Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Luis Nassif

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  1. TELECOMUNICAÇÕES E O JORNALISMO QUE BATE À PORTA

     

    A Ericsson publica, a cada quatro meses, um relatório sobre o estado em que se encontram as telecomunicações móveis em todo o mundo. Acho-o muito legal, mas admito que a maioria das pessoas não concorde comigo, pois, da maior parte dos ângulos que se olha, é um tanto chato com aquele monte de números, tabelas e gráficos (coloridos, mas ainda assim…). Por isso, não pediria para ninguém ler se não achasse importante (pelo menos para quem se preocupa com coisas de somenos como o futuro do jornalismo).

    O motivo de achar importante que você dê uma olhada no relatório da empresa sueca é a análise do bravo Alan D. Mutter. No artigo, o “newsosaur” avisa que, nos EUA, cerca de metade dos acessos às notícias já acontece por meio de aparelhos móveis (smartphones e tablets) e que o jornalismo feito para este tipo de dispositivo é, necessariamente, diferente do que é realizado hoje até mesmo para sites.

    O primeiro argumento do pessoal mais antigo quando se depara com dados e análises desse tipo é que essa situação levará muito tempo para chegar aqui, no Bananão e, portanto, não há motivos para preocupações por enquanto. É aqui que entra o relatório da Ericsson. Ele mostra que a América Latina terá cerca de 600 milhões de smartphones em 2020, ou 65% do total – um crescimento de 30 pontos percentuais (hoje, os “telefones espertos” são 35% do total), sendo que Brasil e México responderão por 50% desses aparelhos. Em termos de assinaturas, a tecnologia dominante será a WCDMA/HSPA+ (em linguagem de gente e de marketing, 3G e 3G+), com 65% (40% hoje) ficando a LTE (4G) com 30%. Já a cobertura chegará a 90% para 3G e 65% para 4G.

    Por que isso é importante? Porque a maior parte do tráfego será composta por imagens, principalmente vídeo, como mostra o relatório da Ericsson. E isso influencia o modo de fazer jornalismo, como diz Alan, porque os usuários de dispositivos móveis não têm disposição para ler longos textos escritos, exigindo gráficos, fixos e com movimento, e vídeos para facilitar o entendimento do contexto, de maneira, ao mesmo tempo, mais profunda e rápida. O “newsosaur” acredita que jornais e revistas estão reagindo lentamente a essa nova ecologia informacional – e se ele acha isso lá, imagine a opinião dele se conhecesse o panorama daqui.
    No momento, paro por aqui, mas quando voltar ao assunto, falarei sobre as iniciativas do governo para acelerar esse processo. Por enquanto, fica a lista de leitura:
    1. Relatório da Ericsson (e um sumário da parte referente à América Latina dos coleguinhas das publicações especializadas da editora Glasberg).
    2. Artigo de Alan D. Mutter.

    por https://coleguinhas.wordpress.com/

     

     

  2. Enquanto isso, em Portugal

    Prisão de Sócrates: análise e novos factos

     (Atualizado às 8:13) 

    A.B.C. (2009). Cela da Priogione Nuova. Palazzo Ducale, Venezia.

    Pronto!

    No histórico dia 21-11-2014, pelas 22:45, no aeroporto de Lisboa, vindo de Paris, José Sócrates foi detido a pedido do procurador Rosário Teixeira(que liderou o inquérito, com uma equipa de procuradores e peritos da Autoridade Tributária) e por decisão do juiz Carlos Alexandre, alegadamente por indícios da prática dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Com ele, e no âmbito daOperação Marquês, foram detidos: o seu velho amigo e alegado testa de ferro, Carlos Manuel Santos Silva; o advogado Gonçalo Ferreira; e o seu motorista, João Perna.

    Comento: primeiro, faço uma análise política; depois, refiro e relaciono alguns factos novos. Devido à abundância de fontes publicadas, reduzo os linques ao essencial.

    1. A análise política
    A detenção de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa culmina uma batalha de nove anos e nove meses travada neste blogue, desde o meu poste de 22-2-2005, «Os cursos de Sócrates» (dois dias depois de ter tomado do Governo). Nesta batalha também sofri a SLAPP de um processo no habitual jogo de «assédio, intimidação e diversão», e silêncio forçado durante seis meses, enquanto durava a presidência de Portugal da União Europeia, desde o 15-6-2007 quando ironicamente fui constituído arguido por fax, por queixa apresentada pelo «cidadão José Sócrates e primeiro-ministro enquanto tal» no inquérito judicial que desencadeou contra mim (ver o meu livro «O Dossiê Sócrates», pp. 40-47)  até ao 24-1-2008, quando foi noticiado pela TVI que o processo contra mim tinha sido arquivado (e eu desapareci na direção do pôr-do-sol), não tendo o primeiro-ministro recorrido do despacho de arquivamento nem deduzido acusação particular contra mim, lá saberá ele porquê. E, na sequência disso, o meu livro «O dossiê Sócrates», de setembro de 2009, sobre o percurso académico do primeiro-ministro, que a editora Leya desistiu de publicar (veja-se o meu poste «Os amigos são para as ocasiões», de 9-3-2010). Apenas me interessou o político, a sombra da corrupção e a crueldade ditatorial. Nenhum mal quero à pessoa – rezei por ele neste sábado – e desejo que, depois de cumprir o que a justiça lhe determinar, possa ter, fora da política, uma vida longa e feliz – é este o disclaimer moral que aqui prego.

    José Sócrates escapou, entre outros, aos seguintes casos e processos:
    Sovenco, empresa de distribuição de combustíveis na Amadora, em que foi sócio com Armando Vara, Fátima Felgueiras e Virgílio de Sousa.Progitap, quando trabalhou nesta empresa dos irmãos Geraldes Pinto, na angariação de clientes (câmaras municipais);. Resin, empresa que ganhou várias concessões de recolha e tratamento de resíduos urbanos, alegadamente mediante as ligações a José Sócrates e Fátima Felgueiras; Cova da Beira, de aquisição de um terreno polémico para um aterro sanitário, e projeto e seleção de construtoras pelo seu grande amigo António José Morais, a Conegil do seu amigo Santos Silva ganhou o concurso; Siresp, do seu amigo Horácio Luís de Carvalho (HLC), num contrato polémico, renegociado pelo seu governo, de 485 milhões de euros (e que alegadamente deveria ter custado um quinto desse valor) para o sistema de comunicações das forças de segurança.Licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente: releia-se, além do que consta do meu livro, o despacho das procuradoras Cândida Almeida e Carla Dias, de 31-7-2007, de arquivamento do inquérito por queixa do advogado José Maria Martins sobre alegada utilização de documento falso, o certificado de licenciatura da Universidade Independente, datado de 26 de agosto de 1996, com timbre com indicativo telefónico «21» e código postal com sete dígitos que só vieram a ser criados cerca de dois anos depois; e o rápido despacho de arquivamento, da coordenadora da então coordenadora do  DCIAP Cândida Almeida e da procuradora Carla Dias, datado de 3 de abril de 2012, datado de 3 de abril de 2012, sobre a participação criminal do advogado Alexandre Lafayette, em 20 de março de 2012, estando no tribunal administrativo de Lisboa em análise a eventual declaração de nulidade da sua licenciatura, com base emqueixa do ex-vice-reitor Rui Verde, em 29-4-2013.Freeport, apesar de denunciado, por alegadamente ter recebido 2,5 milhões de euros para licenciamento de um centro comercial, não chegou sequer a constituído arguido, apesar dos indícios e evidências que se podem ler no acórdão de 20-7-2012 e certidão extraída, do Tribunal do Montijo do Círculo do Barreiro, presidido pelo desassombrado juiz Afonso Andrade. Na sequência desse processo, José Luís Lopes da Mota, do Eurojust, em consequência de umapartipação interposta pelo Movimento para a Democracia Direta, em que fomos depois representados pelo advogado Alexandre Vieira, no âmbito de um inquérito disciplinar, sancionado pelo Conselho Superior do Ministério Público com um mês de suspensão, em dezembro de 2009.Face Oculta, onde chegou a ser suspeito por ter ordenado a compra à PT, de Zeinal Bava, dos meios de comunicação nacional que não controlava – TVI, Correio da Manhã e Público.Taguspark: alegado pagamento de 750 mil euros ao ex-jogador Luís Figo para o apoio deste à campanha eleitoral de José Sócrates nas legislativas de 2009.Pode ver-se uma súmula breve de alguns destes casos feita por Micael Pereira, no Expresso de Ricardo Costa, «As sombras de Sócrates», sendo curioso o facto de na peça se escrever: «Um blogue [sic!].esteve na origem da divulgação do caso, em março de 2007».

    Os motivos da prisão de Sócrates conhecidos são vários: 
    O alegado negócio de venda a si próprio, através do seu amigo Carlos Santos Silva (colocado no Grupo Lena), da casa onde morava sua mãe, na esquina da Rua Brancamp com a rua Castilho, em Lisboa,para justificar a sua fortuna com a herança (que era relativamente modesta) da sua mãe, que terá dado origem ao processo, após «comunicação bancária» (CGD).O financiamento do seu luxuoso apartamento com «250 metros quadrados (…) à beira do rio Sena», em Paris (que comprou por 2,8 milhões de euros e já pôs à venda por quatro milhões), onde até constou que tinha mordomo, mas «por muitas outras coisas», presume-se mais ainda do que o Correio da Manhã e o Sol (e no passado «O Crime», de José Leite) têm profusamente listado. A aprovação, no Orçamento de Estado para 2010, do Regime Excecional de Regularização Tributária (RERT II) de exoneração de obrigações tributárias mediante o pagamento de 5% (em vez dos quase 40% que teriam de ser aplicados no imposto sobre rendimento de milhões) de que, alegadamente, beneficiou ele mesmo (tal como havia feito em 2005), através da vinda a Portugal, nesse ano, para serembenzidos, 20 milhões de euros, depositados no banco suíço UBS, alegadamente obtidos em luvas de negócios corruptos de Estado. As alegadas «faturas forjadas» para justificar transferências de dinheiro, num alegado esquema complicado de lavagem de dinheiro que, alegadamente, envolve o administrador da Octapharma Portugal, Joaquim Paulo Lalanda de Castro, para a qual Sócrates trabalharia como Presidente do Conselho Consultivo para a América Latina (um título pomposo e vazio, à medida de Sócrates…), mais o seu testa de ferro Santos Silva e o seu advogado Gonçalo Ferreira, que alegadamente lhe levantam e entregam todos os meses 10 mil euros em numerário, além de Santos Silva transferir mensalmente 12 mil euros da sua/dele conta para offshore inglesa em nome de Paulo Castro (para pagar a avença da Octapharma a Sócrates, que seria simulada para fisco ver?). Porque um dos problemas de Sócrates era justificar o dinheiro desbaratado numa vida faustosa, como Felícia Cabrita conta no Sol, de 22-11-2014, «entre viagens de férias, velhos vícios e a renda do andar em Paris», sendo que este utilizaria preferencialmente «no dia-a-dia dinheiro vivo». O financiamento do mestrado em Ciência Política, na Sciences-Po, na investigação do qual terá colaborado o fisco francês.A alegada participação do motorista de Sócrates no esquema de fornecimento de dinheiro vivo ao ex-primeiro-ministro, João Perna: no CM, de 24-11-2014, «Motorista caçado com malas de dinheiro» e noPúblico, também de hoje, que titula «Motorista de Sócrates ia de carro levar o dinheiro a Paris», o que fazia periodicamente. O motorista parece ter funcionado como «correio do dinheiro» (DN, 24-11-2014) para Sócrates, que não arriscava o transporte de grandes somas. A equipa de investigação liderada por Rosário Teixeira, e com supervisão do juiz de instrução Carlos Alexandre, usou o método utilizado pela CIA para apanhar Ossama ben Laden: vigiar o correio eseguir os seus movimentos.O CM, de 24-11-2014, titula ainda «Apanhado nas escutas do “Labirinto”», referindo-se à operação do DCIAP/TCIC sobre a venda ilegal de vistos dourados. Em 20-11-2014, já tinha feito, neste blogue, a ligação entre o setor mendista e o setor socratinono poste «O sistemalabiríntico», uma matéria que o jornalista José António Cerejo explorou no Público, de 23-11-2014, p. 12, «Arguido dos vistos dourados está ligado á multinacional em que Sócrates trabalha».Além destes factos, a curiosidade demonstradora da sua personalidade, de, alegadamente, segundo o Sol, de 22-11-2014, ter comprado trinta mil exemplares do próprio livro que publicou «A confiança no mundo», de forma a fazer subir o livro no ranking de vendas nacional. O inquérito e a detenção do ex-primeiro-ministro foram possíveis porque perdeu a proteção dos aparelhos de poder: procuradoria, Governo e Presidente da República. Porque os serviços de informação não tiveram força suficiente para o defender e falharam a manobra concertada dossocialistas e dos mendistas para destituir Passos Coelho. Porque o DCIAP de Amadeu Guerra não é o mesmo que o de Cândida Almeida, tal como Joana Marques Vidal não é Fernando Pinto Monteiro. Ainda que Sócrates pareça ter tido informação interna das diligências da investigação, que o terá eventualmente levado a uma alegada manobra de ilusão, após ter feito o check-in em Paris, estando a equipa de detenção à sua espera no aeroporto de Lisboa e com o seu advogado logo no dia seguinte a manifestar a disponibilidade para Sócrates prestar esclarecimentos ao DCIAP (CM, 22-11-2014) – é a essa  fuga de informação que tem de se dar prioridade eminquérito na Procuradoria… De outro modo, os corajosos magistrados do Ministério Público, com Rosário Teixeira à cabeça, e o destemido juiz Carlos Alexandre, sofreriam uma «canelada» (como pretendia Ferro Rodrigues sobre o processo Casa Pia, em 2003) e seriam afastados indiretamente do caso.

    A solidez dos factos enunciados e a impopularidade da fortuna de José Sócrates levaram ao seu isolamento político mesmo no Partido Socialista e na Maçonaria. António Costa foi cauteloso, como não foi em 2003, aquando do caso Casa Pia quando interferia no processo, nomeadamente em 21-3-2003: «Pá, talvez o teu irmão seja altura de procurar o Guerra». O PS parece não querer arriscar outra campanha rosa-choque contra a justiça. Na verdade, a detenção de Costa dá jeito a António Costa, um general que tem acesso a dinheiro (por isso, não abandona a câmara municipal de Lisboa), mas não tem tropas: dependia de Sócrates e continua a depender dos ferrosos. Uns e outros é que lhe arranjaram os sindicatos de voto que lhe permitiu ganhar a António José Seguro. O ex-líder socialista, Seguro, aliás, devia agora falar da corrupção que soube, da espionagem e pressão de que foi alvo e dos sindicatos de voto que o derrotaram, para percebermos como foi tramado.

    Do lado de Sócrates, apenas alguns fiéis: Edite Estrela, João Soares,Marinho e Pinto e a bastonária da Ordem dos Advogados Elina Fraga e ovice-bastonário Rui da Silva Leal que sem conhecer o processo afirmou que «a detenção é absolutamente ilegal» por, em sua opinião, não estarem cumpridos os requisitos da mesma (!), Clara Ferreira AlvesSão José Almeida, o socialista ferroso Pedro Adão e Silva, Pedro Marques Lopes e mais um ou outro em justificações nuancées. O objetivo de desviar a atenção da substância dos factos para a vitmização mediática do ex-primeiro-ministro parece estar a falhar, apesar da intervenção subreptícia dos editores de confiança.
    Mas o desfecho de sexta-feira, que como disse o nosso comentador A Mim Me Parece «morreu politicamente», também só foi possível, pelo combate patriótico persistente e apoio à autonomia da justiça por muitos (e esqueço tantos…): blogueiros, como este Do Portugal Profundo, enriquecido com os contributos de tantos comentadores, o irmão José da Porta da Loja, Helena MatosVítor Cunha e outros no Blasfémias, André Azevedo Alves e outros no Insurgente, o Manuel da saudosa Grande Loja do Queijo Limiano, Joaquim do Palavrosavrus Rex, Rui Costa Pinto do Mais Atual, Fernando Melro dos Santos da Caverna Obscura, Ana Mendes da Silva, Luís Botelho Ribeiro, Ramiro Marques e tantos outros; jornalistas como Manuela Moura Guedes,Carlos EnesAna Leal, José António Cerejo, António José Vilela, Paulo Pinto Mascarenhas, José Leite e Alte Pinho, Octávio Ribeiro, José António Saraiva, José Manuel Fernandes no Público e agora no ObservadorFrancisco José Viegas, e outros; e opinadores, como Eduardo Cintra Torres, João Miguel Tavares, Paulo Morais, Alberto Gonçalves, o falecido poeta Manuel António Pina e outros, além dos sacrificados, como Fernando Lima, fora magistrados e polícias que arriscaram o serviço corajoso de investigar e julgar o Mal. Esse fluxo teimoso de informação e de opinião, que muitos desprezavam como persecutório, mas que tinha o objetivo político do bem público, produziu o ambiente de resistência patriótica à corrupção de Estado e à deriva autoritária do socratismo e da entente cordiale que, após sair do poder, o abrigou, até na televisão pública. Agora, como dizia um professor meu (Tempo de Vésperas, 1971, pp. 19-201), é o tempo dos «trabalhadores da undécima hora»:
    «[Os velhos lutadores] lembram-se de debates onde a esses não lhes escutaram palavra; recordam-se de combates onde eles não correram para alinhar à chamada; falam de tempos magros em que não os viram participar das carências; apontam riscos passados onde os mesmos sempre chegaram a tempo a lugares seguros. (…) Os trabalhadores da undécima hora só prosperam quando as batalhas forem ganhas, os tempos cumpridos, os sonhos realizados. Não são os que ficaram silenciosos, os que não participaram na acção, que fizeram o mundo em que vivemos. Acontece que estão lá na época da colheita. Os que fazem o mundo são outros, são os que transformam as ideias em pa­lavras e as palavras em acção. Uma máxima antiga que é bom lembrar de tempos a tempos. É porque os velhos lutadores estiveram nos debates, responderam à chamada para o combate, participaram das carências, correram todos os riscos, que chega algum dia em que batem as pancadas da undécima hora. Os construtores do mundo, de uso não têm mais do que dez horas para viver. A colheita em regra não lhes pertence.»Sic transit gloria mundi: os mesmos que o carregavam na sedia gestatoria de papa do sistema são aqueles que agora juram que sempre o criticaram e recomendam severidade no castigo. Ou, estando mais comprometidos, calam-se e escondem-se: surpreende como o seu amigo Daniel Proença de Carvalho se esconde e Sócrates tem de recorrer a João Araújo para o defender.

    2. Factos, factos, factos!
    O problema de José Sócrates é que, tendo uma infância sofrida (deixado ao pai, pela sua mãe, que ficou com o seu irmão) e uma adolescência e juventude com pouco dinheiro, não abdica dos prazeres, a que o seu estilo o compele. Em contraste com a maioria daqueles que obtém ilegalmente grandes fundos e que, pelo menos em Portugal, procuram não exceder um nível de vida que os rendimentos declarados permitem, e de políticos que se conformam com o poder, que tudo permite, Sócrates não abdica do dinheiro e do fausto que os milhões alegadamente arrecadados lhe permitem, seja em restaurantes e hotéis de nomeada, seja nos «velhos vícios» (que Felícia Cabrita refere no Sol, de 22-11-2014).

    Em contraste com os 2,25 milhões, segundo o Público, de 23-11-2014, que constituíriam os rendimentos obtidos entre 1987, quando chegou a Lisboa como deputado, depois de trabalhar como engenheiro técnico na Covilhã, e 2014, Sócrates teria um património de 23,2 milhões de euros (incluindo os 20 milhões que o jornal diz estarem na Suíça, na conta do amigo, e a casa de Paris). Segundo Felícia Cabrita, em notícia do Sol, de 22-11-2014, dos 20 milhões de euros do dinheiro de Sócrates, «com o resgate do BES e a passagem para o Novo Banco, metade da fortuna já foi transferida para outra instituição bancária». E se assim foi, como se diz, arriscaria José Sócrates (o alegado dono do dinheiro da conta de Carlos Manuel Santos Silva, um ex-falido construtor civil da Covilhã, um «bom rapaz», conforme me descreveu uma fonte local), ou outra pessoa, manter todo o seu dinheiro em Portugal, à mercê das autoridades? Ainda em cima, nesta hipótese imprudente, manteria a sua alegada fortuna no BES, um banco cuja circunstância precária tinha obrigação de conhecer? Não serão os alegados 20 milhões de euros apenas o pocket money para Sócrates viver dos juros em Portugal, mantendo-se o grosso da fortuna em paraísos fiscais mais seguros do que a nova Suíça?

    Não conhecendo senão o que vem nos jornais, e portanto sem saber o que foi investigado e conseguido, creio que devo contribuir referir alguns factos para investigação sobre José Sócrates:
    Apurar a aquisição das valiosas obras de arte que José Sócrates possui. Se for provada a origem ilegal dos fundos e do património, apreender a sua coleção de arte, com urgência.Apurar a sua intervenção nos casos da venda da Vivo e de compra da Oi, no Brasil. O saldo na venda da participação da PT de 30% da Vivo, entre o veto de Sócrates ao negócio, usando a golden share do Estado, em 30 de junho de 2010, e a sua permissão, 28 dias depois, é de 350 milhões de euros (7.500.000.000 – 7.150.000.000 = 350.000.000). Também a compra da Vivo suscitou dúvidas em Portugal e no Brasil.Apurar a sua intervenção na centena de parcerias público-privadas, além dos negócios feitos com o grupo Lena em Portugal e no estrangeiro (Venezuela).Apurar o papel de Sócrates, se existiu, na tomada do BCP pelos seus amigos, nomeadamente Armando Vara, com a concessão pela Caixa Geral de Depósitos a Joe Berardo de 500 milhões para aquisição de ações do banco (decidida por administradores da Caixa que meses depois transitaram para… a administração do BCP).Apurar o relacionamento de José Sócrates com o grupo Espírito Santo, referido, pelo CM, de 21-10-2012, nomeadamente Ricardo Salgado, atendendo a uma conversa do ex-primeiro-ministro com José Maria Ricciardi do grupo BES, numa conversa em que se tratam por tu (!), Sócrates lhe diz que não consegue falar com Ricardo (Salgado) e lhe pede que «não se esquecessem do amigo que está em Paris». Apurar a sua intervenção, se houve, na alteração do Regulamento do Parque Natural da Arrábida que determinou a modificação do regime de exploração das pedreiras de cimento da Secil no Outão, em 23-8-2005.Apurar a utilização dos cartões de pagamento do Tesouro (Visa IGCP Carge Card), não apenas os usados pelo chefe de gabinete e pelo assessor administrativo de Sócrates, mas também pelos ministros, secretários de Estado e membros dos seus gabinetes, dos seus governos, com plafonds muito elevados, um processo por queixa da Associação Sindical de Juízes Portugueses, liderada pelo juiz António Martins, em fevereiro/março de 2012, que aparentava estar parado no DIAP e que só em junho de 2014 foi noticiado algum avanço.Apurar a sua intervenção, se alguma, na venda de títulos de dívida pública pelo IGCP (de Alberto Soares), na época de subida da taxa de juro portuguesa, que culminou no pedido de resgate financeiro do País à União Europeia e FMI, feito por José Sócrates em 6-4-2011.Apurar a regularidade da sua inscrição no mestrado em Ciência Política na Sciences-Po, e a validade do título se vier a ser decretada a nulidade da sua licenciatura, e como foi elaborado o seu mémoire, escrito em francês (!) ou em português com tradução para francês, e se contou com a ajuda de alguns nègres conhecidos, ou não. Apurar o seu controlo, a sua tutela e a sua orientação, dos serviços de informação do Estado que procederam a ações claramente ilegais de perseguição de cidadãos inocentes durante os seus anos de poder e que continuaram, aliás, depois disso, através das suas toupeiras rosa e seus aliados salmão.

    Nestes factos, como no caso em inquérito e noutros, importa apurar a verdade. Se Sócrates nada fez, melhor para ele; se infringiu a lei, que cumpra o que for determinado. Não se trata de vingança – a qual não pratico, nem aceito. Trata-se de justiça e de sanção pedagógica para a limpeza do Estado. Justifica-se que fique em prisão preventiva, tendo em conta a gravidade dos factos e, para lá do alarme social de que os média nacionais e internacionais dão conta, a forma como se moveu relativamente à investigação.

    A guerra patriótica de limpeza do Estado não termina com esta batalha de nove anos e meio, nem com o vazio da vitória. Continua. Porque corrupção de Estado há muita: não tem apenas a anterior tonalidade rosa-choque nem a futura rosa-salmão, mas todas as cores do espectro do abuso, compreendendo também o laranja escura e o azul celeste e o vermelho. Este desfecho de uma etapa, não pode iludir os portugueses de que o problema da corrupção de Estado fica resolvido. A democracia representativa está no estertor em Portugal, Espanha, França e um pouco por todo o Ocidente e verifica-se a oportunidade de uma democracia direta, com eleições primárias nos partidos para todos os candidatos a cargos eletivos no Estado (deputados, presidentes de câmara municipal, etc.) maior responsabilização dos políticos e referendos mais frequentes. Mas nem a democracia direta, por si só, sem vigilância, eliminará o mal. Mais, se falharmos a reforma da democracia, podemos ser vencidos pela emergência do autoritarismo. Aqui, e na vida, nunca distingui, nem distinguirei cores, nem protagonistas, no penoso esclarecimento da verdade e no sacrificado serviço do Bem. E, enquanto Deus me permitir, assim continuarei o trabalho patriótico por um Portugal livre, digno e justo.

    http://doportugalprofundo.blogspot.com.br/

     

     

  3. Analistas veem risco de país

    Analistas veem risco de país só absorver tecnologia mais básica de caças suecos

    Contrato de US$ 5,4 bilhões para compra de 36 aeronaves da Saab, prevê 150% em transferência de conhecimento para o Brasil

    por Roberta Scrivano* 

    24/11/2014 6:00

    O Globo

    O caça Gripen, da sueca Saab: Brasil comprará 36 unidades Foto: Fabrice Coffrini / AFP O caça Gripen, da sueca Saab: Brasil comprará 36 unidades – Fabrice Coffrini / AFP
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    ESTOCOLMO, GOTEMBURGO E SÃO PAULo A sueca Saab, que vendeu 36 caças Gripen NG ao Brasil por US$ 5,4 bilhões, garante no contrato assinado com o governo brasileiro que dará uma compensação, de pelo menos 150% do valor contratual, em transferência de tecnologia ao país. Na prática, isso significaria que os suecos ensinariam o que sabem a companhias brasileiras. Para absorver tais conhecimentos, as empresas nacionais têm de estar aptas, preparadas. Mas, especialistas do setor, que acompanham o negócio de perto, têm dúvidas sobre se essa cooperação industrial se dará efetivamente pela troca de conhecimento de tecnologia de produção do caça ou se ficará restrita ao chamado “chão de fábrica”, isto é, onde a aeronave é montada.

    As dúvidas provêm de duas questões. A primeira, é o baixo nível de sofisticação da cadeia aeroespacial nacional, o que põe em xeque a transferência, já que não é possível ensinar tudo, desde o zero aos fabricantes locais, como observa Mario Sergio Salerno, professor da Universidade de São Paulo (USP) especializado em inovação. A segunda, é a falta de detalhamento, no contrato e da própria Saab, de como será e qual a profundidade dessa transferência.

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    ESTOCOLMO, GOTEMBURGO E SÃO PAULo A sueca Saab, que vendeu 36 caças Gripen NG ao Brasil por US$ 5,4 bilhões, garante no contrato assinado com o governo brasileiro que dará uma compensação, de pelo menos 150% do valor contratual, em transferência de tecnologia ao país. Na prática, isso significaria que os suecos ensinariam o que sabem a companhias brasileiras. Para absorver tais conhecimentos, as empresas nacionais têm de estar aptas, preparadas. Mas, especialistas do setor, que acompanham o negócio de perto, têm dúvidas sobre se essa cooperação industrial se dará efetivamente pela troca de conhecimento de tecnologia de produção do caça ou se ficará restrita ao chamado “chão de fábrica”, isto é, onde a aeronave é montada.

    As dúvidas provêm de duas questões. A primeira, é o baixo nível de sofisticação da cadeia aeroespacial nacional, o que põe em xeque a transferência, já que não é possível ensinar tudo, desde o zero aos fabricantes locais, como observa Mario Sergio Salerno, professor da Universidade de São Paulo (USP) especializado em inovação. A segunda, é a falta de detalhamento, no contrato e da própria Saab, de como será e qual a profundidade dessa transferência.

    CAPACITAÇÃO NO EXTERIOR

    Jan Germudsson, vice-presidente de parcerias industriais da Saab, admite que o aperfeiçoamento da cadeia produtiva aeroespacial no Brasil é essencial para inserir o país no projeto de produção dos caças Gripen NG, cujo potencial de venda é estimado em US$ 30 bilhões para os próximos 20 anos.

    Aline Barabinot, diretora da consultoria internacional OrBiz, diz que as empresas brasileiras precisam “ganhar corpo para entrar nesta disputa global”. Para que o Brasil possa competir como fornecedor da Saab no projeto dos caças, salienta ela, é preciso que as empresas do país se preparem, no sentido de entender quais serão os seus lugares na cadeia já estabelecida no mundo.

    — O negócio da Saab com o Brasil abre uma grande porta ao desenvolvimento industrial. Mas, se não houver um entendimento da cadeia como um todo, e onde nos inserimos, a onda vai passar e as companhias não vão aproveitar — ressalta a consultora.

    Pelo acordo feito entre a Saab e o governo brasileiro, antes mesmo da assinatura do contrato — que tem mais de mil páginas e peso superior a 70 kg —, 40% dos últimos 15 Gripens NG comprados pelo Brasil devem ser produzidos aqui. Desse total, só está claro que 80% da estrutura será feita no país. Não há percentual definido para itens e partes de maior teor tecnológico.

    — O motor e o radar são feitos por estrangeiras. A GE faz o motor, e a Selex, o radar. São dois itens muito sofisticados, que já sabemos que não vamos aprender — afirma Carlos Rondina Mateus, supervisor do Cluster Aeroespacial e de Defesa do Brasil, instalado em São José dos Campos.

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    Segundo Germudsson, da Saab, a companhia elegeu sete empresas brasileiras para serem suas “parceiras”. São elas: Embraer, Akaer, Ael, Atech, Inbra, Mectron e DCTA. Essas serão as companhias que receberão a transferência tecnológica — processo que vai durar seis anos. Durante três anos, alguns dos funcionários dessas empresas ficarão na Suécia sendo capacitados. Nos três anos seguintes, especialistas suecos virão ao Brasil supervisionar o trabalho dos brasileiros. Depois disso, encerra-se a transferência tecnológica.

    — Claro que não há dúvida da capacidade de a Embraer absorver esse conhecimento, assim como as outras escolhidas — afirma Salerno, da USP. — O ponto é se esse conhecimento pode ser absorvido pela cadeia co

     

    Para garantir essa capacidade de absorção, a Saab comprou, por exemplo, 15% da Akaer, que fica em São José dos Campos e terá papel importante no desenvolvimento dos projetos da estrutura dos caças. A sueca também vai fundar, em parceria com o Grupo Inbra, uma nova fábrica em São Bernardo do Campo, que se chamará SBTA e será encarregada de produzir as estruturas projetadas pela Akaer. Segundo Marcus Wallenberg, presidente da Saab e bisneto do fundador da empresa, poderá haver ainda novas “relações de desenvolvimento em parceria” com outras empresas no Brasil.

    — Temos que ficar de olho nisso. Por que, se a SBTA for uma indústria verticalizada e não integradora, ou seja, que não use a nossa cadeia estimulando essa evolução tecnológica, vamos andar para trás — afirma Mateus.

     

  4. Oi, pessoal, o participante “jns” postou ontem, para os domingue

    Oi, pessoal, o participante “jns” postou ontem, para os domingueiros, ecelentes contrigbuições ao multimídia do dia. Eu com algumas, e mais participanrtes que têm chegdo gradulamente àquela seção escondidinha (sobre a qual já fiz varias sugestões à Equipe/Nassif pra que seja destacada em Home GGN.  Seção para ser ista, apreisda ou não (gsto é gosto), por isitantes silienciosos, visitantes não-cadastradosou cadastrados, enfim, pra todo o mundo.

    1. paz e amor

       

      MUJICA É O CARA

      Indicado ao Prêmio Nobel da Paz

      “Estão loucos. Que prêmio da paz… nem prêmio de nada. Se me derem um prêmio desses, será uma honra para as pessoas humildes do Uruguai, para conseguirem uns pesos a mais para fazer as suas casinhas.”

      “No Uruguai temos muitas mulheres sozinhas com quatro, cinco filhos porque os homens as abandonaram e lutamos para que possam ter um teto digno.”

      “Para isso teria sentido, mas a paz se leva dentro e esse prêmio eu já o tenho. O prêmio está nas ruas do meu país, no abraço dos meus companheiros, nas casas humildes, nos bares e nas pessoas comuns. No meu país eu caminho pela rua e vou comer em qualquer bar sem essa parafernália de gente de Estado.”

      O ex-guerrilheiro, alérgico a gravatas, na pequena morada onde vive com Manuela, uma cadela de três pernas, e a sua esposa Lucia Topolansky, senadora, parceira de muitos anos, que, como Mujica, doa boa parte de seu salário.

  5. Prática Multidisciplinar da

    Prática Multidisciplinar da Política Econômica Democrática

    Posted on24/11/2014by

    certo_ou_errado

    É equivocado e inoportuno, em momento de “tensão pré governamental”, estigmatizar instrumentos de política econômica. Seus usos não são ideológicos, tipo de “direita” ou de “esquerda”. Sempre elevar gastos públicos ou taxa de câmbio não é ser desenvolvimentista, assim como a receita única de cortar gastos públicos e elevar taxa de juros não é neoliberal, mas simplesmente autista. Não se pode analisar a política econômica de curto prazo com maniqueísmo ideológico. Por definição, se a conjuntura se altera, o uso desses instrumentos tem de se alterar. A arte da economia é discricionária e não baseada em regras únicas universais.

    Por exemplo, o Escritório de Avaliação Independente (IEO, na sigla em inglês), órgão que funciona como um auditor do Fundo Monetário Internacional, avalia que o FMI fez um alerta “no momento adequado” sobre a importância de um estímulo fiscal global coordenado em 2008. Mas a exigência do Fundo de um aperto das contas públicas de algumas economias avançadas em 2010 e 2011 foi precipitada. “O mix recomendado de políticas não foi apropriado, uma vez que a expansão monetária é relativamente ineficaz para estimular a demanda privada depois de uma crise financeira”, criticou o IEO.

    Em 2012, a política fiscal teria sido mais eficiente para incentivar a demanda, contribuindo para que a política monetária fosse menos expansionista. “A combinação de políticas perseguida pelos países avançados teve impactos desestabilizadores nos mercados emergentes, exacerbando a volatilidade nos fluxos de capitais e nas taxas de câmbio”. Evidentemente, tem de se circunstanciar a política econômica de acordo com o contexto e não pregar sempre as mesmas ações.

    O contra-argumento em defesa de “erros cometidos no passado por adoção de receita prematura” é que essa avaliação a posteriori se beneficia de uma visão retrospectiva da situação, ou seja, constitui “a fácil sabedoria ex-post”. Porém, a dedução correta é que o gradualismo do ajuste fiscal deve estar condicionado às condições específicas dos países.

    Em determinada conjuntura recessiva, o fraco crescimento econômico resultante de um ajuste fiscal prematuro torna ainda mais difícil para países altamente endividados reduzir a relação dívida/PIB e colocar o endividamento em uma trajetória sustentável de queda. Não se pode depender demais da política monetária expansionista e não usar a política fiscal em situação de “armadilha de liquidez”. Oferta de crédito é dirigida pela demanda. Se esta não é ativada, não há como efetivar aquela. O gasto público é autônomo face à demanda presente e multiplica renda que representará demanda futura.

    Todo esse receituário keynesiano de política econômica é universalmente conhecido pelos economistas de diferentes matizes. Na realidade, o modo de sua condução que varia de acordo com a abordagem de cumprir determinada regra, ou a de adotar a discricionariedade, ou mesmo a de achar que o relevante é seu anúncio ter credibilidade, com o que o “pacote” é acompanhado de uma série de adjetivos: transparente, eficiente, consistente, robusto, etc. etc.

    A política monetarista de regra busca atingir certa taxa de crescimento estável em algum agregado monetário, para não perturbar o livre funcionamento das forças de mercado. A regulação macroprudencial de arbítrio propõe atitude passiva quanto à oferta de moeda, porém com rígida fiscalização administrativa sobre a atuação dos bancos e/ou controles financeiros seletivos. A sinalização para o mercado com credibilidade propõe-se alcançar uma meta no índice geral de preços com o uso discricionário do instrumento da taxa de juros básica.

    Tudo isso é muito conhecido dos economistas. Porém, muitas vezes eles não se atentam que a política econômica não é apenas a aplicação da teoria econômica. Ela requer que se ultrapassem as fronteiras estreitas do conhecimento econômico e que se leve em consideração, igualmente, a esfera da política e dos conflitos de interesses sociais.

    A política econômica bem sucedida existe apenas quando uma visão multidisciplinar combina as ações econômicas e as ações políticas. Este relacionamento entre o apoio ao governo e as variáveis econômicas que o afetam é chamado de “função de popularidade”. A relação direcional inversa que parte de ações do Governo e atinge a Economia é chamada de “função política”.

    Em síntese, não existe algo que possa ser considerado uma Teoria Econômica Pura da Política Econômica. As experiências históricas concretas das sociedades democráticas no mundo ocidental sugerem uma Prática Multidisciplinar da Política Econômica Democrática.

     

  6. Espiritualidade do Período

    Espiritualidade do Período Conservador Pré-Moderno

    Posted on23/11/2014by

    alcorao

    Nenhum pensamento racional conseguiria criar uma sociedade agressivamente inovadora sem uma economia moderna. As sociedades ocidentais podem continuar modificando a infraestrutura para possibilitar novas invenções, porque, graças ao constante reinvestimento de capital, conseguem aumentar nossos recursos básicos para que acompanhem nosso progresso tecnológico.

    Isso não é possível em economia agrária, na qual as pessoas canalizam suas energias para a preservação do que já conquistaram. Portanto, a tendência “conservadora” de uma sociedade pré-moderna não se devia a uma timidez fundamental, mas representava uma avaliação realista das limitações desse tipo de cultura.

    A educação, por exemplo, consistia sobretudo em memorização e não estimulava a originalidade. Os estudantes não aprendiam a conceber ideias novas, porque a sociedade em geral não tinha como assimilá-las. Tais noções podiam, portanto, ser socialmente destrutivas e ameaçar uma comunidade. Em sociedade conservadora, a estabilidade e a ordem eram mais importantes que a liberdade de expressão.

    Em vez de olhar para o futuro, como modernamente, as sociedades pré-modernas iam buscar inspiração no passado. Em vez de contar com um aprimoramento constante, achavam que a geração seguinte podia facilmente regredir. Em vez de procurar superar suas conquistas, acreditavam que haviam decaído de uma perfeição primordial.

    Essa suposta Idade do Ouro era apresentada como modelo a governos e indivíduos. Aproximando-se desse passado ideal, uma sociedade realizaria seu potencial. Considerava-se a civilização inerentemente precária. Sabia-se que toda uma sociedade podia mergulhar na barbárie, como ocorrera com a Europa ocidental após a queda do Império Romano, no século V.

    No início da Era Moderna, o mundo islâmico ainda guardava na memória a lembrança das invasões mongóis do século XII. Ainda se transmitia oralmente a lembrança, com horror, dos massacres, da fuga de populações inteiras, da destruição de uma grande cidade após outra. Bibliotecas e instituições culturais também desapareceram, e, com elas, perderam-se séculos de conhecimentos arduamente adquiridos.

    Os muçulmanos se recuperaram. Os místicos sufistas lideraram um renascimento espiritual que se revelou tão salutar quanto a Cabala luriânica, e os três novos impérios constituem um sinal desse reerguimento.

    As dinastias otomanas e Safávida tinham raízes no maciço deslocamento da era mongol. Originaram-se nos militantes Estados ghazu, governados por um chefe guerreiro e geralmente ligados a uma ordem sofista, que surgiu na esteira da devastação. O poderio e a beleza desses impérios e de sua cultura equivaliam a uma reafirmação dos valores islâmicos e a uma orgulhosa declaração de que a história muçulmana prosseguia.

    Depois da catástrofe advinda das invasões mongóis do século XII, o conservadorismo natural da sociedade pré-moderna só podia acentuar-se. Havia mais empenho para recuperar o que se perdera do que para conquistar algo de novo.

    No islamismo sunita, que compreende a maioria dos muçulmanos e é a religião oficial do Império Otomano, por exemplo, “as portas do ijtihad” (“raciocínio independente”) se fecharam. Até então os juristas muçulmanos podiam exercer seu próprio julgamento para resolver questões relativas a teologia e lei para as quais nem o Alcorão nem a tradição explicitavam soluções. No início do Período Moderno, porém, na tentativa de preservar uma tradição que havia sido quase destruída, os sunitas resolveram que não devia mais haver espaço para o pensamento independente.

    As respostas estavam no lugar de sempre: a Shariah prescrevia a conduta da sociedade e o ijtihad não era nem necessário, nem desejável. Os muçulmanos deviam imitar (taqlid) o passado. Em vez de buscar novas soluções, deviam submeter-se às normas contidas nos manuais legais. No começo da Modernidade, a inovação (bidah) em matéria de lei e prática era tão subversiva e perigosa para o islamismo sunita quanto a heresia em matéria de doutrina para o Ocidente cristão.

    Seria difícil imaginar uma atitude mais contrária ao espírito desbravador e iconoclasta do Ocidente moderno. A ideia de frear deliberadamente nossa capacidade de raciocinar é inconcebível. Como Karen Armstrong mostra, no capítulo seguinte de seu livro, a cultura moderna só se desenvolveu quando se começou a derrubar esse tipo de barreira.

    Se a Modernidade Ocidental é produto do logos, o espírito conservador do mundo pré-moderno se satisfazia plenamente com o mythos. O pensamento mitológico olha para trás, não para a frente. Volta sua atenção para as origens sagradas, para um acontecimento primordial ou para as bases da vida humana.

    Em vez de buscar algo novo, o mito se concentra no que é constante. Não nos transmite “novidades”, mas nos fala do que sempre foi. Tudo que importa já foi realizado e pensado. Vivemos de o que disseram nossos ancestrais, principalmente nos textos sagrados que contêm tudo o que precisamos saber. Essa era a espiritualidade do período conservador.

    O culto, as práticas rituais e as narrativas míticas não só davam aos indivíduos a sensação de que tudo faz sentido – sensação que repercutia em seu inconsciente mais profundo –, como reforçavam a atitude essencial à sobrevivência da economia agrária e de suas inerentes limitações.

    O mito não tem de desencadear mudanças concretas. Ele cria uma disposição mental que se adapta e conforma com as coisas como são. Isso era essencial em uma sociedade que não podia comportar inovações desenfreadas.

     

  7. Muçulmanos: O Espírito

    Muçulmanos: O Espírito Conservador em 1492-1799

    Posted on23/11/2014by

    muculmanos

    Em 1492, segundo Karen Armstrong, no livro Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo (Tradução: Hildegard Feist. São Paulo; Companhia das Letras; 2001), o povo judeu foi uma das primeiras vítimas da nova ordem que lentamente surgia no Ocidente. A outra foram os muçulmanos da Espanha, que nesse ano momentoso perderam seu último baluarte na Europa.

    Mas o Islã não estava, absolutamente, falido. No século XVI, ainda era a maior potência do planeta. Embora a dinastia Sung (960-1260) tivesse elevado a China a um nível de complexidade social e poderio muito superior ao do Islã e o Renascimento italiano tivesse iniciado uma florescência cultural que acabaria favorecendo a liderança do Ocidente, os muçulmanos conseguiam conter facilmente esses desafios e permaneciam em alto patamar político e econômico.

    Correspondiam a cerca de um terço da população do globo, mas estavam tão ampla e estrategicamente situados no Oriente Médio, na Ásia e na África que compunham um microcosmo da história mundial, exprimindo as preocupações da maioria das regiões civilizadas nos primórdios da modernidade.

    Essa época também foi empolgante e inspiradora para eles. No começo do século XVI, surgiram três novos impérios islâmicos:

    o Otomano, na Ásia Menor, Anatólia, Iraque, Síria e norte da África;o Safávida, no Irã; eo Mongol, no subcontinente indiano.

    Cada um refletia uma faceta distinta da espiritualidade islâmica.

    O Império Mongol representava o racionalismo filosófico, tolerante e universalista conhecido como Falsafah.Os xás Safávidas transformaram o xiismo, até então restrito a uma pequena elite, na religião de seu Estado.Os turcos otomanos, que se mantiveram fervorosamente fiéis ao islamismo sunita, criaram uma política baseada na Shariah, a lei sagrada dos muçulmanos.

    Esses três impérios constituíram um novo ponto de partida. Eram instituições modernas, governadas sistematicamente, com precisão burocrática e racional.

    O Estado otomano era então muito mais eficiente e poderoso que qualquer reino europeu da época. Sob Solimão, o Magnífico (1520-66), alcançou o apogeu. Solimão expandiu-se para o Ocidente, através da Grécia, dos Bálcãs e da Hungria, e seu avanço pela Europa só se deteve com sua tentativa frustrada de tomar Viena, em 1529.

    No Irã dos Safávidas, os xás construíram estradas e caravançarás (abrigos para hospedagem de caravanas), racionalizaram a economia e colocaram o país na linha de frente do comércio internacional.

    Os três impérios desfrutaram uma renovação cultural comparável ao Renascimento italiano. O século XVI foi o grande período da arquitetura otomana, da pintura Safávida e do Taj Mahal.

    No entanto, apesar de modernizadoras, essas sociedades não realizaram nenhuma mudança radical. Não partilhavam o etos revolucionário que se tornaria característico da cultura ocidental setecentista. Expressavam o que o estudioso americano Marshali C. S. Hodgson chamou de “espírito conservador“, marca registrada de toda sociedade pré-moderna, inclusive da europeia.

    Os impérios islâmicos constituíram, de fato, a última grande expressão política do espírito conservador e, sendo também os Estados mais avançados do início da modernidade, representaram sua culminância.

    Hoje, a sociedade conservadora enfrenta problemas. Ou foi efetivamente tomada pelo moderno etos ocidental, ou está passando pela difícil transição do espírito conservador para o moderno.

    O fundamentalismo é, em grande parte, uma reação a essa penosa transformação. É, pois, importante para Karen Armstrong examinar o espírito conservador em seu ápice, nesses impérios muçulmanos, para poder entender sua atração, sua força e suas inerentes limitações.

    Até surgir no Ocidente um novo tipo de civilização (estribado em constante reinvestimento de capital e aprimoramento técnico), que só se firmou no século xix, todas as culturas dependiam economicamente de um excedente da produção agrícola. Ou seja: havia um limite para a expansão e o sucesso de qualquer sociedade essencialmente agrária, pois ela acabaria indo além dos “próprios recursos.

    Havia um limite para a quantidade de capital disponível para investimento. Em geral descartava-se qualquer inovação que demandasse grande dispêndio de capital, pois não se dispunha de meios para recomeçar alguma coisa a partir do zero. Nenhuma cultura, antes da nossa, podia bancar a inovação constante que hoje consideramos normal no Ocidente. [FNC: repare no verbo “bancar” para entender que capitalismo não funciona sem crédito ou alavancagem financeira.]

    Esperamos saber mais que a geração de nossos pais e confiamos no crescente avanço tecnológico de nossas sociedades. Estamos voltados para o futuro. Nossos governos e instituições têm de enxergar longe e elaborar planos minuciosos que afetarão a geração seguinte.

    Nossa sociedade é fruto do pensamento racional sistemático e coerente. É fruto do logos, que está sempre olhando para a frente, procurando ampliar nossos conhecimentos e nossas áreas de competência e controle do meio ambiente.

  8. Muçulmanos: O Espírito

    Muçulmanos: O Espírito Conservador em 1492-1799

    Posted on23/11/2014by

    muculmanos

    Em 1492, segundo Karen Armstrong, no livro Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo (Tradução: Hildegard Feist. São Paulo; Companhia das Letras; 2001), o povo judeu foi uma das primeiras vítimas da nova ordem que lentamente surgia no Ocidente. A outra foram os muçulmanos da Espanha, que nesse ano momentoso perderam seu último baluarte na Europa.

    Mas o Islã não estava, absolutamente, falido. No século XVI, ainda era a maior potência do planeta. Embora a dinastia Sung (960-1260) tivesse elevado a China a um nível de complexidade social e poderio muito superior ao do Islã e o Renascimento italiano tivesse iniciado uma florescência cultural que acabaria favorecendo a liderança do Ocidente, os muçulmanos conseguiam conter facilmente esses desafios e permaneciam em alto patamar político e econômico.

    Correspondiam a cerca de um terço da população do globo, mas estavam tão ampla e estrategicamente situados no Oriente Médio, na Ásia e na África que compunham um microcosmo da história mundial, exprimindo as preocupações da maioria das regiões civilizadas nos primórdios da modernidade.

    Essa época também foi empolgante e inspiradora para eles. No começo do século XVI, surgiram três novos impérios islâmicos:

    o Otomano, na Ásia Menor, Anatólia, Iraque, Síria e norte da África;o Safávida, no Irã; eo Mongol, no subcontinente indiano.

    Cada um refletia uma faceta distinta da espiritualidade islâmica.

    O Império Mongol representava o racionalismo filosófico, tolerante e universalista conhecido como Falsafah.Os xás Safávidas transformaram o xiismo, até então restrito a uma pequena elite, na religião de seu Estado.Os turcos otomanos, que se mantiveram fervorosamente fiéis ao islamismo sunita, criaram uma política baseada na Shariah, a lei sagrada dos muçulmanos.

    Esses três impérios constituíram um novo ponto de partida. Eram instituições modernas, governadas sistematicamente, com precisão burocrática e racional.

    O Estado otomano era então muito mais eficiente e poderoso que qualquer reino europeu da época. Sob Solimão, o Magnífico (1520-66), alcançou o apogeu. Solimão expandiu-se para o Ocidente, através da Grécia, dos Bálcãs e da Hungria, e seu avanço pela Europa só se deteve com sua tentativa frustrada de tomar Viena, em 1529.

    No Irã dos Safávidas, os xás construíram estradas e caravançarás (abrigos para hospedagem de caravanas), racionalizaram a economia e colocaram o país na linha de frente do comércio internacional.

    Os três impérios desfrutaram uma renovação cultural comparável ao Renascimento italiano. O século XVI foi o grande período da arquitetura otomana, da pintura Safávida e do Taj Mahal.

    No entanto, apesar de modernizadoras, essas sociedades não realizaram nenhuma mudança radical. Não partilhavam o etos revolucionário que se tornaria característico da cultura ocidental setecentista. Expressavam o que o estudioso americano Marshali C. S. Hodgson chamou de “espírito conservador“, marca registrada de toda sociedade pré-moderna, inclusive da europeia.

    Os impérios islâmicos constituíram, de fato, a última grande expressão política do espírito conservador e, sendo também os Estados mais avançados do início da modernidade, representaram sua culminância.

    Hoje, a sociedade conservadora enfrenta problemas. Ou foi efetivamente tomada pelo moderno etos ocidental, ou está passando pela difícil transição do espírito conservador para o moderno.

    O fundamentalismo é, em grande parte, uma reação a essa penosa transformação. É, pois, importante para Karen Armstrong examinar o espírito conservador em seu ápice, nesses impérios muçulmanos, para poder entender sua atração, sua força e suas inerentes limitações.

    Até surgir no Ocidente um novo tipo de civilização (estribado em constante reinvestimento de capital e aprimoramento técnico), que só se firmou no século xix, todas as culturas dependiam economicamente de um excedente da produção agrícola. Ou seja: havia um limite para a expansão e o sucesso de qualquer sociedade essencialmente agrária, pois ela acabaria indo além dos “próprios recursos.

    Havia um limite para a quantidade de capital disponível para investimento. Em geral descartava-se qualquer inovação que demandasse grande dispêndio de capital, pois não se dispunha de meios para recomeçar alguma coisa a partir do zero. Nenhuma cultura, antes da nossa, podia bancar a inovação constante que hoje consideramos normal no Ocidente. [FNC: repare no verbo “bancar” para entender que capitalismo não funciona sem crédito ou alavancagem financeira.]

    Esperamos saber mais que a geração de nossos pais e confiamos no crescente avanço tecnológico de nossas sociedades. Estamos voltados para o futuro. Nossos governos e instituições têm de enxergar longe e elaborar planos minuciosos que afetarão a geração seguinte.

    Nossa sociedade é fruto do pensamento racional sistemático e coerente. É fruto do logos, que está sempre olhando para a frente, procurando ampliar nossos conhecimentos e nossas áreas de competência e controle do meio ambiente.

  9. Marina vai deixar PSB até março de 2015
    “Marina vai deixar PSB até março de 2015, quando Rede for partido – Jornal O Globo” – Fica a curiosidade: como seria o governo Frankenstein de uma Marina caso ela tivesse levado a melhor no último pleito? Pelo visto, ficaremos só na conjectura mesmo. Tudo indica que, dessa vez, ela se lascou. Quebrou que rachou. Não é muito fácil imaginar sua recuperação como a Terceira Via que alega desejar ser após ter apoiado Aécio da forma e pelos motivos que apoiou. Seu capital político, após 2014, aparenta estar muito diluído. (http://oglobo.globo.com/brasil/marina-vai-deixar-psb-ate-marco-de-2015-quando-rede-for-partido-14641390)

  10. Adivinha onde?Crianças escravizadas compulsoriamente pelo Estado

    Coréia do Norte? Cuba? Venezuela? …

     

    Uma infâmia no passado da Suíça

     

    Entre meados do século XIX e 1981, mais de 300 mil crianças pobres, órfãs ou consideradas fardo econômico foram distribuídas compulsoriamente pelo Estado a famílias de agricultores, como mão-de-obra barata

     

    Invejada pelo alto padrão de vida, baixíssimo índice de criminalidade, estabilidade política e carga tributária mais do que amigável, a Suíça tem um acerto de contas a fazer com o seu passado.

    É um acerto tão urgente quanto indigesto, pois expõe ao mundo a prática de uma “engenharia social” que os atuais 8 milhões de suíços prefeririam esquecer ou desconhecer.

    Trata-se da reparação devida às verdingkinder (algo como “crianças arrendadas”). A designação se refere às mais de 300 mil crianças pobres, órfãs ou consideradas fardo econômico, distribuídas compulsoriamente pelo Estado a famílias de agricultores, como mão-de-obra barata.

    Essa prática começou em meados do século 19 e estendeu-se, pasme o leitor, até 1981. Historiadores estimam que ao longo desse período 5% de todas as crianças suíças foram assim retiradas de suas famílias. Dessas, cerca de 10 mil ainda são vivas — adultos em sua maioria reclusos, envergonhados, estigmatizados, com cicatrizes psicológicas e físicas da infância roubada.

    Uma petição lançada em abril deste ano ultrapassou as 100 mil assinaturas necessárias para um referendo sobre reparação financeira aos sobreviventes. Falta agora a aprovação do Parlamento.

    Ela é incerta. O Sindicato dos Agricultores e o majoritário Partido Democrata Liberal, por exemplo, sinalizaram que não vão contribuir para a instituição do fundo de 500 milhões de francos suíços (R$1,3 bilhão) recomendado por um comitê de sociólogos, historiadores e juristas.

    Para os padrões suíços do século 19, quando uma criança nascia em família pobre ou desestruturada, ou se tornava órfã, a comunidade devia intervir. A solução encontrada para elas não onerarem os cofres públicos foi retirá-las de casa e repassá-las a agricultores necessitados de ajuda braçal.

    Em tese as crianças aprenderiam a trabalhar em horários fora da escola e quando adultos conseguiriam sobreviver sozinhos.

    De início essas verdingkinder eram leiloadas em pregões públicos e arrematadas por quem cobrasse do governo local a menor compensação pela adicional boca a alimentar. Numa segunda fase que perdurou até os anos 1930 a negociação passou a ser feita a portas fechadas.

    O mapeamento completo desse capítulo da história exige o cruzamento de registros federais, cantonais e locais nem sempre existentes ou confiáveis.

    “Enquanto aqui todo mundo sabe exatamente quantas vacas existem no país, já que cada uma está fichada, até hoje ninguém sabe ao certo quantas crianças foram retiradas à força de suas famílias”, declarou à BBC o guia de uma impactante exposição itinerante sobre o tema.

    A mostra inaugurada em 2009 e que rodou por 12 cidades da federação assombrou quem a viu. A contundência dos depoimentos registrados e do registro fotográfico de época acordou a Suíça.

    Não foi um despertar alegre para um país que se considera e é considerado civilizadíssimo, que tem um Roger Federer e abriga, entre tantas outras agências internacionais, justamente a Organização Internacional do Trabalho.

    Em artigo publicado esta semana no “New York Times” o historiador e escritor Tony Wild narra a saga de sua avó Ida, baseado em documentos aos quais teve acesso recentemente. Ida e seu irmão caçula ficaram órfãos. Ela tinha 9 anos, ele 7. Foram separados e alocados a famílias de vilarejos próximos. Ali trabalharam durante oito anos.

    Wild descobriu que a herança dos irmãos foi confiscada pelo Estado para pagar as famílias que os exploraram. Como diz o autor, ao colocar crianças vulneráveis à mercê de agricultores pobres e brutos, as autoridades criaram uma situação propícia ao abuso. Surras, desnutrição, abandono, doenças e abuso sexual foram corriqueiros

    Houve crianças puxando sacos de trigo de cem quilos; outras só conseguiram aprender a ler depois de adultas. Por socialmente isolados na infância e na adolescência, muitos sobreviventes se auto-isolaram para o resto da vida. Os registros de suicídios ainda são incompletos. Há mulheres casadas, com filhos e netos, que escondem até mesmo o passado dos familiares por medo de também eles se tornarem socialmente discriminados.

    Foram a paulatina mecanização da agricultura e a conquista feminina do direito ao voto em 1971 que fizeram definhar essa engenharia social perversa.

    Talvez uma das últimas vítimas a ser arrebanhada foi o hoje artista plástico Christian M., de 42 anos. No ano não tão arcaico de 1979 a mãe de Christian se divorciara, o Estado interveio e confiscou seus dois filhos para trabalhar na lavoura. Cinco anos depois, em 1985, ele foi internado numa instituição. Estava com 14 anos de idade, exaurido física e psicologicamente, e com polioartrite.

    Ao pesquisar seu fichário de 700 páginas descobriu que também seus pais haviam pago 900 francos suíços mensais à família postiça para garantir sua educação e conforto.

    Uma década atrás o parlamento de Berna vetou a primeira tentativa de compensação para vítimas da esterilização adotada paralelamente. (O Estado também prendeu ou despachou para centros de reeducação mães solteiras e jovens considerados degenerados. Abortos forçados, esterilizações e castrações químicas fizeram parte da política social).

    Mas o silêncio oficial sobre os verdingkinder só foi rompido em 2013, através do tão aguardado pedido de desculpas públicas. “Não poderíamos continuar a desviar o olhar, uma vez que foi exatamente isso que fizemos por tempo demais”, discursou a ministra da Justiça, Simonetta Sommaruga. Proclamou aquela data de “o dia da confissão e um chamamento contra a supressão e o esquecimento”. Uma lei que prevê a “reabilitação” de internados à força também foi aprovada.

    Ainda falta muito, a começar pela compensação material. “Não foram apenas as autoridades e agricultores individuais que falharam. Foi uma atitude de toda a sociedade suíça, e ela precisa ser reexaminada”. Palavras sábias da advogada Jacqueline Fehr, do Partido Social Democrata.

    Dorrit Harazim é jornalista

    http://oglobo.globo.com/opiniao/uma-infamia-no-passado-da-suica-14566231

     

  11. CARTA MAIOR
     Home > Economia

    CARTA MAIOR

     Home > Economia > Piketty: Europa está à beira de uma grave crise política, econômica e financeira 21/11/2014 – Copyleft

    Piketty: Europa está à beira de uma grave crise política, econômica e financeira

    Para Thomas Piketty, autor de ‘O Capital no Século XXI’ a Europa está à beira do abismo de uma grave crise política, econômica e financeira.

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    Daniel Fuentes Castro, EL DIARIO.es

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    O economista autor do influente livro “O capital no século XXI” reflete sobre o auge da extrema direita em seu país. “França e Alemanha demonstraram ser egoisticamente míopes em relação à Espanha e à Itália ao renunciar a compartilhar seus tipos de interesse”. “É preciso se acostumar a viver com um crescimento fraco”. “A ideia segundo a qual é preciso insistir em secar os orçamentos com base em mais austeridade para curar o doente me parece completamente insensata”.

    Thomas Piketty (Clichy, Francç, 1971), economista da Paris School of Economics, é especialista no estudo das desigualdades econômicas por uma perspectiva comparada. É autor de “O capital no século XXI”, obra que vendeu mais de um milhão de exemplares em todo o mundo e que ao ter sido recentemente editado para espanhol e catalão lhe transformou em um dos economistas mais influentes da atualidade.

    A Paris School of Economics, de criação recente, tem sua sede nos locais da École Normal Supérieure (13 prêmios Nobel e 10 medalhas Fields nas costas), no bulevar Jourdan. Não é um dos colossais edifícios do século XIX, de pedra talhada, onde outras instituições como a Sorbonne ou a faculdade de Direito de Panthéon-Assas ainda conservam suas sedes históricas. Trata-se de um conjunto de edifícios relativamente moderno, mas avelhentado. O vinílico desgastado do solo e a cor amarelada de algumas paredes revelam que, se falamos em capital, não é físico, mas sim humano.

    Três percevejos da porta do escritório de Piketty seguram uma folha de papel com seu nome. Do quarto só restou a agulha. Seu escritório mede cerca de 15 metros quadrados, 20, se muito, e está cheio de estantes repletas de livros. Não tem assistente pessoal. Não veste terno, nem gravata. Desde o primeiro momento, mostra-se amável, sorridente e natural. Um pouco tímido. Ainda que dê a sensação de não nunca ter quebrado um prato na vida, se expressa sem titubear e com veemência em alguns momentos.

    Há quem veja no título “O capital no século XXI” pisca para a obra de Karl Marx “O capital”. Você considera que a confrontação ideológica entre capitalismo e marxismo continua vigente?

    A disjuntiva não é capitalismo ou marxismo. Há diferentes maneiras de organizar o capitalismo e há diferentes maneiras de superá-lo. O que meu livro tenta é contribuir com este debate. Quanto ao marxismo, faço parte da primeira geração posterior à Guerra Fria, a primeira geração pós-marxismo. Completei 18 anos com a queda do Muro de Berlim (no dia da entrevista fazia exatamente 25 anos). Li Marx e há ideias interessantes nele, contribuições notórias, mas O capital foi escrito em 1867 e estamos em 2014. O que eu tento é introduzir no século XXI a questão do capital, de seu estudo, isto é, para mim, o que o título do meu livro significa.

    Não se pode esquecer que este trabalho teria sido impossível sem as tecnologias da informação, que permitem reunir e tratar dados históricos em uma escala impossível para Marx e até mesmo Kuznets. É fácil criticar os economistas do passado, mas eles trabalhavam na mão. Não contavam com as ferramentas que nós temos e, sobretudo, não tinham a perspectiva histórica que hoje temos e que nos permite contar a história do capital e das desigualdades. Isto é o que meu livro tenta fazer. Não pretende anunciar uma revolução, tenta apenas colocar à disposição dos leitores as pesquisas históricas que pudemos reunir sobre mais de vinte países e que englobam três séculos. O livro é, antes de qualquer coisa, uma história do capital.

    Seu livro estuda de maneira empírica, entre outras coisas, a relação entre distribuição de renda do crescimento. Pode-se falar de causalidade direta no sentido de que uma melhor distribuição da renda produzindo uma taxa de crescimento maior como efeito?

    A correlação e a causalidade são ambas muito complexas e não vão em um sentido apenas. A desigualdade pode ajudar o crescimento até certo ponto, mas para além de um determinado nível de desigualdade, obtém-se principalmente um efeito negativo que reduz a mobilidade na sociedade e conduz à perpetuação da estratificação social no tempo. Isto tem um impacto negativo sobre o crescimento.
     
    O outro efeito negativo se produz através das instituições políticas: uma desigualdade muito forte pode levar ao sequestro das instituições democráticas por parte de uma pequena elite que não vai necessariamente investir na sociedade pensando no conjunto da população. Por isso, o crescimento no século XXI vai depender em grande medida do investimento em educação e formação, e não unicamente para uma pequena elite, mas para uma imensa maioria da população.

    Para além das previsões de conjuntura econômica, o que se pode esperar do crescimento nos próximos anos? O que as expressões desenvolvimento sustentável e decrescimento lhe sugerem?

    Acredito que tenhamos que nos acostumar a viver de maneira sustentável com um crescimento fraco. O problema é que tanto na França como em outros países europeus continuamos tendo em mente essa espécie de fantasia dos “trinta gloriosos” (expressão que faz referência às três décadas transcorridas entre a Segunda Guerra Mundial e a crise do petróleo em 1973), segundo a qual precisamos de pelo menos três, quatro ou cinco porcento de crescimento para sermos felizes. Isto não tem sentido. Somente nas fases corretivas em que alguns países recuperam os atrasos em relação a outros, ou em fases de reconstrução, acontecem taxas de crescimento tão elevadas.

    É preciso colocar na cabeça que uma taxa de crescimento de 1% ou 1,5% ao ano é um crescimento muito rápido, se prolongado no tempo. Com taxas de crescimento assim durante um período de trinta anos, que é o equivalente a uma geração, acontecerá um crescimento da renda que equivale a um terço ou até mesmo à metade do PIB.

    Por outro lado, ter que viver de maneira sustentável não é argumento para defender crescimento nulo. Uma taxa de crescimento entre 1% e 1,5% ao ano no longo prazo é fonte de progresso e não é um objetivo impossível. Agora, para alcançar um ritmo de crescimento assim, é preciso abandonar a atual política de austeridade. Isso em primeiro lugar. E sobretudo é preciso investir em ensino superior, em inovação e meio ambiente… Falo de investir em meio ambiente porque é evidente que terá que encontrar novas fontes de energia renováveis, visto que com as fontes atuais não poderemos manter uma taxa de crescimento de 1% ou 1,5% ao ano indefinidamente.

    Considerando as últimas previsões da Comissão Europeia, não parece que estejamos perto de alcançar essa velocidade de cruzada. Você acredita que a austeridade seja um mal necessário para retomar o ritmo de crescimento?

    A realidade é que caminhamos rumo a uma década imersos em um clima de recessão e de austeridade. Digo isto porque o PIB por habitante estimado para a França em 2014 ou 2015 é inferior ao de 2006 ou 2007. Esta é a situação. Estamos há quase dez anos em estancamento da renda per capita, da riqueza do país, do poder aquisitivo… A partir daqui podemos discutir tudo o que quisermos sobre qual precisa ser a arrecadação do Estado, quanto deve ser o gasto público ou qual deve ser o peso do setor privado na economia, mas o fato é que a riqueza total disponível é inferior à de 2007. Não recuperamos o nível anterior à crise. É normal que, em uma situação como esta, o ambiente seja depressivo.

    A ideia segundo a qual é preciso enxugar os orçamentos com base em mais austeridade para curar o paciente me parece completamente insensata. Digo isto pensando na França, mas o mesmo vale para a Itália, com taxas de crescimento negativas em 2013 e em 2014. É verdade que o crescimento na Espanha está um pouco melhor agora, mas não nos esqueçamos que ela ainda sofre um atraso considerável em termos de renda per capita em comparação a outras grandes economias da Europa.

    O resultado global das políticas de austeridade nos últimos quatro ou cinco anos é, de maneira objetiva, muito ruim. Os Estados Unidos tinham uma taxa de desemprego muito similar à da zona do euro de alguns anos atrás e atualmente a diferença é enorme. O desemprego diminuiu ali, apesar de o nível da dívida de ambas economias ser muito semelhante na situação de partida. Não há dúvidas sobre quem escolheu a estratégia adequada.

    Que outra estratégia a zona do euro deveria ter seguido para sair da crise?

    Acredito que seja necessário tornar comum as dívidas públicas e os juros da dívida pública. França e Alemanha forma extremamente egoístas. Demonstraram ser egoisticamente míopes em relação à Espanha e Itália ao renunciar e compartilhar seus juros. Uma moeda única com 18 dívidas públicas e 18 tipos de juros associados a essa dívida não funciona. Os atores financeiros não têm confiança neste sistema. Poderemos sair desta crise somente se criarmos um fundo comum de dívida pública com apenas um tipo de juro. O Banco Central Europeu poderá, então, estabilizar esse tipo de juros com menor dificuldade do que atualmente com 18 diferentes.

    Agora, se quisermos gerir a dívida de maneira comum, precisamos também de um Parlamento da zona do euro que tome decisões a este respeito, entre outras coisas, sobre o nível de déficit comum. Isto é o que faltou até agora nas proposições de reorientação da construção europeia que Hollande esboçou na França, e do que também se falou na Espanha e na Itália. Finalmente, isso não se traduziu em uma proposta concreta de união política e, ao mesmo tempo, orçamentária. Ambas são coisas necessárias.

    Você fala em reformar o desenho institucional da zona do euro. Que diferenças haveria entre o atual Parlamento Europeu e esse Parlamento orçamentário a que você se refere na última parte de seu livro?

    Atualmente, temos um Parlamento Europeu em que estão representados 28 países e, por outro lado, o Conselho Europeu de Chefes de Estado ou de Governo e o Conselho de Assuntos Econômicos e Financeiros (integrados pelos ministros de Economia e Finanças). São vários os problemas desta arquitetura democrática. O primeiro é que nem todos os 28 países representados no Parlamento Europeu querem avançar rumo a uma maior integração política, fiscal e orçamentária. O segundo, que o Parlamento Europeu não representa absolutamente as instituições dos Estado-nação e, concretamente, os parlamentos nacionais.

    Por isso, acredito que faz falta, paralelamente ao atual Parlamento Europeu, uma câmara parlamentar da zona do euro ou, em todo caso, uma câmara formada pelos países da zona do euro que queiram avançar em direção a uma união política, orçamentária e fiscal, e que teria que se construir a partir dos diferentes parlamentos nacionais. Cada país estaria representado proporcionalmente à sua população, nem mais, nem menos. O mesmo para Alemanha e França e os demais. A atribuição desta nova Câmara consistiria em votar questões como um imposto comum sobre sociedade ou o nível de déficit comunitário.

    Não são poucos os que pensam que, em vez de mais integração, o razoável seria retomar as moedas nacionais.

    Não, para mim não é a boa solução. Agora, sem propostas alternativas rápidas, acredito que o retorno às moedas nacionais será um cenário cada vez mais difícil de descartar. Concretamente, a única resposta dada na França aos que querem sair do euro consiste em dizer que é impossível, que está proibido, que agora que entramos não se pode retroceder… Esta resposta é extraordinariamente fraca e não vai durar muito tempo mais.

    A saída da crise está em avançar na união dos países da zona do euro. De certa forma, a pior das situações é a atual, porque perdemos a possibilidade de desvalorizar a moeda, perdemos a soberania monetária nacional, em troca teríamos que ganhar novas formas de soberania fiscal e orçamentária, maior capacidade para arrecadar imposta de maneira mais justa, mais capacidade de resistência para proteger frente ao risco de especulação sobre os tipos de juros da dívida pública. Até agora, França e Alemanha ganharam neste jogo, mas a única alternativa para a saída do euro é uma união da dívida, uma união fiscal. Se não nos apressarmos, acredito que as forças políticas a favor da saída do euro vão ganhar a partida.

    O que se pode esperar da França na construção desta nova arquitetura institucional Europeia, exatamente agora em que a extrema direita lidera as pesquisas? A Europa deve se preocupar?

    É preciso se preocupar, absolutamente. Não acredito que a Frente Nacional chegará ao poder no Eliseu ou à presidência da República, mas pode conseguir a presidência de várias regiões. No próximo ano, há eleições regionais, e dado o modo de distribuição das cadeiras, é perfeitamente possível que duas ou três regionais, ou até mais, caiam do lado da Frente Nacional.

    Em um sistema eleitoral como o das eleições presidenciais, estamos acostumados que a Frente Nacional perca, inclusive se for o partido mais votado do primeiro turno. Entretanto, nas regionais, o partido mais votado obtém uma parte equivalente a um quarto das cadeiras (o resto se divide de maneira proporcional). Se a Frente Nacional conseguir 30% ou 35% dos votos em uma região, a direita 25% e a esquerda 20%, por exemplo, a parte do partido mais votado faz com que a Frente Nacional aspire ter maioria absoluta nessa região.

    Será um choque enorme na Europa. Até agora, a Frente Nacional ganhou somente em algumas cidades pequenas, mas se regiões inteiras passarem a ser governadas pela extrema direita, a história será outra. Não vai ser uma piada. Vão criar tensões em algumas regiões do país e o resultado pode ser extremamente violento.

    Até esse ponto?

    Estamos de fato à beira do abismo de uma crise política, econômica e financeira. A crise é responsabilidade de todos os países, mas não entendo como a Alemanha continua pensando que tem interesse em manter esta visão tão rígida da austeridade… Afinal de contas, nem sequer lá o crescimento é elevado. Que consta que a responsabilidade também é da França, por não fazermos verdadeiras propostas progressivas e de refundação democrática da Europa. E continuamos esperando propostas da Espanha e da Itália. Em todo caso, acredito que a situação seja grave e que as eleições regionais na França no próximo ano serão um choque.

     
    Muitos eleitores se incomodam porque interpretam seu livro como a evidência de um futuro com menor crescimento e pior distribuição da riqueza. Há argumentos para o otimismo?

    Claro que sim. Essa é minha maneira de ser. Sinto muito se alguns chegam a conclusões pessimistas após a leitura do livro! Eu acredito no progresso social, econômico e democrático e no crescimento. Mas é preciso se acostumar a viver com crescimento menor. Insisto em que um crescimento mais fraco, se mantido no tempo, é compatível com o progresso. Há trinta anos, não dispúnhamos das atuais tecnologias da informação, por exemplo. Se nos organizarmos bem, nos dotarmos das instituições adequadas para que todo mundo possa se beneficiar, essas tecnologias serão uma enorme fonte de riquezas.

    Acredito no progresso técnico e na mundialização, e o livro não é pessimista em relação ao futuro. Simplesmente, para que estas coisas beneficiem a todos, fazem falta instituições democráticas, sociais, educativas, fiscais e financeiras que funcionam corretamente. O problema é que, depois da queda do Muro de Berlim, nós imaginamos, por um momento, que era suficiente se basear nas forças naturais do mercado para que o processo de globalização e de competitividade beneficiasse a todos. Acredito que o erro esteja aí. É preciso repensar os limites do mercado, do capitalismo, e repensar também as instituições democráticas.

     

    Tradução: Daniella Cambaúva

     

     

  12. EM DEFESA DO PROGRAMA VITORIOSO NAS URNAS

    EM DEFESA DO PROGRAMA VITORIOSO NAS URNAS

     

    http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR77149

     

    Para: Ao Povo Brasileiro

    EM DEFESA DO PROGRAMA VITORIOSO NAS URNAS. 

    A campanha presidencial confrontou dois projetos para o país 

    no segundo turno. À direita, alinhou-se o conjunto de forças 

    favorável à inserção subordinada do país na rede global das 

    grandes corporações, à expansão dos latifúndios sobre a pequena 

    propriedade, florestas e áreas indígenas e à resolução de nosso 

    problema fiscal não com crescimento econômico e impostos 

    sobre os ricos, mas com o mergulho na recessão para facilitar o 

    corte de salários, gastos sociais e direitos adquiridos. 

    A proposta vitoriosa unificou partidos e movimentos 

    sociais favoráveis à participação popular nas decisões políticas, 

    à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico com 

    redistribuição de renda e inclusão social. 

    A presidenta Dilma Rousseff ganhou mais uma chance nas 

    urnas não porque cortejou as forças do rentismo e do atraso 

    e sim porque movimentos sociais, sindicatos e milhares de 

    militantes voluntários foram capazes de mostrar, corretamente, 

    a ameaça de regressão com a vitória da oposição de direita. 

    A oposição não deu tréguas depois das eleições, buscando 

    realizar um terceiro turno em que seu programa saísse 

    vitorioso. Nosso papel histórico continua sendo o de derrotar 

    esse programa, mas não queremos apenas eleger nossos 

    representantes políticos por medo da alternativa. 

    No terceiro turno que está em jogo, a presidenta eleita 

    parece levar mais em conta as forás cujo representante derrotou 

    do que dialogar com as forças que a elegeram. 

    Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu 

    para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa 

    nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora 

    e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática 

    dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de 

    trabalhadores e comunidades indígenas. 

    As propostas de governo foram anunciadas claramente na 

    campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos 

    direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A 

    sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e 

    tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do 

    governo que elegeu. 

    LUIZ GONZAGA BELLUZZO – FACAMP/UNICAMP 
    JOÃO PEDRO STÉDILE – MST 
    LAURA TAVARES SOARES – UFRJ 
    LEONARDO BOFF – Teólogo 
    JOAQUIM ERNESTO PALHARES – Jornalista 
    LAURINDO LEAL “LALO” FILHO – USP 
    PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS – UNICAMP 
    ANDRE SINGER – USP 
    JOSÉ ARBEX JR – PUC/SP 
    IVANA JINKINGS – Diretora Editorial 
    IGOR FELIPPE – Jornalista 
    PAULO SALVADOR – Jornalista 
    ALTAMIRO BORGES – Militante Político 
    ROSA MARIA MARQUES – PUC-SP 
    VALTER POMAR – Militante do PT 
    MST – Movimento Dos Trabalhadores Sem Terra 
    FORA DO EIXO 
    MÍDIA NINJA 
    REDE ECUMENICA DA JUVENTUDE – REJU 
    CENTRO DE MÍDIA ALTERNATIVA BARÃO DE ITARARÉ 
    GILBERTO CERVINSKI – MAB – Movimento Dos Atingidos Por Barragens 
    WLADIMIR POMAR – Analista político e escritor 
    ANDREA LOPARIC – FFLCH-USP 
    BRENO ALTMAN – Jornalista 
    ALFREDO SAAD-FILHO – SOAS – UNIVERSIDADE DE LONDRES 
    MARIA DE LOURDES MOLLO – UNB 
    NIEMEYER ALMEIDA FILHO – UFU 
    CARLOS PINKUSFELD – UFRJ 
    MARCELO PRONI – UNICAMP 
    PEDRO ESTEVAM SERRANO – PUC/SP 
    PEDRO ESTEVAM DA ROCHA POMAR – Jornalista 
    GENTIL CORAZZA – UFRGS 
    RUBENS SAWAYA – PUC-SP 
    PEDRO ROSSI – UNICAMP 
    CONCEIÇÃO OLIVEIRA – Educadofra e blogueira 
    LUIZ CARLOS DE FREITAS – UNICAMP 
    LUCIO FLÁVIO RODRIGUES DE ALMEIDA – PUC-SP 
    CAIO NAVARRO DE TOLEDO – UNICAMP 
    MARIA A. MORAES SILVA – UFCAR E UNESP 
    JOYCE SOUZA – Jornalista 
    EDUARDO FERNANDES DE ARAUJO – UFPA 
    LUIZ CARLOS PINHEIRO MACHADO – UFRGS – UFSC – UFFS 
    ANA LAURA DOS REIS CORREA – UNB 
    MONICA GROSSI – UF de Juiz de Fora 
    DANIEL ARAUJO VALENÇA – UFERSA 
    MARCIO SOTELO FELIPPE – Advogado 
    DEBORA F. LERRER – CPDA/UFRRJ 
    HORACIO MARTINS DE CARVALHO – Militante Social 
    GERALDO PRADO – UFRJ 
    ANTONIO MACIEL BOTELHO MACHADO – 
    JUAREZ TAVARES – UERJ 
    CLARISSE MEIRELES – Jornalista 
    HELOISA FERNANDES – Socióloga/SP 
    ARLETE MOYSÉS RODRIGUES – UNICAMP 
    HELOISA MARQUES GIMENEZ – UNB 
    FLAVIO WOLF AGUIAR – USP 
    FERNANDO MATTOS – UFF 
    BRUNO DE CONTI – UNICAMP 
    JOSÉ EDUARDO ROSELINO – UFSCAR 
    ARIOVALDO DOS SANTOS – FEA/USP 
    LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE 

  13. As Irmãs Mirabal e o Dia da não Violência contra a Mulher

     

    As Irmãs Mirabal, filhas de Mercedes Camilo Reyes e Enrique Mirabal, comerciante e proprietário de terras, foram covardemente assassinadas pela ditadura de Rafael Leónidas Trujillo de Molina, o Generalíssimo Presidente que governou com extrema violência a República Dominicana de 1930 a 1961.

    Patria Mercedes Mirabal, Bélgica Adela Mirabal, Minerva Argentina Miraba e Antonia María Teresa Mirabal, conhecidas como Irmãs Mirabal, ou ainda, Las Mariposas, nasceram em Ojo de Agua, na província de Salcedo, no norte do país. De uma família importante daquela região, seu pai havia sido prefeito da cidade de Ojo de Agua, no início da ditadura Trujillo.

    Minerva foi a primeira irmã a se envolver com o movimento contra Trujillo, sendo influenciada por seu tio e um amigo de colégio, cuja família tinha sido presa e executada por membros do exército de Trujillo.

    Depois de terminar o colegial, ela foi para a faculdade de direito e trabalhou com Pericles Franco Ornes, o fundador do Partido Socialista Popular e um adversário de Trujillo. Isso a levou a ser presa e torturada em várias ocasiões.

    Minerva foi presa pela primeira vez em 1949, depois que recusou os avanços sexuais de Trujillo e, junto com sua mãe, foi colocado sob prisão domiciliar na capital e torturada pelo regime. Seu pai ficou preso na Fortaleza Ozama, até que sua família usou suas conexões para libertá-los. Eles foram presos novamente dois anos depois, e este regime de terror finalmente causou a deterioração da saúde de seu pai, causando sua morte em 1953.

    Minerva foi acompanhada em sua luta contra o governo de Trujillo pelas irmãs Maria Teresa e Patria. Influenciada pelos movimentos de libertação na América Latina, elas criaram com seus maridos o Movimento 14 de Junho. Teve esse nome após o dia em que os dominicanos exilados tentaram derrubar o governo de Trujillo e foram derrotados pelo exército.

    Dentro deste movimento, as irmãs foram chamados de “Las Mariposas” (as borboletas), a partir do  nome clandestino de Minerva.

    O movimento enfrentou a repressão e a maioria de seus membros foi preso pelo regime de Trujillo, incluindo as irmãs Mirabal e seus maridos, no final da década de 1950. Isso gerou crescente sentimento antigoverno que obrigou Trujillo a libertar as mulheres da prisão de La Cuarenta em fevereiro de 1960.

    Seus maridos foram mantidos presos  e as irmãs foram levadas de volta para La Cuarenta em 18 de março e condenadas a 3 anos de prisão. No entanto, as irmãs estavam em liberdade condicional em 18 de agosto de 1960, como resultado da condenação de ações de Trujillo, pela Organização dos Estados Americanos.

    Logo depois, em 25 de novembro de 1960, as irmãs foram assassinadas na volta de uma visita a seus maridos na prisão. Vítimas de uma emboscada, foram levadas para um canavial e apunhaladas e estranguladas até a morte, junto com o motorista que conduzia o veículo em que estavam. Trujillo acreditou que havia eliminado um grande problema, mas a morte das irmãs Mirabal causou uma grande comoção no país e levou o povo dominicano a se somar na luta pelos ideais democráticos das Mariposas. O assassinato das irmãs levou a protestos em massa e contribuiu para a queda do regime de Trujill em 1961.

    Em 1995, a escritora dominicana Julia Álvarez publicou o livro No Tempo das Borboletas, baseada na vida de Las Mariposas, e que em 2001 se tornou um filme.

    A sua história é também recordada no livro A Festa do Bode, do peruano Mario Vargas Llosa.

    No Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho de 1981, realizado em Bogotá, Colômbia, a data do assassinato das irmãs Patria Mercedes Mirabal (27 de fevereiro de 1924 — 25 de novembro de 1960), Minerva Argentina Mirabal (12 de março de 1926 — 25 de novembro de 1960) e Antonia María Teresa Mirabal (15 de outubro de 1936 — 25 de novembro de 1960) foi proposta pelas feministas para ser o dia Latino-Americano e Caribenho de luta contra a violência à mulher.

    A Fundación Hermanas Mirabal, fundada em 12 de novembro de 1992 com o objetivo de imortalizar Las Mariposas, cria a Casa Museo Hermanas Mirabal em 8 de dezembro de 1994. O Museo Hermanas Mirabal, mantido e gerido pela irmã sobrevivente, Dede, está localizado na cidade de Conuco, Província da República Dominicana Salcedo. Esta é a casa onde as irmãs Mirabal viveram seus últimos 10 meses, e mantém intacta a decoração e pertences das irmãs antes de seu assassinato.

    Em 17 de dezembro de 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou que 25 de novembro é o Dia Internacional da não Violência contra a Mulher, em homenagem ao sacrifício de Las Mariposas.

    A província onde as irmãs nasceram, Ojo de Agua, foi rebatizada de Hermanas Mirabal em homenagem a essas três mulheres, que dedicaram grande parte de suas vidas, desde muito jovens, a lutar pela liberdade política de seu país.

    Patria Mercedes Mirabal

    Minerva Argentina Mirabal

    Antonia María Teresa Mirabal

    50 anos das Irmãs Mirabal, por Odilon Cabral Machado  

    Documentário sobre irmãs Mirabal filmado em Cuba 

    Las Hermanas Mirabal

    Las Hermanas Mirabal, da Historia Patria Dominicana

    As irmãs Mirabal: literatura e memória, por Cecil Jeanine Albert Zinani

    Pelo dia internacional da não violência contra mulher, por Auriney Brito

    Violência contra a mulher e resistência, por MClara

    Uma das heroínas da democracia e da liberdade Dominicana, Bélgica Adela Mirabal (29 de fevereiro de 1925 – 01 de fevereiro de 2014), conhecida como Dede, única sobrevivente das irmãs Mirabal. Dede se encarregou dos seis filhos de suas irmãs assassinadas e também foi responsável pela preservação da memória da família.

    Vídeos:

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    [video:https://www.youtube.com/watch?v=FUBrlLcCDdc%5D

    Hermanas Mirabal, pintor americano Erin Currier

                                                                                                      

     

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