O que a esquerda tem diante de si, por Wladimir Pomar

Por Wladimir Pomar
 
Do Brasil Debate
 
Pensando em longo prazo: O que a esquerda tem diante de si
 
Se houver a correção de rumos estratégicos e táticos da esquerda, em especial do PT, há a possibilidade de colocar os golpistas contra a própria parede que estão construindo, disputar as eleições de 2018 com forças renovadas, e tomar a luta por uma Constituinte de reformas democráticas e populares como um dos eixos de uma nova estratégia de mudanças
 
 
Em qualquer processo de longo prazo, muitas vezes até mesmo para garantir sua continuidade, faz-se necessário um parênteses de ajustamentos ou mudanças estratégicas e/ou táticas. A aprovação, pelo Senado brasileiro, do golpe de impeachment contra a presidente Dilma, alargou um desses parênteses que já vinham colocando em risco a ainda pouca democracia, assim como as limitadas conquistas, que haviam beneficiado as camadas trabalhadoras e populares brasileiras nos últimos anos.
 
Do ponto de vista tático, isto é, conjuntural e imediato, as forças políticas de esquerda talvez tenham diante de si pelo menos três problemas a serem enfrentados. O primeiro está relacionado ao fortalecimento da unidade democrática e popular em torno da resistência ao golpe, com uma pauta clara e unitária de combate ao governo ilegítimo, e às maiorias parlamentares e judiciárias golpistas.
 
Isto significa, entre outras coisas, definir os pontos da Constituição, assim como os direitos sociais e políticos, que devem merecer, por parte de todas as forças de esquerda, uma defesa ferrenha, indivisível e inegociável, diante da ofensiva regressista e reacionária que ameaça destruir tais pontos e direitos.
 
Em segundo lugar, como decorrência, as forças de esquerda talvez tenham que operar no sentido de transformar a Frente Brasil Popular numa organização ainda mais ampla, incluindo setores sociais e políticos de centro que se opuseram ao golpe parlamentar e judiciário.
 
Será ledo engano supor que a esquerda sozinha terá condições de se contrapor ao processo reacionário golpista. O impeachment foi apenas o primeiro passo para liquidar os direitos democráticos e sociais conquistados na Constituinte de 1988, realinhar a política externa aos ditames das ordenações norte-americanas, e aprofundar a macroeconomia de subordinação às transnacionais rentistas. O que tendem a colocar em prática é muito mais grave.
 
Em tais condições, talvez seja necessário adotar a convocação de uma nova Assembleia Constituinte como uma das bandeiras unificadoras contra o golpe. Isto é, uma Constituinte capaz de implementar as reformas democráticas e populares que ficaram inconclusas durante os governos Lula e Dilma.
 
Mesmo porque seria um erro supor que eleições antecipadas, ou Diretas Já!, mesmo que permitam a vitória das forças democráticas e populares, sejam capazes, sem um amplo debate popular e sem uma poderosa mobilização social em torno delas, de permitir a implantação de tais reformas contra o domínio das forças conservadoras e reacionárias.
 
As mobilizações do dia 04/09 mostraram que há condições para ampliá-las ainda mais se o debate em torno das reformas que o povo precisa entrarem na pauta. “Abaixo o Golpe!”, “Fora Temer” são slogans fortes e necessários. Porém, após a decretação do impeachment tornaram-se insuficientes, por não contemplarem as reformas democráticas e populares que o país necessita.
 
Em terceiro lugar, todas as forças de esquerda, quase certamente, terão que se voltar prioritariamente para as camadas trabalhadoras e populares da população brasileira, inclusive através da recuperação da experiência petista dos anos 1980.
 
Nada como esses setores da base da sociedade, a maioria esmagadora dos brasileiros, para ensinar o que realmente sentem e reivindicam, e como se organizam para enfrentar a luta cotidiana e de longo prazo. É tal ensinamento, mais do que todos, que pode criar melhores condições para alianças mais estreitas das forças de esquerda, e mais amplas com outros setores sociais e políticos.
 
Do ponto de vista estratégico, é quase certo que a esquerda, em especial o PT, precisará partir do princípio de que, apesar da reação popular de 04/09, ela e o povo brasileiro ainda se encontram numa situação de defensiva e retirada estratégica. Retirada cujos objetivos chaves consistem em evitar a reimplantação da brutal e miserável desigualdade social dominante até 2002, barrar a implantação de uma ditadura disfarçada, e impedir a destruição da esquerda.
 
Nesse sentido, também cabe à própria esquerda impedir qualquer aumento em sua dispersão e desagregação, ou algo idêntico ao que ocorreu com o PCB em 1964. Isto, certamente, não deve ser encarado como simples força de expressão. Esse fenômeno foi desastroso naquela ocasião, foi gravemente errado com o PT, em 1995-96, e pode se tornar catastrófico neste momento.
 
Nesse sentido, talvez seja fortemente recomendável que a maioria que dirigiu o PT nos últimos 20 anos reconheça os erros estratégicos que cometeu. Refiro-me principalmente à conciliação de classes; à prioridade para as atividades institucionais; ao abandono da ligação com as bases sociais; ao desprezo pelos processos de formação ideológica e política; à imitação dos métodos burgueses de sustentação partidária; e à leniência com casos de tráfico de influência e de corrupção.
 
A disposição de debate e corrigir tais erros numa discussão franca e aberta com toda a militância partidária pode ser fundamental para a recuperação combativa do PT. As tentativas de fugir ou escamotear tais erros e a discussão a respeito deles, além de representarem um obstáculo ao sucesso da atual fase de defensiva estratégica, podem criar embaraços intransponíveis à elaboração de uma nova estratégia.
 
Essas parecem ser as condições básicas para reverter a situação criada pela ofensiva da direita reacionária, mesmo considerando que esta direita tem pés de barro. Ela está encalacrada em processos de corrupção. Já deixou evidente que pretende demolir direitos econômicos, sociais e políticos caros às camadas populares. Demonstrou, desde a abertura do processo de impeachment e dos primeiros dias de interinidade, tratar-se de um bando medíocre e vendido, incapaz de tratar e resolver as grandes questões demandadas pela sociedade brasileira. No entanto, conta com o respaldo de forças poderosas, nacionais e internacionais, e será necessário encará-lo e combatê-lo no contexto dessas coberturas.
 
Em outras palavras, se houver a correção de rumos estratégicos e táticos da esquerda, em especial do PT, há a possibilidade de colocar os golpistas contra a própria parede que estão construindo, impor a manutenção do calendário eleitoral, disputar as eleições de 2018 com forças renovadas, e tomar a luta por uma Constituinte de reformas democráticas e populares como um dos eixos de uma nova estratégia de mudanças. No entanto, se a resistência interna a tal correção se mostrar maior do que a vã inteligência supõe, o parênteses aberto pelo golpe cunhista, temerista, caiadista, aecista, peemedebista, tucano, demista et caterva, talvez se prolongue dolorosa e terrivelmente, não somente para a esquerda, mas para todo o povo brasileiro.
Redação

13 Comentários

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  1. Greve geral já!
    Tem que parar

    Greve geral já!

    Tem que parar tudo.

    A economia tem que ficar paralisada.

    A elite deste país tem que sentir no bolso.

    É a única maneira de se mexer com esta elite podre.

    Os trabalhadores unidos tem a força necessária para colocar a elite de joelhos.

     

  2. Carta Capital: Em abril, em

    Carta Capital: Em abril, em uma entrevista (para a GloboNews), o senhor classificou a proposta de novas eleições (a não ser por decisão do TSE de cassar a chapa Dilma-Temer) como ruim, por trazer uma nova ruptura constitucional. Ainda acha isso?

    Luiz Felipe de Alencastro: Eu sou contra. A irrupção de um novo prazo para eleição é mais um elemento de instabilidade constitucional. Além disso, tem dois subtextos no pedido de nova eleição, sobretudo quando ela foi proposta por Dilma.

    Ela pedir nova eleição é dizer que quem achava que ela não tinha condição de cumprir esse mandato até o fim tinha razão. O segundo subtexto é acreditar que Temer vai estar de acordo, porque é preciso que ele esteja. Isso ilustra bastante a confusão mental que o PT e a esquerda estão vivendo.

    Rui Falcão, há quinze dias, disse que era contra eleições por causa do momento em que elas ocorreriam, que não há condições. Ele achava que se deveria arregimentar força para a próxima eleição, se concentrar na disputa municipal para mobilizar forças. Mas agora ele propõe Diretas-Já. As razões que ele deu antes não são mais válidas? Então ele tem que explicar, dizer que se enganou, mas nem isso ele se dá ao trabalho.

    O outro argumento, notadamente avançado pelo [líder do MST, João Pedro] Stedile, é de eleger uma constituinte exclusiva, e eu acho um absurdo. A relação de forças é totalmentedesfavorável para a esquerda, e os movimentos sociais estão desarticulados.

    Isso elegeria uma constituinte ultraconservadora, que poderia fazer o que bem entendesse, desde acabar com a CLT a voltar com a monarquia. É um tiro no pé horrível para o setor progressista brasileiro.

     

    Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/impeachment-teve-aparencia-de-legalidade-mas-substancia-e-grotesca

     

  3. LEGADO DOS GOVERNOS PROGRESSISTAS

        Caro Nassif, o legado deixado pelos governos progressistas no período Lula/Dilma vai permanecer por muito tempo na lembrança (memória) dos brasileiros, principalmente quanto aos avanços sociais e trabalhistas. Acho que muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte até as eleições de 2018. Espero que a esquerda e setores comprometidos da direita com as causas do Brasil, possam tomar atitudes democráticas e substanciais em favor do Brasil e seu povo. A união das esquerdas juntamente com adesão das forças progressistas da direita terão com certeza uma grande chance de avançar politicamente, e contar com  o apoio dos brasileiros.

  4. Não sou a favor de assembleia

    Não sou a favor de assembleia constituinte. O Brasil já teve sete constituições antes de 1988, não é a lei escrita que vai mudar o país. Falta traquejo parlamentar à esquerda brasileira, por isso que a direita domina o Congresso Nacional. 

  5. Não sou a favor de assembleia

    Não sou a favor de assembleia constituinte. O Brasil já teve sete constituições antes de 1988, não é a lei escrita que vai mudar o país. Falta traquejo parlamentar à esquerda brasileira, por isso que a direita domina o Congresso Nacional. 

  6. Vamos parar com essa

    Vamos parar com essa palahçada : ”Não vai ter golpe”’

    Golpe ou não golpe, Dilma não volta mais,

    O lema agora é : Diretas Já.–esse eu me engajo.

    Mas tem que ser rápido.Porque a partir de meados de Outubro, mesmo Temer caindo, pelos tramites legais, uma nova eleição ficaria pra 2017.

    E aí seria INDIRETA, com algum pilantra da câmara se elegendo presidente.–provavelmente pior que Temer em todos sentidos.

    Eu sou a favor de Diretas Já. Mas repudio eleições indiretas.

    Então ,vamos correr.

     

    1. Carta Capital: Em abril, em

      Carta Capital: Em abril, em uma entrevista (para a GloboNews), o senhor classificou a proposta de novas eleições (a não ser por decisão do TSE de cassar a chapa Dilma-Temer) como ruim, por trazer uma nova ruptura constitucional. Ainda acha isso?

      Luiz Felipe de Alencastro: Eu sou contra. A irrupção de um novo prazo para eleição é mais um elemento de instabilidade constitucional. Além disso, tem dois subtextos no pedido de nova eleição, sobretudo quando ela foi proposta por Dilma.

      Ela pedir nova eleição é dizer que quem achava que ela não tinha condição de cumprir esse mandato até o fim tinha razão. O segundo subtexto é acreditar que Temer vai estar de acordo, porque é preciso que ele esteja. Isso ilustra bastante a confusão mental que o PT e a esquerda estão vivendo.

      Rui Falcão, há quinze dias, disse que era contra eleições por causa do momento em que elas ocorreriam, que não há condições. Ele achava que se deveria arregimentar força para a próxima eleição, se concentrar na disputa municipal para mobilizar forças. Mas agora ele propõe Diretas-Já. As razões que ele deu antes não são mais válidas? Então ele tem que explicar, dizer que se enganou, mas nem isso ele se dá ao trabalho.

      O outro argumento, notadamente avançado pelo [líder do MST, João Pedro] Stedile, é de eleger uma constituinte exclusiva, e eu acho um absurdo. A relação de forças é totalmentedesfavorável para a esquerda, e os movimentos sociais estão desarticulados.

      Isso elegeria uma constituinte ultraconservadora, que poderia fazer o que bem entendesse, desde acabar com a CLT a voltar com a monarquia. É um tiro no pé horrível para o setor progressista brasileiro.

      CC: A nova oposição parece se organizar ao redor dessa proposta. Acha que é um erro de estratégia?

      LFA: Eu acho que é um tipo de inconsciência total. É não ver o que se chama relação de força, e nessa relação a esquerda toda está na defensiva.

       

      Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/impeachment-teve-aparencia-de-legalidade-mas-substancia-e-grotesca

      1. Eu dei várias entrevistas em

        Eu dei várias entrevistas em minha vida,

        NENHUMA pra Globonewes.—não faltaram convites.

         Não é por causa da Globo, É porque os entrevistadores falam mais qaue os entrevistado

        Monica Waldvogel que o diga,

        E ultimamamente William Waacy—QUE NÃO perde uma oportunidade pra falar que foi repórter na Alemanha.

        Momica e Willian falam mais que os entrevistados.

         

         

                  

        Resultados da pesquisa

         

         

  7. É até uma redundância falar

    É até uma redundância falar que o artigo do Pomar é brilhante, porém, ao meu ver, não toca no miolo da ferida. Não estamos diante de um poder qualquer; estamos diante do poder real, brasileiro, que nunca foi ameaçado de fato; e que agora promete mais vinte anos de descalabros em prol da colonização e em favor dos muito poucos como de hábito.

    Ou mata a serpente ou se continuará sendo picado por ela.

  8. união das esquerdas?

    Alguns pontos que Pomar escreveu provocam ainda mais divisão e dispersão das esquerdas e não atenta para o principal: o PT está na UTI, respirando por aparelhos, digo isso em termos culturais ou, se quiserem, ideológicos. Como ele propõe tudo isso se o PT está estropiado, necessitando de uma mudança tão profunda? Sou cético quanto à capacidade de ser feita essa mudança.

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