O conveniente vazamento do vídeo de Geddel

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

 
Jornal GGN – Foi apenas para expôr Geddel Vieira Lima à humilhação ou o vazamento do vídeo da audiência de custódia teve outro propósito?
 
Preso por obstrução de Justiça, Geddel chorou diante de um juiz da Lava Jato tão logo percebeu que pode ter tomado um xeque-mate.
 
Participam da audiência, na quinta (6), o magistrado Vallisney Oliveira de Souza, a defesa de Geddel e representante do Ministério Público Federal. No mesmo dia, o vídeo foi vazado à imprensa. 
 
O destaque, em muitos portais, foi o choro de Geddel quando Vallisney indeferiu o pedido da defesa para que ele fosse transferido para a prisão domiciliar, com tornozeleira, entrega de passaporte e qualquer outra medida que fosse necessária.
 
Mas o vídeo contém outra informação importante para a Lava Jato.

 
Em até 3 dias, a esposa de Lúcio Funaro, a empresária Raquel Pitta, terá de ser ouvida pela Polícia Federal para confirmar ou negar o depoimento que levou Geddel à prisão.
 
Após a bomba da delação da JBS cair no colo de Michel Temer, Funaro decidiu acelerar o acordo de cooperação com a Lava Jato e disse aos investigadores que Geddel mantinha conversas “estranhas” com sua esposa, pelo celular. 
 
Na audiência de custódia, Geddel admitiu que, no último ano, conversou com Raquel por mais de 10 vezes, em ligações rápidas e quase sempre de iniciativa dela, sobre “amenidades”. Ele negou que tenha procurado saber de Funaro ou se a família precisava de dinheiro.
 
Por volta dos 58 minutos do vídeo, Vallisney diz: 
 
“O argumento realmente mais forte que levou a decretar a prisão é justamente essa questão dos telefonemas. E esses telefonemas são existentes, embora nao haja certeza do que houve na conversa, se houve influência [de Geddel sobre Raquel, para que ela pressionasse Funaro a ficar de bico fechado]. Ocorre que o quadro parece grave porque temos um preso há mais de um ano [Funaro] e sua esposa recebe telefonema de um investigado de outra investigação [Geddel]. Isso pode prejudicar não só o resultado do processo, mas a própria esposa do investigado, em relação ao estado de ânimo dela.” 
 
Por “estado de ânimo”, o juiz quis dizer que interessa saber se Raquel sentiu “medo” ou qualquer tipo de constrangimento ou coerção nos contatos com Geddel. 
 
O MPF vai mais longe: acha que importa saber como Funaro reagiu ao saber que a esposa era sondada por Geddel, independente do conteúdo das conversas.
 
“Eu vou determinar que a autoridade policial ouça a esposa de Funaro com urgência, para ver o estado de ânimo dela, para que se esclareça o que foi dito. Sem isso, não é possivel decretar as medidas cautelares alternativas. Isso [interrogatório] e a pericia no celular” devem ser feitos no prazo de 3 dias, definiu o juiz.
 
Em outras palavras, a revogação da prisão preventiva de Geddel depende da mulher de Funaro.
 
A decisão de Vallisney desagradou gregos e troianos, em níveis distintos.
 
“A essa altura, ouvir essa senhora, Excelência, é obvio que se espera que ela diga que foi intimidada. Ela não fez a notícia de fato, não procurou a Polícia, não procurou o Ministério Público [à época dos fatos]. Mas é obvio que ela vai querer validar a versão do marido”, disparou a defesa de Geddel.
 
O Ministério Público também demonstrou-se contrariado, pois queria que o prazo fosse maior, de pelo menos 10 dias. Argumentou que não sabe onde está Raquel. 
 
Diante de prazo exíguo, o vazamento do vídeo – de origem desconhecida – pode ser uma maneira de colocar a empresária em contato com tudo o que a defesa de Geddel contesta no depoimento de Funaro, base da preventiva, e fazê-la entender mais rápido o que está em jogo. 
 
Caberá a ela validar o que disse o ex-operador do PMDB – e, assim, ajudá-lo a fechar a delação e manter Geddel preso – ou jogar vinagre nas acusações da Lava Jato.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. De qualquer modo o vazamento é criminoso

    Três são as possíveis fontes do vazamento criminoso: o MPF – parte acusadora, investigadora e titular da ação penal – a Polícia Federal, investigadora, ou o próprio juiz, Vallisney Oliveira de Souza.

    Não há lado bom ou defensável nessa história; os três cometem ilegalidades e crimes, ao divulgar esse vídeo.

    Por fim, se advogados de alguma das partes fez a divulgação dio vídeo também cometeu crime.

  2. Parte do contra-ataque da

    Parte do contra-ataque da Lava a Jato, que está na defensiva. Com todos as apelações a que ~não~ tem direito.

    GLOBO E MORO VÃO ELEGER RODRIGO MAIA PRESIDENTE? E TEMER? RUIM SEMPRE PODE PIORAR! (PARTE 1)

    Por Romulus

    Parte (1)

    – Brasil: sucessão de golpes e contragolpes. “Do mal”, mas também “do bem” (!)

    – Segundo turno (literalmente? rs) dos infernos: “Fora, Temer” vs. “Fica, Temer”

    – Notem: a alternativa (?!) é… Rodrigo Maia!

    – Binarismo “do bem”: Globo a favor? Sou contra!

    – Churchill e Simone Veil: aliança ~tática~ até com o diabo, se Hitler invadisse o inferno

    – Parênteses – Siome Veil faz o feminismo avançar até na morte!

     

    Parte (2)

    Item (A): a “rodada” do “jogo” tomada no “atacado”

    – Marco Aurélio Mello e Delfim Netto

    – Núcleo duro debate: a marcha da História política no Brasil: golpes e contra-golpes

    Item (B): a “rodada” tomada no “varejo”

    – Os Juristocratas se autodefinem: Carlos Fernando, Dallagnol e Moro. Sem pudores

    – O vai ou racha do acordão: o HC de Palocci no STF

    – Armas de dissuasão para alvos distintos: “o fantasma de Lula Presidente” vs. “Parlamentarismo já” vs. “intervenção militar”

    – Nas mãos hábeis de peemedebismo, a combinação desse arsenal nuclear incentiva o acordão.

    – O drama dos blogueiros de esquerda: antes “perdidinhos” (?), agora alguns começam a “se encontrar”

    – Mas os políticos ~profissionais~ da esquerda continuam com o… ~amadorismo~.

    – Natural ou (bem) cultivado?

    – Cassandras continuarão gritando e arrancando seus cabelos, mas…

    – O contra-ataque juristocrático e o “lock-in” jurídico: deixar um fait accompli para os seus sucessores

    – A temeridade política de agir como se “toda a direita e todos os neoliberais fossem iguais”

    – Globo e Dallagnol confirmam, revoltados: Lula ~está~ contemplado no acordão!

    – ~Está~: fotografia do momento…

    – E no filme? Lula ainda restará, no final?

    Item (C): golpes do futuro

    – O “lock-in” via Tratado internacional

    – A farsa ~e~ a tragédia da operação “Macron/ En Marche!” brasileiros

    – A blindagem do STF contra um novo Presidente de esquerda

     

    Valha-nos…

    (ao gosto do freguês)

    – … Deus/ Espíritos de Luz/ “Design inteligente”/ “Energias ‘do bem’ ~não~ antropomórficas”/ “Universo”/ caos aleatório randômico…

    – Tá valendo qualquer apelo!

     

    LEIA MAIS »

     

  3. Não vou tripudiar,não devo

    Não vou tripudiar,não devo tripudiar,essa não é essa minha formação,certo.Agora,pense num cabra safado:Geddel Vieira Lima.

  4. Animus.

    Em “estado de ânimo”, acho que o juiz refere-se ao animus com que a esposa do investigado tem em relação aos crimes praticados, ou seja, se houve ou não a “vontade” ou dolo em praticar o crime de interferir num processo em andamento. O próprio juiz Vallisney menciona que “isso pode prejudicar não só o processo, mas a própria esposa do investigado”.
    Espero ter ajudado, apenas com outro entendimento sobre a narração sobre esse trecho da audiência.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador