Manifestações de homofobia e racismo preocupam UnB

Jornal GGN – Nas últimas duas semanas, a Universidade de Brasília (UnB) tem presenciado atos de violência física, psicológica, racista e homófobica que preocupam e amedrontam a comunidade acadêmica. Há pouco mais de uma semana, um grupo de 30 pessoas que não fazem parte da universidade invandiu o Câmpus Darcy Ribeiro e fez ofensas de cunho racista e homofóbico contra alunos. Os invasores alegaram que o ato era contra a “doutrição esquerdista” da UnB.

Dez dias antes, uma confusão motivada por divergências políticas resultou em agressões no Instituto Central de Ciências, iniciada quando um aluno colocou uma bandeira da Casa Imperial do Brasil, símbolo da monarquia, no prédio. Outros alunos tentaram tirar a bandeira à força.

Para Beatriz Vargas, professora de Direito,  a visão de que há uma “doutrinação de esquerda” na universidade é equivocada, dizendo que há diversas correntes de pensamento na instituição, com convivência e discussões pacíficas. “A postura desse bando, dessa quadrilha ligada à candidatura do Bolsonaro (deputado Jair Bolsonaro) é muito covarde. Está claro que eles escolhem alvos mais vulneráveis, que são os estudantes. É uma marca da extrema covardia desses grupos, que não sabem e não estão preparados para uma vida democrática”, afirma.

Beatriz também acusa estes grupos de extrema direita de serem formados por “gente desinformada e sem argumento”. “Há pessoas que defendem ideias diferentes em diversos campos. A UnB foi a primeira universidade que instituiu a cota racial e a cota social. Foi a primeira a autorizar o nome social; por isso, é alvo do discurso da ultradireita”, diz a professora.

Do Correio Braziliense

Manifestações homofóbicas e racistas expõem UnB ao medo e à insegurança

A comunidade acadêmica defende a liberdade de expressão, mas vê com preocupação o crescimento de posições de extrema direita na universidade
 
Adriana Bernardes, Bruno Lima
 
Inaugurada em 21 de abril de 1962 na recém-criada capital, a Universidade de Brasília (UnB) nasceu como símbolo da pluralidade de ideias e da produção intelectual e cultural do país. Há 54 anos, é lugar de embates de ideologias e discussões políticas de diferentes correntes. Mas, desde a redemocratização do país, não se via a presença tão forte de defensores do pensamento liberal. Para muitos, é um reflexo do que acontece no Brasil e no mundo. Nos últimos 15 dias, atos de violência física, psicológica, racista e homofóbica levaram medo à comunidade acadêmica e polarizaram as ações.

 

Há pouco mais de uma semana, um grupo de cerca de 30 pessoas que não fazem parte da instituição invadiu o Câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, e proferiu ofensas de cunho racista e homofóbico contra os alunos. De acordo com os manifestantes, o ato era contra a “doutrinação esquerdista” da instituição. Dez dias antes, outra confusão motivada por divergências políticas acabou em agressões no Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão. O conflito começou quando um aluno hasteou uma bandeira da Casa Imperial do Brasil no andar superior do prédio. Outros universitários tentaram recolher o símbolo da monarquia à força e uma briga envolvendo pelo menos cinco pessoas terminou em troca de socos e chutes.

Professora da Faculdade de Direito, Beatriz Vargas diz que os responsáveis pelos ataques estão equivocados quanto à realidade da instituição. Ela menciona que, em sala de aula, convive com estudantes alinhados com Frederich Hayek e outros adeptos do professor e ensaísta Olavo de Carvalho. E, mesmo com essa diversidade de pessoas, há convivência, conversas e discussões pacíficas. “A postura desse bando, dessa quadrilha ligada à candidatura do Bolsonaro (deputado Jair Bolsonaro) é muito covarde. Está claro que eles escolhem alvos mais vulneráveis, que são os estudantes. É uma marca da extrema covardia desses grupos, que não sabem e não estão preparados para uma vida democrática”, analisa.

Segundo Beatriz, qualquer instituição que não abrange a pluralidade de ideias não merece o nome de universidade. Para ela, grupos de extrema direita, como o que atacou a UnB, é composto por “gente desinformada e sem argumento”. “Não temos termômetro ideológico para saber qual é, na universidade, o campo de conhecimento que tem postura mais à esquerda ou mais à direita. Há pessoas que defendem ideias diferentes em diversos campos. A UnB foi a primeira universidade que instituiu a cota racial e a cota social. Foi a primeira a autorizar o nome social; por isso, é alvo do discurso da ultradireita”, ressalta.

O apoio de docentes à presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), e o indicativo de uma eventual greve no segundo semestre, caso a petista não volte ao comando do governo federal, são apontados como alguns dos motivos dos ataques do dia 17. O presidente da Associação dos Docentes da UnB (AdUnB), Virgílio Arraes, explica que a assembleia dos professores apoiou uma proposta nesse sentido, mas que ela ainda precisa ser discutida no encontro nacional e, depois, avaliada novamente na UnB. “A AdUnB não pode, de modo algum, compactuar com qualquer tipo de desrespeito, de afronta a valores democráticos. Essa é nossa postura”, destaca.

UnB, patrimônio valioso

» Ana Dubeux

A Universidade de Brasília é um templo. E deveria ser inviolável, mas está provado que não é. O recente protesto diante do Centro Acadêmico de Sociologia mostrou que o extremismo não encontra barreiras para propagar sua voz e sua ação. Trata-se de ousadia simbólica. Mas também de ameaça real. Quando digo que a UnB é um templo é porque tenho dela as referências mais impactantes em termos de uma educação livre, libertária, revolucionária. Seu câmpus aberto, sem barreiras, está impregnado pelas ideias de gente como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, entre tantos outros fundadores, que mesmo expulsos pelos militares, deixaram o legado que ainda inspira os estudantes nos dias de hoje. Eu não estudei lá, mas tenho infindáveis relatos a respeito, do presente e do passado.

Os ventos mudam de direção e a realidade impõe transformações. Na política, sobretudo. Mas também na forma de financiar e equacionar os problemas do país e, particularmente, na educação superior. É preciso profissionalizar a gestão, enxugar gastos, buscar recursos. Sabemos todos que faz parte da história da UnB ser lugar de acolhida de todos os matizes ideológicos. Sempre houve convivência de ideias e ideais. Sempre houve setores mais conservadores, mais liberais, mais radicais, mais tudo, como quiserem chamar, esquerda, radicais de esquerda, direita, ultradireita, reaças. O preocupante não é a existência de uns e outros, é a impossibilidade de uma convivência respeitosa e pacífica entre eles. Isso é o que tem de ser combatido.

A UnB é — porque sempre foi e deve continuar sendo — vanguarda. A discussão sobre as cotas, raciais e sociais, partiu dela. Uma nova forma de ingresso no ensino superior, o PAS (Programa de Avaliação Seriada), partiu dela. Quantas e tantas outras ideias não estão sendo concebidas e testadas neste momento? Quantos políticos, ministros, juristas, médicos, biólogos, cientistas, enfim, não estão neste momento sendo formados ali? Não, não há espaço para mais nada a não ser o saber, a diversidade, a discussão pródiga, a ciência. Não deixemos entrar o crime, a homofobia, o racismo, a violência, a falta de respeito. Precisamos proteger nosso patrimônio mais valioso.

 

Redação

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