Judiciário não pode se submeter à lógica do espetáculo

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Comentário ao post “Lewandowski e a relação mídia e Judiciário

Disse Lewandowski que “a relação com a mídia tornou-se muito negativa”. “Precisamos de um movimento de proteção dos magistrados, inclusive de sua segurança pessoal, para que possam exercer com liberdade seus julgamentos”.
 
As palavras de Lewandowski correspondem aos fatos. Pessoalmente acredito que o Judiciário perderá muito em razão de se tornar apenas mais um palco na sociedade do espetáculo. 
 
O campo judiciário é ou deve ser pautado por racionalidade e falta de pressa (na administração dos conflitos), cuidado (na apreciação das provas), isenção (na aplicação da Lei) e sobriedade pública (para preservar a dignidade da atividade judiciárias). O campo jornalístico/televisivo/midiático está no extremo oposto da atividade judiciária, pois exige dos jogadores rapidez e pressa (na descoberta e apuração do fato noticioso), audácia (na apresenção do furo jornalístico), parcialidade (na escolha do que noticiar, como noticiar e com que finalidade o fazer) e informalidade socio-cultural (para que o jornalista possa trafegar entre os diversos campos de ação humana em busca de sua matéria prima).  

 
No campo jornalístico uma injustiça cometida hoje pode ser desfeita na edição de amanhã e reparada economicamente. No campo judiciário a injustiça praticada para agradar ao público destroe reputações, famílias, carreiras, vidas e provoca danos que não podem ser sequer mensurados economicamente. Não só isto.
 
Ao se submeter a lógica do espetáculo desprezando as peculiaridades de sua atividade, o campo judiciário não só praticará injustiças como colaborará para o aumento da sensação geral de injustiça, com graves danos para a estabilidade do Estado e para a convivência pacífica em sociedade.O Poder Judiciário se transformar num judiciário do espetáculo é a pior coisa que pode existir para uma comunidade política organizada de maneira a administrar os inevitáveis conflitos decorrentes da vida em sociedade.
 
Lewandowiski acertou no diagnóstico, mas poderia ter sido mais didático. Poderia descer às minúcias, inclusive para que possamos saber se ele, que será o presidente do STF em breve, pretende frear ou ampliar a espetacularização do processo. 

 

Redação

3 Comentários

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  1. Iiiiihh, já era!Os tribunais

    Iiiiihh, já era!

    Os tribunais superiores estão por décadas aparelhados pelo mesmo pessoal com quem os grupos de mídia se aliam na política. Quem apostou no processo de “juvenização” da magistratura – e do novo MP – se decepcionou. Já pegaram juizite; são “prósperos”, “afluentes” e compartilham dos mesmos valores dessa turma.

    Justiça é só um conceito indeterminado pra eles (da mesma maneira que neutralidade o é para os jornalistas).

    Sem contar que – com raríssimas exceções – são absolutamente ignorantes em áreas do conhecimento que não sejam aquelas das provas de concurso.

    Uma amigo, que é do ramo; já foi coordenador de curso de Direito em uma universidade aqui do Rio, certa feita se referiu às disciplinas filosofia, filosofia do Direito, Sociologia, história, etc. como “cadeiras de cultura geral”, haha.

    A única e remotíssima possibilidade de mudança é uma modernização do marco regulatório das comunicações e de uma Lei de Responsabilidade de Imprensa. Caso contrário, o medo – sim, medo – que o pessoal do Direito tem da mídia vai continuar triunfando.

     

  2. Parabéns, pelo post, Fábio.

    Parabéns, pelo post, Fábio. Perfeito.

    Eu não acredito que o Ministro Ricardo Lewandowski, qdo presidente, subemetrá a Corte a lógica do espetáculo, bem ao contrário, imagino que trabalhará no sentido de devolver a Corte e, por consequência ao Judiciário como um todo, o respeito, essencial ao bom funcionamento de qq instituição.  O problema está no ‘antes”, ou melhor, no “agora”; o que está sendo feito AGORA, é que determinará a qualidade da instituição que ele, Ministro irá presidir. Ou seja, vai presidir os escombros de uma Corte, completamente, destruída por Mídia e MPF e, portanto, presa fácil para a mídia gorda.

    Esse encaminhamento bizarro que tem sido utilizado como fundamentação para as ingerências do STF em outros poderes – O STF tem que decidir pq o Legislativo não trabalha – serve, ao mesmo tempo, para desqualificar o legislativo e ” empoderar” uma Corte, desde já completamente, refém, já que o que a qualifica como Corte não é a capacidade de seus membros mas a subserviência ao Midiático.

    Ora, imaginar que seja possível colocar num mesmo nível, decisões tomadas por 11 membros, oriundos de uma mesma classe social, das grandes capitais; que não dependem de seus atos para manterem-se em suas funções ( portanto, os onze com interesses convergentes ) e as decisões de mais de 500, oriundos de todos os Estados da Federação, representantes das mais variadas camadas sociais, interesses e anseios diversos e, além disso terem que equilibrar essas decisões com a expectativa do eleitorado, é desconsiderar, totalmente, a representação social e a correlação de forças que deriva das diferenças representadas no Congresso Nacional. Seria ridículo imaginar que as decisões tomadas no plenário do STF,poderiam ser facilmente tomadas no Congresso. Palanque e cuspe não tem nada a ver com caneta e toga. Políticos deliberam acerca de interesses divergentes e para isso dependem do apoio da sociedade, é uma batalha de interesses constantes.  Togados, deliberam e decidem acerca de interesses de grupos específicos e não estão sujeitos ao escrutínio popular. Esse falso debate que tem sido estimulado pela mídia e STF, tem o condão de legitimar os desmandos da Corte. A Corte se submeteu ao midiático e não terá como livrar-se disso; se não seguir o roteiro, daqui pra frente, será denunciada pelos próprios titereiros e sofrerá os efeitos da desaprovação da ” opinião pública” e, se seguir, será qualquer coisa, menos Corte de Justiça.

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