Sugerido por jc.pompeu
Do O Globo
Um dos mais longos casos de censura a uma obra de arte no Brasil teve início no dia 26 de outubro de 1976. Ao saber da morte do pintor Di Cavalcanti, o cineasta Glauber Rocha correu para o funeral, com a câmera na mão e a ideia na cabeça de homenagear o amigo de longa data. O registro virou o curta “Di-Glauber” que, até hoje, poucos brasileiros puderam assistir. O filme estreou juntamente com “Cabeças cortadas”, em 11 de março de 1977, na Cinemateca do MAM, e logo após a primeira sessão, a filha adotiva do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, iniciou sua batalha para proibi-lo. Em 1979, a 7ª Vara Cível concedeu liminar a um mandado de segurança impetrado por Elizabeth, vetando a exibição do filme. A decisão vale até hoje.
Em 2004, um sobrinho do cineasta disponibilizou o filme na internet, mas, nos cinemas, “Di-Glauber” — cujo título oficial é “Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua quimera, somente a ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável” — nunca pode fazer carreira. Glauber passou a noite da estreia na delegacia, tentando resolver o problema. Algumas cópias chegaram a passar em universidades, mas a decisão judicial impediu novas exibições.
Segunda a família, na década de 70, num encontro em Paris, Di e Glauber teriam feito um acordo. Di pintaria Glauber e seria filmado pelo cineasta. Ironicamente, Glauber teria perguntado a Di se queria ser filmado “vivo ou morto”. Quando soube da morte do amigo, o cineasta resolveu registrar as últimas imagens do artista plástico. Pegou sua câmera 16mm e filmou o velório no MAM e o sepultamento no cemitério São João Batista.
O filme ganhou o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes, em 1977, antes que a Justiça proibisse a exibição em território nacional. A filha de Di considerou a obra desrespeitosa, por mostrar o pai morte. Na época, Glauber justificou dizendo que “filmar meu amigo Di morto é um ato de humor modernista-surrealista que se permite entre artistas renascentes: Fênix/Di nunca morreu. No caso o filme é uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita-trágica condição”.
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Graças a internet pude
Graças a internet pude assistir esse curta-documentário.
Interessante retomar esse caso no momento que se discute as biografias não autorizadas, acho que se mudar a lei esse documentário e outras obras artísticas fora do cinema e literatura poderiam ser beneficiadas.
“Ao saber da morte do pintor
“Ao saber da morte do pintor Di Cavalcanti, o cineasta Glauber Rocha correu para o funeral, com a câmera na mão e a ideia na cabeça”
Em ENTERROS, a imprensa SEMPRE RESPEITA quando a família quer privacidade. Quem de nós desejaria uma “homenagem” dessa ao próprio pai ??? E pior ainda…vê-lo MORRENDO A CADA EXIBIÇÃO DO “FILME” ??? Não há família que se cure, da perda.
O filme é o Ó !!! ;(
Um cadaver todo tamponado…é MACABRO, BIZARRO.
Acredito que foi um “escorregão” profissional do Glauber, que devia estar em um ” dia ruim”, para priduzir uma “EME” dessa.
A vida não é um longo rio tranquilo
Não acredito que o proprio Di Cavalcanti fosse conta esse filme. Mas as pessoas estão sempre tomando decisões em nome de seus proximos, achando que fazem o bem, quando o que fazerm realmente é sufocar ou castrar o outro.
Isso , sim, é um típico caso
Isso , sim, é um típico caso de invasão de privacidade. Até os programas sensacionalistas respeitam velórios e cerimônias funebres reservadas aos familiares e mais íntimos. Na época, causou pessima imrpessão saber que Glauber e sua equipe entraram sem pedir licença. Isso não é censura, é manter a privacidade de um momento de dor, um dreito de todos os sers humanos. E quem disse que Di Cavalcanti queria ser filmado no caixão? Glauber? Então, tá… Menos, gente.
Mais uma vez a genialidade
Mais uma vez a genialidade de Glauber. O texto é impagável. O velório, de Di e seu enterro,servem de pano de fundo para a original homenagem do grande cineasta ao grande pintor. “Avant la letre”,como mostra sua obra cinematográfica,somente o tempo contribui para sua melhor compreensão. Provocador, era sua marca e polêmico manteve-se assim até a sua controvertida “causa mortis”. A pantera também o acompanhou Glauber, nos seus últimos anos no exílio português..