Liberação do FGTS é presente para ricos e bancos, por Fernando Brito

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Heraldo Fernandes

do Tijolaço

Números tornam evidente: liberação do FGTS é presente para ricos e bancos

por Fernando Brito

É espantoso como a imprensa brasileira esconde o óbvio e dependemos que um banco estrangeiro – o Santander – levante os números para mostrar o que é tão evidente que foi apontado aqui no próprio dia do anúncio da liberação das contas inativas do FGTS: o grosso do dinheiro não vai para aliviar os trabalhadores ou reaquecer o consumo e a economia, vai é engordar os fundos de investimento regidos pelos bancos e corretoras e alimentar a especulação com juros.

Os dados do banco espanhol, publicados hoje pelo Estadão (por enquanto só na edição impressa)  são incontestáveis.

Dos estimados R$ 41 bilhões que hoje estão na conta do Fundo, para financiar habitações, saneamento e infraestrutura,  a metade –  R$ 20 bilhões – serão liberados para apenas  100 mil cotistas – 1,2% do total –  que  têm saldo superior a R$ 17,6 mil, ou 20 salários mínimos de dezembro, data de referência dos valores.

Isso que dizer, na média ( que ainda não é a mensuração correta, porque a pirâmide sempre concentra valores mais altos nas mãos de menos pessoas)estes felizardos levam, cada um R$ 200 mil, que serão ávidamente disputados pelo sistema bancário.

O grupo intermediário – com direito a saque  de valores entre cinco a 20 salários mínimos de dezembro (R$ 3,5 mil a R$ 17,6 mil)  concentra outros 37%  do valor total, embora corresponda a apenas 5% do total  de inscritos.

E a multidão de 9,5 milhões de trabalhadores –  ou 94%  dos cotistas – têm saldo entre zero e R$ 3,5 mil, que dá uma média- com todas as ressalvas que se fez, antes à precisão da média, nestes casos –  de R$ 736 por cabeça. Esse é o dinheiro que vai para “limpar no nome” no Serasa, acertar o carnê, pagar as contas atrasadas…

É tão pouco que o próprio Santander diz que ” mesmo na hipótese altamente improvável de que todos os recursos sejam destinados ao pagamento de dívidas, o impacto seria “limitado”que, ainda que com essa ” premissa extrema, o efeito máximo ficaria longe de ser considerado significativo”, dizem os analistas do banco.

 No caso extremo e improvável em que trabalhadores usassem todo o dinheiro inativo para quitar dívidas, o comprometimento da renda das famílias cairia até 0,60 ponto porcentual e a inadimplência diminuiria até 0,15 ponto.  (…)Nesse cenário improvável, o comprometimento da renda das famílias com dívidas cairia de 22,2% em novembro para algo próximo de 21,6%. 

O efeito sobre o consumo, claro, será também pífio.

Mas os gerentes de banco já estão sendo orientados a oferecer aplicações generosas (para os clientes e mais ainda para as instituições financeiras) para os que tiverem valores expressivos a sacar.

Como se escreveu aqui, mesmo sem números que permitissem uma estimativa mais detalhada como a do Santander, era um cenário antevisto, sobre o qual faltou à reportagem (reportagem?) dos jornais solicitar o perfil das contas inativas para traçar com precisão o retrato  do que todos sabiam e quase ninguém escreveu: “O destino do dinheiro grosso, como sempre no Brasil, é o mercado financeiro.”

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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    1. Não entendi

      Sr Mário, não entendi seu comentário. O que está sendo tirado do pobre?

      O dinheiro do FGTS, diferente da previdência, é associado à conta do usuário. Portanto é um dinheiro legítimo do trabalhador. Ele não é retirado da conta do mais pobre e colocado na conta do mais rico.

      E outro ponto. Todo mundo que possui um saldo no FGTS tem o direito de definir o que fazer com o seu dinheiro. Se o Sr acha melhor mantê-lo na conta do FGTS recebendo menos do que a inflação do período, é um direito do Sr. Ninguém vai te apontar uma arma para obrigá-lo a sacá-lo.

      Da mesma forma que, se alguém achar mais vantajoso utilizá-lo para outras coisas, inclusive para que ele renda mais em outra aplicação, isto deve ser respeitado

      Atenciosamente 

  1. Liberação do FGTS

    Lí sua análise e vi os numeros dispostos pelo Santander explicando que não haveria vantagem consistente na medida e que a mesma serviria somente para beneficiar os bancos e aumentar a especulação.

    Permita-me discordar de sua análise: Eu mesmo tenho contas inativas e o valor a qual vou receber me será muito bem vindo. O mais importante e que é a meu ver o ponto crucial a qual (não sei por qual motivo) o Senhor não mencionou é o fato de que com a medida o que menos importa não é a destinação final do dinheiro, mas sim a possibilidade do trabalhador recebê-lo e fazer o uso que entender ser melhor. Se ele tem contas equilibradas e um valor vultuoso a receber, significa que mesmo após anos e anos ele foi capaz de resolver suas obrigações mensais e se manter longe de um cadastro de inadiplência, permitindo-o fazer uso de um dinheiro que levou alguns anos para acumular, mesmo que de forma compulsória, da forma que melhor entender. É um direito dele!

    Aos que ganham menos, mas tem algum valor a receber, pergunte se não estão satisfeitos. A resposta óbvia será que sim! Se vão pagar contas, comprar remédios, pagar uma parcela qualquer, um presente para o filho ou para a esposa, ou mesmo “encher a cara” é um problema pessoal que compete totalmente a cada um e para essas pessoas os numeros do Santader pouco importam.

    Portanto, não mencionar este fato em sua matéria lhe coloca na mesma posição da “impressa brasileira que esconde o óbvio” o que me habilita a discordar da mesma.

    Me chamo Helton tenho 10K para receber os quais levei anos para acumular. Vou comprar um presente para minha esposa, pagar dívidas e comer uma bela picanha… Acho que o dono da loja de presentes e os credores que receberão, além do dono da churrascaria ficarão muito felizes ao receber um dinheiro que estava preso contra a minha vontade.

    Viva a liberdade!

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