Nova política econômica, por Delfim Netto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Carta Capital

Nova política econômica

É preciso restabelecer a confiança do setor empresarial privado para que o investimento cresça. Recomendam-se compreensão, sangue frio e paciência: os resultados não aparecerão de chofre

por Delfim Netto

Nos anos 80 do século XX – depois do forte período de intervenção estatal em resposta à crise de 1929 – assistimos à volta da mesma velha ideologia “liberista” e a reformulação da economia, que levaram à desmontagem do Estado, à sacralização do “mercadismo”, à invenção das expectativas “racionais” e, mais grave, produziram o esquecimento do deletério papel do imprescindível, mas imperfeito, mercado financeiro, quando sua extraordinária imaginação não é regulada. No fundo, uma resposta aparentemente mais sofisticada, vestida de um vistoso aparato matemático, mas com as mesmas ideias que haviam gestado o desastre de 1929 e, sem surpresa, com os mesmos resultados em 2007! A tragédia já dura sete anos, sem que nenhum país tenha, de fato, saído da crise. Sofrem, agora, o horror da perspectiva ou de uma deflação, ou de uma estagnação secular que consomem o espírito animal dos investidores privados e produzem restrição ao investimento público. Demorou nada menos que sete anos para o FMI e o Grupo dos 20 aceitassem o fato físico (e psicológico!) que quando se recomenda simultaneamente a “todos que puxem para baixo, é para baixo mesmo que vão todos”. A coisa mais incrível é que:

1. Continuemos aceitando (depois de Keynes e Minsky) a fazer política econômica com modelos que não introjetam a possibilidade de suicídio por meio dos mercados financeiros desregulados.

2. Tenhamos esquecido a elementar lição que numa economia aberta: a) a renda de cada um (indivíduo ou país) só pode provir da compra de outro; b) o volume do PIB e do emprego depende da demanda efetiva; c) a existência de um alto desemprego durante um largo lapso de tempo indica que a demanda efetiva não está sendo suficiente para absorver a oferta potencial; d) o papel da política econômica deve ser manter a demanda efetiva para sustentar um nível de emprego que garanta a coesão social e, portanto, e) a correção de eventuais desequilíbrios (não importa se produzidos por má sorte ou outras causas) só será politicamente viável se os agentes privados e os países tiverem tempo e estímulos suficientes para se acomodarem à nova situação sem a dramática contração de sua renda ou do seu emprego.

É claro que existem múltiplos desequilíbrios, alguns que nada têm a ver com a demanda efetiva. Por exemplo, no Brasil, a persistência de uma alta inflação com a prática estagnação do PIB tem muito pouco a ver com excesso da demanda efetiva.

Provavelmente, ela tem outras causas (política salarial equivocada, absorção de mão de obra com baixa produtividade etc.). Isso não é uma justificativa laxista! É, ao contrário, a evidência de que a política econômica tem de ser um todo coerente, com objetivos claros e transparentes. Com amplo desequilíbrio fiscal, intervenções oportunísticas que recusam aceitar os preços de equilíbrio dos mercados e o excesso de regulação sobre a liberdade de iniciativa, não há como estimular os investimentos e o crescimento do PIB.

E sem uma forte coordenação entre as políticas fiscal, monetária, salarial e cambial não há como voltar ao crescimento com justiça social duradoura e equilíbrio interno e externo.

No regime presidencialista quem recebe o voto de confiança das urnas tem a responsabilidade intransferível de escolher as políticas social e econômica. Pois bem. É visível que os problemas do Brasil, em 2015, são os mesmos que os de 2011 a 2014, cujos diagnósticos e soluções deixaram muito a desejar. Logo, é preciso mudar. A presidenta Dilma Rousseff acaba de receber uma chance de melhorar a sua performance e decidiu aproveitá-la. Ela sabe que será o seu nome que ficará, eterna e indelevelmente, gravado no período 2011-2018, na história do PIB brasileiro.

Há um novo diagnóstico que parece muito razoável que ela não explicitou, mas que está fortemente visível nas medidas tomadas. Se for sustentado com convicção e sem exageros acabará restabelecendo a confiança do setor empresarial privado e o investimento crescerá. Mas é preciso compreensão, sangue frio e paciência, porque levará algum tempo até que ele apareça.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

18 Comentários

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  1. Suspensão temporária de todos os pagamentos para auditoria da dí

    Sem auditoria de todas as dívidas, todos os pagamentos são temerários e lesivos ao povo e a nação.

    O resto é conversa mole.

    Tai a Grécia onde o povo acordou.

    1. “(…) por que a Itália deve

      “(…) por que a Itália deve destinar 6% do PIB para pagar os juros e apenas 1% à melhoria de suas escolas e universidades? Uma política centrada apenas na redução da dívida é destrutiva (…)”

       Thomas Piketty, que leciona na École d’Économie parisiense, “o economista mais conceituado de 2014”, tal como definiu o Financial Times, autor do “O Capital no seculo XXI”

    2. A divida publica federal é

      A divida publica federal é constituida por titulos do Tesour Nacional, vendidos a quem quiser comprar. Vai fazer auditoria do que? Saber se os titulos são falsos? Qual é a duvida sobre os titulos?

      1. QUERO SABER SIM !! TIM, TIM

        QUERO SABER SIM !! TIM, TIM por TIM, TIM !!

        Tu ‘tá é com medo da TRANSPARÊNCIA, tuKKKanão !!

         

        “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

      2. Você é completamente nulo em finanças públicas, não é?

        Estes títulos públicos são a representação contábil de empréstimos que foram contratados para financiar as mais diversas operações, por exemplo, a consolidação de dívidas municipais com garantias federais, tipo a construção da prefeitura de Santos, aquele prédio majestoso da Praça Mauá que começou a ser erguido em 1920 e terminou na década de 40 mas que continua onerando o governo com o seu pagamento.

        Como este, milhares de outros empréstimos contratados por organismos públicos ou de economia mista com garantias federais que são consolidados no balanço e que têm títulos públicos a financiá-los, títulos que padecem de toda e qualquer legitimidade pois são operações, como a da prefeitura de Santos de quase 100 anos atrás, impagáveis pelas condições ruinossas de suas pactuações, fora as fráudes.

        Logo, qualquer pagamento hoje é prá lá de suspeito.

        A auditoria de toda a dívida, com retrocesso nas orígens do crédito é o mínimo que se espera de uma administração com um mínimo de respeito com o dinheiro do povo, que não é bobo.

  2. Delfim é um cara produtivo e

    Delfim é um cara produtivo e sem bandeira.

      Escreve pra Folha,Valor e Carta Capital.

      Só falta escrever pro 

    Sovetski , o jornal mais lido da Russia.

          E o diabo que duvide…..

  3. Pelo visto, todos os

    Pelo visto, todos os analistas que não têm compromisso ideológico (e religioso, pois são de um fervor dogmático) com o liberalismo concordam que o problema específico da economia brasileira se deve, principalmente à falta de confiança dos empresários e a consequente decisão de adiar, ou suspender, investimentos para manter a produção.

    Em sendo assim, eu proponho que o governo escolha algumas das empresas que adotaram essa postura, focando nas de maior importância para seus respectivos setores, e nacionalize-as, mediante pagamento de indenização calculada de acordo com os tributos pagos nos últimos, digamos, 10 anos.

    A partir daí, o governo passa a gerir essas empresas, reativando os planos de investimento que tinham e promovendo o crescimento da economia, e os empresários iriam recuperar-se da crise de confiança, talvez em Miami, com bastante dinheiro no bolso pois, afinal, os empresários em geral afirmam que a carga tributária brasileira é muito elevada.

    Estou seguro que, após uns 10 casos assim, os demais empresários recuperariam a confiança.

    1. Marcus,não sei se você está

      Marcus,não sei se você está sendo ironico ou se fala sério.

      Se foi ironia,você foi perfeito.

      Agora , se você está falando sério, esse seu raciocínio é espantosamente primário.

      Você está sugerindo, claramente, que a solução é fazer o que a Venezuela fez,ou seja, desabastecimento de qualquer coisa que se necessite e longas filas para comprar uma simples coxa de frango.Muito inteligente.

      Sem  contar que o exemplo da Petrobras não serviu pra nada para você, ou você pensa que novas empresas estatais estarão imunes  a corrupção, a ineficiência e a incompetência, coisas típicas do Estado. 

      Em qualquer lugar do mundo quem produz riqueza é a iniciativa privada.

    2. Minha Santa Anastacia,

      Minha Santa Anastacia, nacionaliza e entrega para quem gerir? Para o Yousef? Para o Cerveró? Mas é cada ideia inacreditavel, vc acha que para gerir uma grande empresa basta qualquer um? E o dinheiro para investir, vem de onde?

  4. Brasil contra BRAZIL, tarefa difícil para o Governo

    O Governo brasileiro é apenas uma parte deste problema (aliás, parte da sua solução). Enquanto o governo irriga pingos de água sobre o vaso de terra onde está a economia do Brasil, torrentes de água saem pelo ralo, arrastando nutrientes, por causa das perdas internacionais, do serviço relacionado com juros da dívida pública e, principalmente, por causa de poucos maus brasileiros que levam o seu dinheiro fora.

     (Tudo em valores arredondados)

    GOVERNO

    Inclui esforço efetivo do governo popular em relação aos anteriores:

    Bolsa família e outros programas sociais: US$15 bilhões/ano

    PAC anual (estimado): US$25 bilhões/ano

    Aumento efetivo do salário mínimo e outros acréscimos (como saúde e educação): Não calculado

    Outras despesas anuais:

    Saúde: US$40 bilhões/ano

    Educação: US$40 bilhões/ano

    Senado + Câmara (juntos): US$3,5 bilhões/ano

    Judiciário: US$13 bilhões/ano

    ENQUANTO ISSO:

    Juros pela divida pública: US$80 bilhões/ano

    Ainda, por conta de poucos e maus brasileiros, principalmente os mais ricos:

    Gastos de brasileiros no exterior: (Disney, principalmente): US$25 bilhões/ano (equivalente ao PAC)

    Contas CC5 para o exterior no escândalo BANESTADO, década de 90: US$124 bilhões

    Depósitos atuais de brasileiros no exterior: US$520 bilhões

    AINDA,

    De 14.228 em 2008 para mais de 23 mil pessoas físicas. Um cruzamento feito na base de dados do Banco Central (BC) mostra que os investimentos brasileiros em ações, títulos e imóveis no exterior cresceram de US$ 15,4 bilhões em 2008 para US$ 35,6 bilhões em 2013, um aumento de 131%. Neste caso, o valor inclui pessoas físicas e jurídicas.

    (comentário meu: Na procura do seu “Alfaville” para sair de junto da patuléia). Criado na Zona Leste de São Paulo, o empresário André Lima, de 40 anos, trabalhou desde os 14 para conhecer a Flórida. Aos 23 fez a viagem, mas passou a cultivar o desejo de comprar um apartamento em Miami. Hoje, ele se prepara para comprar outro imóvel no país, em Orlando, para alugar. “Vendi um imóvel em São Paulo e com metade do dinheiro comprei um apartamento enorme em Miami. Minhas filhas moram lá com a minha esposa. Fico entre os dois países”, afirma André, para quem ainda vale a pena investir lá fora. — A valorização dos apartamentos no Brasil compensou o aumento do dólar.

    O investimento brasileiro em imóveis saltou de US$ 1,8 bilhão em 2008 para US$ 4,6 bilhões, um aumento de 150%. E a Flórida, meca dos brasileiros que procuram imóveis no exterior, foi uma da grandes responsáveis por isso.

    http://oglobo.globo.com/economia/investimento-brasileiro-no-exterior-cresce-131-em-apenas-cinco-anos-11477350

     

  5. O que pode ser feito

    O que pode ser feito para impedir o Brasil de continuar estagnado economicamente:

     

    Pelo Governo:

    Abaixar os juros. Até agora tem dado resolutas amostras de que não vai abaixar. Como na história do escorpião, o Governo prefer morrer a ceder.

    Pela população:

    Se preparar para a recessão. Ter menos filhos. Se for comprar um veículo, dar preferência ao mais econômico, mais popular. Se for comprar ou construir uma casa dar preferência a uma que seja de IPTU mais barato o possível, que seja barata o possível a manutenção. com tantas crises, nestas últimas década o brasileiro tem mestrado em sobrevivência.

     

    Quando um governo cede ao mercado, se torna neoliberal, cabe ao povo achar um caminho para contornar os equívocos governamentais.

     

     

  6. Mais um que vem com o mesmo

    Mais um que vem com o mesmo bla bla bla de sempre pra cima do povo, sempre é  mais lesado, e espera que se diga amém sem reclamar.

  7. ‘PNC’ do investidor privado

    ‘PNC’ do investidor privado !! Esse povo não quer investir, eles querem garantia de lucro !! O que o governo tem de fazer, caso a Privada não tenha interesse, como fez no MAIS MÉDICOS, é criar Estatais em áreas estratégicas, como a produção de AÇO no Brasil, para não exportar minério e importar ‘aço’.

    O resto é luar de Paquetá e trololó da PRIVADA RENTISTA SACO SEM FUNDO.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  8. Terceira Via
    Na década de 90 eu já citava e acreditava em uma terceira via. O capitalismo já tinha dado o que podia com a Revolução Industrial e o acesso a todos aos bens de consumo industrializados. A realidade atual trás novos desafios, inclusive relacionados ao meio ambiente. Temos que repensar urgentemente a forma de se “fazer economia”.

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