Guarani-Kaiowá é morto em ataque de fazendeiros no MS

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) denunciou que, na manhã do dia 14 de junho, um grupo de cerca de 70 fazendeiros atacou indígenas a tiros na Fazenda Yvu, vizinha à reserva Tey’i Kue, no município de Caarapó, no Mato Grosso do Sul. No ataque morreu o agente de saúde indígena Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza Guarani-Kaiowá, de 26 anos.

Ao menos seis indígenas foram hospitalizados com ferimentos feitos por armas de fogo. Uma criança de 12 anos está entre os feridos. Segundo relatos do Cimi e do Instituto Socioambiental (ISA), os fazendeiros chegaram com caminhonetes, motocicletas e um trator, já atirando. Os indígenas correram para dentro da reserva e áreas próximas, tentando escapar dos tiros.

“A gente foi empurrado de volta pra aldeia. Eles continuaram atrás e entraram na reserva, atacando. No meio desse ataque, o filho da nossa liderança caiu morto e as pessoas foram feridas. Estamos cercados aqui. Está tudo rodeado. Os fazendeiros estão em volta. Não podemos entrar e nem sair”, disse ao CIMI uma liderança indígena que não se identificou.

Desde domingo, os Guarani-Kaiowá ocupavam o território de Toropaso, dentro da Fazenda Yvu. O território é reivindicado pelos indígenas e foi identificado pela Funai, em maio, como terra indígena. Só que a demarcação ainda não foi confirmada.

O antropólogo Diógenes Cariaga, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), declarou ao ISA que “esse ataque é fruto da leniência e da lentidão do Estado Nacional em resolver a demarcação das terras indígenas”. “Outras áreas de retomada como Te’yjusu e Pindo Roky também foram vítimas de violências”, completou ele.

A Agência Brasil conversou com porta-voz do Ministério Público Federal que informou que representantes do órgão no MS já foram para a área. A reportagem da Agência Brasil tentou conversar com o Ministério da Justiça interino, mas que não obteve resposta até a publicação da matéria e, no site da agência, nenhuma outra matéria sobre o assunto foi postada com declarações do interino da pasta.

O Cimi soltou nota sobre o ocorrido na região do MS. Leia a íntegra da nota a seguir.

Nota do Cimi sobre o Massacre de Caarapó e o assassinato do Guarani e Kaiowá Clodiodi de Souza

O Conselho Indigenista Missionário – Cimi denuncia e repudia a ação paramilitar realizada por fazendeiros contra famílias do povo Guarani-Kaiowá, do tekohá Tey Jusu, na região de Caarapó, no estado do Mato Grosso do Sul, nesta terça-feira, 14, que resultou no assassinato do jovem Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza Guarani-Kaiowá, 26, além de ao menos seis feridos à bala, inclusive uma criança de doze anos baleada no abdômen.

Constatamos, com preocupação, que ações paraestatais realizadas por setores do agronegócio tem sido recorrentes no Mato Grosso do Sul. Desde agosto de 2015, quando foi assassinado o líder Simeão Vilhalva, no tekohá Nhenderú Marangatu, foram registrados mais de 25 ataques paramilitares contra comunidades do povo Guarani-Kaiowá no estado. Demonstrando profundo desrespeito ao Estado de Direito e agindo na completa impunidade, latifundiários têm optado pela prática corriqueira da “injustiça pelas próprias mãos” no estado.

Consideramos que a atuação de parlamentares ruralistas na tentativa de aprovar proposições legislativas, como a PEC 215/00, e no âmbito de Comissões Parlamentares de Inquérito, como a CPI do Cimi e a CPI da Funai/Incra, contribuem para aprofundar o sentimento de ódio aos indígenas, agravando ainda mais a situação de violência contra os povos originários no Brasil e, de modo especial, no Mato Grosso do Sul.

O Cimi solidariza-se com os Guarani-Kaiowá, especialmente com os familiares da liderança assassinada e dos feridos, e exige que o Ministério da Justiça tome providências imediatas e efetivas a fim de fazer cessar os ataques paramilitares contra comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul, bem como, para identificar e punir os assassinos de mais uma liderança indígena daquele estado.

Causa vergonha nacional e internacional ao Brasil o fato de setores do agronegócio exportador de commodities agrícolas continuar assassinando líderes de povos originários de nosso país.

O genocídio Guarani-Kaiowá avança pelas mãos do agrocrime no Mato Grosso do Sul.

Brasília, 14 de junho de 2016

Conselho Indigenista Missionário – Cimi

 

(com informações do Cimi, ISA e Agência Brasil)

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Mais uma tragédia no Mato Grosso do Sul…

    No momento, quando o clima de ódio – incitado pela Rede Glolpe e seus outros comparsas da midia para fortalecer o golpe – estimula a voracidade dos ambiciosos e canalhas, os mais vulneráveis são os que mais sofrem…

  2. Distorção dos fatos

    O trecho chave da nota é o seguinte:

    “Desde domingo, os Guarani-Kaiowá ocupavam o território de Toropaso, dentro da Fazenda Yvu. O território é reivindicado pelos indígenas e foi identificado pela Funai, em maio, como terra indígena. Só que a demarcação ainda não foi confirmada.”

    Isto se chama eufemismo: não se trata de um “território”, mas de uma propriedade particular que foi invadida pelos indígenas, muito provavelmente, insuflados por elementos do CIMI, useiro e vezeiro em tais práticas, como acaba de constatar a CPI do CIMI da Assembleia Legislativa de MS. O resto, inclusive a violência e a morte do indígena (que não é a primeira a ocorrer em tais casos), lamentáveis, é consequência de um ato ilícito inicial. Se propriedades urbanas são invadidas, os proprietários têm todo o direito de repelir os invasores com todos os meios disponíveis. 

     

     

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