Hjalmar Schacht, o Keynes alemão

 
Por André Araújo
 
Hjalmar Schcht foi um dos grandes economistas operacionais do Século XX. Nascido na Dinamarca, de pai alemão e mãe dinamarquesa, a Condessa  Constance von Eggers, Schacht formou-se em Filosofia em 1899, entrou para o Dresdner Bank em 1908, onde fez longa carreira, foi um dos principais Diretores do banco nos anos 20 e 30. Durante a Guerra de 14-18 foi Comissário econômico na Bélgica ocupada pelo Exército alemão e foi demitido pelo Comandante General Lumm porque carregava os bons negócios de câmbio para o Dresdner.
 
Já na República de Weimar é nomeado Comissário da Moeda em novembro de 1923, monta um plano para acabar com a hiperinflação alemã, do qual o nosso Plano Real é cópia, usando troca de moeda com um periodo intermediário e uma moeda gráfica de transição (a  nossa URV). Com o sucesso é nomeado presidente do Reichsbank, o banco central alemão.

 
Em 1926 organiza a operação financeira que resulta na criação do truste químico alemão, a IG Farben (Bayer+Basf+Hoescht) e é o negociador alemão do Young plan, o segundo plano de reestruturação da dívida das reparações de Versalhes. Se aproxima dos nazistas sem nunca se filiar ao Partido, porque acredita na inviabilidade da República de Weimar e vislumbra que só um regime forte recupera o potencial da Alemanha, deixa a presidência do Reichsbank em 1930.
 
É um dos pontos de contato do Partido com o alto empresariado alemão e arranja fundos para o Partido.
 
Hitler chega ao poder em Janeiro de 33 e em Março de 1933 e o nomeia novamente presidente do Reichsbank e em agosto de 1934 Ministro da Economia. Schacht então negocia acordos de comércio exterior com países sul-americanos, especialmente o Brasil, pagando em marcos de compensação, moeda que só poderia ser usada para compras na Alemanha, superando com isso a escassez de moeda forte. A operação é possível porque a industria alemã tem vasta oferta de máquinas e equipamentos da melhor qualidade. O Brasil usa os marcos em boa parte para reaparelhar o Exército. Schacht cria também os BONUS MEFO, uma espécie de bônus rotativo usado para pagar o rearmamento, uma quase-moeda (o Brasil também copiou com os Bônus Rotativos dos Estados na década de 50).
 
A Alemanha em 1933 tinha 40% de desemprego, em 1937 o desemprego era zero, graças as encomendas do rearmamento financiadas pelos esquemas criados por Schacht.
 
A partir de 1938 a estrela de Schacht junto a Hitler começa a cair. Entra em confronto com o Comissário do Plano Quadrienal, o Marechal Goering, cuja função é concorrente com o Ministerio da Economia, um exemplo típico do xadrez de conflitos propositais que Hitler criava na máquina pública. Com isso Schacht pede demissão mantendo um cargo simbólico de Ministro sem pasta até 1943, Hitler ainda precisava dele para contatos internacionais, especialmente no BIS -o Banco de Liquidações Internacionais da Basiléia, uma ideia de Schacht, para gerir os pagamentos das reparações de Versalhes, criado em 1930 e que funcionou normalmente durante toda a Guerra, com diretores ingleses, alemães e americanos sentando lado a lado.
 
Com a Operação Walkiria, o atentado de oficiais do Exército contra Hitler em 1943, Schacht é suspeito de envolvimento e internado no Campo de concentração de Ravesbruck, passando depois para o Tyrol, onde é libertado pelo V Exército americano.
 
Levado como réu a Nuremberg é julgado e absolvido de todas as acusações. Volta a vida empresarial, funda em Dusseldorf seu banco privado Schacht & Co. e dá consultoria a países emergentes, entre seus clientes a Indonésia e a Síria. Morre em junho de 1970. Hjalmar Schacht foi um dos grandes formuladores de economia do Século XX, tinha como Keynes extrema flexibilidade mental, operava na ortodoxia e na heterodoxia com a mesma eficiência, era “economista de circunstância” como Keynes, o absoluto oposto do economista dogmático da escola monetarista.
Redação

7 Comentários

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  1. Por falar na necessidade de planos de salvação da pátria
    A Dilma vem sendo criticada por colocar a culpa do deficit brasileiro no mercado internacional. Tem razão, mas não é só ela que percebe isto, o site Zero Hedge também e sofre nas mãos da mídia também.

    “There’s A Bubble In Pessimism Worldwide, Come On, You Read Zero Hedge!”

    Bond Central Banks Reality Recession

    GFI’s John Spallanzani came on CNBC today and decided to make the case that there is a bubble. But not a bubble in

    Here is his “argument”, deconstructed in its several key components.

    “If there’s a bubble in bonds, there has to be a bubble in pessimism.”
    Apparently, Mr. Spallanzani does not quite grasp that the only reason bond prices are as high as they are (to him, that means a bubble), is because the central banks are now buying more than 100% of all net issuance.

    It also appears that the very logical conclusion that if there is a bubble in bonds, then there is clearly a bubble in stocks, because once the bond bubble bursts and interest rates soar, what happens to earnings? Or perhaps GFI employees just haven’t covered yet the arcane linkage between the balance sheet and the income statement.

    Ironically, in the very next sentence the CNBC guest says that “there is a shortage of quality assets in the world” (which actually is spot on as we showed in May of 2013), but apparently another class not discussed at GFI is that “quality assets” are bonds, not 100x (or Div/0) biotech stocks.

    Then there is a lot of even more confused words, followed by this pearl: “the only way the Fed is going to hike is basically the S&P going toward 2200. If we stay at 2100 or below, the Fed doesn’t go in September.”

    Then comes even more confusion: “the only game in town right now are equities to drive the balance sheet of the individual investor and also the consumer.”

    Uh, what?

    Unwilling to risk a subdural hematoma from trying to decipher what, if anything, that sentence even means, we trudge on:

    “If you take energy out right… energy really cratered… the earnings are not that bad”, and when someone interjects that revenues are bad, John’s response is: “obviously we can debate that.”

    Actually, no we can’t:

    … and as Factset notes, “Revenue Growth Not Expected to Return Until 2016”

    But ignore reality because John plows on: “the trajectory of earnings is up, we’re not going into a recession, therefore all the liquidity that’s sitting on a sideline has to go somewhere and that place that it’s eventually going to is equities, that’s what happens.”

    Uh, what… again? Some circular argument which is made whole not because of some cause-effect link but because “that’s what happens”?

    At this point we are getting concerned that Mr. Spallanzani has absolutely no idea what he is talking about.

    For better or worse, his CNBC hosts did too, and the camel’s back finally broke when asked if he has any clue about ETF flows (he does because “I trade ETFs all day”) he, surprisingly accurately, notes that “flows are going into IWM, into biotechs and going into QQQs”, which incidentally are only the story stocks, those trading in triple digit or higher PE, Spallanzani totally cracked, and having no response at all, came out with the following absolute stunner:

    “There’s a bubble in pessimism worldwide, come on you read Zero Hedge.”
    And cue laughter.

    So there you have it: when you are fresh out of any legitimate arguments, what do you do? You name drop Zero Hedge and use its readership as a benchmark of rationality or, as the case may in this particular very, very confused case, hope it’s sufficient to “prove” that there is a bubble in pessimism… or something. It wasn’t exactly clear by this point in the interview what John’s point was, or if he even had one.

    And while we probably should be grateful for that assessment, because for whatever reason Zero Hedge traffic was indeed an all time high in July, the fact that it originates from someone as confused, albeit a religious reader of this website, as Spallanzani we’ll just avoid commenting altogether.

  2. Vargas: o “equidistante pragmático”

    A política externa do Estado Novo é tema de amplo debate entre os historiadores. O grande especialista desse tema chama-se Gerson Moura, magnífico historiador paulista, já falecido, que fez sua sua carreira inicialmente no CPDOC da FGV-RIo e, posteriormente, no IUPERJ da Cândido Mendes. 

    É em sua obra “Autonomia na Dependência – A Política Externa de 1935 a 1942” que se encontra o conceito de “Equidistância Pragmática” para dar destaque à conhecida barganha varguista advinda da “dialética”entre pró-comércio-livre-americanicista (ensejado no Tratado Comercial de 1935, sob a batuta de Osvaldo Aranha) e o pró-comércio-teuro-compensado (Dutra e Góes Monteiro como grandes entusiastas). Dessa aproveitamento de brechas de oportunidades,de um lado e de outro, a partir dessa equidistância entre os dois polos, tão bem gerida por Vargas, explica a capacidade exitosa com que o governo teve em galvanizar ganhos econômicos (CSN), militares (equipamentos a custos competitivos da Krupp / modernização militar americana após a base de Natal) e políticos.

     

  3. Qualquer um sabe como

    Qualquer um sabe como desenvolver um país não é nenhum segredo, a fórmula de desenvolvimento rápido.

    A fórmula e a seguinte, governo reduz os juros e aumenta os gastos do estado.

    Como se reduz os juros, “imprimindo” moeda. Como se aumenta os gastos do estado, criando uma divida publica,

    O problema desta fórmula é que o desenvolvimento é temporário, sem sustentação a longo prazo.

    O Brasil já usou esta fórmula varias vezes e sempre fracassou, hoje estamos na fase de arcar com as consequências, recessão,desemprego, inflação.

     

     

    1. Meu caro, agradeço seu

      Meu caro, agradeço seu interesse. Tenho sim. O mais recente é MOEDA E PROSPERIDADE, da editora Top Books,

      a venda nas Livrarias Cultura, Saraiva, da Vila, Argumento (RJ), Travessa (RJ), sites Americanas, Submarino e quase todos os site de venda de livros online, nos EUA nas tres livrarias da Stanford University. O livro será publicado em inglês no ano que vem com o titulo CURRENCY AND DEVELOPMENT IN LATIN AMERICA.

      Outros são A ESCOLA DO RIO, MERCADOS SOBERANOS, BRASIL DOS PATRIOTAS E MARXISTAS NO PODER, todos da editora Alfa Omega, estes dois ultimos estão esgotados, só se acha em sebos, os dois primeiros nas principais livrarias.

       

      http://www.saraiva.com.br/moeda-prosperidade-o-impasse-do-crescimento-na-politica-de-estabilizacao-193916.html

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