Metamorfose, por Janderson Lacerda

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Jornalistas Livres

Por Janderson Lacerda

Metamorfose

Em certa manhã, incomodado pelo cheiro de enxofre que invadia suas narinas, ele despertou de um profundo sono. Ainda deitado sobre uma cama Parnian Furniture, com lençóis macios de pura seda, sentia seu corpo fumegar, no mesmo instante em que seus batimentos cardíacos aceleravam repentinamente. Não conseguia compreender se o taquicardia era motivado pelo cheiro de enxofre ou por seu corpo, destemperado, que sofria com uma sensação intensa de aquecimento.

Tentou levantar-se rapidamente, mas para sua surpresa, suas mãos foram transformadas em uma espécie de garra; e eram capazes de perfurar com facilidade o colchão que abrigava seu corpanzil que pareceria infinitamente maior. Sua luta em principio era para livrar-se do fedor que invadia, sem cerimônia, suas ventas; depois a peleja estendeu-se para o desejo de levantar-se depressa. Angustiado e, ao mesmo tempo, sentindo um ódio inexplicável, não conseguia, sequer, olhar para o espelho que cobria o teto de seu quarto. No entanto, quando desviou, sem intenção, o olhar para a foto de sua família soltou uma gargalhada incontrolável que chegou a assustá-lo e. A gargalhada era espontânea, assim como o ódio que sentia tomar conta de todos os seus membros. Embora não soubesse ao certo o que estava ocorrendo sentia-se envaidecido por cultivar tamanha ira.

A sonora gargalhada atraiu sua esposa (que há muito não dormia com ele). “O que foi querido?” Disse a mulher.

A resposta foi um silêncio sepulcral (que não durou mais do que quarenta e cinco segundos) e foi quebrado por mais uma sonora gargalhada, acompanhado pelo forte cheiro de enxofre.

“Você está bem? Que cheiro estranho é este?”

Ele esforçou-se para ficar em pé, mas as garras acabaram por rasgar parte dos finos lençóis que cobriam seu corpo, levemente avermelhado, e com escamas que lembravam a de uma traíra.

“Vou abrir a porta, querido. O que está acontecendo?”

“Não (balbuciou a primeira palavra, interrompido por uma estranha rouquidão)”.

“Como? Que voz é esta”?

A voz era perturbadora e causou um mal estar em sua esposa a ponto de deixá-la confusa.

A mulher recuperou-se, rapidamente, e voltou a questionar.

“Que voz é esta? Posso abrir a porta”?

“Não, ainda estou na cama”. Respondeu ele, com a hostil voz, marcada pela rouquidão e interrompida, aparentemente, por um excremento, não identificado, preso em sua garganta…

A mulher silenciou-se, nocauteada pelo fedor e pela horrenda voz que provocavam as mais tenebrosas sensações. Quando sentiu-se melhor tentou abrir a porta, girou, vagarosamente, a maçaneta, mas ele havia trancado-a.

Perturbado e com a pele latejando, desejou motivado por um ódio intenso, que sua esposa morresse. A ira o moveu a pular da cama. No entanto, mal conseguia firma-se sobre o chão acarpetado de seu quarto. Estranhamente seus pés estavam virados para a direção oposta de seu corpo, que não apenas parecia, mas estava maior e mais forte.

Sua esposa ouvindo a movimentação no quarto correu assustada em direção ao telefone fixo mais próximo.

Alguns minutos depois a mulher voltou a bater na porta e a chamar pelo marido.

“Querido? Querido? Venha ver quem está aqui”…

Ele até tentou abrir a porta, mas suas garras eram incontroláveis e afiadas demais para uma tentativa não planejada.

“Você está bem”? A voz já não era de sua esposa.

Quando a escutou, deu uma gargalhada imediata e o cheiro forte de enxofre, associado a um bafo quente putrificado, tomou conta de toda a mansão.

“Meu deus”! Bradou o dono da voz que motivara a gargalhada.

No mesmo instante ouve-se um rosnado violento que arrepiou a mulher e o homem que estavam do lado de fora do quarto.

“Meu senhor, peço humildes desculpas, sei o que lhe acontece e estou aqui, pois já é chegada sua hora. Levante-se e abra a porta para mim”.

“É tu que deves abri-la”! Bradou ele de dentro do quarto.

O homem, então, tomou distância e arrombou a porta. Para surpresa da mulher a visão de seu marido era infernal. O mau cheiro até passava despercebido diante da figura nefasta e bizarra que ela visualizada. No entanto, olhar para seus olhos, com ardentes chamas que poderiam consumi-la em segundos, era impossível.

O homem de cabeça baixa e portando um volumoso livro nas mãos o saudou, respeitosamente, e, depois, colocou sobre ele uma faixa verde e amarela, antes de dizer:

“Viva para sempre, senhor presidente”!

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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