Janela partidária beneficiou bancadas da Lava Jato no Congresso

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – A chamada janela partidária, que permitiu a mudança de partidos a parlamentares até o dia 17 de março beneficou, em maior quantidade, os partidos PP, PR e DEM, partidos que tem como presidentes três nomes envolvidos em investigações em curso: Ciro Nogueira (PI), Valdemar Costa Neto (SP) e José Agripino Maia (RN), respectivamente.
 
Por Maria Cristina Fernandes
 
Do Valor
 
Os porões do navio na maré da Lava-Jato
 
O PP, o PR e o DEM foram os três partidos mais beneficiados pelas migrações da janela partidária. Os operadores das novas filiações são seus respectivos presidentes, o senador Ciro Nogueira (PI), o ex­-deputado do PR, Valdemar Costa Neto (SP) e o senador José Agripino Maia (RN).
 
Nogueira foi arrolado em inquérito da Lava ­Jato depois que o doleiro Alberto Youssef contou à Polícia Federal ter sido escanteado pelo senador na operação das propinas do esquema da Petrobras para seus correligionários. Encabeça a lista de 32 parlamentares do seu partido, a maior bancada da Lava­ Jato, denunciados na operação.
 
A expertise de Ciro Nogueira como operador pode ser medida pelo excepcional desempenho de sua bancada na Câmara. O PP elegeu 38 parlamentares e hoje registra 49. Superou o PSDB (47) e hoje é o terceiro maior partido da Câmara dos Deputados.
 
Costa Neto foi condenado no mensalão a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como a pena foi inferior a 8 anos, cumpriu­-a em regime semiaberto, o que lhe possibilitava sair da prisão para trabalhar.
 
Em novembro de 2014, em função do que o Judiciário entende por bom comportamento, o deputado foi autorizado pelo ministro Luís Roberto Barroso a progredir para prisão domiciliar. Com residência fixada em um hotel de Brasília, Costa Neto, deu duro no cumprimento de sua pena. Depois de eleger uma bancada de 34, o PR hoje amealha 40 parlamentares e passou a integrar, junto com o PP, o time dos cinco maiores partidos da Câmara.
 
Agripino Maia é réu em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, um, em mãos da ministra Cármen Lúcia, pela acusação de corrupção passiva em licitação de inspeção veicular no seu Estado e o outro, aos cuidados de Luís Roberto Barroso, no âmbito da Lava­ Jato. Neste processo, segundo a denúncia da Procuradoria-­Geral da República, o senador teria recebido propina para operar liberação de recursos do BNDES para a OAS durante construção de estádio de futebol em Natal.
 
A tramitação desses processos não afetou a capacidade de arregimentação do senador. Seu partido renasceu das cinzas. Depois de eleger 21 parlamentares, hoje o DEM conta com 28, graças, em grande parte, à migração da bancada comandada pelo pastor Silas Malafaia.
 
Somados, PP, PR e DEM têm mais deputados (107) que PT e PSDB (95), os dois partidos que lideraram as mudanças do Brasil nas últimas duas décadas. A capacidade de atrair parlamentares pode ser um indicativo de sua força para rever essas mudanças.
 
A janela, votada pelo Congresso, acabou no dia 17, mas, como os partidos não têm data limite para formalizar as movimentações, a Câmara ainda não dispõe do balanço final das bancadas. Já é possível saber, no entanto, que PT e PSDB contam, respectivamente, com dez e sete parlamentares a menos do que elegeram em outubro de 2014. Nem todos saíram do partido, alguns assumiram cargos em governos estaduais e prefeituras, num movimento que, além de desfalcar as bancadas, demonstra opções parlamentares mais vantajosas na política local.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “…mas, como os partidos não

    “…mas, como os partidos não têm data limite para formalizar as movimentações, a Câmara ainda não dispõe do balanço final das bancadas”, se é assim não se formam as Comissões, para que se elejam suas mesas diretoras, e não se iniciam os trabalhos efetivamente legislativos no ano. Tudo ficará paralizados até que se decida o impeachment(?).

  2. a maior eficácia, eufemismo

    a maior eficácia, eufemismo para tragedia, da lava-jato, é desgregar o sistema político…

    primeiro por desagregar o pt e alguns outros..

    segundo, porque ao selecionar os culpados, deixa um enorme número deles  de fora,

    notoriamente corruptos, em condenação, ou sequer sendo investigados

    através de um processo mesmo com direito à defesa…

  3. E as Forças Armadas?

    Só no brazil um deputado condenado, livre prá ir e vir pelo barroso do STF, liderar um golpe “constitucional”! É banana demais! 

    Não caberia convocar as Forças Armadas para defender o Estado de Direito? Esse golpe significará o fim dos profetos de reaparelhamento do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador