Giganto, exposição fotográfica de Raquel Brust, traz os invisíveis à luz, na sombra do Minhocão

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Quando se dá de cara com um rosto de seis metros de altura, impossível não vê-lo. Impossível não estancar defronte a ele, impossível não sentir um certo incômodo.

Quem é esse gigante? Quem é esse ou essa que me escrutina a alma? Que me olha pedindo para que eu o veja. Que não faz esforço algum para dizer tanto mantendo-se calado. Que ensurdece o ruído ao redor.

Confesso que a primeira vez que tive contato com as imagens gigantescas da fotógrafa Raquel Brust coladas nos pilares do Elevado Costa e Silva, nosso odioso e querido Minhocão, pensei que se tratasse exclusivamente de moradores de rua, daqueles que vivem sob o imenso e quilométrico viaduto, que somente quando transformados em verdadeiros Gullivers, ampliados para uma escala fiorentina, chamariam a atenção dos que passam e não os enxergam, voluntaria ou involuntariamente.

Serem não apenas habitantes das calçadas como também moradores do entorno não desmereceu a ideia – minha concepção é que foi inexata – mas meu arrebatamento pelas imagens já estava consumado.

De fato, moradores daquela região representam uma diversidade dificilmente vista em muitas outras áreas da cidade. Há o mendigo, o relojoeiro, o travesti, o escritor, o dono de boate, o músico, a secretária aposentada. A brutalidade da paulicéia e o brutalismo da arquitetura fundem-se naquelas faces anônimas.

Alguns rostos parecem servir de pilar para uma estrutura tão árida de concreto, sustentando um peso enorme sobre suas cabeças. Outros, porém, representam uma força de tal magnitude que parecem fazer o Minhocão levitar.

E o odor? Vem daquele monstro à minha frente ou vem da rua?

O Projeto Giganto de Raquel Brust é daquelas obras impactantes que nos levam ao questionamento: por que ninguém pensou nisso antes? Mas só os verdadeiros artistas enxergam e traduzem o óbvio. Pessoas enormes que diminuem a cidade, alterando a proporção real para uma virtual e desejável. Quem é mais importante?

Os 20 portraits embelezaram a cidade levando conscientização e questionamentos aos observadores, fossem eles atentos ou não. Aceitar como normal e previsível as intervenções e interferências que tanto o tempo quanto os grafiteiros exerceriam sobre as fotos, só reafirmou um desprendimento louvável entre criador e criatura. Para nós do Diário do Centro do Mundo, a autora é alguém que entende verdadeiramente o que é “arte de rua”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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