O “Grande Acordo” é o nó górdio do Brasil, por Aristóteles Coelho

No país, a expressão “Grande Acordo”  não goza de boa reputação, pois quase sempre traduz varrer a sujeira para baixo do tapete
 
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Por Aristoteles Coelho
 
Comentário do post ‘Xadrez da barafunda institucional do pós-Temer’ 
 
Conta-se que o rei da Frígia (Ásia Menor) morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um enorme nó a uma coluna. O nó era, na prática, impossível de desatar e por isso ficou famoso.
 
Górdio reinou por muito tempo e quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria todo o mundo.
 
Quinhentos anos se passaram sem ninguém conseguir realizar esse feito, até que em 334 a.C Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. Lenda ou não o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.
 
(Wikipédia)
 
O “Grande Acordo” é o nó górdio, no Brasil a expressão “Grande Acordo”  não goza de boa reputação, pois quase sempre traduz varrer a sujeira para baixo do tapete, eu não te puno, você não me denuncia, esqueçamos o passado recente, foi mal, daqui para frente tudo vai ser diferente e vamos todos viver felizes.
 
Temos uma tradição de apaziguamentos, a independência foi negociada, a república, proclamada por um velho marechal doente, manteve quase intacto o sistema anterior, em 1930 tivemos um quase rompimento, mas no frigir dos ovos houve apenas um afastamento temporário do PRP, que se maquiou deu uma repaginada no visual e voltou como UDN.
 
Foi-se então ao estado novo, uma forma de se controlar as demandas sociais sem correr o risco de cair no temido comunismo, vem à redemocratização pós-guerra e o antes ditador volta nos braços do povo escanteando o PRP/UDN, esses não descansaram até tomar o poder em 1964 pela via soldadesca, o PRP/UDN se maquia de novo e vira ARENA.
 
Manda e desmanda até que no fim da década de 70 o ciclo claramente dava sinais de esgotamento e novamente tivemos “um Grande Acordo” mantendo intacta a super estrutura de poder que governa desde que índios trocavam pau-brasil por espelhos.
 
A Nova República como brilhantemente narrou o mantenedor desse espaço foi uma experiência de democracia “nunca dantes” experimentada por essas terras tupiniquins, mas embaixo da fabulosa mansão democrática estava o mesmo barraco intocado que de “Grande Acordo” em “Grande Acordo” nos trouxe até aqui.
 
Nos últimos tempos o jogo ficou mais extremo, depois de 12 anos consecutivos de governos Social Democratas, sim, porque o verdadeiro partido social democrata é o PT, o PSDB apenas quer, ou melhor queria, ser um, quando da sua fundação era chique, dava um ar europeu que um certo sociólogo adora, mas como dizia, doze anos de abstinência levaram a síndrome de Aécio, que ao invés de aceitar que doe menos resolveu chutar o balde, mas o excremento acabou batendo no ventilador e atingindo a todos.
 
Não há duvidas de que o país não agüenta uma guerra sem fim, mas quais os termos da rendição, ou seria armistício? Haverão julgamentos por “crimes de guerra”? “Generais” que promoveram massacres vão responder por seus crimes? Se definirão termos para que haja uma convivência civilizada sem ganhadores nem perdedores? Se o “Grande Acordo” for como os anteriores temo que apenas varreremos novamente o problema para debaixo do tapete.
 
 
 
Redação

6 Comentários

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  1. Outra lenda que deve ser revista

    A caixa de Pandora. mas sem esperanca nela.

    E estamos condenados como Prometeu ao suplicio eterno.

    So a Revolucao salva!

  2. num pais que se formou na

    num pais que se formou na violencia do morgadio, que usava conselhos para defender interesses proprios, num pais onde a posse da terra e a riqueza que ela gera nasceu dissociado da comunidade, num pais que deixou legal essa posse nas lei de terras de 1850 e ainda nao para de grilar terras, com empresarios que ficam milionarios nas maracutarias da privataria e ainda querem tirar os parcos direitos dos trabalhadores e um judiciario pronto a dar guarida pois tem relações de compadrio que com membros do executivo e legislativo não dá pra falar em acordo sem antes jogar a sujeira pra debaixo do tapete. é aquela história: muda para ficar como está. daqui mais um tempo as chantagens recomeçam pois essa gente nao sabe viver fora do poder e a sua força é a de tomar terras e a de fundar cidades para reproduzi-los ou no poder local ou federal e ter a retaguarda necessaria para mesmo cometendo crimes continuarem no exercicio do poder.. essa  é a grande sacada. até que atirem o brasil no abismo novamente. essa é a estrutura que permanece no brasil , de familias, de linhagens que se casam entre eles se necessario for para permanecer como está.

  3. Grande acordo

    Não acredito que um grande acordo possa retirar o país da situação caótica que se encontra. Um grande acordo seria e será ótimo para a oligarquia.

    Esse pretenso acordo, irá marginalizar, ainda mais, os movimentos sociais.

    Vejo que a única saída é o enfrentamento, devemos engrossar as fileiras dos movimentos sociais, devemos exigir que a esquerda definitivamente se una, não em torno de um salvador, mas em torno de propostas claras de enfrentamento, resagate da Petrobrás, reforma tributária com imposto para rentistas, grandes fortunas, mercado financeiro, fim da reforma trabalhista e previdenciária, tributação de latifúndios, lei dos meios de comunicação

    Para isso essa união das esquerdas deve mobilizar trabalhadores e classe média, lembrar e esclarecer a esses últimos que eles fazem parte da massa explorada e expropriada, que o transporte, a saúde, a educação não funcionam porque esse é o interesse da “casa grande”, interesse apenas no rentismo financeiro e não na produção.

    Talvez esse seja o momento do grande salto, de retormar as reformas populares que não foram aprofundadas por Lula e Dilma porque decidiram pela conciliação. Mobilização popular essa é a saída, sairmos dos nossos casulos de individualismo e vermos o outro como nossa extensão de vida, celebrar a união, o encontro.

    Chega de mortadelas e coxinhas que só servem a turma do caviar!

  4. Um resumo aos comentários abaixo face ao Grande Acordo

    Estamos todos a pregar a convertidos. Mas, vamos lá, este espaço permite desopilarmos os nossos intoxicados fígados e almas plenas de angústia, frustração e impotência, sentimentos estes aglutinados na desesperança.

    Conhecemos e experimentamos os acordos feitos para sairmos, ou melhor, para furgirmos de situações impossíveis em que nos embretamos de tempos em tempos. Na história recente há dois cujos desdobramentos bateram às nossas portas e invadiram nossas vidas dando as bases para o momento. O primeiro foi o acordão com a Ditadura. Nem sequer penso ter sido a eleição de Tancredo, o que foi sem ter nunca sido. A morte nos salvou deste, não se iludam com a construção de imagem, vinho da mesma pipa era tão calhorda quanto o seu sobrinho-neto, apenas perdeu a oportunidade de comprovar o fato. Sua introdução no cenário foi um misto de oportunismo com a conveniência e foi um componente do acordão da época. O real objetivo era manter o status quo deixando a impressão de uma grande mudança. Os interesses do poder seriam preservados, como o foram. Não se buscariam os grupos privados que sustentaram e se aproveitaram da ditadura e não se puniriam os líderes militares e os demais pelos crimes cometidos, inclusive, aqueles de indelével corrupção. O segundo, foi o “Lulinha Paz e Amor”. Acredito que esse foi tácito, não declarado e se deveu ao pragmatismo sindical de Lula e do PT, mas de forma similar buscou compor com o poder tradicional com o mesmo fim, não mexer com estruturas e preservar interesses.

    Agora estamos no limiar de outro acordão. Tudo indica que, além de ser produto do caldo de cultura tradicional que remonta aos primórdios da política brasileira, resulta diretamente dos dois citados, mais recentes. Ao não romper, impondo uma derrota inconteste e uma rendição incondicional às estruturas anteriores de poder, além de deixá-las passar incólumes, permitiu-lhes se apropriar das narrativas criando mitos como “no tempo dos militares não havia tanta corrupção” ou o “PSDB é a modernidade e representa um modelo eficiente de governar e ético de fazer política”. São, entre muitas, falácias que se contrapõem e se erguem contra os interesses da maioria, usadas com hipocrisia mas com eficácia, graças a acordos que, negociados ou propostos e aceitos tacitamente, se firmaram. No passado permitiram se varrer o lixo para baixo do tapete, manter fechada a caixa de pandora e deixar tudo como dantes no quartel d’Abrantes. Agora permitem que outro seja arquitetado, exatamente com os mesmos objetivos e para defender os mesmos interesses.

    A única saída para romper o ciclo é deixar a panela ferver, o caldo entornar e fazer os cozinheiros, desta vez, “pagarem o pato”. Descer o facão no nó. Sem descuidarmos do risco de sermos usados, novamente, como massa de manobra, bucha de canhão, instrumentos úteis para os que defendem interesses que, cedo ou tarde, podem vir a se mostrarem conflitantes e incompatíveis com os nossos, os “zé-povinho”. Conclusão, entre a cruz e a caldeirinha estamos na mesma, feito o burro olhando para a montanha.

  5. Aqui estão os termos do acordão (1):

    “ACORDÃO”: COMEÇA O FIM DA LAVA JATO (“TOO BIG TO FAIL”, ESTÚPIDO!)

    Por Romulus & Núcleo Duro

    – A Medida Provisória que permite ao Banco Central celebrar acordos de leniência – secretos! – com os Bancos muda o jogo.

    – Esvazia sobremaneira o poder de chantagem da Força Tarefa da Lava a Jato – e de Palocci! – sobre o Mercado: a “bomba atômica” está em vias de virar uma…

    – … biribinha (!)

    – Esse fato – tomado isoladamente – é ruim para o PT. E para Lula (!)

    – Mas…

    – Sempre se pode contar com a estupidez dos Procuradores de Curitiba. Eles que – até agora! – ainda não entenderam que o Acordão é…

    – … I-NE-VI-TÁ-VEL!

    – Por quê?

    – Ora, “é o too big to fail, estúpido!”.

    – No caso, literalmente “estúpidos” M E S M O.

     

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  6. Aqui estão os termos do acordão (2):

    LAVA A JATO: “VISITA DA SAÚDE” (ANTES DA MORTE) – A DELAÇÃO DOS BANCOS POR PALOCCI

    Por Romulus & Núcleo Duro

    Aí vocês me perguntam:

    – Mas então você está tranquilo, Romulus?

    E eu respondo “tranquilamente”:

    – Não: estou APAVORADO!

    Enquanto o Dallagnol e cia. não entenderem que em Banco não se mexe (e eles não entenderam ainda, como verão mais abaixo…) e não aprenderem o que é “too big to fail”, “risco sistêmico”, corrida bancária e “alavancagem” de instituições financeiras (falidas contabilmente “de fato”), estamos correndo um ENORME risco.

    Imagina quantos novos seguidores o Dallagnol não pensa que vai ganhar no Twitter falando que “prende e arrebenta”…

    – … os Setúbal/ Aguiar/ Safra/ Dantas/ Esteves??

    Bancos:

    – Ruim com eles…

    – … HOLOCAUSTO NUCLEAR sem eles!

     

    LEIA MAIS »

     

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