O valor da educação no Brasil, segundo Eduardo Giannetti

A Globo, em parceria com a Fundação Roberto Marinho e a Unicef, lançou recentemente uma publicação com registros de debates sobre educação chamada “Mitos X Fatos”. Pode ser acessada aqui – http://app.cadernosglobo.com.br/index.html

A entrevista com o Eduardo Giannetti é bastante interessante e por isso reproduzo abaixo.

Deixo claro aos amigos do blog – antes que me julguem – que não gosto da Globo, nem de tudo o que o Giannetti pensa e faz. Mas, quando acertam, reconheço.

Globo

CADERNO EDUCAÇÃO | MITO X FATO

Na opinião do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, o brasileiro valoriza a educação, colocando-a em um plano abstrato e idealizado, sem necessariamente acompanhar o processo de aprendizagem. Em todos os níveis de ensino e classes sociais, tanto os alunos como seus pais ficam satisfeitos quando recebem boas notas e obtêm o diploma ou certificado de conclusão. Isso nem sempre corresponde à efetiva aquisição de habilidades, competências e saberes equivalentes ao grau conquistado

O que falta é envolvimento

Por Paola Gentile

Eduardo Giannetti da Fonseca é economista de formação. Durante anos, discorreu sobre assuntos ligados à macro e à microeconomia em salas de aula, na Universidade Cambridge, na Inglaterra, na Universidade de São Paulo e no Insper, ambos na capital paulista. Em suas aulas, artigos e livros (é colunista do jornal Folha de S. Paulo e autor de dez livros, entre eles Felicidade, A ilusão da alma e O valor do amanhã), há outro tema sempre presente: a educação. Quando conversa sobre o futuro do país, nunca deixa de citar a melhoria da qualidade do ensino como um dos pilares de uma nação bem construída (o outro é o cuidado com o meio ambiente).

Perguntamos a ele se acredita que o povo brasileiro tem uma visão semelhante e valoriza a educação como uma das portas – talvez a única – para o sucesso pessoal e para o país seguir numa rota de crescimento saudável e expressivo. Para responder à questão, ele fala de capital – o capital humano – e de investimento – em ações que a sociedade e o governo podem empreender para acompanhar os processos de ensino e aprendizagem, contribuindo assim para que alunos e escolas tenham um bom rendimento.

É um mito ou é um fato que o brasileiro não dá valor à educação?

Acredito que essa frase é apenas em parte verdadeira, porque o brasileiro em geral dá valor à educação num plano muito abstrato e idealizado. As famílias brasileiras dizem que a educação é importante, mas no dia a dia não têm o compromisso de acompanhar a atuação da escola e a aprendizagem do filho, de ajudá-lo a fazer as lições e de cobrar um aproveitamento do ensino oferecido. Então é uma espécie de reconhecimento que fica somente no discurso, descolado da prática.

Que tipo de atitudes demonstraria uma verdadeira valorização da educação pelos pais?

É preciso entender que o aproveitamento do que a criança e o jovem aprendem depende do suporte que eles têm ou não em casa, pois é isso o que fará com que os alunos percebam a permanente interação da escola com o mundo. Gosto muito de citar como exemplo os descendentes de orientais que moram no estado de São Paulo. Eles correspondem a aproximadamente 3% da população paulista e obtêm 12% das vagas disponibilizadas pela Fuvest [processo que seleciona alunos para a Universidade de São Paulo e para a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo], o principal vestibular do país. Os orientais vieram para cá sem privilégio algum, sem nenhum tipo de vantagem especial para viver aqui, e tiveram as mesmas oportunidades educacionais que a maioria da população. No entanto, em poucas gerações, os descendentes deles apresentam um desempenho escolar que os diferencia. Isso acontece também na Califórnia, onde há comunidades significativas de latinos, brancos, afrodescendentes e asiáticos – e estes últimos também sobressaem. A explicação é que as famílias orientais têm a tradição e a cultura de dar todo o suporte no dia a dia: além de acompanhar a aprendizagem e cobrar resultados, elas incutem na criança a necessidade de tirar o melhor proveito da oportunidade que estão tendo de estudar.

A valorização ou não da educação tem alguma relação com a classe social, já que hoje temos na escola um grande contingente de alunos provenientes de famílias com baixa escolaridade, que não tiveram oportunidade de ingressar na escola ou, se ingressaram, não terminaram os estudos?

Pode ser que esse fato contribua bastante, mas não é só isso. Vejo famílias da classe média e mesmo da elite brasileira acreditando que apenas pagar uma escola boa é suficiente. Não adianta os pais se sentirem confortáveis achando que estão fazendo a sua parte comprando o acesso a um ensino caro para o filho ou a filha.

O processo educacional não acontece somente com a ida à escola para assistir aula e reproduzir na prova o que foi dado em classe. Ele tem de envolver a vida de todos de maneira integral. Agora, para as famílias que não tiveram acesso à educação ou não terminaram os estudos, ter um jovem avançando no ensino fundamental e depois no ensino médio é uma experiência completamente nova.

Talvez elas ainda não saibam muito bem como se comportar diante dessa realidade e estejam passando por um processo de aprendizagem sobre como se engajar na educação dos filhos. Cabe à escola buscar maneiras de envolver os pais de modo pleno, chamando-os para participar de atividades culturais e transformando a instituição de ensino em um ambiente de convivência. Eu adoraria estar num país em que a escola é o centro da vida de uma comunidade, inclusive nos fins de semana, para que ela não seja um espaço onde o aluno apenas assiste aula, mas sim o lugar em que ele vive, cria e compartilha momentos prazerosos.

Em que medida a educação é valorizada apenas como uma condição para a entrada no mercado de trabalho e para um provável sucesso na carreira?

Existe uma percepção, principalmente de grupos sociais emergentes, de que ter um diploma é uma maneira de ascender socialmente. Não há nada de errado com isso, inclusive é natural que se pense assim, pois o próprio mercado de trabalho pressiona por mais qualificação. Quem não tem o ensino médio dificilmente consegue ocupação. Porém essa é uma visão credencialista da educação e nem sempre obter uma credencial corresponde à efetiva aquisição de habilidades, competências e saberes equivalentes ao grau conquistado. O que vemos hoje no Brasil é uma inflação dessas credenciais educacionais sem lastro. Ou seja: temos gente se formando sem ter adquirido os conhecimentos esperados. Há até quem termine o ensino superior na condição de analfabeto funcional, o que quer dizer que essa pessoa graduada sabe apenas ler e escrever um enunciado simples e não domina a leitura, a escrita e o cálculo de forma a permitir a participação na vida social em suas diversas dimensões. Acho que o papel do governo seria garantir que, para obter qualquer diploma, o aluno teria necessariamente de demonstrar publicamente que houve aquisição das competências, dos conhecimentos e das habilidades correspondentes.

Uma educação de valor requer não somente o ensino dos conteúdos disciplinares, mas também o acesso a uma cultura mais global sobre a sociedade e o mundo e o desenvolvimento de habilidades para resolver problemas. A escola está dando conta de tudo isso?

Esse problema é muito sério na educação brasileira. Há uma visão ritualizada do processo de aprendizagem – e isso acontece em todos os níveis de ensino, até no superior. O aluno acha que, se ele for à aula, aprender o que foi transmitido e reproduzir tudo na prova, terá sucesso. Ora, isso não ajuda a pessoa a ter um pensamento próprio, original, e caminhar por si mesma na busca do conhecimento. Quando eu dava aulas, dizia seriamente para os meus alunos que eu preferia uma resposta errada que demonstrasse reflexão sobre o problema a uma correta que revelasse apenas capacidade de memorização do que foi visto em aula ou do que está em algum livro ou manual. Tem mais valor um erro que mostre um movimento de busca e um pensamento próprio do que um acerto que seja cópia de algo que nem sequer foi devidamente assimilado. O físico americano Richard Feynman [1918-1988], que esteve no Brasil na década de 1950 e deu aulas no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, escreveu em sua biografia que os alunos brasileiros não eram ensinados a pensar cientificamente, já que eles apenas memorizavam o que lhes era dito em aula ou o que liam em livros, sem entender qualquer fenômeno. Quando um estudante brasileiro vai mal num exame internacional de comparação de desempenho como o Pisa [sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos, promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), boa parte é pelo fato de ele não estar preparado para enfrentar um problema por conta própria e refletir sobre ele, uma exigência desse exame. Porque desde o início da sua vida escolar ele foi preparado e treinado para reproduzir em prova os conteúdos dados em aula. O poeta irlandês William Butler Yeats [1865-1939] dizia que a educação não é um balde que contém, mas um fogo que incendeia. Precisamos abandonar o balde que contém e partir rumo à chama que incendeia. E essa chama nada mais é do que a curiosidade, a própria busca pelo conhecimento.

Como se acende essa chama?

Em sala de aula, um professor pode fazer isso apresentando aos alunos um problema no qual vale a pena pensar e incitando-os a ir em busca de respostas. É um exercício de tentar despertar um certo assombro, um espanto diante do mundo. Em nível nacional, acho que uma liderança política seria capaz incendiar a imaginação brasileira com o valor da educação e do conhecimento da mesma forma com que o presidente Juscelino Kubitscheck [1902-1976] fez nos anos 1950 em torno da indústria e da arquitetura modernas. Ele plantou um sonho de modernização urbana. Precisamos de um JK do capital humano afirmando que a nossa capacidade de avançar como nação depende do conhecimento e apostando tudo nessa ideia. O futuro do Brasil será decidido dentro da sala de aula, numa disposição de buscar o saber e de aprender.

Redação

26 Comentários

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  1. O Valor da Educação

    Isto se deve a formação do povo brasileiro, onde se dá pouca importância ao conhecimento,  isto se reflete na pesquisa e inovação das empresas brasileiras que não possuem departamentos que se ocupem disto, por isto, ficam na esteira de projetos criados no exterior e reclamam da concorrência estrangeira. A escolha entre comprar um imóvel em Miami ou comprar um iate e investir em tecnologia na empresa para torná-la mais competitiva ou inovadora, sempre ficam com algo que vai dar-lhe mais status, por isto a reclamação recorrente nos impostos, salários, enfim custo Brasil, esquecem-se de que os salários fora do nosso país são muito mais altos. Um exemplo gritante disto é que uma determinada fábrica de veículos na China entrou em operação em 1995 e hoje produz um volume semelhante a produção total de todos os veículos de todas as marcas por aqui, onde está uma fábrica de veículos tipicamente nossa?

     

    1. Isto se deve a formação do

      Isto se deve a formação do povo brasileiro, onde se dá pouca importância ao conhecimento,  isto se reflete na pesquisa e inovação das empresas brasileiras que não possuem departamentos que se ocupem disto, por isto, ficam na esteira de projetos criados no exterior e reclamam da concorrência estrangeira. 

       

      Concordo em parte porque nossa cultura tem realmente vícios herdados da nossa herança colonial, porém quando diz “empresas brasileiras… ficam na esteira de projetos criados no exterior…” está se esquecendo que boa parte das empresas “brasileiras” são filiais de estrangeiras. Ou seja, elas não ficam na esteira por uma deficiência, elas o fazem de caso pensado uma vez que seria burrice quebrar nossa dependência por tecnologia.

      País desenvolvido e economia forte é país com amplo domínio de ciência e tecnologia. Mas para haver tecnologia nacional é preciso em primeiro lugar empresas verdadeiramente nacionais… Agora tenta explicar isso aos economistas e administradores públicos que só sabem repetir as panacéias “atrair investimento externo” e “transferência de tcnologia”.

      1. Cesar, herança colonial?

        Eu acho que já é chegado o momento de deixar dar um refresco para os nossos colonizadores. O Brasil colônia já terminou a quase 200 anos e depois disto ainda vivemos mais quase 100 anos de regime escravocrata, que pelo que eu saiba não era imposto por Portugual, logo vamos falar claramente, HERANÇA ESCRAVOCRATA.

        1. Os EUA também era

          Os EUA também era escravocrata, não se esqueça. O que fez a diferença foi o objetivo da colonização. E esse objetivo persiste até hoje.

          Repare, nós ainda nos chamamos de brasileiros. Isto é, não somos nomeados por pertencer a uma nação ou nascidos num lugar, somos uma profissão… Extratores de pau-brasil. Ou seja, estamos aqui apenas para extrair as riquezas para as matrizes. E por acaso diria que isso mudou nesses 200 anos?

          1. Bom exemplo!

            Por que exatamente os estados do norte, que aboliram a escravidão mais cedo, que se desenvolveram mais?

            Em 1800 8 estados do norte já haviam abolido a escravidão, ou seja 88 anos antes do Brasil (quatro a cinco gerações).

            E uma segunda pergunta.

            Por que exatamente os estados do sul, escravocratas, que aboliram a escravidão mais tarde (1865) e fizeram tudo para manter a sua população negra na ignorância, até os dias de hoje ainda são os mais pobres?

            Reforçaste a tese!

          2. As perguntas são falsas, isto

            As perguntas são falsas, isto é, a questão não é quem abolir a escravatura primeiro se torna mais avançado economicamente, a questão é quem está disposto a ser tornar mais avançado abole a escravatura o quanto antes.

            Ou seja, abolir a escravatura não é causa, é consequência. O que vem antes é a mentalidade das elites de um povo.

          3. Não vou ficar discutindo o Ovo ou a Galinha.

            Não vou ficar discutindo quem nasceu primeiro, se é o Ovo ou a Galinha, mas o certo é que locais ou regiões em que a mentalidade escravocrata está enraizada, há um natural desprezo a tudo que possa indicar trabalho, pois o que interessa é o status social.

          4. Recapitulando…  Você diz

            Recapitulando…  Você diz que o culpado pelo nosso atraso é o desprezo pelo trabalho e valorização do status (concordo 100%) que por sua vez decorre da mentalidade escravocrata, sistema que Portugal não nos impôs continuar. Logo não existe herança colonial… Se quer entender assim, sem problemas.

          5. Cesar, este assunto de abolição da escravatura é interessante.

            No continente Portugal por incrível que pareça foi o primeiro país do mundo a abolir a escravidão! Marques do Pombal em  12 de fevereiro de 1761, entretanto esta lei era somente válida para o continente e a Índia Portuguesa, não deixou claro que o decreto valia para as colônias. Nas colônias esta abolição entra em voga em 1837, apesar práticas que hoje consideramos de escravidão ainda continuaram por muito tempo.

            Mas uma coisa é certa aboliram a escravidão bem antes do Brasil, que leva a pecha de ter sido o último país do mundo ocidental de ter terminado com a escravidão oficial.

          6. No continente Portugal por

            No continente Portugal por incrível que pareça foi o primeiro país do mundo a abolir a escravidão!

             

            Note, sabemos que o fato dos EUA pregar a democracia como valor fundamental e usar isso como argumento para promover intervenções não os faz querer acabar com os regimes ditatoriais que lhe são úteis. Portanto dizer que Portugal foi o primeiro país a abolir a escravidão [na metrópole] é apenas dizer que a corte portuguesa era hipócrita.

            O que deve se perguntar é por que a América do Norte aboliu a escravatura tendo inclusive ido a guerra civil para quebrar esse sistema arcaico enquanto o Brasil se manteve aferrado a ele.

            Por acaso teria a ver com nossa estrutura econômica?… Isto é, teria a ver com o fato do Brasil ser ele todo o quê eram apenas os estados Sulistas nos EUA, ou seja, um região voltada basicamente para atividades primárias?

            Teria a ver com o fato de que na época nossa estrutura produtiva estava toda organizada em função do trabalho escravo e não havia alternativa a curto e médio prazo para substituir esse sistema pelo trabalho livre?

            Ou seja, a questão não é simplesmente entender que houve uma opção em retardar a abolição. Tudo é consequência de um processo que se inicia na organização e objetivos da colonização.

            E quando falamos sobre isso, não precisamos confundir “herança colonial” com “herança dos portugueses”. Ou seja, não se trata de culpar os portugueses da matriz ou nos nascidos aqui. Mas de circunstâncias que levaram a um ou outro modo de ocupar o território o que por sua vez condicionou o perfil das elites locais.

            Portugal era uma nação sem conflitos religiosos internos ao contrário da Inglaterra, começa daí. Assim enquanto o Brasil era ocupado por portugueses querendo apenas voltar mais ricos para sua terra amada, os ingleses iam para o novo mundo desejando estabelecer um território longe do poder político e religioso reinante na Inglaterra.

            E pode notar, esse aspecto tem espelho exato tanto na idéia de superioridade (mais messiânica do que propriamente racial) no inconsciente coletivo dos americanos como da excessiva valorização no Brasil daquilo que é europeu (ou paises desenvolvidos em geral). Tudo sempre tem uma raiz de onde se desenvolve o resto.

  2. Um dilema que sugiro ao GGN :

    Mais Giannetti e o Blog ganhará muitíssimo (e acho, desconfio… que perderá alguns assíduos frequentadores, sejam os silenciosos, sejam antigos que deixam seus comentários: um dilema que sugiro ao GGN, pois “pode” mexer um pouco com sua linha editorial, ampliá-la mais). Me lembra um Mangabeira Unger (esteve em Recife nestes dias acompanhado de um político do PMDB pensante e decente ( sim, eu acredito nisso ). Melhor dizendo: filiado ao PMDB (nunca se sabe do dia de amanhã, vejam-se mudanças de partidos, de filiados, de militância – claro que pode ser uma evolução, como pode ser um passo atrás, depende do ponto de vista, é claro ).

  3. Valor? Zero redondo. Fosse

    Valor? Zero redondo. Fosse diferente, o povo estaria apoiando as reinvindicações dos professores, o piso salarial, apesar de ridículo, estaria sendo pago em todo o pais, não estariam sendo fechadas salas de aula, nem ixxpertos  sugerindo aos professores que mudassem de emprego. Muito menos haveriam agressões contra os professores.

  4. Já começou errado!

    Giannetti já começa errado:

    “Acredito que essa frase é apenas em parte verdadeira, porque o brasileiro em geral dá valor à educação num plano muito abstrato e idealizado. As famílias brasileiras dizem que a educação é importante, mas no dia a dia não têm o compromisso de acompanhar a atuação da escola e a aprendizagem do filho, de ajudá-lo a fazer as lições e de cobrar um aproveitamento do ensino oferecido. “

    As famílias brasileiras não acompanham a atuação dos filhos na escola simplesmente porque não sabem o que é escola!

    Primeiro, as famílias mais pobres simplesmente não tem o mínimo conhecimento do que seria o desempenho escolar ideal nem tem noção do que seria uma boa carreira escolar. O grau de escolaridade tem progredido muito rápido e eu diria simplesmente acompanhando a evolução histórica da população brasileira que 95% dos jovens atualmente chegam a um grau de escolaridade de no mínimo 4 anos a mais do que seus pais, ou seja, um pai que tem o primeiro grau incompleto e se afastou dos bancos escolares há duas ou mais décadas, não tem a mínima capacidade de conhecimento de saber qual seria a melhor opção para o seu filho.

    Segundo, as famílias em que o grau de escolaridade é mais alto ainda pensam como se pensava há vinte ou trinta anos, quando somente um título de grau superior era importante para se distinguir perante o resto da população. Os país de famílias abastadas na maioria dos casos, não diferenciam uma titulação numa boa Universidade das escolas caça-níqueis que existem por aí. Se eles tem dinheiro para pagar um diploma (não estou falando o curso) qualquer olham a questão da empregabilidade mais como um problema de relacionamento social do que outra coisa.

    Toda a linha de raciocínio deste tal de Giannetti esquece de algo que é fundamental, a cultura e a educação são processos acumulativos de geração a geração, não se pode sair em cinco décadas de um país analfabeto para um país de pessoas altamente cultas.

    Em países mais avançados culturalmente vemos que o processo de passar de uma cultura puramente agrícola para uma cultura industrial e sofisticada levou mais de 150 anos. Sempre insisto, a Alemanha antes do processo da sua reunificação já possuía leis de escolaridade obrigatória de 8 anos a mais antes de permitir que os jovens entrassem no mercado de trabalho. Aqui ainda se escutam vozes que falam o bordão ultrapassado sobre as crianças mais pobres “é melhor estar trabalhando do que roubando”.

    Depois deste parágrafo inicial, o resto mostra a ignorância de Giannetti em questões de educação, pois o mesmo passa repetindo bordões do tipo “os alunos brasileiros não eram ensinados a pensar cientificamente, já que eles apenas memorizavam o que lhes era dito em aula ou o que liam em livros, sem entender qualquer fenômeno.”. Digo bordões porque ele não explica nada do porque disto, ele simplesmente coloca a afirmação.

  5. Giannetti não sabe nada, rapá…

    Giannetti dá opiniões sobre assuntos complexos sem citar dados. Puro achismo.

    O cara fez crítica pesada ao sistema de ensino e `a atitude dos pais em relação ao ensino, mas não cita dado nenhum.

    Quem quer apostar que Giannetti nunca conversou com um pobre pai de aluno de escola pública?

    Filosofar dentro de escritório, sem pesquisa séria por trás é preconceito. O cara colocou na cabeça que o brasileiro é um tosco que só vai na escola atrás de certificado. Quando o jornalista perguntou sobre educação, ele foi e vomitou o achismo dele.

    Opiniões fortes só podem ser levadas em conta quando acompanhadas de forte evidência.

    Mostre uma pesquisa sobre as atitudes do brasileiro em relação ao ensino. Dados. Daí conversamos.

     

    1. não existe métrica tucana, generalização tola

      cansam esses maniqueismos, essas viseiras partidárias, em bloco (e, apesar de desconfiar que este curto comentário não vai ser bem compreendido por alguns, boto, e ponto. Alguns? Mas se vejo esta seção Posts do Dia como partidária?).

      1. Um pouco de boa educação

        Um pouco de boa educação e respeito não lhe faria mal algum prezado(a) Sr(a), dado que num “nickname”, i.e, vulgo, apelido, alcunha, cabe de tudo.

         

  6. “Os orientais vieram para cá

    “Os orientais vieram para cá sem privilégio algum,…” Resta saber o que ele entende por privilegio. Em cada assentamento os orientais recebiam lotes, ferramentas, ajuda de custo – mais do que um bolsa-família atual – e ainda contavam com escolas, professores, técnico agrícola e o governo brasileiro ainda agüentava uma dura do governo japonês por não cuidar bem dos orientais. Podia não ser privilégio mas apenas um tratamento bem diferente do que recebia a população em geral.

    1. Isso se chama auto condescendência…

      Por acaso famílias brasileiras, os que já estavam aqui, não herdaram terras nem tinham direito a frequentar escolas ou receber ajuda técnica?

      É sabido que aos emigrantes nem sempre eram dadas as melhores terras e eram alocados nos lugares onde os nacionais não queriam ir.

  7. A “Abstração” da Mídia na Educação.

    Precisamos abandonar o balde que contém e partir rumo à chama que incendeia. E essa chama nada mais é do que a curiosidade, a própria busca pelo conhecimento.

     

    O Prof. Giannetti toca num ponto importante quando fala que a valorização da educação pela população está num nível mais abstrato do que prático. E para os críticos deve-se comentar que o dever de um pai ou mãe chamar seu filho numa mesa rotineiramente para conversarem sobre o que se aprendeu, ou o quê se está com dificuldades, não depende de instrução ou conhecimento da matéria pelos pais. Depende apenas de uma cultura e modo de pensar. E digo isso por experiência própria.

    Porém Giannetti vislumbra, ironicamente, uma solução abstrata e pouco objetiva. Isto é, de que é preciso incendiar a curiosidade dos alunos e que isso poderia ser feito, quixotescamente, diga-se de passagem, pelo surgimento de uma liderança política, um JK da vida nas palavras dele.

    Com todo respeito que tenho pelo Giannetti, diria que a coisa é mais prática de se fazer. Chama-se propaganda…

    Isto é, assim como uma empresa paga para inserir merchandaising de seus produtos nos filmes, novelas e séries, o mesmo pode-se fazer com a educação como valor. Nada impede de pagar as emissoras, ou mesmo vincular as leis que permitem isenção fiscal para produção cultural, a inserção de cenas onde aparecem pais parando para conversar com seus filhos sobre o que aprenderam, por exemplo… Bem como se preocupar em haver personagens que são professores e mostrar histórias onde uma abordagem de valorização e incentivo a “mais curiosidade” ocorre.

    Vivemos num mundo onde a cultura não é mais passada de geração em geração por contato direto dentro de círculos familiares e comunitários. A cultura hoje é preponderantemente dominada e dirigida pela informação criada e transmitida por meios tecnológicos. Um fenômeno recente, surgido com o cinema e a propaganda moderna na primeira metade do século 20. E curiosamente, é esse aspecto fundamental que vejo completamente desconsiderado nas discussões quando o assunto é justamente sobre educação e cultura.

  8. Parece que tanto Giannetti

    Parece que tanto Giannetti como tu não entendeste o básico, devido ao rápido aumento da escolaridade no Brasil, os pais logo depois das séries iniciais do primeiro grau não tem o mínimo conhecimento para interpelar os filhos sobre os conteúdos desenvolvidos em aula.

    Desculpem-me todos, porém o processo de aprendizagem não pode e não deve ser ideologizado nem pela esquerda nem pela direita, estou falando não de ideologia sob o ponto de vista crítico, mas estou falando do conceito primitivo da palavra, como “conjunto qualquer de ideias sobre um determinado assunto”, como um ideário, desconhecendo a realidade dos fatos.

    Não adianta pensar que uma criança em que o nível de discussão da realidade junto a sua família, operária ou burguesa, não atinge um nível de crítica à mesma. Pois destas famílias em que não há esta discussão da importância do ensino e do conhecimento não se pode esperar uma análise crítica das formas e conteúdos do ensino.

    Tanto os pais como muitos professores desconhecem as reais capacidades do aprendizado, e isto na sociedade brasileira perpassa níveis sociais. Há quase uma verdadeira resistência ao conhecimento escolar, valoriza-se no país a criatividade sem que esta seja apoiada por aquilo que já se sabe. As propostas pedagógicas muitas vezes viram verdadeiros “inventar rodas” mesmo em níveis mais avançados.

    A teoria em todos os níveis de ensino é desprezada em relação a prática, não vendo que a teoria dentro de um processo evolutivo é um somatório de práticas já vivenciadas no passado.

    Há na entrevista de Giannetti uma verdadeira contradição, primeiro ele cita o comportamento dos orientais, uma escola de aprendizado que se caracteriza pelo que ele vem criticar posteriormente como “uma visão credencialista da educação”. A crítica é resultado da distorção que o mesmo faz com o termo, confundindo o credencialismo pelo aprendizado real pela mera obtenção de um grau. Ou seja, se o rigor na obtenção deste grau é maior e se procura dar este a medida que etapas são concluídas, o criticado “credencialismo” cai no rigor oriental de apreender por apreender.

    Ele faz uma crítica completamente descabida a analfabetos funcionais que possuem diplomas de nível superior, por outro lado eu critico alguém que se intitula intelectual e que não consegue manter a posição de um parágrafo a outro, simplesmente amontando bordões que convêm a um discurso ideológico, agora falando no segundo sentido da palavra, como algo que serve a um grupo social para dominar o outro.

    1. …os pais logo depois das

      …os pais logo depois das séries iniciais do primeiro grau não tem o mínimo conhecimento para interpelar os filhos sobre os conteúdos desenvolvidos em aula.

      Pois por que não o fazem nessa fase inicial?

      Há na entrevista de Giannetti uma verdadeira contradição, primeiro ele cita o comportamento dos orientais, uma escola de aprendizado que se caracteriza pelo que ele vem criticar posteriormente como “uma visão credencialista da educação”… o criticado “credencialismo” cai no rigor oriental de apreender por apreender.

      Não há contradição porque são críticas independentes. Uma é a atenção das famílias com o desenvolvimento escolar dos filhos, outra é o mérito ou qualidade dessa escola.

      Ele faz uma crítica completamente descabida a analfabetos funcionais que possuem diplomas de nível superior, por outro lado eu critico alguém que se intitula intelectual e que não consegue manter a posição de um parágrafo a outro…

      É uma entrevista. Algo diferente dele próprio conduzir a produção de um texto com calma.

      1. Cesar, entrevista mostra o modo de pensar!

        Quanto a primeira crítica é simples, os pais interferem até o ponto que tem habilidades para tanto, quando passa disto eles são na realidade escanteados pelos filhos.

        Uma entrevista mostra o modo de pensar de cada um, se ele cai em contradições em tão pouco espaço, que não fale do que não tem certeza, simples, em engenharia já fui entrevistado várias vezes por alguns assuntos polêmicos e outro nada polêmicos, nunca tive vergonha de dizer: Este assunto não conheço.

  9. entrevista -Prof. Eduardo Gianetti

    Parabéns Prof., mais uma vez sua fala brilhante me sensibiliza, faz-me pensar sobre minha realidade como educadora.

     

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