Lava Jato: desmonte para proteção, por Marcelo Auler

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O diretor-geral do DPF, Leandro Daiello, que ganhou o manto protetor costurado pela Força Tarefa da Lava Jato, agora faz o desmonte da mesma até para evitar punições- Foto: reprodução

do blog de Marcelo Auler

Lava Jato: desmonte para proteção

por Marcelo Auler

Só os mais ingênuos é que estranharam o anúncio feito pelo Departamento de Polícia Federal (DPF) do desmonte do que restou da Força tarefa da Lava Jato na Superintendência Regional do DPF no Paraná (SR/DPF/PR). O desmonte, por um governo golpista repleto de investigados não só da Lava Jato, mas de outras operações policiais, era mais do que esperado. Lembremos que todos os que defenderam e lutaram pelo golpe que derrubou a presidente legitimamente eleita, Dilma Rousseff, entre outras causas para retirá-la alegavam que ela faria isso. Em 30 de maio de 2016, quando Eugenio Aragão assumiu o ministério da Justiça, na postagem Fantástico: Michel Temer coloca a raposa para cuidar do galinheiro, chegamos a republicar um trecho do artigo de Miriam Leitão com este tipo de acusação, oportunidade que a rebatemos:

“Minha colega e ex-chefe, Miriam Leitão, por exemplo, escreveu a coluna “O homem amigo“, em O Globo, acusando o então novo ministro de “buscar um pretexto para intervir na equipe da Lava-Jato. Mesmo sem ter tido sequer cheiro de vazamento, ele continuou. Circulam rumores de que ele tem uma lista das cabeças que cortará. O “Valor” ontem falou de duas dessas cabeças: Rosalvo Ferreira, superintendente da Polícia Federal no Paraná, e Igor Romário de Paula, diretor de combate ao crime organizado no Paraná. Além, claro, do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello”.

O que as pessoas não percebem, mas é comentário solto no DPF em Brasília, é que o desmonte da Força Tarefa tem outros objetivos além de arrefecer as investigações no momento em que elas resvalam e tendem a descambar em “não Petistas”, o alvo maior da chamada República de Curitiba. Em sua coluna neste sábado (07/07) na Folha de S. Paulo, André Singer toca nesse ponto:

“E o que desejam os parlamentares, entre eles o próprio Maia, um investigado? Que a Lava Jato pare. Desde esse ponto de vista, não poderia ser mais conveniente a informação, também em todos os jornais, de que a Polícia Federal encerrou as atividades do grupo dedicado à operação em Curitiba. Convém lembrar, igualmente, que diversos processos foram tirados do juiz Sergio Moro nas últimas semanas.

Em outras palavras, pela primeira vez há sinais de arrefecimento do núcleo paranaense que lidera as investigações desde 2014, o que deve soar como música aos ouvidos dos congressistas”.

Leandro Daiello, o diretor-geral cujo futuro é desconhecido, ao desmantelar o grupo, na verdade tem um segundo – principal??? – objetivo: protegê-lo e proteger a si mesmo. Quer dificultar ao máximo que alguém – a nova Procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por exemplo, que seria adepta de o MPF exercer mais fortemente o controle externo das atividades policiais  – caia na tentação de apurar as muitas irregularidades cometidas em nome do combate à corrupção.

Tais ilegalidades, na verdade, aconteceram com o objetivo maior de caça aos petistas, com a tentativa de acobertamento dos erros e crimes de tucanos, peemedebistas e de políticos de outros partidos, como o possível presidente interino, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Tanto o desmonte, como a não apuração – para evitar punição e, quem sabe, questionamentos e anulações em tribunais superiores de muito do que se fez – já ocorrem há algum tempo. A equipe da Força Tarefa começou a ser desfeita com a transferência de duas cabeças do grupo dentro da SR/DPF/PR: a delegada Érika Mialik, que em dezembro foi “promovida” e transferida para Santa Catarina; e Marcio Adriano Ancelmo, em fevereiro empossado como Corregedor do DPF do Espírito Santo, apesar das muitas suspeitas de, no mínimo, irregularidades que cometeu.

A “proteção” vem sendo armada na medida do possível. Um exemplo é o caso da  delegada Daniele Gossenheimer Rodrigues, chefe do Núcleo de Inteligência Policial (NIP), que respondeu a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) após uma sindicância refeita confirmar que ela ordenou a instalação de um grampo no fumódromo da Superintendência, sem autorização judicial. Queria bisbilhotar  quem criticava o trabalho da Força Tarefa, comandada por seu marido Igor de Paulo Romário, coordenador da Delegacia Regional do Combate ao Crime Organizado (DRCOR).

Porém, mesmo sendo considerada culpada de um suposto crime, sua punição limitou-se a uma “suspensão” que não gerou nem mesmo a perda do cargo de chefia, tal como narramos em: Para o DPF, grampo ilegal na Superintendência do PR é transgressão disciplinar.

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Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Poucos repórteres tem a

    Poucos repórteres tem a coragem do Marcelo Auler de denunciar o festival de irregularidades que estão ocorrendo dentro da DPF.

  2. Marcelo Auler, tanto quanto a

    Marcelo Auler, tanto quanto a bossa nova, é foda!

    Aqui, no GGN, está apenas uma pequena parte desse profundo e embasado estudo sobre a pizza que sempre foi, ao fim e ao cabo, a Lava Jato, mas em seu site está tudinho.

    Quanto ao teor, sem diminuir nem um milímetro o brilhante artigo, nenhuma novidade. Todo mundo sabe e fala disso em todas as conversas. Nem o mais fervoroso, indignado e raivoso coxinha chegou a acreditar que a dupla Moro / Dallagnol fosse fazer diferente. São os prepostos alocados na coisa pública em prol das oligaquias bancária, política, latifundiária e estrangeira que sempre foram. O alguém acreditou naquela cara de aborrecido de Sérgio Moro lamentando que forças ocultas o tenham impedido de praticar o Direito em sua melhor forma desde o Banestado? Todos, no fundo, sabíamos que era pizza desde o começo. Apenas fingiam por seguirem as ordens e a moda das firmas que eles elegeram para governar o Brasil, a saber, a “Globo” e outras do Instituto Millenium, além das estrageiras como as dos Irmãos Koch e as que têm interesse em impedir a evolução empresarial brasileira usando para isso a máquina estatal dos EUA.

    De qualquer forma, mesmo sabendo de antemão por sentir ou por pensar, na medida em que o imbróglio não tem mais como ficar escondido, é o caso de botar a boca no trombone para que essa seja a última vez.

  3. Faz-se necessária uma

    Faz-se necessária uma operação destinada a investigar, indiciar, processar, e se for o caso punir, os responsáveis pela Lava a Jato. Isso nas três dimensões: policial, persecutória e judicial. Não pode ficar para a História esse encargo.

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