Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Não é golpe? Eu, heim Rosa!, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Não é golpe? Eu, heim Rosa!

por Armando Rodrigues Coelho Neto

“Na época, no Brasil, a expressão ‘Direitos Humanos’ era tida como palavrão”, diz Jards Macalé, quando, em 1973, estava organizando o show “Direitos Humanos no Banquete de Mendigos”. Segundo ele, 70% do roteiro do show foi cortado pelo Departamento de Censura da Polícia Federal, a mesma que hoje está a serviço de mais um golpe em nossa esquálida tentativa de democracia.Tempos, digo eu, que, à exceção dos tanques, não são tão diferentes dos de agora. Afinal, expressão Direitos Humanos continua distorcida.

Pois bem, tempos de censura, assassinatos, perseguições, banimentos… nos quais pelas normas ditatoriais os atos praticados com base no Ato Institucional nº 5, não eram passíveis de apreciação judicial.

Lembra disso, dona Rosa Weber? Hoje, o que se observa, é que alguns atos do Legislativo são ou não passíveis de apreciação judicial. Algo assim como tornar ministro o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva é dar foro privilegiado para furtar-se à ação de juiz de primeira instância. Mas, para outros não. Tratamento distinto para o mesmo ato por Dilma e Temer. Sei que, salvo exceções, muitos capitães do mato da PF faltaram àquela aulinha de história e não se dão ao trabalho de analisar contradições contemporâneas. Mas, presumo que o STF esteja atento.

Olha só, Dona Rosa, infeliz do país que pra admitir a ruptura constitucional precisa de tanques na rua. Quer tanque pior do que a TV Globo, Folha, Veja e outros que bombardeiam mentes descuidadas? Aliás, infeliz também do país que precisa de um Ministério da Cultura, já que cultura foi algo negligenciado por cinco séculos. Nesse contexto, fiquei perplexo com a suposta interpelação feita à Presidenta Dilma Rousseff, sobre o que ela pretende dizer com a palavra golpe. Ainda bem que o povo na rua e nos espaços culturais esteja respondendo por ela.

Juro que nesse instante de ameaça de ruptura constitucional, que nem Cunha, nem os Marinhos, nem a Corte Suprema querem que chame de golpe, só faltava mesmo a interpelação ser “de oficio” (de iniciativa do próprio Judiciário) pra consolidar o que o mundo civilizado já vê como golpe. Nesse momento de “convites coercitivos”, divulgação de conversas da Presidência da República (crime contra o Estado nos Estados Unidos), de vazamentos seletivos, de “pensamento único” – cuja hegemonia só é quebrada na rebeldia das redes sociais, está tudo muito estranho.

Pois bem, Dona Rosa, a Presidenta Dilma Rousseff não tem a obrigação de responder, mas é claro que por deferência à Suprema Corte ela o fará. Não obstante, já tem gente nas ruas e nas redes sociais recorrendo às suas próprias palavras. “Não tenho provas, mas a literatura jurídica me permite”.

Tempos controversos, não? Eduardo Cunha, que segundo um raivoso colunista, seria a sarjeta através da qual a Presidenta Dilma Rousseff seria defenestrada, só foi afastado depois de consumado e sacramentado um passo decisivo do golpe. Até então, o STF não mexia com a tal sarjeta, em nome da separação e harmonia dos Três Poderes. Creio, pois, que a literatura jurídica me autoriza a deduzir uma relação de causa e efeito.

Já escrevi aqui nesse espaço que estamos vivendo um “golpe da maconha intrujada”. Leia-se, tudo corre dentro da lei mas viciado na origem. Portanto nesse contexto de estranhos acontecimentos e desacontecimentos, a Presidenta Dilma só pode ser vítima ou ré. Segundo se depreende do “Livrinho de 88”, vítima pode lamentar e réu tem o direito de espernear, calar, mentir. Aliás, o mesmo livrinho fala de uma tal de liberdade de expressão, direito de defesa, direito de ir e vir, presunção de inocência… – razão pela qual comecei essa fala lembrando do show “Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos”.

Essa petição dos golpistas que chegou à Corte Suprema deveria ter sido indeferida liminarmente, ou seja, de cara. Afinal, é golpe mesmo.

Tem cara, forma e cheiro de golpe. Sabe aquela história do, tem asa tem bico e não voa? É bule. Tem tudo de porco e não é porco, é feijoada? Pois bem, tem ares de legalidade, mas é golpe. Mas aí, quando vi a Presidenta Dilma Rousseff sendo intimada para explicar liberdade de expressão, pensei: eu, heim, Rosa!!!

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

6 Comentários

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  1. Gente boa essa nossa rosa

    Pois a rosa em questão foi indicada pra ser nomeada pra ser suprema por ninguém menos do que Carlos Araújo, o ex-marido da ex-presidenta. Um primor de tiro no pé. Como todos os supremos nomeados pelo Lula e por dona Dilma. Todos corresponderam ao que deles se esperava. Nomearam Dilma ex-presidenta.

  2. não é golpe não? então vejam

    não é golpe não? então vejam isto:

    http://www.conversaafiada.com.br/politica/puft-juca-derrubou-o-governo-temer

    Por muito, muiito mrnos prenderam o Delcídio.

    Na verdade, depois desta reportagem do Rubens valente(jornalista de verdade) todos os integrantes do governo teneroso deveriam ser presos e a Dilma colocada de volta ao governo.

    Bando de patifes.

    E o STF hein? vai fugir de novo? vai sair ou continuar o golpe?

  3. Tem esta também. Se havia

    Tem esta também. Se havia alguma dúvida, agora não há mais nehuma viu, sinistra Rosa Weber.

    http://www.tijolaco.com.br/blog/pacto-com-o-supremo-para-estancar-sangria-da-lava-jato-juca-revela-o-acordo-do-golpe/

    Só resta saber se a senhora faz parte do golpe.

    Eu acredito que faz. Quem condena sem provas com base em literatura de ficção escrita por procuradores sem noção pois ignoram fatos, com certeza faz parte do golpe.

     

  4. Nem tudo está perdido

    Nem tudo está perdido. Se a defesa de Dilma conseguir colocar a ministra em posição de ter de declarar que não crime de responsabilidade, esta ação será a prova de que não houve crime e assim aumentará a pressão social sobre os senadores para que apenas 05 deles mudem as suas posições anteriores sobre o impeachment. Esta tentativa de calar pode se tornar o estopim necessário para o  retorno.

    Ministra Rosa voce tem na mão a possibilidade de ser a pessoa que colocou de novo o Brasil no eixo da democracia.

  5. Pobre Rosa

    A prova de que a presidente Dilma é uma pessoa compromissada com o Estado é que ela não escolheu nomes para o STFque fossem alinhados com a esquerda e muito menos com o PT, mas escolheu nomes que lhe disseram ser sérios e, como mulher, teve a sensibildade de dar acesso ao Supremo ao gênero feminino. O que a ministra Rosa Weber esta fazendo é politicagem. Eh isso mesmo. Ela pode travestir do que quiser, mas é pura politicagem de sua parte para punir mais ainda Dilma Rousseff e o PT.

    E digo  mais, fosse Temer ou mesmo Aécio presidentes eleitos, duvido muito que Rosa Weber ou Carmem Lucia teriam um dia sido indicadas ao STF. Esses ai preferem o estilo Girmar.

     

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