O embate das ideias econômicas no divã, por Mogisenio

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Mogisenio

Ref. ao post: O embate de ideias econômicas nas eleições

Caros debatedores,

Vivo  sob   perguntas sem respostas que me levam aos limites da ânima. No dilema.

De um lado, lá estou eu,  pessoa natural, individuo, proprietário do próprio corpo, poderoso consumidor no mundo assimétrico, homem complexo mas sem complexo de inferioridade, racional mas emotivo, hominal, gregário mas  gerador de conflito.   Do outro,   o invisível, as  forças ocultas,  poderosas, atentas, coletivas e repletas de soldados e representantes ambos submetidos ao árbitro coletivo, social, coercitivo,  abstrato, utópico e ideal.

Esses pensamentos, quando interrogados, não me deixam em paz!

Então, pensei em aproveitar  o presente post para  não apenas livrar-me,  ainda que provisoriamente,   destas malditas perguntas sem respostas, mas também  para  homenagear o princípio da transparência e o da publicidade,  em busca de  respostas e ao mesmo tempo  do  bom debate, isto é, daquele que respeita, concorda, discorda e apresenta soluções, respostas  ainda que passageiras.

Vamos então  às  perguntas. Vejamos.

Que diabos as forças ocultas estão planejando agora? Aliás, quem, exatamente, são essas forças ocultas e o que mancomunam agora  para  mais dias ou  menos dia,    me ferrarem? Será que estou atento  o suficiente para perceber,  antecipadamente,  algum conluio nessas ocultas forças  para me proteger a tempo?  Enfim, essas “forças ocultas” são inimigas e todos nós estamos condenados à prisão perpétua com serviços pesados e cruéis?

 Noutra linha, também me pergunto:

Quem sabe  essas “forças ocultas” não estão ai,  agindo a meu favor?  Posso tocar  meus projetos, (de vida) pois,  estes serão beneficiados pela atuação das “forças ocultas.   As “forças ocultas” são amigas? São ocultas só na minha cabeça, pois, a bem da verdade, são   transparentes?

E ainda passa pela minha cabeça:

será que eu sou um  otário a ponto de  ficar pensando nisso? Ou, quem sabe, “maluco beleza” ,“fora da caixa”,  com problemas  psicológicos,  necessitando, portanto, da ajuda dum profissional de  mente, da mente ou que mente,  para “sair” dessa, ou , entrar naquela? Será que preciso de outras análises além dessas de política- econômica-social  e os cambau para resolver meu conflito existencial?

Enfim, confesso-lhes que a luta interna é pauleira; heavy pesado, war pigs! Yeah! Premissas e variáveis mil,  levam-me a centenas de conclusões. E a verdade passa longe disso dai.

***** ( licença para copiar os asteriscos do  Nassif)

Vencida, por hora, a luta interna – com a ajuda dos asteriscos –  parto para a análise das informações elencadas no texto do r. jornalista.

Do Pochmann, já li livros. Bons livros. Aprendi  com ele. Já  conheço , mais ou menos, seu matiz de pensamento do qual concordo em boa parte.

Dos outros economistas,  ainda não. Não sei qual é  a deles. Então vou partir, única e exclusivamente,  das informações passadas pelo r. Nassif, em relação a estes dois.

Pelo visto, eles estão focados nos princípios da gestão. Fundamentam-se na lei de responsabilidade fiscal, na clareza nos gastos públicos, nos subsídios, na segurança, enfim, naquele receituário  já conhecido.

Dito isso, cabe ressaltar  um primeiro ponto:  A lei complementar nº 101 de 04 de maio de 2000.

Os  economistas da corrente , desavisados como de hábito, parecem que não conseguem ler o que está escrito na lei.  Então, não tenho outra escolha a não ser dizer que a lei citada “estabelece normas  de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na GESTÃO fiscal e dá outras providências!

Repararam? Não se trata de lei de responsabilidade fiscal, mas sim, de lei de responsabilidade na GESTÃO FISCAL E OUTRAS PROVIDÊNCIAS!

Ora, se os  economistas procuraram postulados de GESTÃO para fundamentar suas conclusões já começaram mal ao mencionarem  lei de responsabilidade fiscal, omitindo-se , justamente, o vocábulo GESTÃO , bem como as outras providências!

Esse detalhe parece bobo   mas não é! Longe disso.  Há muita diferença de significados entre asexpressões  lei de responsabilidade fiscal e lei  responsabilidade na gestão fiscal e outras providências.  Notem que  a responsabilidade é na GESTÃO fiscal.  E a gestão é consequência de ações humanas. Propaga-se pela decisão humana.

Tratar essa lei como “lei de Responsabilidade fiscal”  pode, ou melhor tem levado  à interpretação equivocada de muita gente boa, exceto, economistas “liberais”. Isso  porque , estes, quando não se equivocam na interpretação,  erram na proposição. São liberais,   naturais e atemporais, mas, é claro, sob segurança antiliberal. Algo me lembra os sofistas…

Estes economistas  parecem idolatrar aforismos do tipo:  “impostos” precisam ser “simplificados” e  reduzidos; gasto público só na infra e sem licitação ou com licitação que gera a melhor TIR do mundo;  educação é tudo; mérito se consegue no “mercado”, isto é, na mão invisível com “livre” iniciativa . Curiosamente, a “mão que pretende ser invisível requer  transparência para crescer economicamente.   

Pausa para mais um dilema interno daqueles  reflexivos:

Nesse momento, percebo que meus problemas mentais  já não são tão ruins assim,  diante dos  tautológicos  representantes da mão  invisível liberal sem contexto, que,  paradoxalmente, almejam transparência e segurança no contexto.

Refletindo-se um pouco podemos pensar em: mão   visível( ou boba),  liberal,  caudilhista e  conservadora( institucional)  que deseja  ordem, progresso, segurança e propriedade privada SEM função social na terra dos 400 anos de escravidão que propaga, equivoca ou enviesadamente,  o berro liberal de 07/09/1822 como sendo o  dia da independência. Ora, comemoraremos também a independência do dia 13/05/1888 ainda que esta não seja tão “liberal” assim.

 Na terra dos 400 anos de “liberdade” do capital  cujos fatores de produção se limitavam ao   latifúndio e ao escravo na monocultura,  não podemos deixar de comemorar a independência de 13/05/1888 ainda que esta seja uma data fraudulenta!

A  mucamba  da macumba e  do preto velho, do banto e da Mauritânia  que mouravam e mouram (*) no eito, agradeceriam.

(*) trabalhar  100 horas por dia com muita “produtividade” e sem “educação”!

*****

Escolas de pensamento, sobretudo, do  pensamento econômico “ natural”,   servem para NÃO  pensar o que pensa a maioria. Partem do reducionismo cartesiano para explicar o todo. Propagam sofismas já amplamente  combatidos pela tese  sistemática da biologia.

Pensam que pensam o devir social. Não pensam. Todavia, sugerem, sugestionam, criam e reproduzem  “verdades” na cabecinhas dos desavisados os quais, cooptados,  serão seus  papagaios.

Lamentavelmente, cola. Devemos reconhecer aqui o êxito, só que com  demérito. 

A educação de qualidade  , ao contrário do que pregam, é aquela que combate tais sofismas.

Ai sim, após o combate e os esclarecimentos das regras do jogo, a educação de qualidade teria condições de manter ou propor, reformar,pactuar e  mudar, as regras. Ai sim. Estaríamos no ambiente liberal que defendo e com muito mérito impessoal, porém, fraterno e solidário.

*****

A educação sugerida  e sua parceira produtividade , para gerar resultado e garantir empregos com carteira assinada,  devidamente contextualizados, não debate nada, não discute nada e por isso mesmo, não muda nada! E com um agravante: tudo isso deixando a ideologia de lado. Serve pra mourejar!

Zizek,  foi feliz ao mencionar, mais ou menos assim:  pense o que quiser, tenha a “ideia” que desejar, desde que esteja de acordo com a minha “ideia”.  Genial não?

Baseando-se nisso, que tal pensarmos  na seguinte proposição econométrica: corram atrás dos indicadores econômicos e se ajustem, afinal, são eles que nos mostram o que defemos ou não defemos fazer!

Invertemos os papéis.

*****

Bom, caros senhores, essas são minhas considerações iniciais. Espero ter provocado algum debate do tipo já mencionado.

*****

Voltando para o conflito interno e meus dilemas crocodilianos.

Até mais

Saudações 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. “Enfim, essas “forças

    “Enfim, essas “forças ocultas” são inimigas e todos nós estamos condenados à prisão perpétua com serviços pesados e cruéis?”:

    Sim.

  2. excelente texto,


    excelente texto, abrangente.

    remete-me a machado de assis.

    o crítico literário roberto schwartz em  seu livro Machado de Assis e a Periferia  resume mais ou menos assim a ideia machadiana que ele acha que explica o principal problema da elite brasileira.

    a elite – tipo neca do itau, digamos, pra atializar o pensmento –

     importa tudo da vanguarda digamos europeia – iluminismo, por exemplo,

    arroga-se o direito único de dominar esses conhecimentos e se mostraria portanto progressista.

    liberdade, democracia,agora incluindo  a nova política mmarinista –

    tudo muito bonito e bem usado como teoria.

    mas na hora de lidar com seus iguais aqui no nosso país,

    açoitam os escravos,

    agora demonizam,

    criminalizam os movimentos sociais

    e os governos trabalhista – suicídio de vargas,

    golpe  cívico-militar contra jango em 64,

    tentativas de golpe contra lula desde 2003

    e agora esses ataques perversos contra dilma,

    numa repetição histórica (soando como farsa trágica)

    que unem intreresses da alta burguesia retrógrada brasileira

    com o ocronelismo eletronico

    consorciado até recentemente com o psdb.

    mas como o psdb já é meio carta fora do baralho, esse interesses se juntam a marina para nos ferrar.

    confesso que essa palavra está me atazanando a vida

    e pelo jeito de muitos porque é inconcebível sofrermos tanto depois de tantas lutas.

    na minha opinião os economistas deveriam mesmose ater aos dados economicos e não desvirtuá-los.

    aliás, a essa tese sociológica do professor scwartz,

    poderia ser acrescentado outro item que permeia as discussões nesses últimos tempos.

    a elite, além de importar ideias

    e praticar verdadeiros absurdos contra o povo,

    distorce-as,

    manipula-as,

    violenta-as,

    copia o que há de pior, principalmente agora dos states.

    acabamos com o refugo dos refugos.

    e os crápulas de sempre acabam se refugiando

    e nos sacaneando com esses refugos de bosta de urubu

    (que por coincidencia(?)no dicionário informal da web significa Itau.

     

    1. Infelizmente o “atraso” se espalhou pelo mundo…

      Schwartz muito digno com a grande ironia do velho Machado: a elite brasileira é a cara do atraso.

      Só que acho que vai além. A mediocridade não impera apenas na nossa elite a mediocridade é das elites… A gente conversando na quinta feira sobre o “atraso” em Portugal, (isso que explodiu desde a Reforma e o Absolutismo culminando nos tais “iluminados”) e mais recentemente se alastrou por toda a Europa… Que civilização é essa? Pobres intelectuais e artistas potugueses, no afã de copiar as “ideias fora de lugar” que varreram a Europa permaneceram e permanecem na periferia do capEtalismo.

  3. Humano

    Obrigada Mogisenio, seu texto é ar. Arte para respirar-inspirar.

     

    Que mundo descontrolado, ou há controle no caos? E se o que parece casos é controle?

    Somos autômatos? Humanos inumanos que abandonam a criação e morrem abraçados aos resultados vazios… SILENTES, ausentes de significado, criadores de morte e destruição.  Desejo transformado em consumo. Ideal transformado em vazio. Felicidade-dinheiro. Papel verde.

    E o ser? Máquina? Voltemos ao ideal social aristotélico do espaço para ser. Sofisma? Para o lixo agora!  Sai de mim! Sai daqui cientificismo frio, cínico, cênico.

    Vamos abraçar a arte e o outro.  sem outro não há nada, só vazio…

  4. Oh! Dia, Oh! Dúvida, Oh! Azar

    Está no Tao.

    O caminho que pode ser seguido

    não é o Caminho Perfeito.

    O nome que pode ser dito 

    não é o Nome eterno.

    No princípio está o que não tem nome.

    O que tem nome é a Mãe de todas as coisas.

    Para que possamos observar os seus segredos

    devemos permanecer sem desejos. 

    Mas se em nós mora o desejo

     a única coisa que  podemos contemplar é a sua forma

    externa. A casca que a essência oculta.

    Êsses dois estados existem para sempre inseparáveis.

    Diferentes unicamente em nome.

    Conjuntamente idênticos, unidos, inseparáveis.

    São os chamados Mistérios!

    Mistério além dos mistérios

    O Portal que conduz a tudo aquilo que é sutil e maravilhoso

    ao recôndito segrêdo de todas as essências!

  5. Delícia de texto.
    Mais um que

    Delícia de texto.

    Mais um que desmascara o ardil do discurso neoliberal que engana alguns e seduz outros poucos.

    Sofismas

    Linguagem, conceitos e eufemismos como armas usadas pelos senhores do andar “de cima” e massificado por jornalistas e economistas para maximizar a riqueza e a eficiência do neoliberalismo.

    O último mantra foi o “novo” que se desfez rapidamente em Serra, depois Aécio, e agora  Marina que não se sustentou assim que ela começou a abrir a boca.

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