O Estado é importante para todos, diz representante da Oxfam no Brasil

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Lourdes Nassif e Pedro Garbellini

Jornal GGN – A Oxfam, uma Confederação internacional de ONGs, foi fundada em 1942, na época da Segunda Guerra Mundial,  com a missão de levar ajuda humanitária, naquela época, para a Inglaterra. Ao longo dos anos, a Oxfam foi crescendo e se tornou uma Confederação, hoje com 20 membros atuando  em 94 países.

A Ong atua tanto com trabalho humanitário de emergência em área de conflito ou por desastre, como também atua com programas de desenvolvimento de mais longo prazo e campanhas públicas.

No Brasil a organização está há mais de 50 anos. Começou no Nordeste e, a partir de 2015, foi definida a criação de uma Oxfam brasileira, uma Ong brasileira que está sendo consolidada agora. No Brasil, as atividades da Ong estão sob o comando de Katia Drager Maia, diretora executiva, com sede em São Paulo.

Em entrevista concedida a Luis Nassif, do Jornal GGN, Katia explica que a manutenção da Oxfam, com seus 20 membros, é diversificada. Algumas contam com recursos de governos, ou de cooperação tradicional, como é o caso da Holanda. Outras recebem maior volume de recursos dos próprios cidadãos, como acontece na Grã-Bretanha.  A Oxfam lá tem mais de 3 mil lojas e 10 mil voluntários, sendo uma das maiores Ong’s da Inglaterra.

A organização soltou o estudo que levantou polêmica, mostrando que 1% da população detém o mesmo volume de riqueza dos 99% restantes.  A Oxfam começou a trabalhar o tema da desigualdade mais profundamente há dois anos. Em janeiro de 2015 foi lançado um estudo parecido, focado em Davos, onde a primeira análise foi feita em cima de dados do Banco de Crédito Suíço e da Forbes. O estudo lançado agora é, então, o segundo feito pela Oxfam, tendo sido elabora por uma equipe internacional composta por economistas, estatísticos e cientistas políticos.

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A representante da Oxfam explica que a metodologia utilizada pela ONG dialoga com a metodologia de Pickett, que foi uma inspiração. Na conclusão, desde a crise de 2008, muito aumentou a concentração de riqueza, caindo de 80 bilionários para 62, que têm o mesmo que os 3,5 bilhões mais pobres.  E, segundo Katia Maia,  aquilo que vai dirigindo a concentração de riqueza não está sendo atacado.

Para o relatório, os especialistas da Oxfam cruzaram a Lista Forbes com a do Crédito Suíço, trabalhando depois os dados.  Basicamente são vários pontos para o aprofundamento da análise. O Crédito Suíço solta, todo ano, um relatório da riqueza mundial, uma análise da riqueza do mundo, dos indivíduos. Ele dá mais a parte financeira, isto é, quanto mais você tem, mais você aplica, mais você ganha. Muitos desses 62 são bilionários por heranças, isto é, vem de aplicação da aplicação. Então, se você não taxa, isso só vai multiplicando. Este é um ponto.

“Outro ponto a ser analisado é a questão dos incentivos fiscais, onde há toda uma perda de arrecadação daqueles recursos que seriam importantes para os governos atacarem as questões de saúde, educação, transporte, moradia, que são questões importantes para o enfrentamento da pobreza”, explica Katia. Além do mais, existe a questão de todo esse poder econômico ter influência junto ao governo e ao estado para a definição de políticas públicas. “Por exemplo, a Corte de Propriedade Intelectual. Quando ele foi definido, décadas atrás, foi feito com presença massiva da indústria farmacêutica. Então o poder econômico desses bilionários, dessas grandes empresas, se não se tem uma política de transparência de como funciona o projeto de lobby ou incidência, é um outro fator”, diz ela. E os paraísos fiscais entram como outro ponto, bem como a questão da distribuição do imposto.

No tocante à distribuição do imposto, é a diferença do enriquecimento advindo do capital ou do trabalho é muito maior. “As condições trabalhistas estão cada vez piores”, lembra Katia, e os salários estão sendo reduzidos”. E quem está perdendo é o trabalhador, basta olhar alguns setores industriais como a indústria do vestuário, com condições degradantes.

O Brasil, segundo a Oxfam, é usado como referência de avanços que ocorreram em termos de políticas de combate à pobreza, especialmente o combate à desigualdade de renda. “Realmente cresceu a renda de uma massa maior”, diz a representante da Oxfam, “porém a desigualdade, entre essa turma e a turma de cima, em números absolutos continua estrondosa”. Katia explica que a inclusão, nesses novos países, com enfrentamento da questão da desigualdade e pobreza, continuam sendo ameaçadas por esse cenário mais global.

”Uma das coisas que a gente percebe é a importância do papel do Estado”, diz Katia. “Existem políticas que, se realmente não forem do estado, não tem como resolver”, explica, mesmo que se tenha como crítica a questão da eficiência. “Mas existem responsabilidades que são do conjunto da sociedade, que realmente faz a diferença você ter um Estado capacitado. E pra você ter isso com força para poder fazer as mudanças necessárias, a participação da sociedade civil é muito importante”, explica. E continua com a informação de que o trabalho da Oxfam, especialmente na África, com muitas organizações locais, realmente contribui para um fortalecimento da sociedade civil que poderá fazer esse contrabalanço dos interesses nos países.

Instada a responder se a demonização do Estado estaria na base dessa concentração de riqueza, Kátia Maia disse que os números dos relatórios mostraram que muito desse aumento de riqueza pressupõe a presença do Estado. “Quer dizer, se o Estado funciona para a riqueza o Estado tem que funcionar para combater a pobreza, senão não seria justo”, conclui. “O Estado é importante para todos”, diz.

O relatório completo pode ser lido a seguir.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. eu aposto que ela  nao é mais

    eu aposto que ela  nao é mais a mesma,  de um jeito ou de outro  sempre  colabora  com a  inglaterra e  EUA,  nao tem  jeito  a  pressao  dos poderosos  é tanta  que  a  confederaçao nao  resiste.  

  2. O mundo vai jubilara as dívidas, mas têm de ser surpresa

    The only question is whether we are able to look reality in the eye and face what is coming in an orderly fashion, or whether it will be disorderly. Debt jubilees have been going on for 5,000 years, as far back as the Sumerians. (Willian White, former Ceo BIS 19/1/2016)

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    http://www.telegraph.co.uk/finance/financetopics/davos/12108569/World-faces-wave-of-epic-debt-defaults-fears-central-bank-veteran.html?WT.mc_id=tmgoff_pq_tw_20150423

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