O Brexit e o Futuro da Europa, por George Soros

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Sondagens de opinião ajudam a explicar decisão, segundo articulista
 
Jornal GGN – A Grã-Bretanha possuía aquele que era considerado “o melhor dos acordos” possíveis com a União Europeia, ao integrar o bloco sem pertencer ao euro, e possuindo diversas exclusões às regras do bloco europeu – mas tudo isso não foi suficiente para a impedir a decisão dos eleitores em sair do bloco, e a resposta para tal decisão pode se encontrada nas sondagens de opinião elaboradas antes do referendo. A afirmação é de George Soros, gestor do Soros Fund Management, em artigo publicado no site Project Syndicate.
 
“A crise migratória europeia e o debate do Brexit alimentaram-se mutuamente”, diz Soros. “A campanha do ‘Sair’ explorou a piora da situação dos refugiados (simbolizada por imagens de milhares de requerentes de asilo concentrados na cidade de Calais, desesperados para entrar na Grã-Bretanha, por todos os meios necessários) para instigar o medo de imigração ‘descontrolada’ proveniente de outros estados-membros da UE. E as autoridades Europeias atrasaram decisões importantes sobre a política a ser aplicada aos refugiados, para evitar um efeito negativo sobre o voto no referendo Britânico, perpetuando assim cenas de caos como a de Calais”.
 
Embora a decisão da chanceler alemã Angela Merkel em abrir as portas do país aos refugiados tenha sido considerado inspiradora, Soros diz que ela não foi devidamente pensada “porque ignorou o fator de atração” – ou seja, segundo o articulista, “um fluxo inesperado de requerentes de asilo afetou as vidas de pessoas em toda a UE”.
 
A falta de um controle mais adequado também gerou pânico, e afetou não só a população local como as autoridades responsáveis pela segurança e os próprios refugiados. “Também abriu caminho para o rápido rápido crescimento de partidos xenófobos e antieuropeus (como o Partido da Independência do Reino Unido, que liderou a campanha pelo Sair), já que os governos nacionais e as instituições Europeias parecem incapazes de gerir a crise”, explica Soros.

 
Para Soros, “materializou-se o cenário catastrófico que muitos temiam, tornando praticamente irreversível a desintegração da UE”. Não se sabe ao certo se a Grã-Bretanha ficará ou não em uma situação melhor ante outros países por conta de sua saída da UE, mas haverá um impacto expressivo sobre a economia e o povo do país no curto e médio prazo. “A libra mergulhou para o seu nível mais baixo em mais de três décadas imediatamente a seguir à votação, e a instabilidade nos mercados financeiros em todo o mundo deverá permanecer durante as negociações com a UE relativas ao longo e complicado processo de divórcio político e econômico. As consequências para a economia real só serão comparáveis às da crise financeira de 2007-2008”.
 
O processo deve ser caracterizado por diversas incertezas e riscos adicionais, uma vez que a sobrevivência do projeto europeu foi colocada em risco com a decisão britânica, segundo o articulista. “O Brexit abrirá as comportas para outras forças antieuropeias na União. Na verdade, assim que o resultado do referendo foi anunciado, a Frente Nacional de França lançou um apelo ao “Frexit”, enquanto o populista Holandês Geert Wilders promoveu o “Nexit””. O próprio Reino Unido pode não sobreviver, uma vez que a Escócia – que votou a favor da permanência na UE – deverá tentar sua independência mais uma vez, e alguns responsáveis da Irlanda do Norte já apelaram à unificação com a República da Irlanda.
 
De acordo com o megainvestidor, a resposta europeia também pode ser outra armadilha – os líderes da região, ansiosos por impedirem que outros estados-membros sigam o exemplo, podem não estar dispostos a oferecer as condições ao Reino Unido (especialmente as relativas ao acesso ao mercado único Europeu) que minimizariam a dor da saída. “Com a UE responsável por metade do rendimento comercial da Grã-Bretanha, o impacto sobre os exportadores poderá ser devastador (apesar de uma taxa de câmbio mais competitiva). E, com as instituições financeiras a deslocalizar nos próximos anos as suas operações e pessoal para centros na zona euro, a City de Londres (e o mercado imobiliário de Londres) não serão poupados”.
 
As implicações para a Europa poderão ser muito piores. Na visão de Soros, as tensões existentes entre os estados-membros atingiram um ponto de ruptura não só sobre os refugiados, mas também devido às pressões entre países credores e devedores na zona do euro. “E o tempo não está do lado da Europa, já que as pressões externas de países como a Turquia e a Rússia (que estão ambos explorar a discórdia para seu benefício) aumentam o conflito político interno”, diz “Toda a Europa, incluindo a Grã-Bretanha, sofreria com a perda do mercado comum e a perda dos valores comuns que a UE foi concebida para proteger. Porém, a UE deixou de cumprir a sua função e de satisfazer as necessidades e aspirações dos seus cidadãos”.
 
 
(Tradução adaptada por Tatiane Correia)
 
Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

7 Comentários

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    1. Nao!

      Não, o GGN simplesmente coloca vários pontos de vista… o amigo não concorda com o post?… bueno, aqui pode comentar  e colocar suas idéias… 

  1. Basta perguntar para os envolvidos

    Que tal simplesmente perguntar para os envolvidos o que aconteceu?

    Seria possível resumir tudo num parágrafo:

    “Michael Hudson argumenta que as intervenções militares no Oriente Médio geraram fluxos de refugiados para a Europa, que por sua vez foram usados pelo direita anti-imigrante para agitar a xenofobia.”

    fonte: http://www.counterpunch.org/2016/06/27/how-western-military-interventions-shaped-the-brexit-vote/

  2. .

    Soros, um dos patrocinadores de golpes e crises no mundo, um especulador que chefia o neoliberalismo predador, querendo colocar em si a aura de santidade?

    Cruz credo!

  3. Efeito bumerangue

    Os EUA com a Europa a reboque invandem e interferem nos governos de outros países que não são títeres ao bloco, depois saem deixando apenas terra arrasada e a população desprovida de qualquer proteção ante aos aventureiros de toda gama. Sem saída eles fogem em busca de um país seguro, a Europa é a meta, muitos morrem pelo caminho. Cinicamente os governantes do establishment igoram suas responsabilidades pelo caos, e assim o Bloco vai a deriva, e a culpa é dos imigrantes. Hipocrisia 3.0.

  4. Soros não está interessado no

    Soros não está interessado no bem estar dos europeus. Há décadas este velho psicopata quebra países provocando desemprego, fome e desespero para ter lucro, para ganhar fortunas. Ele não tem nada a dizer para mim. E eu só tenho uma coisa a dizer para ele: perca todo seu dinheiro e morra pobre seu pilantra.

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