Livro resgata origem de palavras do tupi presentes no cotidiano

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Fernando J.

Autores: Mouzar Benedito e o cartunista José Luiz Ohi

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Legal! Será que há alguém que

    Legal! Será que há alguém que ensina a língua franca paulista ou o tupi? Pena que essa idéia tosca de separar São Paulo não tenha esse viés romântico, de alguma coisa serviria essa bobeira.

     

    1. Tupi antigo

      Na FFLCH-USP existe curso de tupi antigo, dado pelo professor Eduardo Navarro. É um curso muito bom, não acho bobeira.

      Uma das coisas que eu aprendi lá, e sempre repito quando falo do assunto, é que, no tupi antigo, usar pronome possssivo para objetos da natureza (exemplo: “minha árvore”) é gramaticalmente errado. Não é que é logicamente errado, ou semanticamente errado, é errado pela própria regra da língua. É algo que não faz sentido na cabeça do falante do tupi antigo.

      Por outro lado, existem substantivos que são obrigatoriamente possessivos: não se pode falar “nariz” sem o possessivo. Isso não faz sentido. O nariz é sempre de alguém. Então é obrigatório falar “meu nariz” ou “seu nariz”, por exemplo.

      Outra curiosidade é a flexão de tempo para substantivos, assim como nos verbos – os substantivos podem estar no passado ou no presente, portanto (exemplo: ibirapuera, que quer dizer “árvore antiga, árvore passada”). A maioria dos adjetivos e verbos, também, podem ser substantivados (basta adicionar um “a”, ao final, na maioria dos casos). Isso revela uma língua extremamente flexível, maleável.

      Água e rio são a mesma coisa (“y” apenas). Repete-se um adjetivo quando quer-se designar a intensidade dele (algo duro é “tan”, duro é “tan tan”; como em Butantã, que é “terra muito dura”). A simples ocorrência e existência das coisas tem um substantivo próprio: é o “uba”, presente em muitos topônimos brasileiros (Caraguatatuba, por exemplo). 

      No tupi, só se conta até cinco. Para que contar até mais? Pode-se usar os dedos das mãos para falar sobre mais números, ocasionalmente (por exemplo: o número 20 seria em tupi, “minhas mãos, suas mãos”). Mais que isso é simplesmente “muitos”, sem numeração ou quantificação.

      “Onça” é “iaguara”, que foi para o inglês direto do tupi (“jaguar”). Em português, ironicamente, sobreviveu um termo de origem francesa. 

      Criança, ao contrário do que diz a lenda, é “kunumi”, e não “curumim”, termo que já é dos tempos da língua-geral. “Caraíba” não tem nada a ver com tupi antigo é um termo que tem origem em outros povos indígenas. 

      Era a língua falada por quase toda a costa brasileira quando Cabral chegou aqui. Diz um pouco a respeito da gente. Mostra uma vida mais simples e mais compartilhada. 

      O termo mais simples é a agua. Apenas o “y”. É uma vogal impronunciável em português, algo entre o “u” e o “i” nossos. Sempre dão risadas das minhas tentativas de pronunciá-la. É, como mostra a simplicidade e onipresência da palavra no léxico tupi (que incorpora-o como radical em vários termos), item central da vida dos indígenas. Outros tempos.

  2. O assunto é interessante, mas eles disseram algumas besteiras

    A falta do r final, por ex. Tendência de todas as línguas românicas, e vale no Brasil quase todo. Idem para a substituiçao do som típico de lh por iode (som de i no lugar), tendência que se manifestou de forma categórica no francês, sem que ninguém na França falsasse tupi. E de onde eles tiraram a idéia de que o sotaque caipira veio de ser falado por ex-falantes de tupi? Qual a fonte disso? Duvido. 

    1. Anarquista

      Sou amigo próximo do cartunista José Luiz Ohi, tomamos cerveja na gloriosa Vila Buarque semana sim a outra também. Ele e o Mouzar Benedito estão nessa lida há anos, lançaram anteriormente uma coleção de 6 volumes chamada Mitos Brasileiros. O Mouzar é o escritor e o OHI o ilustrador, porém ambos realizam pesquisas. Sabia que se o Nassif publicasse, vc compareceria aqui, estudiosa que é do assunto. Caso vc se interesse, forneço o email do José Luiz Ohi para vocês trocarem conhecimentos. A cultura brasileira agradece. 

      veja o facebook do Ohi: https://www.facebook.com/joseluiz.ohi?fref=ts

       

      1. Nao quis desmerecer o trabalho deles.

        As etimologias estao provavelmente corretas. O que mostrei é que há mais nas características apontadas por eles do que influência do tupi. Algumas coisas — especialmente processos fonológicos — sao tendências evolutivas gerais do Português e até das línguas românicas em geral. 

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