte valiosa de sua experiência única de ser estudante em Glasgow. Adam Smith viu que sua universidade não era uma corporação fechada de mestres” (Ian Simpson Ross, Adam Smith: uma Biografia, Ed. Record, PP. 79-83). Por isso, acrescentamos, ele criou a moderna economia política (e seria muito bom que os docentes da FEA, que não estão em greve, tomassem nota, afinal sem Smith eles estariam desempregados) e não passou para a história como um interessante comentarista escocês da Bíblia, em uma obscura nota de rodapé. E David Hume, seu mestre, também conseguiu votar para reitor…

    Em nossas bandas, na nossa América Latina hispano-luso-guaraní-quechua-aymara (e tantas outras) falante, as universidades são (para o melhor e para o pior, mas são) graças ao movimento da Reforma, iniciado em Córdoba em 1918, contra o obscurantismo clerical-antidemocrático e em defesa da democracia (governo tripartite: “un solo grito, gobierno tripartito” foi sua palavra de ordem) e da autonomia universitárias, por uma universidade pública voltada para o povo e os trabalhadores, movimento que se estendeu para todo o continente (bem menos no Brasil) fazendo de nós o que hoje somos e, sobretudo, não sendo obrigados a estudar biologia em manuais em que Darwin seria apresentado como um perigoso louco que achava que seu avô era um macaco.

    É isso o que está em jogo. É uma luta política e social geral, não um conflito corporativo. A dotação orçamentária das universidades públicas paulistas deve ser constitucionalmente incrementada, como reivindica e luta o Fórum das Seis (mas não o Reitor Zago e seus colegas do CRUESP, que deveriam fazê-lo) em percentuais acordes com a expansão que o próprio poder público lhe exigiu e impôs. Por isso, a greve dos trabalhadores (docentes e técnico-administrativos) e dos estudantes da USP é uma luta de todos os trabalhadores em defesa do patrimônio público, de uma universidade pública, gratuita e de qualidade voltada para os interesses e necessidades das maiorias pobres e trabalhadoras, baseada no ensino, pesquisa e extensão indissociáveis e, sim, excelentes, porque voltados para a formação integral, científica e humana, dos cidadãos-estudantes e da comunidade em geral, e não para o adestramento canino de imbecis fluentes em língua inglesa.

     

    (Osvaldo Coggiola é professor titular de história contemporânea da Universidade de São Paulo)

     

    http://blogdaboitempo.com.br/2014/08/26/a-insustentavel-leviandade-do-zago/

  10. Nassif, você poderia nos

    Nassif, você poderia nos dizer como será o BC independente? O que mudaria, e por que esse interesse de Marina em mudar as coisas?

  11. Fernando Veríssimo: O ladrão de galinhas

    Nestes dias em que que ficamos retesados, com a adrenalina lá no alto e com debates políticos que não chagaram a lugar nenhum, um texto de Luis Fernando Veríssimo para amenizar isso tudo!

    E POR FALAR EM LADRÃO DE GALINHAS…

    “Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e
    levaram para a delegacia.
    – Que vida mansa, heim, vagabundo ? Roubando galinha para ter o que
    comer sem precisar trabalhar. Vai para cadeia!
    – Não era para mim não. Era para vender.
    – Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio
    estabelecido. Sem-vergonha!
    – Mas eu vendia mais caro.
    – Mais caro?
    – Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as
    minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as
    minhas botavam ovos marrons.
    – Mas eram as mesmas galinhas, safado.
    – Os ovos das minhas eu pintava.
    – Que grande pilantra…
    Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.
    – Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega…
    – Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais
    boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços
    dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos
    de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio.
    Ou, no caso, um ovigopólio.
    – E o que você faz com o lucro do seu negócio?
    – Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei
    alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no
    suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e
    superfaturo os preços.
    O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a
    cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois
    perguntou:
    – Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está
    milionário?
    – Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que
    tenho depositado ilegalmente no exterior.
    – E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
    – Às vezes. Sabe como é.
    – Não sei não, excelência. Me explique.
    – É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa.
    Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma
    coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me
    sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso,
    finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.
    – O que e isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
    – Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
    – Sim. Mas primário, e com esses antecedentes…”

    1. Sensacional !!!!

      Brasssssssiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiillllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  12. Confusão ao vivo na radio Bandeirante,Datena agride Milton Neves

    Não foi só xingamentos! Datena deu um soco em Milton Neves

    http://esportes.r7.com/futebol/nao-foi-so-xingamentos-datena-deu-um-soco-em-milton-neves-28082014%5B…………………………………….]No último domingo (24), José Luiz Datena e Milton Neves protagonizaram uma briga ao vivo no estúdio da rádio Bandeirantes, em São Paulo. O apresentador do Terceiro Tempo contava uma história do passado do homem forte do Brasil Urgente, quando ele entrou no local aos gritos e questionou.

    — “Que merda é essa que você falou? Que merda é essa aí, cara? É o c***.

    O áudio estava aberto e a discussão pode ser ouvida por todos ouvintes. Rapidamente, a produção do programa chamou o intervalo comercial.

    Porém, parece que a confusão não parou por aí. De acordo com o colunista Leo Dias, do jornal O Dia, Datena chegou a agredir Milton Neves com um soco. O jornalista esportivo fez até exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).

  13. Nota de esclarecimento sobre

    Nota de esclarecimento sobre a declaração da candidata Marina Silva no debate da Rede Bandeirantes

     

    Leia a nota divulgada pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre)

     

    Diante da declaração da candidata à Presidência da República para as próximas eleições, Marina Silva, onde esta coloca o companheiro Chico Mendes junto a representantes da elite nacional, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), legítimo representante do legado classista do companheiro Chico, vem a público manifestar-se nos seguintes termos:

    Primeiramente, o companheiro Chico foi um sindicalista e não ambientalista, isso o coloca num ponto específico da luta de classes que compreendia a união dos Povos Tradicionais (Extrativistas, Indígenas, Ribeirinhos) contra a expansão pecuária e madeireira e a conseqüente devastação da Floresta. Essa visão distorcida do Chico Mendes Ambientalista foi levada para o Brasil e a outros países como forma de desqualificar e descaracterizar a classe trabalhadora do campo e fortalecer a temática capitalista ambiental que surgia.

    Em segundo, os trabalhadores rurais da base territorial do Sindicato de Xapuri (Acre), não concordam com a atual política ambiental em curso no Brasil idealizada pela candidata Marina Silva enquanto Ministra do Meio Ambiente, refém de um modelo santuarista e de grandes Ong’s internacionais. Essa política prejudica a manutenção da cultura tradicional de manejo da floresta e a subsistência, e favorece empresários que, devido ao alto grau de burocratização, conseguem legalmente devastar, enquanto os habitantes das florestas cometem crimes ambientais.

    Terceiro, os candidatos que compareceram ao debate estão claramente vinculados com o agronegócio e pouco preocupados com a Reforma Agrária e Conflitos Fundiários que se espalham pelo Brasil, tanto isso é verdade, que o assunto foi tratado de forma superficial. Até o momento, segundo dados da CPT, 23 lideranças camponesas foram assassinadas somente neste ano de 2014. Como também não adentraram na temática do genocídio dos povos indígenas em situação alarmante e de repercussão internacional.

    Por fim, os pontos elencados, são os legados do companheiro Chico Mendes: Reforma Agrária que garanta a cultura e produção dos Trabalhadores Tradicionais e a União dos Povos da Floresta.

    Xapuri, 27 de agosto de 2014

    José Alves – Presidente

    Waldemir Soares – Assessor Jurídico

     

    http://www.pstu.org.br/node/20949

     

  14.  
    Celulares na mão, jovens

     

    Celulares na mão, jovens empurram Marina; a difícil tarefa diante de Dilma

    publicado em 26 de agosto de 2014 às 20:06

    Captura de Tela 2014-08-26 às 18.37.51

    pesquisa publicada no Estadão

     

    por Luiz Carlos Azenha

    Primeiro, as advertências: em 2012, por um bom tempo, Celso Russomano acreditava estar a caminho de se eleger prefeito de São Paulo.

    Recuando um pouco mais no tempo, nos anos 80, em São Paulo, eu participei pessoalmente de um dos maiores vexames já dados no Brasil por uma empresa de pesquisas. Da redação da Folha de S. Paulo, na Barão de Limeira, anunciei pessoalmente, ao vivo, na TV Manchete, o resultado da pesquisa de boca-de-urna do Datafolha que dava vitória de Fernando Henrique Cardoso sobre Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Jânio venceu com 4% de vantagem. Narrei este episódio aqui.

    O que quero dizer é que os quadros eleitorais são altamente fluidos e que as pesquisas de opinião, pelo menos as que não são feitas de má fé, também erram muito. Para ler sobre um pesquisa maldosa, de encomenda, feita para influenciar as eleições na Venezuela, clique aqui.

    Dito isso, é preciso considerar que o Brasil é um país extremamente provinciano. Todas as mais importantes emissoras de televisão do país estão sediadas no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Assim é com os grandes jornais. Com a academia, menos agora, mas USP, Unicamp e PUC do Rio continuam ocupando um espaço desigual na formulação do pensamento econômico. Os jornalistas dos aquários, porta-vozes dos patrões, formam uma imensa panela, que fica exposta quando a Veja publica uma resenha elogiosa do livro de um jornalista da Globo, que retribui convidando o jornalista da Veja para uma entrevista na TV.

    Todos pontuam desde estes supostos centros irradiadores de opinião como se não houvesse mais Brasil. Outro Brasil. Muitos Brasis.

    O ex-presidente Lula entendeu isso. Derivou da constatação a política adotada por ele de distribuir para um maior número de veículos, de todo o país, a publicidade oficial. Foi resultado disso, também, a ênfase dele e, posteriormente, de Dilma, nas entrevistas às rádios do interior.

    O erro dos estrategistas do Planalto foi não considerar que havia e continua existindo uma matriz a partir da qual as notícias se disseminam em território nacional: Organizações Globo, grupos Folha, Abril e Estadão, muitas vezes atuando de forma conjunta. Como já escrevi anteriormente — nadando contra a corrente, diga-se — as redes sociais aumentaram, não diminuiram o poder destes grupos. Eles foram capazes, por seu alcance, de mobilizar milhões de usuários das redes sociais para reproduzir seu conteúdo, de graça. O contraponto da blogosfera também se fortaleceu, mas em menor escala.

    Há mais de dez anos estas grandes corporações investem no discurso antipolítica. Este discurso as fortalece, na medida em que os barões da mídia podem extrair maiores concessões da iniciativa privada e de todos os poderes da República. Como? Por exemplo, atacando uma empresa que se negue a fazer campanhas publicitárias. Atacando um governo que contrarie interesses dos patrocinadores.Promovendo mutirões investigativos — como o que assistimos contra a Petrobras — com o objetivo de obter lucro direto ou indireto com a privatização do patrimônio público.

    “Política é corrupção, todos os políticos são corruptos, o Congresso deveria ser bombardeado” — estas ideias foram incorporadas quase que naturalmente ao discurso dos brasileiros. O objetivo original do consórcio midiático era, naturalmente, tirar do poder governos voltados para reduzir a imensa desigualdade social do Brasil — ainda que cheios de defeitos, montados sobre alianças esdrúxulas e com uma boa dose de corrupção.

    É fundamental, aqui, considerar o tratamento desigual dado aos casos de corrupção: os mensalões do DEM e do PSDB, hoje, nem parece que aconteceram, assim como o bilionário desfalque do trensalão em São Paulo, sem considerar casos mais graves e remotos, como a criminosa privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

    O fenômeno de Marina Silva é caudatário disso. Ela é a papisa da antipolítica, que inclui mas não abrange apenas o antipetismo. A essa altura, o fenômeno é semelhante à onda que levou Jânio Quadros a derrotar o favorito pelo controle da Prefeitura de São Paulo, que descrevi acima. Naquela ocasião, FHC contava com apoio majoritário e algumas vezes escandaloso da mídia. Jânio não dava entrevistas à Globo, por exemplo. Abertamente com ele, só a rádio Jovem Pan, que promovia pesquisas não científicas, com entrevistas de pessoas nas ruas. Pesquisas que, naturalmente, apontavam o petebista como provável vencedor.

    Ou seja, foi uma onda do boca-a-boca, fora dos meios de comunicação convencionais, quase um protesto contra o partido que pretendia submeter São Paulo “ao candidato da Sorbonne”, como dizia Jânio, quando ele era produto legítimo do bairro de classe média baixa da Vila Maria.

    Em 2010, eu estava em Manaus na véspera do primeiro turno das eleições presidenciais, quando ainda havia dúvidas se Dilma venceria ou não no primeiro turno. Estava em um lugar público quando testemunhei jovens engajados em levar a eleição para o segundo turno. Todos falavam em Marina. Era uma espécie de onda, de febre de última hora.

    Em minha opinião, “fenômenos” como as manifestações de 2013 e ondas eleitorais como a deste momento continuam pegando de surpresa os próprios partidos, os “especialistas” e a “opinião publicada” por conta da desconexão entre os Brasis a que me referi acima.

    A mídia que nos “forma e informa”, com seus repórteres e articulistas extremamente concentrados no eixo do Rio-São Paulo-Brasília, não conhece ou demora a reconhecer o país dos jovens brasileiros, conectados entre si por seus telefones celulares e facebooks, mas desconectados de partidos, sindicatos e outras instituições.

    Cerca de 35% do eleitorado brasileiro tem menos de 30 anos de idade. É gente que não experimentou a ditadura militar na pele, tem vaga lembrança da inflação descontrolada dos tempos de José Sarney no Planalto, não viveu o desastre resultante da aventura de Fernando Collor e seu Partido da Reconstrução Nacional (PRN).  É gente que, ainda que tenha tirado proveito dos programas sociais do governo Lula — que reduziram a desigualdade e promoveram o consumismo — fez isso de forma despolitizada, em contato com as eleições quando muito através daquela “chatice” que consideram a propaganda eleitoral obrigatória, de dois em dois anos.

    Estes jovens são politicamente voláteis, querem mudanças e, por conta da habilidade com as redes sociais, exercem uma influência sobre o eleitorado que nunca exerceram no passado. Na casa de dona Irla, em Itapajé, no interior do Ceará — modesta, de três cômodos, que sempre teve TV mas só agora tem geladeira de verdade — são os filhos conectados à internet que trazem as informações para dentro de casa, para os mais velhos da família. São eles que ensinam os pais a lidar com o celular e a montar uma página no Facebook. São eles que trocam mensagens, links, indicam vídeos e dizem que o filho do Lula é o dono da Friboi.

    Estes jovens foram intensamente bombardeados pela propaganda “antipolítica” em anos recentes. Talvez não saibam absolutamente nada sobre os planos e projetos de Marina Silva, mas pouco importa. Ela é de origem humilde, evangélica — sinal, para muitos, de que leva a religião a sério — e, acima de tudo, “nova”, ainda não contaminada. É o voto de protesto. É o “Cacareco” do século 21, aquele rinoceronte do zoológico de São Paulo que recebeu um recorde de votos para a Câmara Municipal, no final dos anos 50.

    O curioso é que, diante de tantas pesquisas qualitativas, milionárias, Dilma apareça com estes jovens de forma quase institucional em sua propaganda, separada por grades, embora rompa a barreira geracional com os selfies em que posa ao lado de muitos deles. Também é curioso que Aécio Neves, que se pretende candidato da mudança, tenha sido mostrado em seu primeiro programa de terno escuro, distante, oficial, como se precisasse antes de tudo provar sua seriedade.

    Quando convidei petistas a refletirem profundamente sobre a irupção das ruas em 2013 — e não a criminalizá-la, atribuindo tudo a “coxinhas” — era justamente no sentido de tentar entender o que move estes jovens. Com certeza, é uma resposta complexa e repleta de nuances. Talvez nem a propaganda eleitoral, nem os debates entre os candidatos, nesta campanha de 2014, sejam suficientes para movê-los de forma maciça em outra direção. Duvido que muitos deles estejam na audiência.

    A eleição de 2014, como alertei no primeiro parágrafo, está longe de ser definida. Quando muito, há tendências fortes: Dilma x Marina no segundo turno parece uma forte possibilidade.

    Nos Estados Unidos, em 2008, quando Barack Obama se elegeu pela primeira vez, as novas tecnologias foram essenciais para promover a “mudança na qual se pode confiar”, especialmente com a arrecadação de campanha e a arregimentação de milhares de voluntários. Obama apostou quase todas as fichas no entusiasmo e no idealismo da molecada. Lembro-me que Obama fez mais de um evento de campanha em que se reunia num anfiteatro, cercado por jovens, para compartilhar ideias e sugestões com eles. Desceu da tribuna. Arregaçou as mangas. Ouviu. A ideia era se desfazer da tradicional hierarquia que tanto afasta os mais jovens da política institucional. Obama certamente frustrou muitos de seus apoiadores iniciais. Mais tarde, revelou-se mais do mesmo.

    No Brasil, o que me parece extremamente curioso é que nem Dilma, nem Aécio, que exerceram cargos executivos simultaneamente, tenham se dado conta das mudanças que, cada um a seu jeito, ajudaram a promover no país, mudanças que alimentaram o desejo do novo dos que foram às ruas em 2013. Como disse Lula, sabiamente, quem experimenta mudanças quer mais e melhor. É natural.

    Às vezes parece que ambos, Dilma e Aécio, se acostumaram com ou foram consumidos pela política dos bastidores.

    Temos, ainda, um longo mês de campanha pela frente. Quase com certeza, outro tanto antecedendo o segundo turno. Pelo menos hoje, Dilma e Aécio são candidatos a reviver, do lado perdedor, 1989. Para o Brasil, com os mesmos riscos envolvidos 25 anos atrás.

    PS do Viomundo: Só agora, depois de ter publicado o texto, soube da promessa feita hoje por Aécio Neves. Segundo a Reuters, “em mais um gesto de popularização de sua campanha, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, anunciou um programa social que prevê o pagamento de um salário mínimo para que jovens de 18 a 29 anos voltem as escolas para completar os ensinos fundamental e médio. O tucano afirmou que há no Brasil cerca de 20 milhões de jovens com ensino médio e fundamental incompletos (11 milhões no fundamental e 9 milhões no médio) que precisam melhorar o nível de estudo para ter mais chances de ingressar no mercado de trabalho”. Pois é, brasileiros entre 18 e 29 anos de idade…

    PS do Viomundo2: Segundo o UOL, “entre os eleitores de 16 a 24 anos, a candidata do PT enfrenta uma rejeição de 43%. A taxa cai para 34% entre os que estão na faixa de 45 a 54 anos e para 27% entre os que têm 55 anos ou mais”.

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    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/celulares-na-mao-jovens-empurram-marina-ibope-indica-aecio-fora-segundo-turno-dificil-tarefa-de-dilma-rousseff.html

  15. Marina e suas contradições

    Marina Silva, a predestinada, acredita que sob a luz virtuosa dos seus mentores (Neca Setúbal, dona do Banco Itaú que deve 18,7 bilhões a Receita Federal; André Lara, aquele do confisco da poupança no governo Collor; Eduardo Gianetti, que disse que é preciso aumentar o preço do leite e da carne para proteger o meio ambiente e que também defende a universidade paga; Beto Albuquerque, seu vice, que é ligado ao agronegócio e defensor dos transgênico; Heráclito Fortes e Jorge Bornhausen, assim com José Sarney e Renan Calheiros, representantes da “velha política”) governará apenas com os “melhores” de todos os partidos – já disse, inclusive, que gostaria de contar com José Serra (que tem 20 páginas de certidão de crimes eleitorais e 3 processos ativos por corrupção). 

    Como ser representante da “nova política” e governar com os “melhores” com tantas incoerências? A não ser que tenha herdado a lamparina de Diógenes de Sínope (413 – 323 a.C.), também conhecido como Diógenes, o Cínico – um filósofo grego que perambulava pelas ruas de Atenas com uma lamparina acesa, durante o dia, dizendo estar procurando um “homem honesto” – pois, dificilmente Marina poderá conviver com tantas contradições.

  16. Visto por outros olhos

    Do Diário de Notícias de Lisboa

    O que o Cessna deu pode tirar

    por FERREIRA FERNANDES  Hoje

    No dia 13, um Cessna 560XL caiu em Santos, Brasil, e não houve sobreviventes. À tragédia juntou-se a emoção política: um dos mortos era Eduardo Campos (PSB), candidato presidencial às eleições de 5 de outubro. As sondagens colocavam Campos em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff (PT) e do candidato de direita Aécio Neves (PSDB) – e essa ordem deveria ser mantida até à primeira volta. Campos foi substituído pela sua candidata a vice-presidente, Marina Silva, ex-ministra de Lula e ex-militante do PT. E essa escolha causou um terramoto político, baralhando para já as sondagens. Em 15 dias, Marina conseguiu ultrapassar Aécio, impor entre eles um fosso de 10 por cento e tornar-se assim a provável rival de Dilma na segunda volta, a 26 de outubro. Ora, ontem, as sondagens também indicaram que em caso de disputa final entre as duas, Marina venceria Dilma (43 contra 37). O repúdio por Dilma (45 por cento não votariam nela de jeito nenhum) e a natural menor antipatia pela recém-chegada (só 29 por cento de rejeições) explicam como este duelo é perigoso para a atual presidente. Marina Silva joga com uma carta poderosa: “Tem cara de povo”, escreveu ontem um cronista brasileiro. E outro: “O que ela diz soa a honesto.” A aparência conta, num país farto de corrupção. O problema é que o Cessna voltou, ontem, à campanha eleitoral: o PSB alugou-o através de empresas-fantasma… Quem se arma em puro é mais frágil em caso de suspeição.

     

  17. MARINEIROS FRAUDAM VÍDEO DE LULA E ESPALHAM NA REDE

    Ex-presidente aparece pedindo votos para “Marina, que eu conheço há mais de 30 anos”, em vídeo com logotipos da campanha de Marina Silva, do PSB, no início e no fim; “Ela é a mais preparada para levar adiante os programa sociais do governo”; trata-se, porém, de uma fraude; a Marina a qual Lula se refere é a deputada federal Marina Santana (PT-GO), candidata ao Senado por Goiás; PT mobiliza área jurídica para definir atitude a tomar; presidente Rui Falcão falará sobre a adulteração em Brasília; o que parece uma brincadeira é, na verdade, crime eleitoral; suspeitas recaem sobre quem se beneficia da fraude do apoio do maior cabo eleitoral do País

     

    28 DE AGOSTO DE 2014 ÀS 14:28

     

    247 – Uma fraude eleitoral está circulando na internet. Envolve ninguém menos que o maior cabo eleitoral do País, o ex-presidente Lula e, por todos os ângulo que seja visto, beneficia a candidata a presidente Marina Silva, do PSB. Uma gravação oficial de Lula para o horário político do PT, no qual ele pede votos para Marina Santana (PT-GO), candidata ao Senado, que foi adulterado antes do início e do fim, com os acréscimos do logotipo de campanha de Marina.

    – Eu conheço a Marina há trinta anos, diz Lula. “Ela é a mais preparada para levar adiante os programas sociais do governo e fazer a reforma política”.

    No curso do vídeo, não fica claro, à primeira vista, se Lula falou o nome inteiro da candidata a senadora ou apenas o primeiro nome, como foi publicado nas redes sociais. Não é difícil, com recursos de edição, tirar uma palavra da boca de um personagem. O certo é que, na peça fraudada, Lula diz que Marina “vai fazer um grande trabalho no governo federal”.

    A dimensão do alcance do vídeo falso ainda não pode ser medido, mas o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, convocou uma entrevista coletiva às 15h00, na sede nacional do partido, em Brasília, para falar das providências que poderão ser tomadas. O Instituto Lula foi informado sobre o vídeo pelo seu departamento jurídico.

    A primeira suspeita de autoria recai, inevitavelmente, sobre os marineiros. A candidata, no debate entre presidenciáveis, na Rede Bandeirantes, elogiou Lula, a quem atribuiu, assim como ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “visão estratégica”. Mas não houve de Lula nenhuma frase pró-Marina, quanto mais um depoimento formal para passar em horário político. Se foi brincadeira, Lula não achou a menor graça. E tanto ele como o PT devem manifestar, nesta tarde, que houve crime eleitoral.

    Assista:

    http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/151626/Marineiros-fraudam-v%C3%ADdeo-de-Lula-e-espalham-na-rede.htm

  18. Metrô terá que readmitir 10

    Metrô terá que readmitir 10 funcionários demitidos após greve

    http://m.estadao.com.br/noticias/saopaulo,metro-tera-que-readmitir-10-funcionarios-demitidos-apos-greve,1551023,0.htm

    Em caráter liminar, a Justiça do Trabalho concluiu que faltam provas sobre a culpa dos empregados dispensados em junho

     

    28.08.2014 | 13:57

    Caio do Valle – O Estado de S. Paulo

     

    Metrô terá que readmitir 10 funcionários demitidos após greveGreve que aconteceu no início de junho foi uma das maiores da história da categoriaEvelson de Freitas/Estadão 

    SÃO PAULO – O Metrô de São Paulo terá que readmitir 10 dos 40 funcionários que dispensou após a greve que paralisou a maior parte do sistema no início de junho — uma das maiores da história da categoria. Antecipação de tutela (espécie de liminar) anunciada nesta quinta-feira, 28, prevê que esse grupo de empregados volte a trabalhar até cinco dias após a notificação da empresa, o que deverá ocorrer no dia 1.º de setembro. O caso dos demais ainda está sendo apreciado pela Justiça, em outros quatro processos.

     A decisão é do juiz do Trabalho Thiago Melosi Sória, da 34.ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região (TRT-2). Os 40 dispensados pela empresa, que é controlada pelo governo do Estado, entraram conjuntamente com processos na Justiça para tentar regressar para os seus postos de trabalho. Todos alegam inocência dos supostos delitos imputados pela direção do Metrô. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que concorre à reeleição, disse diversas vezes em entrevistas que não voltaria atrás da decisão de demitir os grevistas. O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, também foi enfático em suas declarações contra o reingresso dessas pessoas à empresa. “É uma conquista muito importante, mas faltam os outros 30. Mais uma vez fica demonstrado que aquilo de que a empresa nos acusou não era verídico. Foi uma decisão política. Queriam apenas intimidar a greve. Agora, a categoria sai fortalecida”, disse o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, ao Estado. A Companhia do Metropolitano alegou que os demitidos se envolveram em quebra-quebra na Estação Ana Rosa, quando a Tropa de Choque da Polícia Militar invadiu o local para dispensar os manifestantes. A força policial fez uso de cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo. Porém, o Sindicato dos Metroviários, à época das demissões, divulgou que o Metrô havia tomado uma “decisão política” ao demitir esses funcionários, a maioria deles ativos representantes da entidade, como diretores. A categoria informava que nunca haviam sido apresentadas provas concretas que indicassem a participação dessas pessoas, especificamente, nos atos de vandalismo. Isso fica claro no processo judicial. O Metrô havia acusado três de seus funcionários de quebrar uma fechadura de porta na Estação Ana Rosa. Contudo, segundo a Justiça, testemunhas ouvidas sobre o assunto “não narraram o suposto arrombamento da fechadura da estação, a entrada forçada dos substituídos citados e nenhum ato de violência”. Ainda conforme o texto judicial, “até o momento não há prova de que esses trabalhadores efetivamente danificaram a fechadura da Estação Ana Rosa ou utilizaram métodos violentos (e não meramente de convencimento) para ingressarem no local e impedirem o trabalho dos demais”. O Metrô também havia divulgado que alguns de seus funcionários haviam impedido o fechamento das portas de um trem na Estação Tatuapé, na Linha 3-Vermelha, durante a greve. Porém, imagens de câmeras de segurança da própria empresa revelam, de acordo com o texto judicial, que os trabalhadores, embora “estivessem na plataforma, não aparecem impedindo o fechamento das portas do trem”. A Justiça também informou que faltou ao Metrô individualizar a conduta de cada um dos funcionários acusados dos supostos delitos. “Essa individualização também não foi feita na defesa, que descreveu um ato coletivo e uniforme de impedimento da circulação dos trens, sem dizer o que cada trabalhador fez”. Em sua conclusão, datada de quarta-feira, 27, o juiz do Trabalho informa que “houve aparente vício formal na prática dos atos das dispensas e que as provas produzidas pela ré (o Metrô de São Paulo) ainda neste momento inicial do processo não revelam a prática das faltas graves atribuídas aos empregados dispensados”. Ainda segundo o juiz do Trabalho, “há grande probabilidade de acolhimento, na decisão final, do pedido de declaração de nulidade das dispensas” dos empregados. Por causa disso, ele determinou que o Metrô, “no prazo de cinco dias após a intimação da presente decisão, promova a convocação dos trabalhadores substituídos na presente demanda para que compareçam ao local de trabalho e reassumam suas funções”. O Metrô de São Paulo ainda “deverá cancelar eventual anotação de término do contrato de trabalho nas respectivas Carteiras de Trabalho e Previdência Social e reintegrar os empregados nas mesmas condições de prestação de serviços anteriormente vigentes”. Caso o Metrô descumpra essas determinações, implicará à empresa “multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia e por empregado, revertida em favor dos trabalhadores prejudicados”.

     

  19. Mais reaças que o rei

    Mais reaças que o rei

    (Marina, Aécio e Dilma no debate da Band. Foto: Miguel Schinchariol/divulgação)

    Entre todos os candidatos presentes ao primeiro debate entre os presidenciáveis na rede Bandeirantes, nem mesmo o pastor evangélico assumidamente de direita foi capaz de dizer que existe uma ameaça à democracia no Brasil sob o governo do PT. Nenhum deles falou que o PT defende censura à imprensa. Nem que os índios estão tomando a terra dos “brasileiros”. Quem fez isso foram dois jornalistas, Boris Casoy e José Paulo de Andrade, escolhidos pela emissora para fazer perguntas (ou editoriais disfarçados de perguntas) aos candidatos.

    Casoy e Zé Paulo conseguiram ser mais reaças do que todos ali. Nunca vi, num debate, jornalistas se comportarem como opositores dos candidatos –no caso, Dilma Rousseff, do PT, e Marina Silva, do PSB, porque com o tucano Aécio Neves foram só levantadas de bola para ele cortar. Nunca vi, num debate, um jornalista fazer pergunta para um candidato criticando outro concorrente. Sobriedade mandou lembranças.

    Mas o que mais me espantou é que nem Dilma nem Marina e nem mesmo Luciana Genro, do PSOL, candidatas mais à esquerda no espectro político, foram capazes de denunciar, de retrucar com veemência, posturas tão arcaicas quanto às demonstradas pelos dois jornalistas, certamente com o aval dos patrões.

    Colhi algumas das pérolas da noite, confiram.

    De José Paulo para Luciana com comentário de Dilma:

    – A questão indígena, que até no Rio Grande do Sul se agrava, com índios essa semana fazendo policiais de reféns. Na Bahia, como ocorreu em Roraima com a Raposa Serra do Sol, brasileiros trabalhadores estão sendo expulsos da terra onde estavam há gerações. A crítica à Funai é que só antropólogos determinam a política indigenista. Recentemente, em audiência na Câmara, o ministro da Justiça falou em fortalecimento da Funai, mas até agora nada se fez. A pretexto de incluir os excluídos, exclui-se os incluídos. Candidata, somos ou não iguais em direito? Qual seria sua política indigenista?

    De José Paulo para Aécio com comentário de Dilma:

    – O governo federal criou por decreto o Conselho de Participação Social. É uma instância direta vista com apreensão por muitos setores: seria uma ameaça ao Congresso Nacional e consequentemente ao equilíbrio institucional. Seria uma bolivarização do Brasil nos moldes chavistas e agora a própria candidata acaba de lançar a ideia de um plebiscito para fazer a reforma política, o que, me parece, deixa de lado o Congresso Nacional. Como o candidato vê a movimentação dessas peças no tabuleiro político?

    (Aécio, é claro, surfa na onda da “preocupação” em “garantir a democracia”, mas Dilma dá uma boa resposta: “É estarrecedor que se considere plebiscito algo bolivariano. Então a Califórnia pratica o bolivarianismo.”)

    De Boris para Marina com comentário de Aécio:

    – Setores da economia criticam o que classificam, candidata, de seu “radicalismo ambientalista”. Segundo eles, esse tipo de posição tem criado obstáculos para o desenvolvimento da economia do país. Citam o exemplo da usina de Belo Monte, que poderia produzir 11 mil megawatts e, por exigências ambientais consideradas exageradas, só vão produzir 4 mil. Como a senhora responde a essas críticas?

    De José Paulo para Everaldo com comentário de Aécio:

    – Os candidatos de oposição temem perder votos com posições que não sejam favoráveis à manutenção dos programas sociais do governo, que acabam sendo cabos eleitorais importantes, e nisso exageram, prometendo aumentar os benefícios que no fim vão pesar na carga tributária já elevada, como é o caso da Poupança Jovem do candidato Aécio. Se há uma justificativa a curto prazo para incluir os brasileiros menos favorecidos, quando é que vamos ensiná-los a pescar?

    (Até o Aécio acha Zé Paulo reaça demais neste momento.)

    De Boris para Eduardo Jorge com comentário de Dilma:

    – Por considerar um assunto importante e grave, que envolve a liberdade no país, vou voltar à questão do controle social da mídia. O partido da presidente, o PT, insiste num plano de censura à imprensa, que eufemisticamente chama de democratização da mídia. A bem da verdade, a presidente Dilma, a candidata Dilma, não adotou, criou uma barreira, não tem colocado em prática, apesar da insistência do partido, essa ideia. Eu queria perguntar: se eleito, o candidato Eduardo Jorge vai levar esse plano adiante?

    (Eduardo Jorge, para riso geral, diz concordar com Dilma.)

    Quando vejo os planos dos coronéis da mídia para o Brasil, transmitidos por seus funcionários em um debate supostamente jornalístico e “imparcial”, percebo o quão diferentes são minhas críticas ao governo Dilma das deles. Percebo o quanto minha ideia, meus sonhos de País, se diferenciam dos proprietários dos meios de comunicação como a Rede Bandeirantes.

    Critico a Dilma porque ela precisava ser mais atenta à questão indígena e à ambiental –a mídia acha que Dilma precisava ser ainda mais permissiva com os fazendeiros e o grande poder econômico (e o mesmo desejam de Marina).

    Critico a Dilma por não ter concretizado a democratização da mídia, pondo fim à propriedade cruzada dos meios de comunicação, por exemplo, proibida em vários países. Isso nada tem a ver com censura –eufemismo quem usa são eles, ao dizer que democratizar a mídia é censurar. Os donos da mídia não querem a democratização porque temem perder seu poder, derivado do fato de que menos de uma dúzia de famílias (como os Saad, da Band) detém a maioria dos meios de comunicação no País.

    Aplaudo o PT pelos programas sociais que incluíram milhões de brasileiros e acho que deve haver cada vez mais inclusão –a mídia acha os programas sociais, assim como as cotas nas universidades, desnecessários e excessivos.

    Critico o PT por não ter batalhado mais pela reforma política e aplaudo a iniciativa de propor um plebiscito para fazê-la –a mídia aponta o plebiscito como “antidemocrático”, sendo que ouvir a população sobre este tema seria justamente o contrário. Curioso é que eles são contrários a ouvir a população sobre a reforma, mas foram a favor de plebiscito para dar direito às pessoas de terem armas… No fundo, não querem a reforma política porque são contra o financiamento público de campanha. A mídia sabe que o financiamento privado favorece os candidatos com maior poder econômico –os seus–, e portanto é melhor que continue assim.

    O País dos reaças da mídia não me interessa. Ele é pior do que o que temos hoje. Mais injusto, mais desigual, mais concentrado nas mãos de poucos. Exatamente como a própria mídia.

     

    Publicado em 27 de agosto de 2014

    Por Cynara Menezes

    http://socialistamorena.cartacapital.com.br/mais-reacas-que-o-rei/

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