Fora de Pauta

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Redação

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  1. O sucesso dos documentários criminais.

    Vou tentando….

     

    Desde “Paradise Lost” de 1996, e especialmente do desesperador e trágico  “Dear Zachary” de 2008, a qualidade dos documentários sobre crimes e/ou criminosos misteriosos melhorou muito.

    Atualmente dois documentários muito bons e bastante chocantes são o maior sucesso nessa virada de 2015 para 2016.

    Nenhum deles poderia sair da cabeça de um roteirista. As histórias surreais são quase inacreditáveis..

    Estou falando dos arrasa-quarteirão “Making a Murderer” (Netflix) e “The Jinx” (HBO).

    Ambos os documentários feitos em épocas e situações quase similares acabam se encaixando perfeitamente quando assistidos em sequencia. Making a Murderer é mais lento. Cru. The Jinxs é mais cinematográfico, elegante, rápido.

    Os dois personagens principais são opostos: Um é pobre caipira e de baixo Q.I. perdido na “América Profunda”, sofrendo na mão de policiais incompetentes e de um  sistema judiciário medieval, podre e fundamentalista. O outro é um bilionário e inteligentíssimo novaiorquino, resguardado pelos melhores advogados que o dinheiro pode comprar .

    O que os une? Uma série de crimes brutais.

    Quem os cometeu? Foram eles? Culpados? Inocentes?

    Muita gente que já assistiu um ou ambos os documentários parece não ter entendido o objetivo dos realizadores. A questão não é saber se fulano ou ciclano são culpados ou inocentes. Isso é o de menos. Exceto para os diretamente envolvidos, é claro.

    Em “Making a Murderer” o tema é o funcionamento da justiça americana. Uma farsa completa, e que pela reação dos norte americanos no final do ano passado, quando essa série estreou, deverá trazer a esperança de alguma mudança. O estrago foi grande e está gerando muita repercussão, indo parar inclusive na Casa Branca.

    Para quem já viu a série, sugiro a leitura desse excelente texto de um juíz de direito brasileiro. A comparação que ele faz com o sistema jurídico brasileiro é muito interessante e pertinente.

    http://judao.com.br/making-a-murderer-e-o-que-isso-tem-a-ver-com-voce/#….

    Já em “The Jinx” o que mais importa é o funcionamento da mente de Robert Durst, herdeiro de uma das mais poderosas famílias de Nova York. Um cara muito inteligente, estranho, cheio de tiques, mas com muito dinheiro. Ás vezes ele nos cativa. Outra nos enoja. Uma figura ímpar. Muito provavelmente a série tem um dos finais mais insólitos de todos os tempos. Foi notícia no mundo inteiro. Todo mundou testemunhou, ali “ao vivo”.  Mas não queira saber o que é antes de ver o documentário.

    O ideal é que vc assista esses documentários sem saber do que se trata. Fuja do google. Controle a curiosidade. Como as histórias são reais e atuais, as informações estão todas no google. Milhares de páginas na internet, fórums, notícias, outros documentários realizados para rebater informações. Uma verdadeira febre.

    Sem saber o que vem pela frente, o impacto de ambas as histórias é muito maior.

    Assistam e creiam: É tudo verdade.

  2. A era da abundância na oferta energética no Brasil

    Por Luiz Alberto Vieira

     

    O Brasil deve entrar em 2016 numa fase de abundância energética, ao contrário do que ocorreu nos últimos 3 anos. Assim, a redução dos preços da energia deverá ter um comportamento contra-cíclico, reduzindo os efeitos da recessão.
    Os preços de liquidação de diferenças (PLD), utilizado nos mercados de curto prazo de energia, já estão no patamar mínimo, os menores desde janeiro de 2012, conforme gráfico abaixo:

    PLD

    A previsão da própria Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) era de que as regiões Sudeste, Sul e Norte deveriam atingir os valores mínimos de R$ 30,25/MWh apenas no mês do fevereiro, o que já seria uma vitória diante do cenário de escassez dos últimos anos. A região Nordeste, que enfrenta uma forte seca decorrente do fenômeno El Niño, deverá atingir os valores mínimos do PLD em junho, segundo a previsão da CCEE.
    Para se ter uma idéia dos baixos preços atuais no mercado spot, o último leilão de energia eólica e solar foi vencido com preços de R$ 203,46/MWh e R$ 297,75/MWh, respectivamente. A usina Belo Monte foi licitada com um preço de R$ 78/MWh ainda em 2010, enquanto em novembro de 2014 o preço no mercado spot chegou a incríveis R$ 804,54/MWh.

    Em artigo de julho do ano passado publicado no Blog do Luis Nassif (https://jornalggn.com.br/noticia/crise-energetica-e-problema-climatico-ou-falta-de-investimento), já havia apontado que num cenário de normalização das condições climáticas a situação energética seria positiva.

    A novidade no cenário da CCEE é que as previsões são de redução no PLD mesmo se estivessemos na pior afluência média histórica que foi registrada desde 1952. “Em uma outra projeção, considerando a pior série histórica de Energia Natural Afluente (dezembro de 1952 a janeiro de 1954), os valores do PLD sobem, mas ainda assim permanecem abaixo do novo preço máximo, que é de R$ 422,56/MWh. As médias, neste cenário, atingiriam R$ 193/MWh no Sudeste, R$ 188/MWh no Sul, R$ 213/MWh no Nordeste e R$ 185/MWh no Norte.”

    Mas as chuvas tem sido abundantes, o cenário é ainda melhor.

    A capacidade instalada em 2015 aumentou 6.428 MW, o terceiro melhor resultado da história. Assim, a capacidade instalada foi ampliada em 4,80%, enquanto o consumo de energia caiu 1,7% no acumulado em 12 meses até novembro, segundo dados da Empresa de Planejamento Energético (EPE).

    Desta forma, já era previsível uma melhora nos preços da energia elétrica, conforme o nível de chuvas voltasse a sua média histórica.

    A melhor notícia, contudo, é que a perspectiva é de forte aumento da capacidade instalada de energia nos próximos anos. Com o início da produção em Belo Monte, 2016 e 2017 baterão todos os recordes de aumento de capacidade instalada.

    capacidade instalada

     

    O cenário energético para os próximos anos é excepcional e auxiliará na retomada do crescimento econômico, exatamente o oposto dos últimos anos. A perspectiva de baixos preços aumentará o poder de compra da população e a competitividade das empresas brasileiras.

  3. O Mineirinho foi conferiu: eles estão lá

    Os Fantasmas de Barbacena

    Murilo Meniconi

    A trepidante Belo Horizonte ainda não possui fantasmas.

    Muito nova, muito ágil, muito iluminada, a capital de Minas não tem clima propício para as assombrações do passado, que aqui se dariam mal com os problemas do tráfego dirigido por policiais em cima de banquetas redondas, e nem poderiam galgar as escadas dos edifícios de trinta andares, já que, talvez por um anacronismo muito próprio à sua condição de abantesmas, não suportariam as filas enormes e cansativas dos elevadores. Talvez implicassem com as superlotações dos bondes e ônibus e não se dessem bem em uma cidade fanatizada pelo futebol e cinema, e movimentada pelas manhãs sadias do Minas Iate Clube.

    Presumivelmente por isso, os fantasmas mineiros não imigraram para a capital. Nem as lendas. Ficaram mesmo residindo nos seus habitats primitivos, que são os austeros e sombrios casarões de Barbacena, Ouro Preto, Diamantina, São João del Rei e Serro. A menos que os nossos super-milionários – a exemplo dos norte-americanos que encomendam castelos desmontáveis da velha Escócia e os reedificam na América, com as suas lendas e as suas sombras – comprem, também, os velhos sobradões das cidades antigas de Minas e os edifiquem na avenida Afonso Pena ou no bairro de Lourdes, sujeitando-os a números, taxas de água, impostos prediais, vigilância policial, campanha dos números de metal e outras coisas agradáveis.

    Por isto, esta crônica versa sobre fantasmas de Barbacena, a velha terra da política e da garoa, onde chove em junho e faz frio em fevereiro, pois as estações absolutamente certas ali são unicamente duas: sanatório e Barbacena, e ambas pertencem à Central do Brasil.

    Barbacena, além disso, tem poentes incríveis, flores hollywoodescas, como Uberaba já teve zebus impossíveis e aqui temos arranha-céus muito compridos e muito preguiçosos, pois levam anos a se erguerem.

    Os fantasmas barbacenenses são legítimos, maiores de cem anos, alguns de outros séculos, todos do outro mundo. Também, é natural, pois a urbs serrana, fincada no planalto da famosa Mantiqueira, a lendária Amantikiras, com seus cento e seis anos de idade, cem de arraial e Borda do Campolide, uns quinhentos de taba de índio puri da tribo dos cataguases e mais de mil toneladas de tempo pré-histórico, como asseveram os estudiosos das furnas célebres da serra da Ibitipoca – que se ergue ao sul do planalto, sombreando a cidade com seu perfil bojudo de baleia recheada – criou teias, engordou lendas e alimentou fantasmas, aromatizados com a doce essência das lendas afro-indigenas que nos são sussurradas através das gerações, nos momentos em que a política dá uma folguinha. E os fantasmas e as lendas da velha terra resistem ao tempo. E, mal o sol se esconde entre o morro do Jacó e o Monte Mário, e as primeiras estrelas brilham no oeste, iniciam a sua ronda furtiva e entram logo em serviço, uns a vigiarem supostos tesouros enterrados (onde ninguém sabe, nem mesmo eles), outros, ligados a casos de amores não correspondidos e que não foram devidamente afogados com chope. Muitos deles são apenas passeantes inofensivos e filósofos, apreciadores das madrugadas azuis e geladas da serra. Mas, agora, vêm em letra de fôrma, segundo uma velha ordem cronológica, salvo engano ou omissão.

    O mais velho de todos: Aninha cara, mulher velha que passeia pela madrugada numacarrete fantôme, à procura de amor não correspondido, isto por volta de 1790, local: proximidades da Boa Morte e Cemitério.

    O preto escravo que conta moedas: uma, duas, três, vinte, cinqüenta e o retinir metálico das moedas pipocando no silêncio da noite tenebrosa, local: Caminho dos Escravos, no Córrego do Neto.

    A mulher de branco do Rosário. Vulto passeante, com horário fixo: três horas da madrugada, com frio ou chuva.

    O encapuçado do Areão: alto, apático, elegante, discreto, silencioso, sistemático, marcial e fixo, envolto em manto macio e capuz, e que só aparece em noites absolutamente blecaute.

    O capa vermelha: trata-se, na certa, de um fantasiado de diabo à cata de uma marcha de automóvel para algum baile à fantasia. Local e horário: ao escurecer, no fim do Pau de Barbas, ao sopé da colina do Pagão; este é barulhento, pois sacode guizos.

    O tétrico assovio morro da Forca, atribuído ao último enforcado sem culpa, chamado Manoelzinho.

    O choro convulso da criança, na pedra Menina, nas proximidades da ressaca (terras que pertencem a Joaquim Silvério dos Reis, o delator).

    A mulher seca que aterroriza os lenhadores da mata do Manhanguá (caminho de Ibertioga).

    A sombra do porco, que vai crescendo, crescendo (logo agora, com este preço altíssimo da banha)…

    O vulto solitário, nas proximidades do morro da Forca, que se emparelha com o viajor retardatário, mas que é incapaz de lhe pedir dinheiro emprestado, mesmo sob garantia…

    E a mula sem cabeça (já estava demorando) que troteia pela cidade até à Cruz das Almas; e o arrastar de correntes que se inicia no cemitério dos escravos e só termina na Campante; e a vela que virou osso, quando guardada em certa casa da ladeira da Cadeia, certa vez que passava por ali lúgubre cortejo.

    Relatemos, também, o caso das duas velhas irmãs, residentes à praça dos Andradas, em tempos idos que, cedinho, postadas à janela viram passar para a missa das 4 horas, um grande número de fiéis, já há muitos anos desaparecidos deste mundo e que foram de suas remotas relações.

    E aqui cabe também a história da pedra grande do Retiro da Fazenda Vista Alegre – singular monolito de considerável tamanho, colocado à mão, em tempos imemoriais sobre uma colina, como marco de algo fantasmagórico e impenetrável, ainda hoje conservada.

    E o cavalo verde, verdadeiro e moderno cavalo de Tróia estacado à margem do velho caminho para São João del Rei. E não nos esqueçamos da popular e lendária cobra da Boa Morte, que vive na torre esquerda e que desce à meia-noite “para beber água” e nem do célebre e histórico cacho de uvas de brilhantes, ouro e diamantes, do fidalgo repelido, enterrado por ciúme, no caminho do Registro Velho; e também a procissão fantasma das encruzilhadas soturnas na Mantiqueira, com luminárias, velhas, tochas, mortalhas e banda de música; e tesouros enterrados, camuflados em ossadas, em recentes construções, nas ruínas da casa da Sá Batista; e a moça santa da Ressaca, e o famoso e espertíssimo capa preta que apareceu por volta de 1933, revolucionando os moradores da Boa Morte; finalmente, a atualíssima mulher da mão gelada do beco da Benta, que tem o péssimo hábito de apertar a mão dos madrugadores. São estes os fantasmas barbacenenses salvo engano ou omissão.

    Podeis estar tranqüilos, ô passantes descuidados e notívagos. Estas assombrações, estes fantasmas não auscultarão vossos segredos e nem tomarão contato com vossas angústias, dúvidas e segredos políticos.

    Deixai-os, que só a noite os compreende. Não os perturbeis e não interrompais sua ronda de sonho, na doçura da madrugada. Eles passarão como sombra da noite que temem a luz perturbadora da aurora. deixai passar as sombras e o sonho desaparecerá no horizonte.

    Por incrível que pareça, esta crônica poderia ter também o título: Acredite se quiser.

    (Meniconi, Murilo. “Fantasmas de Barbacena”. O Diário. Belo Horizonte, 18 de julho de 1948, segundo caderno, p.1-2)

    FONTE: http://www.jangadabrasil.com.br/temas/julho2008/te11407e.asp

  4. Festas com nudez e sexo

    Festas com nudez e sexo permitidos se popularizam em São Paulo

     colunistas convidados ex-colunistas 

    PS:SP

    Chico Felitti

    PS:SP

    Chico Felitti nasceu em São Paulo, mas foi criado alhures. Nos últimos dez anos vem correndo atrás do tempo perdido e buscando os segredos da cidade. Escreve semanalmente, aos domingos.

    Festas com nudez e sexo permitidos se popularizam em São Paul

    Abundam na cidade festas em que a nudez é permitida, se não incentivada com brindes.

    “Ficar pelado na balada é parte de um pensamento maior, de liberdade”, diz Rafa Dias, que já cunhou duas festas –a Gaydrômeda durou seis edições e deu lugar à Kevin, que acontece mensalmente no Cabine’s Bar, um reduto oculto na avenida Paulista com a rua da Consolação.

     Marcelo Elídio/Folhapress Cena da Pop Porn Chicos, que aconteceu num cinemão em novembroCena da Pop Porn Chicos, que aconteceu num cinemão em novembro

    Cerca de 300 maiores de idade passaram pela última Kevin, que cobrava R$ 15 de entrada. O criador, que queria fazer uma festa “bem gay”, calcula que metade delas tenha ficado pelada. Como não há chapelaria, as roupas ficam pelos cantos da pista ou atrás da cabine do DJ.

    A Pop Porn, nascida do festival anual de erotismo de mesmo nome, almeja juntar todos os tipos de sexualidade –todas as barwomen são transexuais, por exemplo.

    Uma das primeiras edições foi no Pan AM Club, no topo do hotel Maksoud Plaza, na região da Paulista. Mas a casa não permitia nudez, o que levou a balada para outros paradeiros. “Sexo tem de ser liberado. É uma coisa que pedimos para as casas, por isso é um pouco difícil achar lugar”, explica Marcelo D’Avilla, à frente do agito.

    Uma solução foi alugar o Cine Globo, uma das telas quentes que exibe filmes eróticos na República, para uma edição a que foram 400 pessoas. Os 50 primeiros ganham uma dose de catuaba e uso grátis da chapelaria.

    Festeiros são estimulados a manter os sapatos. Preservativos masculinos e femininos, doados pela prefeitura, são distribuídos, além de lubrificante, enxaguante bucal e luvas descartáveis. “É uma putaria organizada”, diz D’Avilla.

    Um clima de novos Novos Baianos impera nos saraus eróticos quinzenais da NossaCasa Confraria de Ideias, em Pinheiros. Lá, homens e mulheres se despem de preconceito para fazer performances e danças.

    Todas as festas têm fotógrafos oficiais e chegam a divulgar fotos dos corpos expostos nas redes sociais. “Se alguém pedir, tiramos na hora”, diz D’Avilla. Ma última Kevin, os frequentadores podiam fazer selfies, imprimi-las em um equipamento oferecido pela organização e colar numa parede. “Foram dezenas de fotos, quase todas levadas para casa como lembrança”, conta Dias.

    “É uma delícia”, diz a frequentadora Ana Lira, “só cuidado em quem for encostar”.

     

  5.  
    André, parece que essa

     

    André, parece que essa questão pode ser discutida através de uma ação popular, aí quarquer cidadão seria parte legítima para ajuizá-la. Concorda ?

  6. Adoxografia

    Há poucos dias me flagrei pensando em medalhas, comendas e certas homenagens que vejo serem prestadas.

    Nunca escondi as minhas dificuldades com coisas desse tipo. Há sete anos cheguei a escrever um pequeno texto sobre esse tema.

    Com pequenas modificações, eu o reescrevi e você pode ler aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/o-homenageado/.  

    Acho pouco provável que alguém pudesse ser mais feliz do que Aristóteles quando diz que “a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”.

    Uma vez ouvi o Prof. Humberto Castro Lima, fundador da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e homem de grande inteligência e cultura, dizer que já lhe era possível falar certas coisas porque a idade o colocara num patamar em que tudo, ou quase tudo, era permitido.

    Ainda que não seja uma regra para todos, há sim um respeito que se adquire com a chegada da neve que tinge os nossos cabelos.

    Entretanto, mesmo considerando-se a nenhuma convivência e as poucas vezes em que o vi falar, além dos cabelos brancos, certamente o Prof. Castro Lima conquistou o direito de dizer quase tudo que lhe viesse à mente por outras razões e a sua trajetória está aí para confirmar.

    Nos seus brilhantes discursos gostava de citar o “Elogio da Loucura”, livro de Erasmo de Rotterdam.

    Enaltecendo o poder da retórica, a obra de Rotterdam se tornou um clássico da literatura universal e como tal exerceu grande influência, como por exemplo na arte da adoxografia.

    Fernando Henrique Cardoso é a prova viva de que os cabelos brancos não permitem tudo.

    Diria mais.

    Fernando Henrique Cardoso é a negação da respeitabilidade que os cabelos brancos costumam trazer.

    Há cerca de 10 dias, o jornalista e escritor Laurez Cerqueira escreveu um artigo cujo título era “Fernando Henrique carrega um general golpista dentro dele” (http://laurezcerqueira.com.br/488/florestan-fernandes-entrou-para-a-historia-pela-porta-da-frente-fernando-henrique-pela-porta-dos-fundos.html).

    Transcrevo um trecho:

    “No discurso de despedida de Fernando Henrique Cardoso, do Congresso Nacional, antes da posse para o exercício do seu primeiro mandato, estava no meio dos parlamentares, elegantemente vestido, sentado na cadeira de sempre, como um aluno disciplinado, já bastante debilitado pela doença hepática, segurando uma bengalinha, o Professor Florestan Fernandes, reeleito por São Paulo.

    Fernando Henrique o viu no plenário. Pediu licença ao senador Humberto Lucena, que presidia a sessão, disse que quebraria o protocolo para cumprimentar uma pessoa.

    Desceu os degraus do alto da Mesa, embrenhou-se entre os parlamentares que o assediavam calorosamente, postou-se frente ao mestre e o abraçou. Florestan desejou-lhe boa sorte e êxito no governo.

    No final daquele momento, como que movido por um lampejo de confiança no ex-aluno, Florestan disse a Fernando Henrique: “Veja bem, Fernando: não crio gatos. Crio tigres”.

    Disse isso sob forte emoção, certamente lembrando-se de que ele teria sido um dos professores mais influentes na formação acadêmica dele…

    … Florestan teve uma conversa impactante com ele, falou sobre a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, sobre o curso de sociologia, e da importância de se formar sociólogos nas nossas universidades para ajudar nos estudos, nas pesquisas, sobretudo no desenvolvimento do pensamento e na interpretação do Brasil pelos próprios brasileiros.

    Foi com base nessa conversa que Fernando Henrique decidiu fazer o exame para cursar sociologia na USP. Florestan foi professor dele, orientador no mestrado e no doutorado.

    Ficaram tão amigos que Fernando Henrique mudou-se para a mesma rua que morava o mestre para conviver, frequentar a biblioteca e ouvi-lo mais. Florestan o tinha em alta consideração fraterna e intelectual.

    Aquele momento de despedida de Fernando Henrique  foi marcante para Florestan, mais marcante ainda a decepção com o rumo dado por ele ao governo, que apenas se somou a outras decepções políticas acumuladas ao longo da carreira do ex-aluno presidente. Mas nada disso abalou a relação pessoal e o respeito que tinham um pelo outro.

    Em 1996, Fernando Henrique havia dado um golpe na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que estava sendo debatida na Câmara, sob a coordenação do então deputado Florestan Fernandes, com apoio do Fórum Nacional de Educação.

    Numa articulação comandada pelo seu vice-presidente Marco Maciel, ele aprovou no Senado o projeto de lei do governo tornando regimentalmente prejudicado o projeto de LDB da Câmara, que acabou sendo arquivado.

    Esse fato deixou Florestan indignado e decepcionado, por ter sido colocado por terra anos de debate e de construção democrática, com a participação da sociedade, de uma proposta de educação que provocaria uma transformação profunda no país.

    Dias depois, numa conversa sobre o golpe da LDB, ele sentado, tirou os óculos de hastes e lentes grossas, colocou-os sobre a mesa, passou os dedos nas sobrancelhas de fios compridos, e disse, referindo-se a Fernando Henrique, com todo o cuidado que tinha no trato com as pessoas: “É… Fernando está ficando politicamente irreconhecível”.

    Não sei quantos sabem que FHC é filho de general, o que não quer dizer nada e que também nada tem a ver com o título do artigo de Cerqueira.

    O título se reporta a outra coisa.

    Trata de um homem que já algum tempo eliminou qualquer possibilidade de dúvida que ainda pudesse existir sobre o que significa de fato o “esqueçam tudo que eu escrevi”.

    Não há mais limites.

    As histórias de traição de FHC às coisas e pessoas sérias que conviveram com ele são conhecidas.

    Um dos seus ministros mais respeitáveis, o professor Adib Jatene, já disse mais de uma vez para quem quis ouvir que ele não cumpriu a palavra com ele. Uma das vezes em que isso ocorreu foi no programa Canal Livre, da Band.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=vKMdOXavNSA align:center]

    FHC é hoje um dos poucos homens que conseguem falar de democracia e golpe na mesma frase com tamanho despudor que os fazem parecer sinônimos.

    Ah, quase esquecia.

    Adoxografia – Enaltecimento desmerecido sobre algo ou alguém; elogio imerecido.

    É a “arte” de se fazer o elogio imerecido de pessoas ou coisas sem valor, pessoas vulgares.

    A mídia brasileira se tornou um ícone na arte da adoxografia.

  7. Uma segunda opinião sobre a questão da dívida pública

    http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2012/06/os-vendilhoes-da-indignacao….

    Somos um país, talvez um planeta de indignados. “É um absurdo” é das frases mais comuns; uma charge argentina de alguns anos atrás mostrava um casal: um lendo alto no jornal sobre o cometa Shoemaker-Levy, que explodiria sobre Júpiter com a força de dez mil bombas atômicas. O outro responde: “Absurdo! Cadê o governo que não faz nada!?”  Alguém dirá que é melhor do que o conformismo, mas essa indignação fácil não é ativa, não é direcionada. Não é, em outras palavras, em nada diferente do conformismo. E é vendida, ativamente, o tempo todo, além de ser reforçada “digrátish” pela internet. Dois exemplos brasileiros:

    A Folha anuncia Roupa doada a vítimas das chuvas em Paraitinga vai parar no lixo. Lendo a matéria, entende-se que 

    A) Como a tragédia teve repercussão nacional e S. Luís do Paraitinga é minúscula, as roupas foram em quantidade muito maior do que a suficiente para cada morador de lá ter um closet maior do que o da Angela Merkel. 

    B) As roupas em excesso, após a distribuição, foram endereçadas a vários galpões de empresários que se voluntariaram para encaminhá-las a entidades assistenciais em outras plagas.

    C) O galpão em que as roupas apodreciam encaminhou a roupa que estava em boas condições para uma entidade de Campinas, e não conseguiu foi achar jeito hábil de se livrar das roupas já rotas, sujas, ou já mofadas. 

    Em resumo, é uma não-notícia. Talvez pudesse ser notícia “parte das roupas doadas a S. Luís do Paraitinga estava em mal estado.” Mas é claro que isso não alcançaria a indignação fácil no mesmo nível da sugestão de que roupas doadas mofaram ao invés de ser entregues a seus destinatários de direito, reforçando a percepção de corrupção generalizada e que, por sua própria onipresença, leva ao desânimo, não à ação. (A Folha não menciona, por supuesto, nessa ação de desinformação, o partido da prefeita de SLP. Ganha um bico esponjoso e colorido quem adivinhar.)

    Na outra ponta do espectro político, uma imagem recorrente nas correntes de email, facebook ou twitter da esquerda brasileira é esta aqui:

     

     
    Olhem que estarrecedor! Quase a metade do orçamento brasileiro vai para o pagamento dos juros da dívida – ok, e amortizações, que devem ser outra variedade de juros em tecniquês. De qualquer jeito, é evidente que o governo títere dos bancos, se quisesse, poderia declarar a moratória, ou a redução dos juros, e incontinenti sobraria dinheiro para saúde, educação, e tudo o mais.

    Pois bem, a imagem mente que nem uma matéria da Folha sobre São Luís do Paraitinga. “Amortizações” se refere à rolagem da dívida. Explicando: a dívida brasileira não é como uma dívida que tenhamos no banco, mas sim uma massa imensa de dívidas e títulos. Como o Brasil não tem superávit nominal, à medida que estes vão vencendo, são pagos e contrata-se igual quantidade de dívida, por mais 1, 2, 4 ou 20 anos. A isso chama-se “rolagem,” e o efeito total no dinheiro disponível é zero. Para fazer a conta refletida no gráfico acima, integraram os pagamentos de juros – o dinheiro gasto efetivamente – e a rolagem (“amortizações”). Pôr a rolagem na conta de gastos é, mal comparando, como se você não pagasse a conta integral do cartão de crédito e contasse tudo que ficou devendo como gasto mensal, ao invés de apenas o que está pagando.

    Ora, um gráfico equivalente da receita federal teria, pela mesma lógica, que incluir a dita cuja. Em outras palavras teria como maior fonte de receitas, com proporção similar à das despesas, “empréstimos bancários.” Para ficar claro: ainda que decretasse uma moratória, com todos os efeitos negativos dela consequentes, o governo não teria quase o dobro do dinheiro de que dispõe, mas uns 10% a mais. A proporção do orçamento brasileiro gasta com juros da dívida é alta e vergonhosa, mas não chega nem à metade daquela mostrada nesse gráfico, e assemelha-se àquela gasta com a previdência.  Tentando explicar de outro jeito: o Brasil não está pegando 100 mariolas de imposto e dando 40 pros bancos. Ele está pegando 65 mariolas de imposto, 35 mariolas emprestado dos bancos, e pagando 40 mariolas pros bancos. Se declarar a moratória, como não vai ter mais banco dando dinheiro, ele não fica com 40 mariolas a mais, fica com 5. (Isso num ano normal; ano passado, com nada.)

    É até uma questão de não subestimar a inteligência alheia nem crer na maldade abnegada: se a proporção fosse essa mesma, qualquer governante declararia a moratória, dobraria o orçamento disponível com uma canetada, e instauraria um Reich de mil anos. Dilma, Lula, e FH seriam não apenas perversos, mas perversos dispostos a sacrificar o próprio poder (e riqueza, se quiser ir por esse lado – imagine a Odebrecht com um orçamento da União dobrado) pra ferrar com o país.

    Não que eu imagine, pela grita sobre a diminuição dos juros da poupança, que boa parte das pessoas de classe média que repassa esse gráfico, detentoras de poupanças e fundos de renda fixa, ficasse assim tão feliz com a moratória, ou mesmo queda acentuada dos juros (esta sim sendo uma excelente ideia). Ou alguém acha que na Suíça se ganha 6% ao ano em aplicação segura? Ou que os próprios títulos não estariam incluídos na tal moratória, e sim só os “dos ricos” (que sempre são os outros). Mas não seria só a classe média que sofreria os efeitos dum calote. A quebradeira bancária teria efeitos negativos em toda a economia do país – o que reduziria as receitas tributárias, anulando a vantagem de economizar as atuais despesas com juros. Nunca é demais lembrar: ao contrário do Equador ou da Grécia, no Brasil a maior parte da dívida é interna, não externa. É devida a instituições e pessoas brasileiras.

    E pra deixar claro: em termos econômicos, a “auditoria cidadã,” que é vendida como uma redenção da pátria que anularia a dívida contraída por meios escusos, seria apenas um calote com motivação política. Não estou dizendo que não houve dívida contraída por motivos escusos (segurar o dólar em 1998 pra reeleição foi no mínimo eticamente questionável), mas que a auditoria é tanto desnecessária quanto irrelevante. (E sinceramente, quem divulga o gráfico acima não é confiável. Ou entende como funciona dívida pública, e acha que os fins justificam meios desonestos, ou não entende.)

    Primeiro a irrelevância: não sei se fui claro ao descrever a rolagem. O que ela significa é que a dívida que estamos pagando hoje NÃO é a dívida contraída por FH, Itamar, Collor, ou mesmo Lula, em sua maior parte. São papéis relativamente novos, contraídos para pagar a dívida que vencia. De novo a analogia do cartão de crédito (vamos ver até onde dá pra forçar sem que ela quebre): pense numa pessoa que tem dois cartões de crédito, e usa um para pagar o outro. Dizer ao banco Mansa Musa que a compra feita no banco Maeda estava errada, quando você só sacou dinheiro no banco Mansa Musa, vai fazer com que este perdoe a sua dívida? Agora imagine que não tem só Maeda e Mansa Musa nessa cadeia, mas entre eles o Fugger, o Médici, a Mendes, uns trocentos elos. Por que o banco com quem você pegou dinheiro ontem, pra pagar a dívida de antes de ontem, perdoaria essa dívida se você demonstrar que láaaa atrás a dívida original era ilegítima?

    E a desnecessidade, que é até mais importante: se não se preocupar com os efeitos econômicos, o Brasil não precisa de absolutamente auditoria nenhuma para pagar a sua dívida soberana. É isso que “soberano” significa. O Brasil é um país independente, e os tempos das canhoneiras européias estacionadas no porto para forçar pagamento (o Haiti sofreu bastante com isso) estão no passado. Se Dilma quiser declarar moratória (o nome técnico pro que se chama de calote, e o resultado almejado de uma auditoria cidadã), pode fazer isso porque sim. Porque acordou de mau humor. Como forma de performance artística, chamando a Marina Abramovic pra ler o decreto.

    E as auditorias na Grécia e no Equador? Bem, elas demonstram o ponto: as duas não foram absorvidas pelo mercado de dívida como algum tipo de perdão bancário, mas como calote. Os juros pagos subiram após essa moratória parcial. A denúncia das condições escusas das quais se originou o endividamento, do sistema-mundo iníquo, não vão sensibilizar o coração de quem importa, que é o dono da dívida. Ela pode servir, no máximo, como justificativa política para uma moratória – que, de novo, o país pode fazer sem nenhuma auditoria, no dia que quiser. O problema é que o Brasil já quis, mais de uma vez, e em nenhuma dessas vezes o resultado final foi lá tão bom (lembrando de novo que o gasto público com a dívida não é de 40% do orçamento, e sim abaixo de 10 – e ano passado foi zero). A última foi em 1987, sob o Sarney. Sim, aquele Sarney. Não que uma moratória seja sempre a pior opção – na Grécia, ou na Argentina, recentemente houve crises de dívida realmente insustentável. Mas quem fala em auditoria da dívida tem que ter em mente que o efeito econômico, qualquer que seja a justificativa política, é complicado.

    A auditoria da dívida é sedutora porque lida com duas narrativas da simplicidade. A primeira é o diagnóstico: não aconteceu uma situação complexa e difícil de entender pra se chegar aonde estamos, o que aconteceu foi que homens maus nos feriram, e depois que os denunciarmos, os exorcizarmos, jogarmos um balde de água na cara deles até que derretam, vamos nos redimir. A segunda é o prognóstico: pra resolver a situação, não precisamos de resolver problemas complicados. Não há interesses divergentes, entre os bons, para serem conciliados. Depois de denunciarmos e pisarmos nos maus, todos os bons viverão felizes  na Cocanha. (Sim, dobrar o orçamento federal sem nenhum efeito negativo daria uma bela duma Cocanha.) É sedutor, mas – como o gráfico de pizza, como a maioria das soluções simples – é mentira.

    PS O faq do movimento auditoria cidadã tem esta pequena resposta à questão da rolagem:

    MENTIRA. Frequentemente, pessoas ligadas ao governo afirmam que parte destes 40,3% seria apenas “rolagem” ou “refinanciamento” da dívida, ou seja, o pagamento de amortizações (principal) da dívida por meio da emissão de novos títulos (nova dívida). Portanto, isto seria apenas uma troca de títulos velhos por novos, não representando custo para o país. Porém, a recente CPI da Dívida realizada na Câmara dos Deputados revelou que grande parte desta “rolagem” ou “refinanciamento” contabilizada pelo governo não representa pagamento de principal, mas sim, o pagamento de juros. Portanto, a capacidade de endividamento do país está sendo utilizada para pagar juros e encher o bolso dos bancos, ao invés de, por exemplo, financiar a melhoria da saúde, educação, transportes, etc. 

    Bem, ela é confusa, na melhor das hipóteses. Dizer que é rolagem não significa dizer que se está pagando o “principal” da dívida (de novo, não há um principal no sentido de uma dívida privada). Não é um julgamento de valor, como o embutido nessa resposta, mas uma definição da coisa. Significa dizer que o dinheiro para esse pagamento está vindo de novos empréstimos, e não de impostos arrecadados, só. Nem foi necessária pra ver isso a CPI da dívida – que, aliás, já fez basicamente o que uma auditoria teria para fazer, com todos os recursos do Congresso. O relatório está aqui. As informações sobre a dívida não são secretas, podem ser consultadas na internet a qualquer momento, o que faz da invocação da CPI um artifício retórico, assim como falar da saúdeeducação.

    PPS Repetindo: já foi feita auditoria da dívida, pelo Congresso Nacional, eleito pelo povo (pode ser uma bosta a democracia, mas inda não achei a opção melhor), com todos os seus recursos. O pedido de outra “auditoria,” por gente que parece pouco disposta a fazer perguntas e mais a apresentar respostas prontas, é antes um pedido de moratória versão apito de cachorro. Nada contra – mas que se apresente, ao invés de meias verdades, os prós e contras reais de uma moratória.

  8. Lava Jato

    Lava Jato prevê mais três anos de investigação: mais vazamentos seletivos, blindagem aos tucanos, grampos ilegais, etc.

                                                     

     

    Quem conhece a história de todos os procuradores que compõem a força- tarefa da Lava Jato não confia neles!

     

    O blog Brasil 247, de 17/01/2016, notícia que a Lava Jato prevê mais três anos de investigação na Petrobrás. Chama atenção esse período porque são justamente os  três anos que  restam do mandato da presidente Dilma. A idéia é infernizar o governo Dilma, e depois vão parar a investigação? Vamos voltar à era do Engavetador Geral da República, Geraldo Brindeiro, que,  indicado por FHC, nada investigava e tudo engavetava?

    Os procuradores da força tarefa da Lava Jato, no governo de FHC, autodenominavam-se como “Tuiuiús”. Faziam, na ocasião, oposição sistemática ao PGR, e, como não conseguiam investigar nada, compararam-se ao  tuiuiú, um pássaro do pantanal que não consegue levantar vôo.

     

    Entretanto, hoje a força tarefa da Lava Jato blinda os tucanos, principalmente os senadores Antônio Anastasia e Aécio Neves, este delatado duas vezes. Como também o governo de FHC, na Petrobrás, mesmo com uma enxurrada de delações, com a que envolve 100 milhões de propina nos negócios com a petroleira argentina e a compra de votos para sua reeleição. A certeza da impunidade é tanta, que FHC reconhece a corrupção na Petrobrás, em seu governo, em seu próprio livro “Diários da Presidência” .

    Realmente, a força tarefa da lava jato, os “Tuiuiús”, se converteram em tucanos!

    Sem esquecer que os delegados que compõem a força tarefa da Lava Jato fizeram campanha para Aécio Neves, inclusive chamando Lula e Dilma de “anta”.

     

    Hoje, nos governos do PT, todos podem investigar: Justiça, MP, PF e STF. Não adianta o juiz Sérgio Moro mentir, dizendo que  faltava dinheiro e que isso ameaçava a Lava Jato. Bem como agora, quando o PGR, Rodrigo Janot, recorre ao STF para barrar os cortes no orçamento do MP. Como está faltando dinheiro se a Procuradoria Geral da República vai instalar um controle biométrico de portaria, para garantir a segurança de suas excelências, os procuradores, pela bagatela de R$ 6,2 milhões? Na brilhante definição, feita em 2014, pelo então presidente do TRE do Rio de Janeiro, Bernardo Garcez,  foi uma brilhante solução para um problema inexistente.

    Será que é esta preocupação que está impedindo  Janot de analisar a denúncia contra  Aécio Neves, pois ele ficou de fazer isso depois do recesso, e o recesso acabou em 6/1, e até agora nada!

    E a mídia, que hoje vaza mais de uma delação por dia, calava-se na época do PGR engavetador!

    A sociedade e os petroleiros exigem que a Petrobrás e todas as empresas sejam investigadas, permanentemente, não é só por três anos, e também não pode ser em um só  governo. Iisso é papo de picaretas conspirador! Os petroleiros, durante as investigações da Lava Jato, melhoraram todos os indicadores da companhia. Que venham mais investigações e que todos os corruptos e corruptores sejam presos e devolvam o dinheiro roubado! 

     

    Pergunta que não quer calar. Por que justiça não investiga a mídia envolvida na corrupção do swissleakes, que são as contas no banco HSBC na Suiça para lavagem de dinheiro, envolvendo (Globo, Band, Folha, Editora Abril responsável pela revista Veja, o grupo RBS etc)?

     

    E o escândalo conhecido como zelotes, que envolve valores oito vezes maiores que o da Petrobrás, e a investigação está praticamente zerada?

     

    E o escândalo do metrõ de são Paulo que demorou mais  20 anos para chegar aos executivos da empresas. Quantas décadas vão ser necessárias para chegar aos governadores tucanos, os principais responsáveis?

     

    E para desmoralizar mais a justiça, o MP, a PF  e o PGR, o deputado Eduardo Cunha continua presidente da Câmara dos Deputados e ainda fazendo escárnio com a justiça e o PGR, Rodrigo Janot.

    Não podemos tapar o sol com peneira! Queremos uma justiça célere contra todos os corruptos, independente de partido, de empresa ou  de governo. Isso a Lava Jato deve a sociedade!

    Ah!  Mas para aqueles que, inocentes, que acreditam que a Lava Jato vá chegar ao PSDB, é só verificar que o mensalão tucano, bem anterior ao do PT,  passados mais de 17 anos,  está prescrevendo sem julgamento.   

     

    Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2015 

    OAB/RJ 75 300              

                 

    Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). 

    OBS.: Artigo enviado para possível publicação para o Globo, JB, o Dia, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros órgãos de comunicação.

    http://emanuelcancella.blogspot.com.

    https://www.facebook.com/emanuelcancella.cancella

        

     

  9. Fernando Nogueira da Costa

    in Estante, Estante de Sociedade

    17/01/2016

    1

    A Tolice da Inteligência Brasileira: como o País se deixa manipular pela elite

    A Tolice da Inteligência Brasileira

    O título é um achado em ironia. De fato, a etimologia de “inteligência” vem do latim intelligentĭa,ae “entendimento, conhecimento”. Tem a mesma sinonímia de “perspicácia”. Mas sua antonímia é “desentendimento, desinteligência, estultícia, estupidez, imbecilidade, tolice”. Em outras palavras, o título do livro de Jessé Souza, sociólogo que atualmente preside o IPEA, alerta para a inépcia dos intelectuais, situados na classe média brasileira, que constituem a “tropa de choque” na defesa dos interesses do 1% dos “endinheirados”, isto é, dos possuidores do top da riqueza.

    O mundo social não é transparente aos olhos de imediato. Entre os olhos e a realidade há uma venda que é a ideologia. Venda pode ser vista como faixa de pano com que se cobrem os olhos ou como uma metáfora para a ação de não perceber o que se passa. Venda é também o ato de alguém que se deixa subornar por dinheiro ou vantagem. Não é o caso do nossos intelectuais midiáticos que servem à manutenção dos privilégios sociais?

    Por que o interesse em “mentir” sobre como o mundo social realmente é? Os ricos e felizes, em todas as épocas e em todos os lugares, não querem apenas ser ricos e felizes. Querem ter a consciência limpa por saber que têm direito exclusivo à riqueza e felicidade. Isso significa que o privilégio – mesmo o injusto que se transmite por herança – necessita ser “legitimado”, ou seja, aceito mesmo por aqueles que foram excluídos de todos os privilégios.

    Essa questão-chave remete ao Paradoxo Fundamental da Política, segundo Steven Pinker: “o amor que pais dedicam a seus filhos torna impossível que uma sociedade seja, ao mesmo tempo, justa, livre e igualitária”.

    Se é justa, as pessoas que tiverem maior competência, se esforçarem mais, e até mesmo contarem com eventos aleatórios favoráveis, acumularão mais dinheiro e propriedades.Se é livre, elas os transmitirão a seus filhos. Não há amor mais incessante quanto o amor dos pais para com seus filhos e o amor dos filhos para com seus pais.Mas, neste caso, a sociedade deixa de ser igualitária e justa, pois alguns herdarão riquezas pelas quais jamais trabalharam!

    Dessa “trindade impossível” surge, então, o dilema entre liberdade, igualdade e paternidade. Diferentemente do lema da Revolução Francesa – “Liberté, Igualité, Fraternité” – a paternidade acaba predominando sobre a fraternidade com concidadãos na transmissão da riqueza. Em vez de distribui-la, após a morte, a quem menos têm, a opção preferencial é doá-la a quem mais ama, interpretando que é este herdeiro filial quem mais necessita de si, isto é, da herança dos antecedentes responsáveis por ter o colocado no mundo.

    Os europeus tendem a ser mais igualitários, enfatizando a igualdade de resultados ao acreditar que, em uma sociedade justa, não deve haver grandes diferenças de renda e/ou riqueza. No entanto, em uma sociedade livre e paternalista há a transmissão de herança, logo, a desigualdade de riqueza.

    Culturalmente, americanos e chineses colocam mais ênfase na justiça social sob forma de igualdade de oportunidades. Desde que as pessoas tenham igualdade de condições básicas para subir na escala social, eles acreditam que uma sociedade com grande diferença de renda ou riqueza ainda pode ser justa. Ambos defendem a meritocracia a partir do pressuposto de igualação da “linha-de-partida”, seja por política afirmativa de cotas, seja por implantação de ensino público gratuito para todos sem a exceção de poder cursar escolas privadas de melhor qualidade.

    No entanto, Souza argumenta que há um “capital cultural” que é transmitido de pais para filhos de “classe média”. Esta também é detentora de privilégio, não só no Brasil, mas em todo o mundo. A “classe dos endinheirados” (top 1% constituinte da casta dos comerciantes-financistas) acima dela (9% da população) acumula capital econômico-financeiro. O privilégio dos membros das castas de guerreiros-atletas e sábios-pregadores-e-artistas se baseia na apropriação de capital cultural valorizado e indispensável para a reprodução da ordem sob a égide da dupla mercado e Estado.

    O capital cultural não é formado apenas por títulos escolares ou habilidades militares-esportivas, mas, antes de tudo, pelo aprendizado na socialização familiar desde o nascimento. As disposições para o comportamento competitivo, necessário para o sucesso escolar e profissional, são transmitidos pelos filhos aos pais como uma “herança cultural”. Ensina-se aos filhos a disposição para o autocontrole, a disciplina e o pensamento prospectivo que percebe o futuro como mais importante que o presente.

    Daí, “a classe média se acha a tal”. Ela tende a se acreditar como a classe que se fez por “mérito individual”, conquistado por esforço próprio e não por privilégio de nascimento. Torna-se o baluarte da “meritocracia”, esquecendo/escondendo todos seus privilégios culturais desde o nascimento.

    Acha que só ela, composta de “vencedores”, tem “direito” a prestígio, reconhecimento social e melhores salários. Culpa as vítimas, isto é, “os perdedores”, em processo intelectual que obscurece a desigualdade da “linha-de-partida” e de oportunidades, por sua própria miséria e sofrimento, como elas escolhessem ser pobres e humilhadas.

    A reprodução contínua de todos os privilégios injustos depende do “convencimento” imposto por uma “violência simbólica”, perpetrada com o consentimento mudo dos excluídos dos privilegiados. Isto depende da permanente atuação de aparelhos ideológicos – jornais, rádios, TVs, editoras, universidades, etc. – e intelectuais orgânicos a serviço da classe dominante.

    A tese central deste livro de Jessé Souza, A Tolice da Inteligência Brasileira (São Paulo; LeYa; 2015), é que tamanha “violência simbólica” só é possível pelo sequestro da “inteligência brasileira” para o serviço não da imensa maioria da população, mas sim do 1% mais rico. Isso que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vêm da extraordinária concentração de riqueza, mas sim da “corrupção do Estado”, levando a uma falsa oposição entre Estado demonizado e mercado virtuoso.

    Não existe fortuna de brasileiro que não tenha sido construída de maneira independente de financiamentos, infraestrutura e privilégios concedidos pelo Estado nem corrupção de agentes estatais sem conivência e estímulo de participantes de O Mercado, especialmente de carteis.

    Souza afirma que “indivíduos e classes sociais têm que, efetivamente, ser feitos de ‘tolos’ para que a reprodução de privilégios tão flagrantemente injustos seja eternizada. Daí ser fundamental compreender como intelectuais e especialistas distorcem o mundo para tornar todo tipo de privilégio injusto em privilégio merecido ou, na maior parte dos casos, privilégio invisível enquanto tal”.

    O conhecimento do autor sobre Sociologia, logicamente, supera imensamente o meu. Porém, acho que suas hipóteses a respeito da complexidade da sociedade brasileira seriam melhor elaboradas a partir da estratificação social por castas.

    Casta, no sistema de estratificação tradicional da Índia, é um grupo social fechado, de caráter hereditário, cujos membros pertencem à mesma etnia, profissão ou religião. Por extensão, designa qualquer grupo social, ou sistema rígido de estratificação social, de caráter hereditário. Portanto, refere-se à camada social que forma uma das partes de uma sociedade que se organiza de maneira hierárquica. Em sentido pejorativo, usa-se a expressão para hostilizar o grupo de cidadãos que se destaca dos demais por seus privilégios, ocupações, costumes e/ou preconceitos.

    Pária é o indiano não pertencente a qualquer casta, considerado impuro e desprezível pela tradição cultural hinduísta. Por extensão, designa qualquer pessoa mantida à margem da sociedade ou excluída do convívio social. O sociólogo Jessé de Souza utiliza-se da expressão “ralé” para referir-se ao conjunto de indivíduos pertencentes à camada inferior da sociedade brasileira, ou seja, a arraia-miúda, a plebe, o populacho…

    Prefiro usar “pária”, inclusive porque seus membros, condenados a exercer os trabalhos mais duros, humilhantes e sujos, são tão “intocáveis” pelas castas brasileiras como ocorre na Índia. A elite brasileira, na vida cotidiana, recusa-se a “dar-a-mão” para os miseráveis.

    Outro exemplo seria reconhecer que tanto os sacerdotes quanto os cientistas assumem o mesmo papel de pregadores (tais como pregam os economistas na mídia em permanente defesa do livre-mercado e acusação do Estado regulador) pertencentes à casta dos sábios.

    Como Souza mesmo reconhece, “afinal, a ‘ciência’ – e os cientistas e especialistas que a incorporam – é, atualmente, quem herda os ‘prestígio’ das grandes religiões do passado e diz o que é certo e o que é errado. Não existe notícia em jornal ou TV que não necessite do ‘aval’ de um especialista”.

     

  10. A LAVA JATO
    http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2016/01/a-lava-jato-e-uma-farsa-um-estupro.html?m=1

    sábado, 16 de janeiro de 2016

    A Lava Jato é uma farsa, um estupro jurídico, um Golpe de Estado

    A LAVA JATO É UMA FARSA, UM ESTUPRO JURÍDICO
    Francisco Costa

    Desde o seu início, nascida como peça jurídica de um golpe de estado, a chamada Operação Lava Jato tem se mostrado como não deve ser a justiça em qualquer sociedade que se queira, ou pelo menos se julgue, democrática.

    Ontem, mais de cem advogados, entre eles renomados e respeitados professores de direito, subscreveram um documento de protesto e denúncia, do qual reproduzirei apenas o primeiro parágrafo:

    “No plano de desrespeito a direitos e garantias fundamentais dos acusados, a Lava Jato já ocupa um lugar de destaque na história do país. Nunca houve um caso penal em que as violações às regras mínimas para um justo processo estejam ocorrendo em relação a um número tão grande de réus e de forma tão sistemática. O menoscabo à presunção de inocência, ao direito de defesa, à garantia da imparcialidade da jurisdição e ao princípio do juiz natural, o desvirtuamento do uso da prisão provisória, o vazamento seletivo de documentos e informações sigilosas, a negação de documentos às defesas dos acusados, a execração pública dos réus e a violação às prerrogativas da advocacia, dentre outros graves vícios, estão se consolidando como marca da Lava Jato, com conseqüências nefastas para o presente e o futuro da justiça criminal brasileira. O que se tem visto nos últimos tempos é uma espécie de inquisição (ou neoinquisição), em que já se sabe, antes mesmo de começarem os processos, qual será o seu resultado, servindo as etapas processuais que se seguem entre a denúncia e a sentença apenas para cumprir “indesejáveis” formalidades.”

    A partir de hoje, pressupondo estar num país democrático, onde me estão garantidos os direitos de livre pensamento e de manifestação do livre pensamento, a partir de pesquisa na imprensa e nas redes sociais, redigirei e postarei uma série de matérias sobre o assunto, deixando claro, de antemão, que, por tudo o que tenho acompanhado sobre o assunto, a Lava Jato mais não é que um escritório dos interesses norte americanos no Brasil, repetindo em maior escala o que já foi feito no Paraguai e em outros países, com a finalidade de depor governantes que desenvolvam políticas nacionalistas e populares, em desacordo com os interesses das grandes corporações multinacionais e do governo dos Estados Unidos da América.

    O projeto é antigo, guardei dados políticos e econômicos do que considero uma afronta à dignidade humana e a consciência de todo um povo, manipulada, através de uma mídia irmã siamesa de uma banda criminosa do judiciário.

    Faltava-me embasamento jurídico, já que não tenho formação na Ciência do Direito, mas que este extenso documento veio dar.

    A Lava Jato atende a algumas finalidades e pretendo examiná-las uma a uma:

    1) enfraquecer a Petrobras, através da desmoralização internacional, e da perda de respeito pela empresa, pelo povo brasileiro;

    2) preparar psicologicamente o povo, para que aceite naturalmente um golpe de estado, depondo uma presidente legitimamente eleita;

    3) fornecer subsídios para que o legislativo leve avante o seu plano golpista;

    4) debilitar a estatal, de maneira a facilitar a sua privatização ou pelo menos o seu fatiamento, para que haja intromissão de capital estrangeiro;

    5) não conseguindo o golpe, para impedir a continuidade do atual projeto político nacional, inviabilizar a candidatura de Lula, pela via judicial, ou desgastá-lo politicamente, de maneira a facilitar as coisas para a oposição, boa parte dela denunciada na Lava Jato, mas blindada pelo juiz encarregado de fazer justiça e pela mídia, parte do movimento golpista;

    6) criar o maior estardalhaço possível, para impedir que outras operações, onde rigorosamente não existe nenhum nome do governo ou a ele, direta ou indiretamente, ligado, ganhe espaço, como as operações Zelotes e Swissleaks;

    7) criar a impressão de que uma conjuntura altamente desfavorável a todas as empresas petrolíferas do mundo, aqui seja conseqüência de corrupção.

    Mais itens eu poderia enumerar, e o farei, na medida em que os artigos forem se sucedendo.

    Espero que a administração do Face não entenda como “publicação que fere as normas de convívio” e me bloqueie, mais uma vez, ou que alguém do judiciário resolva me processar.

    Se isto vier a acontecer, antecipadamente agradeço, pelo enriquecimento do meu currículo e dignidade conferida à minha biografia.

    Há momentos em que a indignação não deixa outra alternativa senão a de usá-la de maneira útil

  11. Guarani e Kaiowá retomam

    Guarani e Kaiowá retomam parte de seu território tradicional na Terra Indígena Taquara, no MS, e já sofrem ameaças

    http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=8547&action=read

    em 15/01/2016.
    Fonte da notícia: Assessoria de Comunicação do Cimi

    Na madrugada desta sexta (15), indígenas do povo Guarani e Kaiowá retomaram mais uma parte de seu território tradicional na Terra Indígena (TI) Taquara. A área retomada, sobre a qual está sobreposta uma fazenda, é conhecida pelos indígenas como Lechucha e integra a tekoha – lugar onde se é – Taquara, localizada junto ao município de Juti, no Mato Grosso do Sul (MS). Durante o dia de hoje, indígenas relataram ter recebido ameaças de homens armados em caminhonetes, os chamados “jagunços” ou “pistoleiros”.

    A nova retomada aconteceu dois dias depois do assassinato do cacique Marcos Veron, morto em 13 de janeiro de 2003, completar 13 anos. Marcos foi uma liderança histórica da TI Taquara, responsável por liderar os Guarani e Kaiowá de volta à sua tekoha, em 1997, após anos aguardando a resposta do governo aos pedidos de identificação e demarcação de sua terra.

    Atualmente, o território aguarda a homologação da área pelo governo federal. Os estudos de identificação da terra tradicional iniciaram em 1999, e em 2010 o Ministério da Justiça publicou a Portaria Declaratória, reconhecendo aos Guarani e Kaiowá a tradicionalidade de seu território.

    Até a retomada realizada hoje, os cerca de 600 indígenas da tekoha viviam confinados em uma pequena porção de seu território tradicional, ocupando apenas 300 dos 9.700 da TI Taquara. Nesse espaço restrito, os Guarani e Kaiowá vinham sofrendo com constantes abusos, ameaças e violações dos mais diversos tipos, além de serem cotidianamente impactados pelo uso de agrotóxicos nas plantações de cana de açúcar próximas e pelo desmatamento provocado pelos fazendeiros das redondezas.

    Os indígenas vêm denunciando, há anos, a prática de crimes ambientais pelos fazendeiros locais e a poluição do rio que passa no interior da terra indígena com o veneno utilizado nas plantações.

    Em maio de 2015, uma representação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados visitou a tekoha Taquara, para conhecer a realidade de violações que os Guarani e Kaiowá enfrentam na região. Na ocasião, uma das lideranças da tekoha afirmou aos visitantes: “Levem daqui todo o sofrimento de um povo, tragam no retono justiça, porque aqui embaixo já deixamos de saber o que é justiça há muito tempo, mesas de dialogo, enrolação, desculpas, isso já nos levou 25 anos sem nossa demarcação”.

    Um longo histórico de violência marca a trajetória recente dos Guarani e Kaiowá da TI Taquara. Em outubro de 2001, os indígenas foram expulsos da área retomada em 1997 e passaram a viver sob lonas ao lado de uma rodovia. No início de 2003, a comunidade resolveu retomar mais uma vez seu território tradicional. Após a retomada, o cacique Marcos Veron foi espancado por jagunços e veio a falecer horas depois.

    Além do assassinato de Marcos Veron, pelo menos outras quatro lideranças da comunidade foram mortas nos últimos anos, e os indígenas denunciam que estupros contra as mulheres indígenas da tekoha são recorrentes, praticados pelos jagunços que são contratados pelos fazendeiros locais.

    Funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), notificados da retomada, partiram na tarde de hoje para averiguar a situação do acampamento. Segundo relatos de indígenas, homens armados que rondam a retomada em caminhonetes fizeram ameaças contra os Guarani e Kaiowá e possíveis ataques podem acontecer a qualquer momento.

    Fotos: Cimi Regional MS

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