Lula não é o primeiro, nem será o último, por Henrique Fontana

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Lula.com

Lula não é o primeiro, nem será o último

por Henrique Fontana

Lula não é o primeiro presidente condenado na história do Brasil, como quer fazer crer a grande mídia, antes dele João Goulart e Juscelino Kubitscheck já haviam sido condenados por “crimes políticos”, e da mesma forma tiveram seus direitos políticos cassados em um outro golpe, o de 1964. Dilma Rousseff também pagou por um crime que não cometeu, que sequer existiu. Isso sem falar em Getúlio Vargas. Os golpes de classe, militares ou não, invariavelmente, condenam presidentes dos períodos democráticos anteriores, e também, invariavelmente, buscam se manter no poder sem ter que se sujeitar ao incômodo das eleições e do voto popular. Mais de vinte anos de ditadura e um de Temer que o digam.

O juiz Sérgio Moro é peça de uma engrenagem complexa, e sua sentença sem provas contra Lula, parte de uma operação com evidente caráter político. Claro que desejamos que aqueles que cometeram crimes de corrupção sejam punidos, dentro do devido processo legal, nos marcos da Constituição Federal, sem exceções. Mas a inversão do ônus da prova, que na decisão de Moro cabe ao acusado e não aos acusadores, revela mais uma face do regime de exceção que se instala no país, e todo o risco que isto significa ao Estado Democrático de Direito.

Ao mesmo tempo, o processo contra Aécio Neves é arquivado, sua irmã e primo são libertados, Geddel Vieira Lima deixa a prisão, as esposas de Eduardo Cunha e Sérgio Cabral são absolvidas por falta de provas, Eliseu Padilha e Moreira Franco seguem ministros, e Temer manobra no Congresso Nacional com distribuição de emendas e de cargos aos deputados da base aliada para se manter na presidência. Tudo isso em meio a aprovação da reforma trabalhista, que retirou grande parte dos direitos dos trabalhadores em favor dos “mercados”.

A confusão proposital que mistura “joio com trigo”, encobre culpados, condena inocentes, e favorece os que desejam criminalizar a política seletivamente e a esquerda indiscriminadamente. Ao longo de anos de acusações e de verdadeira devassa da vida de Lula, quem será capaz, por exemplo, de citar uma prova irrefutável de corrupção do ex-presidente? Quem sabe uma gravação incriminadora, como de Temer ou Aécio; contas no exterior, como de Eduardo Cunha e Sérgio Cabral; ou ainda, a posse documentada de fazendas e imóveis, como de Geddel e Padilha? Em tudo a condenação anunciada por Moro revela parcialidade, injustiça, e claro objetivo político, ao buscar inviabilizar a candidatura de Lula à presidência do Brasil.

O golpe cometido em 2016 fará quantas vítimas forem necessárias para se manter no poder e garantir sua agenda de reformas regressivas, ajuste fiscal e austeridade seletiva contra a gente pobre e trabalhadora desse país, como de resto fizeram outros golpes antes deste. Lula não é o primeiro, nem será o último. E ainda tentará colocar no poder quem melhor os servir, hoje é Temer, amanhã pode ser Maia, no futuro, quem sabe um João Dória.

O aprendizado da história nos mostra que somente a força de uma cidadania ativa, através de eleições livres e diretas, pode nos fazer retomar o caminho da democracia e do Estado de direito.

Henrique Fontana é deputado federal
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. O enredo está traçado,
     
    Lula

    O enredo está traçado,

     

    Lula terá a pena reduzida, não irá preso, mas terá os direitos políticos cassados. Golpe concluído. Enquanto isso, haverá manifestções na paulista que a tv não mostrará, e a vida seguirá dentro da “normalidade”: sofrência para os ouvidos, concurso de culinária indigesta para os olhos, e o cidadão entorpecido. 

  2. MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU!

    MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU! – DE NOVO!

    Por Romulus

    Muitos leitores vieram me perguntar o que eu achei da condenação de Lula por Sergio Moro ontem. Queriam saber “quando eu ia publicar um artigo sobre isso”.

    Confesso que, assim que saiu a notícia, além de postagem sumária nas redes sociais, não pretendia escrever sobre isso não.

    E por quê?

    Ora, porque essa “notícia” foi uma…

    – … NÃO-notícia!

    Pior: foi uma não-notícia visando, justamente, a virar a pauta do noticiário em relação a notícias de verdade.

    Ia lá eu fazer o jogo da Globo/ Moro e ajudar a pauta fake a subir?

    Tratando dela especificamente?

    Não…

    Nada disso!

    Não que o (não) acontecimento seja irrelevante…

    Não é bem isso…

    A questão é a minha “pegada” como analista…

    Como os leitores já sabem, pensando ~estrategicamente~, meu foco costuma ser muito mais no ~subtexto~ do que nos textos disparados pelos diversos atores do jogo político.

    E em “atores do jogo político” entram, evidentemente, a Globo e Sergio Moro.

    Muito mais importante do que a condenação de Lula por Moro – per se – são:

     

    (i) a sua timidez!;

    (ii) o timing;

    (iii) as limitações técnicas; e

    (iv) os movimentos casados da Globo para tentar pautar os seus desdobramentos.

     

    Passemos, pois, à análise desse subtexto.
     

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  3. lula……

    Não foi o primeiro, mas quando forças dita progressistas chegaram ao Poder deveria ter sido o último. Então a que tipo de Constituição estamos sendo submetidos nestes 30 anos? Eleições Livres, Diretas, Transparentes, Custos Mínimos, Facultativa deve ser o “Norte” do País. Quem está lutando por isto entre nossas facções politicas? Quem realmente quer o povo brasileiro decidindo seu destino, em eleições, referendos e plebiscitos obrigatórios? O Brasil se explica.  

    1. Ainda tem pessoas iludidas com o sufrágio universal

      “Toda ilusão em relação ao sufrágio universal, enquanto meio de emancipação, tendo sido assim destruída pelo raciocínio e pelos fatos, faz com que as classes privilegiadas, que inicialmente se mostraram amedrontadas e reticentes, compreendam pouco a pouco a utilidade que elas podem retirar do sufrágio universal e o aceitem como uma arma preciosa do governo.

      Quando o povo não pode mais ser mantido na submissão pela simples força bruta e quando as mentiras dos padres já não lhe bastam a fazer aceitar a miséria como uma lei decretada por Deus; quando ele não situa mais suas esperanças no paraíso e quando não tem mais medo do policial, nesse momento então não lhe resta outro meio para mantê-lo em escravidão senão o de fazê-lo crer que o patrão é ele; que as instituições sociais são sua própria obra e que elas podem mudar se assim ele o desejar. E a burguesia faz prova genial de talento político ao conceder ao povo o sufrágio, que nada mais seria do que o direito de se escolher seus próprios patrões, se fosse exercido em condições de ignorância e escravidão econômica quase feudal que são as do povo, nada mais é do que uma indigna comédia onde charlatães vulgares fazem comércio de sua própria consciência e das lágrimas do próximo.”

      Errico Malatesta

      Não é através de títulos eleitorais que os trabalhadores vão decidir o seu destino. O voto serve apenas para legitimar as eleições burguesas e o dominio dos privilegiados sobre os oprimidos e explorados.

  4. Pensando…

    Pois é, quem consegue conter a ditadura do capital sobre a democracia? O poder do privado sobre o público? Que interesses vem antes na administração pública, os públicos ou os privados? Invertemos: “Desestatizar o estado”, desvirtuar a virtude, desfazer o feito, matar o vivo…

    O diabo é que gostamos mais de dinheiro do que de cidadania. Não aprendemos como subsistir – comida e arte – cotizando-nos, esquecemos de que só somos humanidade em conjunto, por causa do coletivo. Ainda mais quando o dinheiro está concentrado e não é nas nossas mãos. Beijemos as mãos e mimemos quem tem o capital em si concentrado, quem sabe isso legitima nossas inversões? Quem sabe consigamos alguma migalha…

    ***

    A bolsa de valores de Nova Iorque não quebrou no final dos ’50. O arrazoado que o capital adotou à época foi uma guerra fria que ele mesmo inventou. E a gente, sulamericanos, nem precisou viver sob regime comunista para saber o que é ditadura: a nossa foi ditadura capitalista, mesmo. Vai vendo…

    Alguém conta com um capital só que “bonzinho”? Pelo menos humano? Empresas têm espírito? Têm alma? Qual é o mister e a ética das empresas privadas capitalistas?

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY%5D

     

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