Ministro de Dilma rebate reportagem da Folha sobre as promessas de 2010

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Thomas Traumann, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, ganhou espaço na Folha desta quinta-feira (2) para rebater a reportagem que virou manchete de capa do mesmo jornal na segunda-feira, 29 de setembro. De acorco dom Traumann, a Folha usou critérios falhos e subjetivos para cravar que Dilma não cumpriu 43% das promessas que fez na eleição de 2010. Para Traumann, o periódico entregou a seu leitor uma matéria “superficial”.

O ministro questiona principalmente a avaliação da Folha sobre o que foi ou não concluido por Dilma. Entre os pontos citados por ele está, por exemplo, a reforma política. A Folha incluiu a promessa, endossada pela presidente após os protestos de 2013, na lista de projetos não entregues. Traumann lembrou que a parte que caberia à Dilma foi feita – proposta de plebiscito foi encaminhada ao Congresso. Mas que creditar a culpa pela matéria não ter caminhado é desconhecer o papel do Legislativo.

Leia o artigo na íntegra:

Thomas Traumann: O jornalismo, o joio e o trigo

A relação entre o poder e o jornalismo é necessariamente tensa: o primeiro faz, o segundo critica. A folclórica definição de que jornalismo é separar o joio do trigo e, então, publicar o joio reforça a noção de que o bom jornalismo deve ser um cão de guarda da sociedade sobre os poderosos, sejam eles políticos, juízes ou empresários. Um cão fiel ao seu real dono, o leitor, o internauta, o telespectador, o ouvinte.

Mas, para exercer corretamente o papel de fiscal do poder, o bom jornalismo precisa saber separar fato de ficção e publicar apenas fatos.

A manchete da Folha desta segunda (29), “Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010”, é exemplo de jornalismo superficial. A reportagem tenta cumprir a louvável função de avaliar o cumprimento das metas do governo, mas se perde em falhas metodológicas, avaliações subjetivas e erros grosseiros.

A Folha promete entregar ao leitor o boletim com as notas do governo federal, mas dá o mesmo peso a temas tão díspares como a ampliação de efetivo de um órgão e a redução da pobreza ou o controle da inflação. É óbvio que uma avaliação séria daria mais peso às duas últimas prioridades, mas há ainda falhas de apuração. Listo algumas:

Reforma política: “Com os protestos de 2013, Dilma tentou aprovar um projeto às pressas. Não conseguiu”. Na realidade, o compromisso de encaminhar proposta de realização de plebiscito para o Congresso foi cumprido. Cobrar do Executivo a realização da reforma significa desconhecer que a elaboração de leis é competência do Legislativo.

Manter o controle da inflação: “A meta de 4,5% foi superada”. A Folha escolhe avaliar pelo centro da inflação. Desconhece que, pela política de metas vigente desde 1999, a inflação está sob controle se mantida dentro das bandas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. Isso ocorre desde 2011 e vai se repetir em 2014.

Valorização do salário mínimo: “A política de valorização atrelada ao PIB foi mantida, mas afetada pela freada econômica”. No governo Dilma, a política de valorização do salário mínimo virou lei e o seu crescimento real foi de 12%. Não sabemos o que a Folha esperava mais.

Fortalecer a agricultura familiar e o agronegócio: “Há avanços pontuais em programas de agricultura familiar. Já o agronegócio reclama até da interlocução”. O crédito para agricultura familiar cresceu de R$ 16 bilhões, na safra 2010/2011, para R$ 24 bilhões, na atual safra. Para o agronegócio, cresceu de R$ 100 bilhões para R$ 156 bilhões.

Houve diminuição das taxas de juros para a maioria das linhas de crédito. No caso da agricultura familiar, são todas taxas negativas. Quanto à interlocução, sugerimos conversar com a CNA sobre a qualidade de nossa parceria.

Atenção especial ao transporte urbano: “Impulsionado pela Copa, investiu em mobilidade, mas até o limite de 30% de cada projeto”. Estamos investindo R$ 143 bilhões em obras de mobilidade em todo o país. Os investimentos associados à Copa eram 5% desse montante. Estamos fazendo nove metrôs, 13 VLTs, 189 BRTs e corredores de ônibus. Quanto ao limite de 30% do valor de cada projeto, desconhecemos essa restrição, criada pela Folha.

Erradicar a pobreza absoluta: “Apesar da trajetória de queda, o Ipea apontou 6,5 milhões de miseráveis em 2012”. Desconhecemos esse estudo do Ipea, mas a Folha usa dados de 2012 para avaliar o desempenho de todo o mandato.

Reforçar a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança: “A PF perdeu pessoal e reduziu operações; FN se consolidou, mas tem operação menor”. Ampliamos em 1,2% o efetivo da PF, em comparação com dezembro de 2010. Em relação ao final do governo FHC, o pessoal ativo é 59% maior. Entre 2011 e julho de 2014, a PF realizou 967 operações. No segundo mandato do presidente Lula, foram 981.

O texto conclui que, se o Brasil fosse um colégio, a gestão da presidenta Dilma Rousseff teria “passado de ano raspando”. Por essa analogia, a Folha teria sido reprovada.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Seriam intelectualmente

    Seriam intelectualmente honestos se colocassem, na chamada de capa, quantos porcento Alckmin cumpriu das promessas de 2010. 

  2. Ah tá, é só a Falha…

    Nenhuma surpresa. Tudo conforme o previsto.

    Na última semana tentam transformar qualquer sofro em furacão contra Dilma.

    Isso porque “eles” sabem que a bala de prata não veio e não virá.

    E mais ainda.

    “Eles” sabem que a chance de Dilma levar no 1o. turno é muito maior do que IBOPE e Datafolha possam admitir.

    O medo “deles” se tornará realidade no domingo. Se Deus quiser.

  3. Imprensa moribunda

    A manipulação é grosseira e o jogo de desinformação é flagrante.

    A Folha é um jornal de pássima qualidade que não se importa em mentir e enganar seus leitores.

    Espanta-me que alguém pague por essa porcaria. É jogar dinheiro fora.

    Além de ser um modelo de negócios falido, existem muitas formas melhores para se informar, entregam um produto de má qualidade.

    Eles não percebem que não estão mais com o monopólio da informação, antes pelo contrário, estão em um veículo em franca decadência e que tende a desaparecer. Em vez de se concentrarem em fornecer um produto de qualidade para garantir uma sobrevida ao negócio, insistem – do alto de sua imensa arrogância e graças a uma total ausência de ética jornalística – em tentar manipular a opinião pública.

    Anotem o que eu digo. O fim dos jornais e revistas semanais está muito mais próximo do que as pessoas imaginam. Quando acontecer, lembrem-se do que estou dizendo.

  4. eleições 2014

    Prezado Nassif:

    Por favor, informe se a Veja vai publicar ou não do direito de resposta da candidata Dilma Roussef na edição se sábado próximo. Será que o Gilmar Mendes vai contrariar os sete ministros do Superior Tribunal Eleitoral? 

  5. Falta estudo

    Essa reportagem da Folha é uma mostra de falta de estudo. Há metodologias sérias para avaliar políticas e programas (onde acho que se encaixam as promessas de campanha), justamente porque não é fácil avaliar adecuadamente, como mostra o artigo do ministro. Ademais, mesmo com os critérios discutíveis utilizados, porque a manchete não foi que ela CUMPRIU 57%? (Simples aritmética, simples cálculo eleitoral, simples parcialidade descarada) Um cansaço esse jornal.

  6. Rela reação dos outros dois

    Rela reação dos outros dois candidatos(ambos centrando seus ataques a Dilma)e da imprensa, creio que as chances da eleição acabar já no primeiro turno são bem maiores do que deixam transparecer as pesquisas eleitorais.

    1. Tudo a ver

      Sua afirmação é muito pertinente.

      A esta altura do campeonato era de se esperar que os adversários estivessem disputando a vaga para o segundo turno. Se estão focados em atacar a Dilma é porque a ameaça de não haver segundo turno é muito significativa.

       

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