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Redação

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  1. DRUMMOND

    BAHIA

    É preciso fazer um poema sobre a Bahia…
    Mas eu nunca fui lá.

    In Alguma Poesia , Edições Pindorama, 1930

    O POEMA DA BAHIA QUE NÃO FOI ESCRITO

    Um dia – faz muito tempo, muito tempo –
    achei que era imperativo fazer um poema sobre a Bahia,
    mãe de nós todos, amante crespa de nós todos.
    Mas eu nunca tinha visto, sentido, pisado, dormido, amado a Bahia.
    Ela era para mim um desenho no atlas,
    onde nomes brincavam de me chamar:
    Boninal,
    Gentio do Ouro,
    Palmas do Monte Alto,
    Quijingue,
    Xiquexique,
    Andorinha.
    – Vem… me diziam os nomes, ora doces.
    – Vem! ora enérgicos ordenavam
    Não fui.
    Deixei fugir a minha mocidade,
    deixei passar o espírito de viagem
    sem o qual é vão percorrer as sete partidas do mundo.
    Ou por outra, comecei a viajar por dentro, à minha maneira.

    Ainda carece fazer poema sobre a Bahia?
    Não.

    A Bahia ficou sendo para mim
    poema natural
    respirável
    bebível
    comível
    sem necessidade de fonemas.

    © CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
    In Amar se aprende amando, 1985

    Curiosidade a respeito do minipoema “Bahia”

    Mais de 50 anos depois, Drummond publicou um complemento a esse texto. É “O Poema da Bahia Que Não Foi Escrito”, no qual ele lamenta não ter conhecido a terra de Caymmi. Esse poema está em Amar Se Aprende Amando, de 1985.

    FONTES [ COM IMAGENS DA INTERNET ]

    http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond26.htm

    http://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?poeta_id=234&obra_id=2396

  2. DRUMMOND

                        SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA

                        Onde nasci, morri. 
                        Onde morri, existo. 
                        E das peles que visto 
                        muitas há que não vi. 

                        Sem mim como sem ti 
                        posso durar. Desisto 
                        de tudo quanto é misto 
                        e que odiei ou senti. 

                        Nem Fausto nem Mefisto, 
                        à deusa que se ri 
                        deste nosso oaristo, 

                        eis-me a dizer: assisto 
                        além, nenhum, aqui, 
                        mas não sou eu, nem isto. 

                       © CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 
                           In Claro enigma, 1951

                       

                        FOTO: Gösta Ekman , Faust , 1926

  3. Um poema de Hölderlin recitado por Heidegger

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=X3EBz6NmPEs%5D

    ÂNIMO, de Friedrich Hölderlin

     

    Eco do Céu! Coração sagrado! Por que

    estás mudo entre os vivos? Acaso dormes,

    livre chama, relegada à noite subterrânea,

    proibida a todos os ímpios?

     

    Não velas como antes a luz do Éter?

    Não segue em flor a Terra, velha Mãe?

    Já não inspiram, longe e perto,

    o Espírito e o sorridente Amor?

     

    Só tu renuncias! Mas os Celestes

    te nominam, e o calado e fundo  suspiro

    da Natureza te  sobrepassa como um campo 

    despojado e iluminado,  animando tudo.

     

    Esperança!Em breve os bosques

    não serão os únicos a cantar a vida;

    tempos virão em que a alma mais bela

    cantará de novo nos lábios do homem.

     

    Mais amorosa, então aliada aos mortais,

    o elementar tomará forma, e a Terra,

    enriquecida com a gratidão dos filhos,

    plantará os tesouros de seu seio infinito.

     

    Nossos dias serão como flores  

    que o sol expandiu para sua alegria

    e onde se e queira o seu jogo

    de sua luz contente em ledas cores.

     

    E o Espírito, que reina mudo e ignorado,

    enquanto prepara o porvir,

    um glorioso dia retornará a voz humana

    para manifestar-se aos anos futuros.

     

     

    Tradução de HA

     

  4. “Una furtiva lacrima” de Gaetano Donizetti por Enrico Caruso

     

    [video:https://youtu.be/t936rzOt3Zc%5D

    Versão remasterizada digitalmente de uma gravação de 1 de fevereiro de 1904 na sala 826 do Carnegie Hall, de Nova York.

    .

    Una furtiva lacrima (Uma furtiva lágrima) é o romanza do ato II, cena 2 da ópera italiana, L’Elisir d’amore (O Elixir do Amor) por Gaetano Donizetti. É cantado por Nemorino (Caruso), quando ele descobre que a poção do amor que ele comprou para conquistar o coração da mulher de seus sonhos, Adina, funciona.

     

  5. Três Poetas Pela Vida

    Arseny Tarkovsky e filho Andrei.

    VIDA, VIDA

     

    Não acredito em pressentimentos, e augúrios

    Não me amedrontam. Não fujo da calúnia

    Nem do veneno. Não há morte na Terra.

    Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há por que

    Ter medo da morte aos dezessete

    Ou mesmo aos setenta. Realidade e luz

    Existem, mas morte e trevas, não.

    Estamos agora todos na praia,

    E eu sou um dos que içam as redes

    Quando um cardume de imortalidade nelas entra.

     

    Vive na casa e a casa continua de pé

    Vou aparecer em qualquer século

    Entrar e fazer uma casa para mim

    É por isso que teus filhos estão ao meu lado

    E as tuas esposas, todos sentados em uma mesa,

    Uma mesa para o avô e o neto

    O futuro é consumado aqui e agora

    E se eu erguer levemente minha mão diante de ti,

    Ficarás com cinco feixes de luz

    Com omoplatas como esteios de madeira

    Eu ergui todos os dias que fizeram o passado

    Com uma cadeia de agrimensor, eu medi o tempo

    E viajei através dele como se viajasse pelos Urais

     

    Escolhi uma era que estivesse à minha altura

    Rumamos para o sul, fizemos a poeira rodopiar na estepe

    Ervaçais cresciam viçosos; um gafanhoto tocava,

    Esfregando as pernas, profetizava

    E contou-me, como um monge, que eu pereceria

    Peguei meu destino e amarrei-o na minha sela;

    E agora que cheguei ao futuro ficarei

    Ereto sobre meus estribos como um garoto.

     

    Só preciso da imortalidade

    Para que meu sangue continue a fluir de era para era

    Eu prontamente trocaria a vida

    Por um lugar seguro e quente

    Se a agulha veloz da vida

    Não me puxasse pelo mundo como uma linha.

     

    Arseni Tarkóvski  em “Esculpir o tempo”, de Andrei Tarkovski. Martins Fontes, 1990.

    Tradução de Jefferson Luiz Camargo.

      André Breton e a companheira Elisa. ANTES A VIDA

     

    Antes a vida que estes prismas sem espessura mesmo se as cores são mais puras

    Antes ela que esta hora sempre enevoada estas terríveis carruagens de labaredas frias

    Estas pedras sorvadas

    Antes este coração engatilhado

    Que este charco de murmúrios

    Este pano branco a cantar ao mesmo tempo na terra e no ar

    E esta bênção nupcial que une o meu rosto ao da total fatuidade

    Antes a vida

     

    Antes a vida com os seus lençóis de esconjuro

    As suas cicatrizes de fugas

    Antes a vida antes esta rosácea no meu túmulo

    A vida da presença só da presença

    Onde uma voz diz Estás aí e a outra responde Estás aí

    Eu pobre de mim não estou

    E mesmo quando jogarmos ao que fazemos morrer
    Antes a vida

    Antes a vida antes a vida Infância venerável

    A faixa que parte dum faquir

    Parece o escorregadouro do mundo

    Não importa que o sol não passe de um destroço

    Por pouco que o corpo da mulher se lhe compare

    Pensas tu ao contemplar a extensão da trajectória

    Ou tão-só ao fechar os olhos sobre a tormenta adorável que se chama a tua mão

    Antes a vida

     

    Antes a vida com as suas salas de espera

    Mesmo sabendo não ir entrar nunca

    Antes a vida que estas estâncias termais

    Onde o serviço é feito por coleiras

    Antes a vida adversa e longa

    Quando aqui os livros se fecharem sobre estantes menos suaves

    E lá longe fizer mais que melhor fizer livre sim

    Antes a vida

     

    Antes a vida como fundo de desdém

    A esta cabeça já de si tão bela

    Como antídoto da perfeição aspirada e temida

    A vida a maquilhagem de Deus

    A vida como um passaporte virgem

    Ou uma vilória como Port-à-Mousson

    E como tudo foi dito já

    Antes a vida

     

    André Breton em“Poemas”. Assírio & Alvim, 1994
    Tradução de Ernesto Sampaio

      Vinicius de Moraes e Tom Jobim 

    SEI LÁ…

     

    Tem dias que eu fico pensando na vida 

    E sinceramente não vejo saída. 

    Como é, por exemplo, que dá pra entender: 

    A gente mal nasce, começa a morrer.

     

    Depois da chegada vem sempre a partida,

    Porque não há nada sem separação. 

    Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão. 

    Sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão.

     

    A gente nem sabe que males se apronta.

    Fazendo de conta, fingindo esquecer 

    Que nada renasce antes que se acabe, 

    E o sol que desponta tem que anoitecer.

     

    De nada adianta ficar-se de fora. 

    A hora do sim é o descuido do não. 

    Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão. 

    Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão.

     

    Vinicius com Tom, Miucha e Toquinho no Canecão, 1977.

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=NKCp78hnl4M%5D

     

     

     

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