MPF aponta fortuna que envolvia a ocultação de dinheiro na Lava Jato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Fernando Baiano detido pela PF na Operação Lava Jato

Jornal GGN – Durante a investigação da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal apontou como era a vida de alto luxo de Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, indicado como operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras, que supostamente intermediava as propinas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Uma das formas de ocultar o dinheiro e fazer a lavagem era por meio de bens. Em um dos casos, Baiano teria dado uma Land Rover avaliada em R$ 200 mil a Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da estatal.
 
Do blog do Fausto Macedo
 
Do Estadão
 
Lava Jato aponta ‘imensa fortuna’ e luxos na ocultação de propinas
 
Fernando Baiano, suposto operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobrás, tinha mansão, lancha e deu carro de R$ 200 mil a ex-diretor da estatal
 

Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

O Ministério Público Federal apontou a vida de alto padrão e os presentes de luxo, como uma Land Rover avaliada em R$ 200 mil dada para o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional), como forma o de o suposto operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, ocultar dinheiro desviado da Petrobrás.

LEIA A ÍNTEGRA DAS ALEGAÇÕES FINAIS DA PROCURADORIA

“Expediente utilizado por Fernando Soares para a ocultação/dissimulação da origem criminosa dos valores que repassava à Nestor Cerveró era o oferecimento de ‘presentes’ ao ex-diretor da estatal”, sustenta a força-tarefa da Operação Lava Jato, nas alegações finais da ação penal em que o ex-diretor e o operador, supostos elos do PMDB na estatal, respondem pelo recebimento de US$ 40 milhões, por dois contratos de navios-sonda da Petrobrás.

“Em 27 de julho de 2012 o acusado Fernando Soares, para encobrir o pagamento de vantagem indevida devida a Nestor Cerveró, fruto dos crimes acima mencionados, negociou e comprou em favor de Nestor Cerveró e de sua esposa, Patrícia Cerveró, o veículo Land Rover Evoque Dynamic 5D”, informa o Ministério Público Federal.

Lava Jato pede condenação de Cerveró e Baiano em ação que Cunha foi citado

Para a força-tarefa não há dúvidas de que o veículo nunca foi pago pela mulher de Cerveró, como sustentou a defesa do casal, quando ele foi preso em janeiro. O ex-diretor está detido em Curitiba.

Para ocultar e dissimular a origem criminosa dos valores relativos a esse bem, tal automóvel foi registrado em nome da mulher do ex-diretor da Petrobrás. “Mesmo tendo sido Fernando Soares o responsável pelo pagamento”, diz o MPF, no pedido de condenação dos acusados por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ele mesmo utilizava, segundo o pedido de condenação do MPF, quatro camionetes de luxo: três Land Rover e uma Toyota Hilux.

Empresas de fachada. Para tentar ocultar a origem e propriedade dos valores movimentados para Cerveró e para seu próprio patrimônio, a Procuradoria da República informa que existem “diversas provas que indicam a utilização” de duas empresas de fachada, a Hawk Eyes e a Technis, por Fernando Baiano.

“Ambas empresas eram utilizadas para ocultar e dissimular o imenso patrimônio que Fernando constituiu após a intermediação da propina das sondas”, escrevem os nove procuradores da força-tarefa da Lava Jato.

A própria residência de Fernando Baiano, no Rio, é citada dado como exemplo do conforto do operador. “Trata-se de uma cobertura do bloco 1 do Condomínio Parque Atlântico Sul (antigo Edifício Vieira Souto), localizado na Av. Lúcio Costa, 3600, Barra da Tijuca, um dos mais luxuosos da cidade.”

A cobertura de luxo do operador do PMDB está em nome da Hawk Eyes. As empresas foram usadas também para compra da Evoque de Cerveró, as outras três caminhonetes que ele mesmo utilizava, bem como para o recebimento de parte dos US$ 40 milhões recebidos do lobista Julio Gerin Camargo, em nome do estaleiro coreano Samsung Heavey Industries.

A Hawk Eyes, que era uma empresa de papel como a Technis, também serviu para registro da uma lancha de 55 pés, chamada “Cruela 1”. “A qual possui dois motores de 800 HP e capacidade para 18 passageiros, e que custa em média R$ 4,5 milhões”, diz a Procuradoria.

“Por ‘coincidência’ esta lancha foi adquirida de Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez, que atualmente encontra-se preso preventivamente na Polícia Federal em Curitiba”, afirma o Ministério Público Federal em alegações finais no processo.

Os procuradores apontaram, além do imóvel “de altíssimo padrão” em que Fernando Baiano morava, a compra de “uma mansão de veraneio” no condomínio Vale do Segredo, na Praia de Trancoso/Arraial D’ Ajuda, em Porto Seguro (BA) – em nome da empresa Technis.

Lavagem moderna. A prática de ocultação de valores e bens em carros de luxo, imóveis e presentes como quadros, auxiliam a compreender o esquema criminoso desbaratado na Petrobrás, por meio do qual partidos e políticos desviavam de 1% a 3% do valor dos contratos, em conluio com empreiteiras.

“Como próprio nestes tipos de crime, complexos por natureza, foram empregados pelos réus várias tipologias de lavagem de dinheiro reconhecidamente utilizadas nesse tipo de delito. Isso é sinal do alto nível de sofisticação dos instrumentos usados, com a combinação de várias técnicas de lavagem, em especial, a técnica do trade based money laudering, de offshore (técnica de uso de terceiros) e de estruturação”, afirmam os procuradores da Lava Jato.

As alegações finais do MPF no processo representam a etapa derradeira da ação penal, que será julgada nas próximas semanas pelo juiz federal Sérgio Moro.

Foi nesse processo em primeiro grau que o lobista Julio Camargo, após ser reintimado a pedido do operador de propina do PMDB Fernando Baiano, afirmou que pelo menos US$ 5 milhões dos US$ 40 milhões de propina tiveram como beneficiário o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Por causa da citação, a defesa de Cunha pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que impeça o juiz Sérgio Moro de julgar a ação penal e que ela seja levada para a Corte máxima do Judiciário, por envolver seu nome – como parlamentar, o presidente da Câmara só pode ser julgado pelo Supremo.

Para o MPF, “são vários os elementos que indicam a prática, por parte de Júlio Camargo, Fernando Soares, Nestor Cerveró e Alberto Youssef, todos em conluio e com unidade de desígnios, de atos de ocultação e dissimulação da natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, das infrações penais por eles praticadas em face da Petrobrás”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

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  1. ‘Em 27 de julho de 2012 o

    ‘Em 27 de julho de 2012 o acusado Fernando Soares, para encobrir o pagamento de vantagem indevida devida a Nestor Cerveró”. É indevida ou devida? 

     

    1. Alegações ??

      Parece que você não leu o texto ou , se o leu, não o entendeu. Eles usaram técnicas altamente sofisticadas para a lavagem do DINHEIRO. O dinheiro lavado se transformou em imóveis de alto luxo, carros, lanchas, etc. cerveró fez um périplo pela Europa antes de ser preso fechando contas, sacando em dinheiro vivo, mudando identidades de contas. A PF com ajuda no exterior ainda vai descobrir todos is crimes desse bando de ctiminosos que Assaltaram a nossa Petrobrás.  Mas tem gente que ainda acha pouco …

    2. Opa!  Falou rapido demais!

      Opa!  Falou rapido demais!  Nao so tudo soa verossimil -se fosse so isso tava tudo “bem”-  mas as contas estao vindo da Suissa em secretissimo segredo judicial decretado PELA SUISSA e nao pelo Brasil…

      Conveniente, convenientissimo pra ocultar os nomes dos tucanos.  E nao eh um nem dois nao.

      E quem foi pego com uma conta suissa por coincidencia investigativa da LavaBunda que nao tinha nada a ver com a operacao ou Petrobras em si?

      Perguntas, perguntas!

      Janot, responde ai!

  2. Que confusão!

    Para ocultar e dissimular a origem criminosa dos valores relativos a esse bem, tal automóvel foi registrado em nome da mulher do ex-diretor da Petrobrás. “Mesmo tendo sido Fernando Soares o responsável pelo pagamento”, diz o MPF, no pedido de condenação dos acusados por corrupção e lavagem de dinheiro.

    Algumas informações não permitem uma inferência mais adequada dos fatos. Se o automóvel foi registrado em nome da mulher do ex-diretor da Petrobrás, é só verificar se ela tinha ou não fundos para tal aquisição.

    Eu, que fico só nas notícias da imprensa, sem ler o processo, não consigo chegar à nenhuma conclusão. Ou melhor, consigo: um verdadeiro quiproquó!

    1. “Se o automóvel foi

      “Se o automóvel foi registrado em nome da mulher do ex-diretor da Petrobrás, é só verificar se ela tinha ou não fundos para tal aquisição”:

      Por enquanto, a afirmacao da alegacao eh inequivoca e verossimil pois requer uma carrada de documentacao pra se sustentar:

      “Para a força-tarefa não há dúvidas de que o veículo nunca foi pago pela mulher de Cerveró, como sustentou a defesa do casal, quando ele foi preso em janeiro”

      Tem ate mesmo a data exata da compra do automovel POR ELE, o que tambem requer documentacao judicialmente granitica:

      “Em 27 de julho de 2012 o acusado Fernando Soares, para encobrir o pagamento de vantagem indevida devida a Nestor Cerveró, fruto dos crimes acima mencionados, negociou e comprou em favor de Nestor Cerveró e de sua esposa, Patrícia Cerveró, o veículo Land Rover Evoque Dynamic 5D”

       

      Resposta ao Spok:  a vantagem indevida devida era uma divida devida indivisivelmente, nao me duvida!

  3. Batata quente

    Os continuados vazamentos da Lava Jato são inadmissíveis. Mais um agora. A Sociedade assiste perplexa a essa prática absurda, persistente, abusada e impune, e o CNJ permanece inerte frente ao descalabro. Onde estão a sobriedade, a cautela e o comedimento judiciários?

    Processo judicial transformado em novela, com capítulos publicados semanalmente pela imprensa com viés de escândalo, não promove Justiça, e, tampouco, o Judiciário. Nada pior do que a descrença na Justiça juntamente com seu corolário, a insegurança jurídica.

    Eventos judiciais, mormente de processos sob segredo de justiça, não deveriam, de forma alguma, causar manchetes espetaculosas para criar fatos políticos. Não se deveria, também, aceitar que o Judiciário fosse trampolim para movimento político de qualquer natureza, mormente quando o movimento político se assenta em ilegalidades processuais como é o caso na Lava Jato, pois os vazamentos são ilegalidades e como foi, também, na AP 470, sendo o desrespeito ao amplo direito de defesa uma das muitas ilegalidades.

    O Judiciário esta se desgastando e dando mostras de que pode ser prejudicial ao país. O ministro Lewandowski está com uma batata quente nas mãos.

    1. Entendo que tais vasamentos

      Entendo que tais vasamentos semanais são  para abastecer as revistas semanais. Alguem tem que ganhar alguma grana.

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