O lobista que (não) investiu em restaurante

A instrumentalização do inquérito policial e das delações chegou a níveis agudos.

Tome-se o caso de Felipe Torres.

Com 40 anos, cumpriu uma carreira vitoriosa no setor privado. Foi alto executivo da Whirlpool Latin America, da Ambev, e da F2B, fundo criado por investidores norte-americanos para atuar no segmento de meios de pagamento eletrônico.

Em 2015 decidiu entrar no mercado de franquias. Estudou o mercado e optou pelo Madero Steak House, uma franquia de Curitiba, uma tentativa de oferecer hambúrguer gourmet. A ideia foi instalar-se em Piracicaba. Já pensava em mudar-se para o interior e tinha adquirido uma casa em Limeira, próxima a Piracicaba.

Aí entra o fator político. Felipe é sobrinho da primeira esposa do governador mineiro Fernando Pimentel, e praticamente foi criado por eles. Em conversas com Pimentel, falou de sua intenção de buscar um investidor para repartir o risco. Pimentel comentou com Benedito Rodrigues de Oliveira, o Bené, empresário com influência no governo mineiro, dono da Gráfica Colorprint – que se tornou alvo de investigações do Ministério Público Estadual de Minas.

Houve duas conversas entre ambos que não levou a nenhum negócio.

Em junho de 2015, com a crise batendo forte, o faturamento da casa caiu 30% e passou a dar prejuízo. O contrato de revenda vencia em setembro. No dia 31 de setembro Felipe exerceu a opção de venda por R$ 4,8 milhões – a valorização se explicava porque já se tinha uma casa montada e com freguesia.

Tempos depois, Bené foi detido e aderiu à delação premiada. Tendo que entregar alguma novidade, como Felipe era a pessoa mais próxima do governador, enfiou-o na delação, com a história do restaurante de Piracicaba. Em seguida, a delação vazou para a revista Época e para sites ligados aos delegados da Lava Jato, e tornou-se escândalo (http://migre.me/upuzP). Segundo a reportagem, a pedido de Pimentel, Bené irrigou o restaurante. “O dinheiro, entretanto, era tóxico, fruto de caixa dois, de propina, aquela espécie de valor que corre oculto pelas mãos de alguns que operam grandes decisões em Brasília, como fora Pimentel”, concluiu a revista, com o estilo folhetinesco que passou a dominar as revistas semanais.

De nada adiantaram as explicações de Felipe de que não havia recebido dinheiro algum de Bené, nem a comprovação de sua renda anterior, nem os comprovantes de pagamentos aos fornecedores. Nem adiantou saber a motivação de Bené: os alertas de Felipe a Pimentel sobre a má fama do lobista.

Tudo foi exposto, uma marca respeitada, a Madero, um executivo sem mancha na sua carreira. São os crimes de imprensa que, certamente, serão debitados a acidentes de percurso. Infelizmente, hoje em dia esse tipo de manobra passou a fazer parte do novo normal jurídico e político.

 

 

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. obviamente que num país de

    obviamente que num país de miseráveis que nem sabe como conseguir um prato de comida, nunca vai entender como conseguir milhões  na hora que quiser

    1. É comovente como os

      É comovente como os miseraveis tem tantos comentadores preocupados com  sua alimentação, e um passarinho comentou na minha janela que é curioso que esses preocupados comentadores não demonstrem a mesma preocupaçao com o fato de ter sido derrubado um governo que como nunca antes reduziu a miséria desses miseraveis.

    2.   Escrever você obviamente

        Escrever você obviamente não sabe, mas sabe ler? Se sabe, leia o texto antes de comentar. Se não entendeu, leia de novo – faça isso sucessivas vezes e em outra oportunidade evite passar vergonha.

       

    3. Qual parte do post do Nassif tu não leste?

      A parte que trata de não ter sido feito nenhum negócio entre os envolvido?

      A partq em que cita a carreira do investidor (geralmente muito bem remunerados)?

      A parte que trata da refenda e da valorização do negócio?

      A parte da perseguição política?

      A parte das comprovações dos pagamento?

      Ou tu somente queres dizer que o cara é ladrão corrupto?

  2. Será que vale a pena estar

    Será que vale a pena estar nesta luta?

    Você entrar num restaurante e pessoas te chamar de bandido?

    Estar preocupado dentro de um hospital e pessoas que você NUCA VIU te agredir?

    Não é melhor seguir com seus ideiais numa outra terra, num outro pais?

    Quantas pessoas de esquerda já não se fizeram esta pergunta?

    Quando janaina acusou a Dilma, junto com o Hélio bicudo, o que eles defendiam?

    Defendiam isto que está ai?

    Imaginaram que o aécio era o homem certo para ser o presidente? 

    Bom para ELES JANAINA E BICUDO, A PERÍCIA DO MP JÁ DEU UMA RESPOSTA QUE A POBREZA DO CONHECIMENTO DELES NÃO ALCANÇOU…

    E agora?

    A corrupção DE VERDADE JÁ ESTÁ ACONTECENDO…

    Muitos vão viver sua vida…

    Mas, se o povo não tomar para si este fardo, deixar nas costas do LULA, da Dilma e da esquerda…

    Tudo será em vão…

  3. Sim, corja sim

    Aqui na nossa querida Minas Gerais a dupla Pimentel-Odair Cunha Furnas protege a corja do Aécio que assaltou o Estado. A vida segue.

  4. Triste daquele que cai na

    Triste daquele que cai na desgraça dessa imprensa maldosa, que enxovalha nomes sem provas cabais. 

    Como diz Lula, primeiro se coloca a pessoa no centro de acusações, enxovalhando seu nome, quando não também de toda a família. Se não houver mais nada a revelar porque a primeira notícia era mentirosa, o caso morre, quando a pessoa mereceria ao menos uma desculpa.

    O que está em jogo nessa história, como em tantas, é a desconstrução do governador Pimentel, porque é petistas, e pelo fato de ter vencido em MG os tucanos. Como vimos, se até um garçom do Planalto foi dispensado por ser petista, que dirá um governador. 

    Aliás, temos visto exonerações de cargos comissionados de petistas a torto e a direito. É a forma rasteira e cruel de intimidá-los, já que demiti-los é outra história, pelo menos enquanto não vem uma EC que facilite essa crueldade maior. 

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