Fora de Pauta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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  1. Crise financeira teve na sua origem “testosterona excessiva”
    Lagarde: Crise financeira teve na sua origem “testosterona excessiva”21 Novembro 2014, 14:43 por Rita Faria | [email protected]   Em entrevista à edição francesa da Vanity Fair, a directora-geral do FMI defende a feminização de altos cargos da instituição. Sobre Angela Merkel diz que é uma mulher “fascinante”, mas falar de roupa “não é nada o seu estilo”.

    A directora-geral do FMI acredita que, na origem da crise financeira, esteve, em parte, um excesso de testosterona, que alimentou um sentimento de rivalidade negativa. Christine Lagarde, que é capa da Vanity Fair do mês de Dezembro, defende, em entrevista à edição francesa, que deviam existir mais mulheres em cargos públicos.

     

    “Nessa altura, havia no mundo financeiro uma rivalidade negativa sobre um fundo de testosterona excessiva”, afirma Lagarde, depois de se mostrar convencida que a situação não teria sido igual se houvesse mais mulheres a tomar as rédeas das decisões.  

     

    “As mulheres não são melhores do que os homens. São diferentes. Somos diferentes”, explicou, na mesma entrevista, citada pelo Expansión. “O facto de as mulheres terem estado, com demasiada frequência em situação de minoria dá-lhes outros pontos de vista. E a confrontação de pontos de vista é o que permite chegar a boas decisões”.

      

    Neste sentido, a responsável do FMI defende a feminização dos altos cargos da instituição. Actualmente, as mulheres ocupam apenas um quarto dos cargos de chefia do FMI, embora representem 48,9% do total de funcionários.

     

    Questionada sobre a sua relação com a chanceler alemã, Angela Merkel – outra mulher num cargo de alta responsabilidade – Lagarde garantiu que se entendem bem. E acrescentou: “Ela é fascinante, às vezes muito acessível, atenta aos detalhes pessoais. Mas não pensem que falamos sobre roupa. Não é nada o seu estilo”.

     

    Para exemplificar o que pode ser uma gestão feminina de uma grande instituição, Christine Lagarde cita o caso da Reserva Federal norte-americana, liderada por Janet Yellen. Segundo a directora do FMI, desde que Yellen assumiu o cargo, “provocou imediatamente uma alteração de tom, com mais atenção e mais humanidade”.  

     

    Reformas devem continuar mas a um ritmo “mais bem ajustado”

     

    Na entrevista à Vanity Fair, Lagarde falou ainda sobre a situação económica da Europa, sublinhando que as “reformas estruturais devem voltar a converter-se numa prioridade”.  

     

    “Na maior parte dos países, as políticas levadas a cabo para absorver o défice vão no bom caminho, mas são insuficientes para responder às exigências de uma saída da crise”, acrescentou.

     

    A responsável reconhece, contudo, que a austeridade contribuiu para aumentar as desigualdades e, por isso, defende que “as reformas estruturais devem continuar na Europa mas, sem dúvida, a um ritmo mais bem ajustado”. 

    http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/lagarde_crise_financeira_teve_na_sua_origem_testosterona_excessiva.html

     

  2. http://images.fineartamerica.

    http://images.fineartamerica.com/images-medium-large/1-cairo-conference-1943-granger.jpg

    A CONFERENCIA DO CAIRO EM 1943 – Uma das doze conferencias estrategicas da Segunda Guerra, teve como objetivo principal traçar as decisões sobre a guerra no Pacifico. Compareceram Churchill, Roosevelt, De Gaulle e Chiang Kai Shek, o Generalissimo que presidia a Republica da China, um terço ocupada pelo Japão.

    Stalin, um dos Aliados, não compareceu por dois motivos: Stalin não saia de territorio inteiramente controlado por suas tropas, temia que se saisse de seus dominios seria deposto em Moscou meia hora depois mas havia outro motivo diplomatico importante, a URSS não estava em guerra com o Japão e a Conferencia do Cairo tinha a presença da China, contra quem o Japão estava em guerra. Na Conferencia do Cairo foi decidido que na derrota do Japão os Aliados só aceitaria os termos de “”Rendição Incondicional””, como foi decidido em Casablanca sobre a Alemanha.

    A presença de Chiang Kai Shek, que foi com sua esposa, a famosa Madame Chan Kai Shek, chefe da gangue da familia Soog que batia recordes mundiais de corrupção, irritou Churchill, que não o tolerava. Roosevelt, ao contrario, achava o casal o máximo e o prestigiava. A corrupção de Chiang eral de tal ordem , conforme as memorias do General Joseph Stilwell, adido militar americano junto ao Governo nacionalista chinês, que munição remetida pelos EUA era vendida aos japoneses, contra os quais o exercito chinês lutava. O valor total do soldo do Exercito nacionalista era enviado pelo Tesouro dos EUA e era 100% embolsado pela camarilha de Chiang, aos soldados dava-se licença para saquear os pobres camponeses.

    Madame Chiang chegou ao seculo XXI e morreu em Mnahttan com 105 anos, em um apartamento triplex com 27 empregados. Era ela a lobista do governo do marido em Washinton porque era americanizada, educada em Boston e

    enrolava os americanas que tiveram um choque de surpresa total quando Chiang Kai Shek caiu do poder em 1949, fugindo para Formosa com sua tropa,  corte e dinheiro.

    Em 1946 a Madame veio ao Brasil e ficou hospedada na famosa Casa de Pedra,  no Rio de Janeiro, do industrial e deputado Drault Ernnany, era para ficar 30 dias, fico 90, era chata e complicada, não podia tomar sol para não estragar a pele, exigia comida especial, banhos interminaveis, protocolo rigido, honras majestáticas e depois disso

     não punha a mão no bolso, a honra de hospeda-la custou caro ao Dr.Drault porque a comitiva tambem era grande.

    A Conferencia do Cairo foi sucedida pela de Tehran, onde compareceu Stalin, que ocupava a metade norte da   Persia até e incluindo Tehran, foi uma conferencia maior e mais importante do que as precedentes e de maior significado.

    A Conferencia do Cairo foi realizada na residencia do Embaixador americano, Alexander Kirk, durou 4 dias (23 a 26 de novembro de 1943), como sempre Churcill foi a estrela, afinal era seu territorio, o Egito não era colonia mas os ingleses é que o governavam por trás do trono do Rei Farouk.

  3. A doce e fria vingança do Marajá: Rolls Royce, do Luxo ao Lixo.

    Essa história é tão extraordinária e cheia de simbolismos que parece ter sido extraída de um livro do tipo “Mil e uma noites”.

    Mas não é ficção. Aconteceu de fato nos anos 30 do século passado.

    Marajá Jai Singh

    Houve uma época em que a marca de carros mais famosa e luxuosa do mundo, a Rolls-Royce foi associada com o lixo.

    Tudo começou com um famoso comprador de carros de luxo, o marajá de Alwar, India . Ele tnha por costume sempre comprar, ao menos,  três carros de cada vez.

    Um dia, durante visita a Londres, o Marajá Jai Singh andava vestido como um cidadão indiano comum e anônimo na famosa Bond Street, na capital inglesa.
    Na ocasião, ele se deteve em um showroom da Rolls Royce e entrou para perguntar sobre o preço e as características dos carros de luxo. Os afetados vendedores ingleses do showroom o tomaram por um indano pobre e miserável. Então o ofenderam e o expulsaram da loja.

    Após este incidente, o Marajá, sem se abalar,  voltou para o  quarto de hotel e pediu aos seus servos para comunicar a gerência do tal showroom que o Marajá de Alwar estava interessado em comprar alguns carros e compareceria pessoalmente ao local.

    Depois de algumas horas, o Marajá voltou ao showroom da Rolls Royce, desta vez magnificamente trajado como uma realeza indiana. O showroom tinha providenciado um tapete vermelho no chão para acolher o Marajá e todos os vendedores se curvaram respeitosamente diante dele.

    O Marajá comprou sImplesmente todos os seis carros que estavam expostos  naquele momento e pagou o valor total com os custos de entrega, à vista.

    Imagine a alegria dos vendedores…

    Pois bem, negócio fechado, de volta  à Índia, o Marajá ordenou ao departamento municipal que usasse  todos os veículos Rolls Royce adquiridos para a limpeza e transporte de lixo da cidade. Isso mesmo: transporte de lixo.

    Número um dos carros de luxo no mundo, os Rolls Royce estavam sendo usados para o transporte de resíduos e limpeza de uma paupérrima cidade do terceiro mundo. A notícia se espalhou por todo o planeta e a reputação da Rolls Royce tornou-se motivo de chacota.

    Sempre que alguém começava a se gabar na Europa ou nos EUA de que possuía um caríssimo e exclusivo Rolls Royce , as pessoas costumavam rir dizendo: ” Qual? O mesmo que é usado na Índia para transportar o lixo da cidade? ” Após este grave dano à reputação da marca,  as vendas de carros Rolls Royce cairam rapidamente e as receitas da empresa mostraram um declinio assustador.

    Os proprietários da empresa Rolls Royce, desesperados,  enviaram um telegrama para o Marajá na Índia, quando descobriram o real  motivo que havia provocado a atitude do milionário indiano. Pediram sinceras desculpas e rogaram para que parasse de usar os carros Rolls Royce como veículos de tranporte de lixo. Não só isso, eles também ofereceram mais seis carros novos para o Marajá, livres de qualquer custo.
    Quando o Marajá Jai Singh decidiu que a empresa Rolls Royce havia aprendido a lição, pagando inclusive um alto preço por isso, ele enfim decidiu encerrar a sua doce vingança contra a empresa britânica.

    http://www.indiatvnews.com/news/india/latest-news-maharaja-alwar-rolls-royce-cars-municipal-waste-33200.html

     

  4. Gilmar, vamos falar sério sobre corrupção política

    Gilmar Mendes andou falando que o “mensalão”, na frente dos desvios revelados pela operação Lava Jato, era denúncia para ter sido julgada por tribunal de pequenas causas.

    Pois é, Gilmar, você foi quem superdimencionou um crime eleitoral tão corriqueiro na vida política Brasileira, o de caixa 2, porque o objetivo era simplesmente atingir  o PT, e não combater a corrupção. Mas veja como o buraco é mais embaixo lendo esta matéria que Jean Wyllys escreveu na revista Carta Capital e foi reproduzida no Vi o Mundo. O título é “Devolve, Gilmar! Vamos falar sério sobre corrupção política”. Leia e veja como a corrupção funciona. E devolva o que o Wyllys está pedindo.

    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/jean-wyllys.html

  5. Arquitetura e Neoliberalismo: A Bienal de Veneza de 2014

    por

    Bienal de Veneza - Elements - Ceiling - Rem Koolhaas

    Bienal de Veneza – Elements – Ceiling – Rem Koolhaas

    arquitetura não arquitetos

    Quando, em 1979 fui convidado a participar da primeira Bienal de Arquitetura de Veneza, realizada no ano seguinte, pensei que havia algum engano. Eu não conhecia o diretor, Paolo Portoghesi, e tampouco imaginava como poderia colaborar com o tema “A Presença do Passado”.

    34 anos se passaram. Mais crucial  do que o impulso dado por Portoghesi àquele evento, foi a eleição de Ronald Reagan, o grande arquiteto do neoliberalismo, contexto no qual a arquitetura atua desde então. A economia de mercado erodiu o status moral da arquitetura. Ela divorciou os arquitetos do público, e os empurrou para os braços do setor privado – eles não servem mais a “você”, mas a um difuso “eles”.

    Rem Koolhaas, Catálogo da Bienal de Veneza de 2014

     

    É desta forma que Rem Koolhaas inicia o catálogo da Bienal de Veneza de 2014, mostra que acaba hoje (23/11/14) e da qual foi o curador. A exposição vê a Arquitetura inserida em um contexto socioeconômico profundamente marcado pela presença, cada vez mais ostensiva, do setor privado como principal contratante das construções. A partir desta premissa a mostra busca definir o papel da Arquitetura diante do Neoliberalismo, que lhe influi diretamente e sobre o qual, aparentemente, ela pouco pode interferir. Surge então o tema da mostra: Fundamentals. Quais as fundações sobre as quais ocorre esta relação? O desenvolvimento tecnológico e a hiper valorização do indivíduo são, talvez, os pontos mais evidentes deste processo, mas não os únicos. Um esforço de pesquisa reuniu as mais importantes instituições de ensino, em busca de estórias que pudessem explicar a condição atual da Arquitetura. A exposição foi dividida em três partes: Monditalia, Elements e Exposições Nacionais.

    As Exposições Nacionais foram organizadas, pela primeira vez, em torno de um tema único: Absorbing Modernity 1914-2014 (absorvendo a modernidade). Cada um dos 66 países participantes construiu sua hipótese para responder uma pergunta subjacente ao tema: teriam as identidades nacionais sido sacrificadas em nome da modernidade? As respostas foram extremamente desiguais. A mais comum foi a simples apresentação da evolução cronológica da arquitetura de cada um dos países. Em geral esta estratégia acaba perdendo a oportunidade de aprofundar o debate teórico proposto por Koolhaas. Infelizmente o pavilhão brasileiro faz parte deste conjunto. Dentre os que pude visitar, os pavilhões mais interessantes foram o da Estônia, o de Pequim e da França. A Estônia apresentou a instalação interativa Interspace em que se buscava discutir a relação entre o espaço público físico e o digital (ver http://www.enterinterspace.ee/). Uma imensa maquete do centro da cidade dominava o espaço da exposição de Pequim, uma das maiores de toda a Bienal. Ela mostra as transformações radicais que atingiram o local desde 1488 até 2014. Outro destaque foi a exibição do documentário Meishi Street (Mei Shi Jie), de 2006, do diretor Ou Ning. Ele forneceu uma câmera digital para Zhang Jinli, um dos proprietários de imóveis na rua Meishi, no bairro de Dashilar, que seria desapropriado por conta de obras das Olimpíadas de 2008. Um retrato cru(el) das políticas urbanas pouco democráticas da China. Já o destaque da França coube a outra maquete, desta vez a do cenário do filme Mon Oncle, de 1958 de Jacques Tati. No filme Tati critica diretamente a Arquitetura moderna através da história do Tio que mora em um bairro tradicional de Paris, e vai visitar o sobrinho que mora com sua família em uma casa modernista afastada da cidade.

    Mas é com a Monditalia e a Elements que a Biennale 2014 será destacada ao longo da história da mostra veneziana, que é a mais importante da arquitetura no  mundo. Monditalia pretende tomar o país anfitrião como uma espécie de protótipo da condição contemporânea. Para tanto lança mão de uma interface com o cinema, a música, a dança e as artes plásticas italianas. A primeira parte da exposição faz um “scanner” do país através de gráficos e diagramas. Uma série de informações novas, construídas por inúmeras pesquisas por todo o mundo, permitem contemplar a arquitetura feita no “contexto” do neoliberalismo, a partir da Itália. Descobrimos que a Itália detém o  maior número de arquitetos per capita do planeta: um para cada 414 habitantes; que os promotores privados são responsáveis pela maior parte das encomendas arquitetônicas na Europa Ocidental; que os arquitetos italianos trabalham em grande parte com arquitetura de interiores. Muitos arquitetos para poucos. Um quadro onde o arquiteto perde importância na sociedade. Longe, muito longe, está o Renascimento, em que Michelangelo era símbolo do artista altivo, genial, que definia (novos) parâmetros para a sociedade em que vivia:

     

    Em 2006 voltei a Itália para uma derradeira tentativa de compreender. De longe o espaço  mais incômodo que experimentei nesta viagem foi o vestíbulo da Biblioteca Laurenziana, de Michelangelo. Este espaço é aterrorizante, quase um pesadelo. Nada funciona, tudo está “errado”. Mas a soma de todas as disfuncionalidades é fascinante. É como se a pele exterior do palácio fosse virada do avesso e utilizada para delinear um pátio interno – dobrado, condensado e mesmo amarrotado. Tudo é desproporcional nesta compressão desengonçada. O espaço é flagrantemente interior, mas estranhamente ele permite uma experiência de exterior, definido por quatro diferentes fachadas através das quais se pode entrar em quatro diferentes destinos. Podemos comparar a violência da intervenção arquitetônica de Michelangelo com a timidez disciplinar de alguns artistas contemporâneos? Michelangelo força cada elemento arquitetônico a novas formas e relações – ele não respeita regras e ridiculariza as “lições” que os arquitetos aplicam à sua profissão. Ele destrói e reimagina a parede, a janela, o corredor, a porta, em uma área pouco maior do que uma sala de estar, dominada por uma imensa escultura que pretende ser escada. Para os artistas e arquitetos contemporâneos a lição da Biblioteca Laurenziana é, talvez, de que o maneirismo é um prato que se come frio e em pequenas doses.

    Rem Koolhaas

     

    É fundamental também discutir a maneira como se ensina a Arquitetura. Radical Pedagogies (http://radical-pedagogies.com/), organizada pela Prof. Beatriz Colomina da Princeton University School of Architecture, analisa dezenas experiências pedagógicas adotadas por escolas de todo o planeta. Cada uma delas é interposta através dos conceitos de AÇÃO, REAÇÃO e INTERAÇÃO. A Monditalia termina com a instalação Sales Odity. Milano 2 and the politics of direct-to-home TV urbanism (Odisséia das Vendas. Milano 2 e a política do urbanismo TV a cabo). Mais do que em qualquer outra parte da Bienal aqui se escancara a problemática da arquitetura na sociedade neoliberal. Milano 2 foi o empreendimento lançado por Berlusconi nos anos 70 e que possuía cerca de 700 mil metros quadrados. A publicidade indicava que o espaço era “a cidade dos número um”. Um espaço cuja concepção nasce de forma concatenada com uma nova mídia: a TV a Cabo. Um espaço que prometia a superação dos problemas (poluição, violência, trânsito, etc…) da cidade de Milão. Ele é portanto uma máquina de segregação espacial, esta uma das principais características do desenvolvimento urbano atual. Segundo Andrés Jacque um dos autores da instalação, Milano 2 foi concebido para suprimir o contato entre vizinhos, evitando assim os conflitos. Para se comunicar com seus vizinhos você precisa de uma mídia.  Assim o urbanismo proposto minimizava a política e de certo modo serviu de laboratório para várias outras intervenções semelhantes ao redor do globo. O próprio Berlusconi define seu trabalho da seguinte maneira:  “Eu não vendo espaço. Eu vendo vendas”.

    A terceira e última parte da Bienal é composta pela exposição Elements. Se Koolhaas buscou discutir os fundamentos da Arquitetura atual, era necessário decompô-la e observá-la ao microscópio. São  analisados elementos usados por todos os arquitetos, durante todos os tempos e em todos os lugares: o piso, a parede, o forro, a cobertura, a porta, a janela, a fachada, o balcão, o corredor, a lareira, o banheiro, a escada, a escada rolante, o elevador e a rampa.

    Cada um deles foi objeto de intensas pesquisas que os redimensionaram e atualizaram seus conceitos. Os 15 elementos foram discutidos no âmbito, ambiental, social, econômico, político, estético e técnico. É possível notar ecos dos grandes tratados de arquitetura como Vitrúvio, Alberti ou Palladio. A exposição fireplace é, neste sentido, exemplar. O termo fireplace é desmembrado em dois: fire e place. A lareira sempre serviu para definir uma casa. Era comum afirmar que determinada cidade possuía determinado número de fogos, como uma maneira de indicar quantas habitações possuía. A modernidade transformou a lareira, ao redor da qual se cozinhava, e se falava dos assuntos da casa. O ato de cozinhar (fire) seguiu caminhos próprios que o levaram ao microondas e ao forno elétrico. Já o lugar do encontro, da conversa, chegou aos smartphones e suas redes sociais.

    O plácido movimento da escada rolante tornou possível a transição do capitalismo industrial para o de consumo, pois permitiu o surgimento do shopping mall, assim como a transição da cidade para a metrópole, através da costura dos inóspitos e imensos espaços de circulação.

    Esta capacidade que a Bienal de 2014 teve de conectar a Arquitetura ao seu tempo, faz com que esta edição do evento seja lembrada por muitos anos e não apenas pelos arquitetos, mas também por todos os interessados em compreender o início do século XXI. Poucas atividades humanas estão tão vinculadas aos desafios deste período como a arquitetura: como enfrentar as crises ambiental, política, social e econômica que se avolumam a cada dia? A arquitetura não resolve sozinha nenhuma destas questões. Mas ela pode construir caminhos alternativos que permitam a humanidade escolher qual futuro ela deseja.

     

     

     

  6. General Batista Queiroz: reparação de uma injustiça poética

    Quem nunca leu ou ouviu falar na poesia “Ser Mineiro”? Aliás, essa poesia gera até hoje um debate acalourado entre os que dizem que a mesma é de autoria de Drummond, enquanto muitos sustentam que é da lavra do Fernando Sabino. Sinto dizer, mas as duas correntes estão erradas. A poesia em questão é de autoria do General de Brigada Reformado Batista Queiroz. Nascido José Batista Queiroz, esse mineiro de Patrocínio registrou a poesia “Ser Mineiro” (transcrita abaixo) em 1985, na Biblioteca Nacional.  Ele tem o nº de registro e tudo o mais que comprova tal autoria (vide link abaixo para o seu blog). Por isso, eu que batia mãos espalmadas nas mesas botequianas afirmando que essa obra poética era do Fernando Sabino, dou a mão à palmatória e peço desculpas ao poeta Batista Queiroz, pelas inúmeras vezes que dei o feito a outrem. Bem, com essa confissão, creio ter feito uma justa homenagem ao verdadeiro autor, uma vez que o seu texto possui uma qualidade comparável ao grande Fernando Sabino, o que por si só, já é motivo de orgulho.

    Ser Mineiro

    Ser mineiro é não dizer o que faz,

    nem o que vai fazer.

    É fingir que não sabe aquilo que sabe.

    É falar pouco e escutar muito.

    É passar por bobo e ser inteligente.

    É vender queijos e possuir bancos.

    Um bom mineiro não laça boi com

    embira, não dá rasteira no vento, não

    pisa no escuro, não anda no molhado,

    não estiva conversa com estranhos, só

    acredita na fumaça quando vê o fogo, só

    arrisca quando tem certeza, não troca

    um pássaro na mão por dois voando.

    Ser mineiro é dizer UAI e ser diferente; é

    ter marca registrada, é ter história.

    Ser mineiro é ter simplicidade e pureza,

    humildade e modéstia, coragem e

    bravura, fidalguia e elegância.

    Ser mineiro é ver o nascer do sol e o

    brilhar da lua; é ouvir o cantar dos

    pássaros e o mugir do gado; é sentir o

    despertar do tempo e o amanhecer da

    vida.

    Ser mineiro é ser religioso, conservador,

    cultivar as letras e as artes ; é ser poeta

    e literato, é gostar de política e amar a

    liberdade, é viver nas montanhas e ter

    vida interior.

    José B. Queiroz

     

    Link: http://jobaque.blogspot.com.br/p/poesia-ser-mineiro.html

    Obs.:

    1)-Não sei se o poeta José B. Queiroz ainda está vivo, pois desde agosto/14 não há nenhuma nova publicação no seu blog (apesar disso nada significar…). Se alguém souber, nos informe.

    2)-Independente da opção ideológica do poeta, o que está em pauta aqui é a questão literária (eu, por exemplo, sou contra as opiniões políticas externadas pelo Batista Queiróz em seu blog. Porém, isso não me impede de separar as coisas).

     

     

    .

  7. Não dá mais pra segurar, explode coração!

    Como diria o Galvão, “a coisa já esteve bem melhor” para os tucanos.  Não dá mais para segurar as falcatruas dos bicudos e as coisas começam a “vazar” na imprensa, pelo menos aqui no Rio, que é a “segunda” terra do Aécio (ou será a primeira?) . Segue abaixo o link do jornal:

    http://www.jornalpovo.com/

  8. Uma solução para a “democracia do talão de cheques”

    está aqui:

    https://www.facebook.com/takepart/photos/a.319641962439.152569.9287842439/10152436699042440/?type=1&fref=nf

    Trata-se de obrigar todos os políticos, que recebem “doações” para as “futuras reciprocidades” em colocar em suas roupas as logomarcas dos “patrocinadores”, tal como na fórmula 1!

    Aqui:

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1418231908464090&set=p.1418231908464090&type=1

    uma imagem de como ficaria o carro do Obama ! 

  9. Rui e a mídia.

    O apoio de Rui Barbosa a regulação da mídia.

     

    A saburra de Pasquino

    Na “A Imprensa” 17 de outubro de 1900

     

     

    A difamação pela publicidade irresponsável dos a-pedidos, no jornalismo brasileiro, figura o alcoice agregado a casa de família. O contraste entre as virtudes indefectíveis da redação e a insensibilidade moral da empresa nas folhas mais graves faz da honestidade, da imprensa, entre nós, um capitúlo singular das extravagâncias humanas. Nas colunas à ação do jornalista , inalterável seriedade; venda franca da consciência, nas colunas de aluguel. Figura-nos um estabelecimento, em cujo sobrado se pratique o culto ao lar, enquanto no pavimento inferior se negocia a crápula em benefício dos donos da casa, cônjuges exemplares, excelentes pais, cidadãos austeros. É a Vênus dada entretanto à hipocrisia da castidade da matrona: a marafona sustentado a vestal.

    Contra essa gafeira do nosso periodismo seria mister uma reação nacional, como a que lutou contra a escravidão e a extinguiu. A repressão do anonimato mercenário não seria uma lei contra a imprensa, mas uma lei a seu favor; não restringiria a liberdade da palavra; coarctaria a liberdade do pasquin; não diminuiria a independência do jornalismo: emancipá-lo-ia do predomínio do balcão. Mas a política nacional, o governismo de todas as situações perderia uma das pernas, se lhe tirasse esse recurso.    

     

    Duas Imprensas

    Na “A Imprensa” 16 de outubro de 1900

     

    …O anonimato dos a-pedidos, esse ignóbil vêzo de converter o jornalismo em lavanderia geral de roupa suja, é instituição privativamente brasileira. A intuição dos fundadores da República, admiravelmente perspicaz, anteviu os imensos benefícios morais da propagação da mazela, e, para a desenvolver, fez o mesmo que as outras coisas dignas de animação legal: proibiu-o na constituição. Não podia haver receita mais feliz. Depois que o pacto republicano anatematizou dos nossos códigos a morte, conhecemos os degoladores do Rio Grande, os fuziladores do Rio de Janeiro, os matadoiros do Paraná, os queimadoiros de Canudos. Depois que a constituição federal excomungou da imprensa o anonimato, o anonimato fez da imprensa a sua ceva. Se essa constituição banisse a República, é possível que começássemos a ter o regime republicano.

    Todos os nossos homens de governo hoje sabem às mil maravilhas o jeito de  explorar esse tesouro. Quando a administração tem grandes culpas, e necessita, por isso, de recorrer a um estratagema diversório; quando se defronta com um antagonista formidável pela sua reputação, e, para o anular, há mister em enxovalhá-lo; quando a increpam verídicamente de um atentado, e, não podendo exculpar-se, tem interesse em desonrar o acusador; quando, em suma, se trata de liquidar improbamente um nome respeitável, e a empreitada é vil em demasia, para obter os serviços ostensivos da redação de um jornal condescendentemente, aluga-se um instrumento qualquer, useiro nessas execuções, encomenda-se lhe a tarefa, e a obra de fancaria, ou de arte, conforme o oficial, se traz a público na secção livre da folha ortodoxa à custa do tesouro, por qualquer das inúmeras verbas do orçamento suscetíveis da sangria clandestina.  

     

    Biblioteca do pensamento vivo; O pensamento vivo de Rui Barbosa. Apresentado por Américo Jacobina Lacombe.

    Livraria Martins Editora em 1967.

  10. VERGONHA

    Em três meses, vereadores do Rio passaram apenas 16 horas no plenário

    Câmara Municipal do RioCâmara Municipal do Rio Foto: Paulo MumiaPâmela OliveiraTamanho do texto A A A

    Dezesseis horas e cinquenta e sete minutos: foi esse o tempo que os vereadores mais assíduos do Rio de Janeiro permaneceram em plenário votando projetos de leis, vetos, emendas e decretos legislativos nos meses de agosto, setembro e outubro. Por mês, foram 5p9m. O levantamento, que teve como base as atas das sessões publicadas no site da Câmara Municipal, mostrou que das 42 sessões realizadas no período, 41 acabaram antes do fim da pauta, devido à falta de quórum. Ou seja, devido ao número insuficiente de vereadores em plenário. Em 24 delas, o que equivale a 57% das sessões, nenhum projeto foi aprovado devido à ausência de vereadores.

    — Há projetos importantes, discussões necessárias, mas parece que os colegas vereadores esqueceram isso. Quando não é um projeto de interesse do governo, o plenário fica vazio — afirma o vereador Paulo Pinheiro (PSOL).

    A ausência dos parlamentares, que pode ser atestada no plenário, contrasta com o registro de presença disponível nas atas. Em 8 sessões, a Ordem do Dia — momento reservado às votações — foi interrompida nos primeiros minutos, devido à falta de vereadores em plenário, apesar do número elevado de parlamentares que assinaram o livro de presença nos mesmos dias.

    No dia 9 de setembro, por exemplo, o painel eletrônico indicava, quando foi aberta a Ordem do Dia, 44 vereadores no plenário. Antes que qualquer projeto fosse colocado em pauta, o vereador Tio Carlos (SD) pediu verificação de quórum. Sete estavam no plenário, o que derrubou a sessão, já que, segundo o Regimento Interno, ela deve ser encerrada se for constatado número de vereadores inferior a17.

     

     

    Na tela, a presença dos vereadoresNa tela, a presença dos vereadores Foto: Paulo Múmia

     

    — A gente vê que, sistematicamente, tem gente aqui que assina o ponto e vai embora. Não fica para a sessão. É inadmissível, uma irresponsabilidade absoluta dos vereadores. Nós temos que estar no plenário. Votamos apenas três vezes por semana, por duas horas. Nem nestes momentos o vereador está aqui — questiona a vereadora Teresa Bergher (PSDB).

    Em outubro, o problema se repetiu por quatro vezes. No dia 2, o painel registrava 47 vereadores, mas apenas 12 estavam em plenário antes do início das votações.

    Um vereador expulso

    O vereador que falta à terça parte das sessões ordinárias durante um ano, sem justificativa, perde o mandato, segundo o regimento. Mas o único vereador expulso por falta foi Cristiano Girão, que cumpre pena em Rondônia, por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

    Apesar de prever penalidade para falta, não há mecanismo que impeça, por exemplo, que o vereador marque presença às 14h, quando o plenário é aberto, e abandone a sessão antes do fim. O EXTRA tentou falar com o presidente da Câmara, Jorge Felippe, que presidiu a Casa no período referente à matéria, mas não teve acesso ao vereador, que ocupa de forma interina a prefeitura. Presidente interino da Casa, Luiz Carlos Ramos (PSDC) argumentou que se retirar do plenário para não dar quórum a determinadas votações é um mecanismo da política.

    Em nota, a assessoria da Câmara afirmou que os vereadores passaram 23,5 horas votando em agosto, setembro e outubro, mas não informou como fez o cálculo. Alertou que o trabalho do vereador não se resume às sessões plenárias. Informou ainda que 33 leis foram produzidas e 37 projetos, aprovados. Além de terem sido realizadas cinco audiências para discussão da Lei Orçamentária.

    A nota da Câmara na íntegra

    A Mesa Diretora da Câmara Municipal do Rio esclarece que a atividade parlamentar têm como principal finalidade a produção de leis e a fiscalização das ações do Poder Executivo. Mas também existem outras funções e suas atribuições não se limitam as sessões plenárias. Por ser um agente público, e na maioria das vezes, residir próximo aos seus eleitores, o vereador assume o papel de interlocutor entre a sociedade e o Poder Público, vocalizando as demandas e anseios daquela parcela da população ou segmento o qual representa. Para isso, a atuação externa ao seu gabinete é imprescindível e tão importante quanto à legislativa e fiscalizadora.

    Tratando-se da atividade em plenário, o vereador poderá discutir da tribuna temas e fatos relevantes para a Cidade, no período denominado de Grande Expediente, e depois, apreciar e votar projetos de lei, no período denominado Ordem do Dia. Vale salientar que os parlamentares, mesmo ausentes do plenário, poderão estar em seu gabinete ou em outro espaço da Casa, realizando estudo ou análise da pauta de votação em andamento ou elaborando substitutivos e requerimentos e, até mesmo, se eximindo de votar determinado projeto, quando assim achar necessário.

    Outra atividade relevante realizada pelos vereadores em plenário é a promoção das audiências públicas que garantem a participação da sociedade nas ações do Legislativo e nas decisões sobre os destinos da Cidade, através das Comissões Permanentes e Especiais da Casa.

    Segue abaixo dados referentes à produção legislativa no período de Agosto, Setembro e Outubro.

    Atividades legislativas realizadas em plenário, por hora:

    Grande expediente: 76 horas

    Ordem do Dia: 23,5 horas

    Audiências públicas: 18,5 horas

    Total: 118 horas

    Produção Legislativa:

    Leis produzidas: 33 (27 ordinárias e 6 complementares)

    Projetos aprovados em primeira e segunda discussão: 37

    Audiências públicas para discussão da Lei Orçamentária/2015: 5

     

    Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/em-tres-meses-vereadores-do-rio-passaram-apenas-16-horas-no-plenario-14631160.html#ixzz3JtWB1LL1

  11. O PT inoculou um Cavalo de Tróia no Estado brasileiro

    O PT inoculou um Cavalo de Tróia no Estado brasileiro. O artigo que indico abaixo apresenta uma das melhores metáforas sobre o momento político atual.

    Desde há muito, a subdesenvolvida elite brasileira estruturou o Estado como uma máquina de pilhagem e desvio de recursos públicos com participação e/ou conivência de agentes dos 3 Poderes e da velha mídia, que gosta de ser chamada de “o 4º Poder”. Nem toda a elite é corrupta, óbvio, mas que os que os são – e os há nos 4 setores – roubam muito, auferem benefícios ilícitos e se protegem mutuamente, com tenacidade.

    Exemplo: os R$ 150 bi roubados no caso Castelo de Areia (privataria tucana) não constituem exatamente uma “carteirada no trânsito” ou um inocente “dinheirinho de pinga” desviado. Foi um assalto profissional. E, como se sabe, políticos, empresários e operadores ali envolvidos foram singelamente perdoados pela justiça e pela mídia.

    O cambalacho funcionou bem até a chegada do PT ao poder, em 2002. Nenhuma força política, por mais ética e bem intencionada que seja consegue limpar essa tentacular estrutura corrupta só pelo fato de ter sido eleita. Mesmo porque, pelas regras vigentes, não se chega ao poder sem enfiar as mãos na lama.

    O PT até hoje não conseguiu desmontar o esquema, que atinge a estrutura pública e governamental de alto a baixo. Mas o pouco que fez foi o suficiente para “engasgar” as engrenagens da outrora máquina perfeita, como um vírus de computador.

    Com se observa no recente caso Lava Jato, a reação tem sido e continuará a ser sangrenta, porque os interesses graúdos atingidos são muitos. A boa notícia que, depois do PT, o Brasil dos privilegiados nunca mais será o mesmo.

    “As contradições engendradas nesse período chegaram a uma intensidade tão grande que os braços do Estado estão sacrificando interesses econômicos de frações de classes que compõem o bloco no poder, como as empreiteiras, para atingir seus interesses políticos. Ou seja, ESTÃO CORTANDO NA PRÓPRIA CARNE para enfraquecer o governo, especialmente o PT. No entanto, os impactos são imprevisíveis” (grifo meu).

    Vale a pena ler o artigo completo.

    Do blog O Escrevinhador

    Operação Lava Jato e o recrudescimento das contradições internas do Estado

    http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/geral/operacao-lava-jato-e-o-recrudescimento-das-contradicoes-internas-estado/

    Por Igor Felippe

    Os 12 anos de governo de coalizão de classes sociais com as vitórias eleitorais do PT podem ser comparados a um vírus de computador do tipo Cavalo de Troia no sistema operacional de poder no país.

    A democracia brasileira fez o download do software PT nas eleições de 2002, que não tinha mecanismos para formatar o sistema, mas instalou um vírus que colocou em parafuso o hardware do Estado brasileiro.

    Aplicativos que garantiam as operações do aparelho estatal, que sempre funcionaram sem qualquer problema, passaram a travar e apresentar falhas no processo de execução. O sistema não deixou de funcionar, nunca mais o fez da mesma forma, porque deu um bug.

    O Estado brasileiro tem uma estrutura complexa formada por diversas instituições, autarquias e departamentos, regidos por leis, decretos e regulamentos, que expressam a relação de forças entre as classes sociais.

    Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e seus diversos braços, que querem aparecer opacos e neutros, expressam em cada uma das suas ações a relação do Estado com as relações de produção e a divisão social do trabalho. Por isso, as contradições entre as classes e frações de classe atravessam o esqueleto do Estado e se manifestam como conflitos internos entre os seus diversos órgãos.

    A principal função do Estado capitalista é representar o interesse político do conjunto da burguesia no longo prazo, sob a hegemonia de uma das suas frações. Para isso, tem uma autonomia relativa de qualquer uma das frações da burguesia para assegurar a organização do interesse geral dos capitalistas.

    Uma vez que a fração hegemônica do bloco no poder se impõe, a resultante das ações dos braços do aparelho estatal espelha essa correlação de forças. Ou seja, o funcionamento do Estado espelha o comportamento e poder das frações de classe em luta pelos seus interesses políticos. Esses conflitos se expressam de forma específica dentro do Estado como fissuras.

    Por isso, os vencedores de uma eleição presidencial não tomam o poder, porque o Estado não é um instrumento que pode ser conquistado no atacado e utilizado por qualquer classe. As mudanças de governo não transformam automaticamente a materialidade do aparelho estatal.

    Um governo federal mais alinhado aos interesses políticos das frações da classe dominante confere maior coesão aos braços do Estado. Sob um governo federal menos alinhado, ganham intensidade as contradições internas. Ou seja, o Estado capitalista se adaptou à democracia, desenvolvendo “salvaguardas” para o caso da eleição de governos menos alinhados.

    Vale registrar que as classes dominantes não têm nenhum compromisso com a democracia, especialmente nos países periféricos. Eleito em 1950, Getúlio Vargas fez um governo nacionalista e trabalhista e teve que dar um tiro no peito para impedir o golpe, montado a partir das acusações de corrupção. Na década de 60, João Goulart só tomou posse depois de uma campanha nacional. No entanto, o governo das Reformas de Base não resistiu e o presidente foi derrubado em 1964.

    O PT é um vírus dentro do aparelho de Estado. Mesmo com a Carta ao Povo Brasileiro, com os lucros dos bancos nas alturas, com os empréstimos bilionários do BNDES para as grandes empresas, com a abertura de mercados no exterior para diversos segmentos da economia, a estrutura estatal o considera uma invasão de forasteiros e quer expeli-lo.

    A instalação, manutenção e continuidade do PT no governo por mais de 10 anos esgarçaram contradições políticas que se expressam dentro do Estado com o conflito entre seus braços.

    Mesmo com a preservação dos interesses econômicos da classe dominante, houve deslocamentos políticos no seio da burguesia, especialmente com o fortalecimento da burguesia interna, com implicações para a fração bancária. Além disso, frações da classe trabalhadora, como os assalariados urbanos, o subproletariado e os agricultores familiares, se fortaleceram, movendo segmentos da burguesia e seus aliados.

    Com a emergência de determinadas frações de classe, o Estado atravessado pelas contradições de classe coloca em movimentos seus braços que expressam os interesses políticos da classe dominante.

    O caso de corrupção na Petrobras envolve o casamento três elementos centrais: uma empresa brasileira sob gestão estatal, um segmento da burguesia interna (as empreiteiras) e um sistema político submetido ao poder privado.

    A operação Lava Jato materializa a contradição dentro do Estado, ao colocar em conflito seus braços que expressam interesses de diferentes frações de classes. Esse não é o primeiro esquema de corrupção da história do Brasil, mas eclodiu justamente pelas contradições no interior do aparelho estatal terem alcançado um estágio inédito.

    Durante o regime militar, o Estado brasileiro não tinha instrumentos efetivos de controle das ações dos governos, além da sociedade estar calada pela força e os meios de comunicação funcionarem sob censura. Na prática, os militares faziam o que queriam com a economia, com o Congresso, com o Poder Judiciário e com a mídia. Os generais eram a lei e, qualquer problema que aparecesse no caminho, era resolvido pela “autoridade” das Forças Armadas.

    No governo Fernando Henrique Cardoso, foram criados instrumentos de controle das ações do governo, a partir da pressão da sociedade para exigir transparência. No entanto, não houve graves contradições com o Ministério Público, com o Tribunal de Contas da União, com a Polícia Federal ou com o Poder Judiciário, embora sejam conhecidos escândalos de corrupção como a compra da reeleição e a Privataria Tucana.

    No governo Lula, o quadro começou a mudar. O PT ganhou a eleição com uma ampla aliança política e nunca controlou o Estado brasileiro, tendo poder apenas sobre alguns nacos. Braços do aparelho estatal que antes se submetiam automaticamente ao Palácio do Planalto passaram a exibir uma “independência” nunca vista na história do país.

    Assim, aparelhos do Estado brasileiro que sempre funcionaram com figurantes no jogo político passaram a ganhar expressão nos noticiários com suas ações mais firmes, se constituindo como salvaguardas das classes dominantes diante das medidas, programas e políticas propostas pelo atual governo.

    O PT é um vírus na estrutura do Estado justamente por exacerbar as contradições no seu interior e aprofundar fissuras no aparelho estatal. Por isso, o país está assistindo cenas que nunca foram vistas na história, como a prisão de executivos das maiores empreiteiras do país. Esquemas que datam de décadas anteriores, como o caso Petrobras, só foram investigados e vieram a público em circunstâncias específicas criadas a partir de 2003.

    As contradições políticas sob os governos de coalizão liderados pelo PT se manifestam dentro do aparelho estatal com as ações da Polícia Federal, do Ministério Público, do Poder Judiciário e do STF. Antes, havia uma maior sobreposição de interesses do bloco do poder e as instituições político-burocráticas do Estado. Agora não é mais assim, mesmo com o atendimento dos interesses econômicos do grande capital.

    A questão é a direção política do governo federal, que se mantém sob controle dos “outsiders” do PT no Palácio no Planalto, nos ministérios e nas empresas estatais depois de 12 anos e com a perspectiva de mais quatro, deslocando no aparelho do Estado aqueles que expressam os interesses políticos das frações de classes dominantes.

    As contradições engendradas nesse período chegaram a uma intensidade tão grande que os braços do Estado estão sacrificando interesses econômicos de frações de classes que compõem o bloco no poder, como as empreiteiras, para atingir seus interesses políticos. Ou seja, estão cortando na própria carne para enfraquecer o governo, especialmente o PT. No entanto, os impactos são imprevisíveis.

    O esgarçamento da luta política impõe ao Estado cada vez maiores dificuldades para dar a unidade às frações burguesas que compõem o bloco no poder e contemplar as classes de baixo. É difícil de prever o desfecho do conflito aberto entre os braços do Estado e a exposição de esquemas que envolvem segmentos da burguesia e do sistema político, mas certamente os prejuízos não ficarão restritos ao PT.

     

  12. VERGONHA

    Em três meses, vereadores do Rio passaram apenas 16 horas no plenário

    Câmara Municipal do RioCâmara Municipal do Rio Foto: Paulo MumiaPâmela OliveiraTamanho do texto A A A

    Dezesseis horas e cinquenta e sete minutos: foi esse o tempo que os vereadores mais assíduos do Rio de Janeiro permaneceram em plenário votando projetos de leis, vetos, emendas e decretos legislativos nos meses de agosto, setembro e outubro. Por mês, foram 5p9m. O levantamento, que teve como base as atas das sessões publicadas no site da Câmara Municipal, mostrou que das 42 sessões realizadas no período, 41 acabaram antes do fim da pauta, devido à falta de quórum. Ou seja, devido ao número insuficiente de vereadores em plenário. Em 24 delas, o que equivale a 57% das sessões, nenhum projeto foi aprovado devido à ausência de vereadores.

    — Há projetos importantes, discussões necessárias, mas parece que os colegas vereadores esqueceram isso. Quando não é um projeto de interesse do governo, o plenário fica vazio — afirma o vereador Paulo Pinheiro (PSOL).

    A ausência dos parlamentares, que pode ser atestada no plenário, contrasta com o registro de presença disponível nas atas. Em 8 sessões, a Ordem do Dia — momento reservado às votações — foi interrompida nos primeiros minutos, devido à falta de vereadores em plenário, apesar do número elevado de parlamentares que assinaram o livro de presença nos mesmos dias.

    No dia 9 de setembro, por exemplo, o painel eletrônico indicava, quando foi aberta a Ordem do Dia, 44 vereadores no plenário. Antes que qualquer projeto fosse colocado em pauta, o vereador Tio Carlos (SD) pediu verificação de quórum. Sete estavam no plenário, o que derrubou a sessão, já que, segundo o Regimento Interno, ela deve ser encerrada se for constatado número de vereadores inferior a17.

     

     

    Na tela, a presença dos vereadoresNa tela, a presença dos vereadores Foto: Paulo Múmia

     

    — A gente vê que, sistematicamente, tem gente aqui que assina o ponto e vai embora. Não fica para a sessão. É inadmissível, uma irresponsabilidade absoluta dos vereadores. Nós temos que estar no plenário. Votamos apenas três vezes por semana, por duas horas. Nem nestes momentos o vereador está aqui — questiona a vereadora Teresa Bergher (PSDB).

    Em outubro, o problema se repetiu por quatro vezes. No dia 2, o painel registrava 47 vereadores, mas apenas 12 estavam em plenário antes do início das votações.

    Um vereador expulso

    O vereador que falta à terça parte das sessões ordinárias durante um ano, sem justificativa, perde o mandato, segundo o regimento. Mas o único vereador expulso por falta foi Cristiano Girão, que cumpre pena em Rondônia, por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

    Apesar de prever penalidade para falta, não há mecanismo que impeça, por exemplo, que o vereador marque presença às 14h, quando o plenário é aberto, e abandone a sessão antes do fim. O EXTRA tentou falar com o presidente da Câmara, Jorge Felippe, que presidiu a Casa no período referente à matéria, mas não teve acesso ao vereador, que ocupa de forma interina a prefeitura. Presidente interino da Casa, Luiz Carlos Ramos (PSDC) argumentou que se retirar do plenário para não dar quórum a determinadas votações é um mecanismo da política.

    Em nota, a assessoria da Câmara afirmou que os vereadores passaram 23,5 horas votando em agosto, setembro e outubro, mas não informou como fez o cálculo. Alertou que o trabalho do vereador não se resume às sessões plenárias. Informou ainda que 33 leis foram produzidas e 37 projetos, aprovados. Além de terem sido realizadas cinco audiências para discussão da Lei Orçamentária.

    A nota da Câmara na íntegra

    A Mesa Diretora da Câmara Municipal do Rio esclarece que a atividade parlamentar têm como principal finalidade a produção de leis e a fiscalização das ações do Poder Executivo. Mas também existem outras funções e suas atribuições não se limitam as sessões plenárias. Por ser um agente público, e na maioria das vezes, residir próximo aos seus eleitores, o vereador assume o papel de interlocutor entre a sociedade e o Poder Público, vocalizando as demandas e anseios daquela parcela da população ou segmento o qual representa. Para isso, a atuação externa ao seu gabinete é imprescindível e tão importante quanto à legislativa e fiscalizadora.

    Tratando-se da atividade em plenário, o vereador poderá discutir da tribuna temas e fatos relevantes para a Cidade, no período denominado de Grande Expediente, e depois, apreciar e votar projetos de lei, no período denominado Ordem do Dia. Vale salientar que os parlamentares, mesmo ausentes do plenário, poderão estar em seu gabinete ou em outro espaço da Casa, realizando estudo ou análise da pauta de votação em andamento ou elaborando substitutivos e requerimentos e, até mesmo, se eximindo de votar determinado projeto, quando assim achar necessário.

    Outra atividade relevante realizada pelos vereadores em plenário é a promoção das audiências públicas que garantem a participação da sociedade nas ações do Legislativo e nas decisões sobre os destinos da Cidade, através das Comissões Permanentes e Especiais da Casa.

    Segue abaixo dados referentes à produção legislativa no período de Agosto, Setembro e Outubro.

    Atividades legislativas realizadas em plenário, por hora:

    Grande expediente: 76 horas

    Ordem do Dia: 23,5 horas

    Audiências públicas: 18,5 horas

    Total: 118 horas

    Produção Legislativa:

    Leis produzidas: 33 (27 ordinárias e 6 complementares)

    Projetos aprovados em primeira e segunda discussão: 37

    Audiências públicas para discussão da Lei Orçamentária/2015: 5

     

    Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/em-tres-meses-vereadores-do-rio-passaram-apenas-16-horas-no-plenario-14631160.html#ixzz3JtWB1LL1

  13. O Brasil que não está na mídia.

    Primeiro submarino construído no Brasil, Tamoio, realiza “load-in” para início do período de manutenção no Rio

     Após 20 anos de bons serviços prestados à Marinha do Brasil, na vigilância e proteção da chamada “Amazônia Azul”, área oceânica de 4,5 milhões de km² que concentra riquezas naturais, o submarino Tamoio (S-31) iniciou novo Período de Manutenção Geral (PMG).

    http://www.defesa.gov.br/noticias/14315-primeiro-submarino-construido-no-brasil-inicia-periodo-de-manutencao-no-rio-de-janeiro

    A iniciativa, que ocorre a cada seis anos, tem como finalidade restabelecer as condições de operação de seus equipamentos e sistemas.

    De acordo com o diretor do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), contra-almirante Mário Ferreira Botelho, a manutenção obedece a rigorosos critérios de qualidade, o que é essencial para garantir e resgatar a capacidade operacional do submarino.

    “Durante esse período são reparados diversos sistemas mecânicos, elétricos e eletrônicos, bem como realizadas inspeções estruturais, incluindo possíveis reparos do casco resistente”, explicou o almirante.

    No início do processo, o submarino Tamoio foi retirado da água e levado para um galpão do AMRJ. Nesse procedimento, conhecido como load-in, o submarino “pousa” em cima de uma balsa alagada, dentro de um dique. Após a retirada da água, a balsa é suspensa, permitindo que o submarino seja movimentado e alinhado ao galpão, junto com a balsa.

     

  14.  
    Centenário da morte de

    Augusto dos Anjos

     

    Centenário da morte de Augusto dos Anjos motiva exposição em São PauloBiblioteca Nacional/domínio público

     

     

    Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil Edição: Valéria Aguiar

     

    Os cem anos da morte de Augusto dos Anjos motivam Exposição Esdrúxulo! na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, região central da capital. O poeta nascido na Paraíba, morreu com apenas 30 anos em Minas Gerais em 1914. O único livro, de composições de tom pessimista, teve como inspiração a própria vida, como sugere o título: Eu. “Somente a Ingratidão — esta pantera — foi tua companheira inseparável!” , diz um dos versos mais famosos do autor.

    Por isso, a vida do poeta é o tema do primeiro dos cinco eixos que formam a exposição. Uma vida muito curta e sofrida, enfatiza o curador Júlio Mendonça. Nessa parte, o visitante poderá ver reproduções de documentos que marcam momentos importantes da trajetória do poeta. A partir daí, a obra do poeta é apresentada em 23 poemas. “Os mais marcantes, representativos da poesia dele”, explica o curador.

    A morte é o segundo eixo da exposição. “Agora, sim! Vamos morrer reunidos”, escreveu o autor no verso inicial de Vozes da Morte. A consciência da finitude e as referências diretas a morte são constantes na obra do poeta. “Já o verme — este operário das ruínas —“, diz um verso de Psicologia de um Vencido, “há-de deixar-me apenas os cabelos, na frialdade inorgânica da terra!” fecha o poema que traz outras característica de sua obra: a escatologia. O tema também integra uma ala a parte da mostra.

    É explorada ainda a relação da obra do poeta com a ciência. “Vive em contubérnio com a bactéria, livre das roupas do antropomorfismo”, refletia o autor em o Deus-Verme. O uso de termos científicos, especialmente da biologia foi outro traço do escritor. Mendonça explica que nisso o poeta antecipava tendências na arte. “Uma das coisas que principalmente dos anos 1960 para cá foi se tornando mais clara é que o poeta antecipou certos elementos da poesia moderna, que os modernistas iriam criar a partir de 1922”, ressaltou o curador.

    Ao final, um espaço cênico brinca com a popularidade do artista que no início do século 20, quando ainda estava vivo, era visto como excêntrico. “Muito lido e apreciado por pessoas do país inteiro. Seu único livro teve muitas edições. E muita gente se recorda de certos versos dele muito claramente, tem gravado na memória alguns versos que ficaram muito famosos”, comenta Mendonça.

     

     

    http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2014-11/centenario-da-morte-de-augusto-dos-anjos-motiva-exposicao-em-sao-paulo     

     

  15. Operação Gringo: cooperação entre ditaduras do Cone Sul

     

    João Batista Figueiredo em visita oficial à Argentina é recebido pelo Presidente Jorge Rafael Videla – Orlando Brito / Agência O Globo

    Operação Gringo: documentos são maior prova de cooperação  entre as inteligências latino-americanas

    Encontrada pelo MPF no sítio do coronel Paulo Malhães, documentação detalha o uso de infiltrados em entidades e mostra como os estrangeiros foram monitorados.

    Fonte: O Globo, por Chico Otavio e Raphael Kapa

    RIO E BRASÍLIA – De terno marrom, gravata quadriculada e mãos dadas com o filho Andrés, de 9 anos, até o portão de embarque, o jornalista Norberto Habegger, de 37 anos, parecia um executivo partindo da Cidade do México para uma viagem de negócios ao Rio naquele 31 de julho de 1978. No bolso, porém, o passaporte falso em nome de “Hector Esteban Cuello” indicava outra intenção. Enquanto os cariocas se recuperaram do baque na Copa do Mundo, vencida pela Argentina no mês anterior, Norberto, um importante dirigente da organização guerrilheira Montoneros no exílio, chegava à cidade para uma reunião secreta com dois companheiros. Seu objetivo: planejar a “contraofensiva”, série de ações políticas e militares destinada a derrubar a ditadura instalada em seu país dois anos antes.

    E isso era tudo o que se sabia sobre os últimos momentos do montonero. Norberto Habegger desapareceu no Brasil sem deixar vestígios. Na época, o governo brasileiro só admitiu a entrada de “Hector”, sem registro de saída.

    Do armário empoeirado de um chalé na Baixada Fluminense, surge agora uma prova inédita de que os militares brasileiros não apenas souberam da presença de Habegger no país, como seguiram os seus passos e registraram o seu desaparecimento, que representou para eles a queda da base de resistência montonera no Brasil. Os papéis secretos com o nome do jornalista e outros 80 estrangeiros monitorados pela repressão brasileira foram encontrados pelos procuradores do grupo “Justiça de Transição”, do Ministério Público Federal, no sítio do tenente-coronel Paulo Malhães, ex-agente da repressão morto no dia 24 de abril deste ano.

    JANOT DIZ QUE DOSSIÊS SÃO MAIOR PROVA DA CONDOR

    O achado, composto por dois dossiês de capa preta (“Relatório nº 8/78 – Palestra”, de 111 páginas, e “Operação Gringo/Caco”, de 166 páginas), ambos produzidos pela Seção de Operações do Centro de Informações do Exército (CIE), entre 1978 e 1979, já foi entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Ministério Público Federal argentino. Para Janot, as investigações revelaram a maior prova até hoje obtida da Operação Condor, a colaboração efetiva entre os regimes ditatoriais do Cone Sul para a prática de crimes de lesa-humanidade:

    – A Operação Gringo, braço da Condor, foi ocultada da população durante muitos anos e só agora veio a público pelo trabalho do MPF. As gerações presentes e futuras têm o direito e a obrigação de conhecer todos os fatos e todos os crimes e violações ocorridos, para que não mais se repitam.

    O menino que aparece com a camisa do Flamengo na última foto do desaparecido é hoje o cineasta Andrés Habegger, que esteve no Rio, na semana passada, para rodar “El (im)posible olvido” (“O (im)possível esquecimento”), documentário sobre os últimos dias do pai. Ao ver os papéis, ele se emocionou:

    – A documentação é forte, muito interessante. Está explícita, clara, está em palavras a colaboração dos Exércitos argentino e do Brasil. Tudo que ajude a saber um pouco mais, em caso até daqueles que estão diretamente envolvidos com desaparecidos, é milagroso.

    Os militares brasileiros acreditavam, na época, que o Brasil fazia parte do “Departamento América”, divisão montonera que atuaria no exílio comandada por Elbio Alberione, ex-sacerdote “de codinome Gringo”, apontado pelos agentes como o segundo nome no comando da organização.

    Os dois dossiês, além da lista nominal dos vigiados, traz uma série de compilações de outros relatórios, explicações sobre os grupos brasileiros e estrangeiros monitorados, gráficos mostrando o avanço e o recuo das esquerdas no Brasil, além de informação dos cerca de 130 monitorados, entre brasileiros, alemães, bolivianos, chilenos, americanos, italianos, soviéticos, venezuelanos e, principalmente, argentinos.

    Os agentes vigiaram até as autoridades diplomáticas do Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), que tiveram as entradas e saídas do país monitoradas, e os católicos da Cáritas. As duas instituições formaram a base da rede de solidariedade a cerca de 20 mil exilados das ditaduras latinas no período. Com a provável ajuda da repressão argentina, o escritório do CIE no Rio chegou a infiltrar um informante nas fileiras montoneras no Brasil.

    Os militares suspeitavam da presença de “130 a 200” guerrilheiros argentinos em território nacional, integrando “tropas especiais de agitação” e “tropas especiais de infantaria”. Habegger, considerado um dos líderes do grupo, aparece três vezes na papelada. As duas primeiras, no dossiê “Palestra”, no qual o jornalista é citado “na relação dos argentinos envolvidos na Operação Gringo que registram antecedentes” — dados supostamente obtidos pelo CIE com a ditadura argentina.

    A terceira referência a Habegger, no dossiê “Gringo” (Relatório nº 11), já é de dezembro de 1979 e o dá como desaparecido. O documento sugere que o desaparecimento reduziu o poder de articulação do grupo no Brasil: “Desde 1977 até o desaparecimento do montonero Norberto Habegger, o Brasil era a mais importante base na América do Sul desta organização subversiva”.

    Os dossiês servirão de base para uma investigação conjunta dos MPFs do Brasil e da Argentina, fruto de um acordo de cooperação internacional firmado entre os dois países.

    Além de documentos, ainda é possível buscar provas testemunhais. Nas pesquisas para o documentário, Andrés descobriu que três membros da inteligência argentina – Enrique José Del Pino, Alfredo Omar Feito e Guillermo Victor Cardozo, que se encontram presos por outros crimes políticos – teriam vindo ao Rio, com a ajuda dos militares brasileiros, para buscar o seu pai. De acordo com o cineasta, Norberto foi visto pela última vez no Campo de Mayo, um dos maiores centros clandestinos de detenção do regime argentino.

    A advogada Nadine Borges, integrante da Comissão Estadual da Verdade do Rio que recolheu depoimentos de Malhães em fevereiro deste ano, desconfia que Habegger é o mesmo argentino que o coronel admitiu ter sequestrado no Rio e entregue à polícia vizinha:

    – Malhães contou sobre uma operação em que usou uma droga para sedar um argentino e transportá-lo até o seu país de origem em um avião como se estivesse morto e com documentos falsos. Quando ouvi o relato, pensei logo no caso do Norberto, mas não tinha provas. Agora, com os papéis encontrados, não tenho dúvida.

    EX-SARGENTO ADMITIU PRISÃO E MORTE DE ARGENTINO

    O ex-sargento do CIE Marival Chaves, que serviu com Malhães na ditadura, já contou aos procuradores do grupo “Justiça de Transição”, em depoimento recente, que ficou sabendo, por um agente de codinome Bastos, que, na época, um homem foi preso em São Paulo, morto, encaixotado e despachado para a Argentina. Ele não identificou o nome da suposta vítima.

    A prisão, segundo Marival, foi uma operação conjunta do CIE com a inteligência argentina. O ex-sargento disse que agentes do Chile e da Argentina foram enviados para o Brasil, para trabalhar sob o comando dos órgãos brasileiros, com a missão de obter informações sobre pessoas de seus países que ingressaram no Brasil, sobretudo Rio de Janeiro, sob a proteção do Acnur.

    Dois movimentos argentinos mereceram uma atenção especial dos agentes envolvidos na operação: os montoneros e o Exército Revolucionário do Povo (ERP), que tiveram suas trajetórias e suas principais lideranças detalhadas. Trinta e cinco anos depois da data do último dossiê, as autoridades brasileiras e argentinas buscam agora compreender a atuação de suas inteligências para a aniquilação desses grupos:

    – A atuação do Ministério Público Federal busca a reconciliação legítima de nossa sociedade com seu passado e sua História. Bem como a eficácia do entendimento universal de que graves violações de direitos humanos são imprescritíveis e não passíveis de anistia – afirmou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot

     

  16. Petrobrás

    Lava a jato ou mar de lama

    A operação Lava a Jato se transformou em mar de lama. Ao invés de limpeza, a turma que compõe essa operação está sujando os nomes das instituições que representam.

    O próprio Procurador Geral da República já se posicionou contra os vazamentos das investigações, e eles acontecem como rotina. E na maior desfaçatez, depois da divulgação do vazamento, o juiz  Sérgio Moro, que cuida do caso, vem a público dizer que a denúncia não é verdadeira. Foi assim com o diretor da Petrobrás, José Carlos Consenza, e com o senador do PT Humberto Costa. É a política do morde e assopra!

     E se no uísque e no vinho quanto mais velho melhor, o Lava a Jato prefere o mais novo, servem para a sociedade bebidas novas de qualidade inferior e escondem para si preciosidades acima de 12 anos, como o Petrolão do PSDB.

     Lembram do Joaquim Barboza, presidente do Supremo Tribunal Federal, do Mensalão do PT, comparado na época ao Batmam, chamado de paladino da moral e da justiça? Pois é, hoje JB se transformou em pau de galinheiro: registro de agressão à mulher em delegacia, compra ilegal de casa em Miami e agora JB, para não deixar dúvidas de seu caráter, não devolveu no prazo o apartamento funcional que a Corte colocou à sua disposição.

     Pela primeira vez no Brasil corruptos e corruptores estão indo para a cadeia. Entretanto, não podemos permitir que a operação da operação Lava a Jato se transforme em linchamento. Por isso fica a dúvida para a sociedade: Lava a jato ou mar de lama?   

     

    Fonte: Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)

    Rio de Janeiro, 24 de novembro outubro de 2014;

     

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